quinta-feira, dezembro 29, 2005

Fim de 2005

O meu 2005 devia ter acabado hoje à noite, quando a voz perfeita cantou os versos que o resumem:



Eu fui contigo ao inferno
Fomos ao fundo do mar
Oh meu amor que eu mais amo
Deixa-me eu te embalar



Pedro Ayres de Magalhães, Canto de embalar

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Genial

Se estás a pensar votar Soares nestas presidenciais, não o faças sem antes ver este pequeno filme.

Link roubado ao Pulo do Lobo.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Segurança no trabalho e licenciamento de obras

As paredes da fotografia estão a ser construídas em Santo António dos Olivais, mesmo em frente à Junta de Freguesia. No centro de Coimbra.





Mas não se pense que a segurança de quem passa é descurada. Enquanto as pessoas passam por baixo dos tijolos periclitantes, fazendo SS para fugir aos grossos pingos de cimento que caiem para a rua, os trabalhadores, zelosos, repetem até à exaustão, ao mesmo tempo que trabalham: "Cuidado com a cabeça! Cuidado com a cabeça! Cuidado com a cabeça! Cuidado..."

Conto de Natal 2


-Estás com uma cara
-Uma mosca...não dormi nada esta noite.
-Abriste a janela...
-A gaja não quer sair.
-Tens comida no quarto?
-Migalhas na lã de uns carapins velhos.
-Sujos?
-Aquilo não se suja, estão usados.
-Lava-os com Sofelã e seca-os na lareira. A mosca desaparece.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Conto de Natal 1



-O Natal faz-me azia...
-Carregas nas velhoses?
-Agora, só vou às fillhoses...
-E a pastelaria fina, interessa-te?
-São caras...e detesto o princípio.
-Podes parar a minha casa é já aqui.

terça-feira, dezembro 20, 2005

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Quem conta um conto...

Rodou o puxador metalizado da porta a 180 graus e fechou-a devagarinho atrás de si, invertendo o sentido do puxador e do futuro. Caminhou estrada fora durante uns minutos, sempre a olhar para A janela, mas quando chegou ao final da rua foi como se lhe tivessem partido um serviço de loiça na boca do estômago. Começou a correr e só parou quando já não conseguia aguentar a dor de burro. "Já está, consegui", disse o cérebro ao corpo, enquanto os olhos se fixavam na sua triste figura reflectida nos painéis publicitários das paragens de autocarro.
foto-esfera
.
Podia ter acontecido ontem ou cinco anos atrás. Sentia agora que, se calhar, tinha sido preciso passar aquele tempo todo: exactamente seis anos, dois meses e catorze dias.
Enquanto recuperava o fôlego da corrida (afinal, porque lhe faltava o ar, logo a ele, que estava habituado a abusar do corpo, a levá-lo tantas vezes ao limite onde a taquicardia definitivamente acaba?), cruzou-se com a memória desse dia.
moulin-rose
.
Trazias uma t-shirt branca não muito justa, o cabelo solto e um sorriso que me desarmou ao primeiro olhar. Pediste-me que tirasse a camisa e me deitasse num tom de voz tão baixo que me foi difícil perceber o que dizias. Obedeci-te prontamente, expectante. Observei todos os teus gestos: o acender do incenso, o correr da persiana, o gesto profissional com que aquecias sempre as mãos uma na outra.
mercuriocromo
.
Esse fora, na verdade, o primeiro dia da memória. Recordava-o sempre com a mesma comovida estranheza, sempre a mesma sensação de ter assistido ao próprio parto.
Quando, recomposto do esforço, se viu de novo reflectido sobre um qualquer anúncio de comida para cão, achou que o corpo não lhe assentava bem. Sentiu-o demasiado velho e vários números acima da memória franzina que trazia consigo. E só então se deu conta das palavras que o acompanhavam desde o primeiro minuto. Eram a legenda do poster desbotado ao lado d'A janela. Lera-as apenas uma vez, naquele dia. Mas foi como se o seu cérebro as tivesse sugado para dentro de si devido a uma inexplicável ausência de pressão: "O ponto VG11 (Shendao) situa-se no dorso, entre os processos espinhosos da 5a e 6a vértebras torácicas. A agulha atravessa a pele, o tecido celular subcutâneo e os ligamentos supra-espinhal e interespinhal e atinge o ligamento amarelo; relaciona-se superficialmente com os ramos cutâneos do ramo dorsal do 5º nervo torácico e, profundamente, com o ramo dorsal do 5º nervo torácico. A estimulação deste ponto está indicada em situações de ansiedade, tristeza, perturbação mental, amnésia..."
outras tantas madrugadas
.
Chegou novamente com a respiração ofegante e abriu outra vez o puxador metalizado, agora já com medo de ser repreendido. Tinha saltado sem parar só para chegar aquela sala às oito horas em ponto. Tinha que ser às oito horas. Fez o que devia ser feito. Deitou no lixo os pedaços de papel que trazia nos bolsos, atirou as sapatilhas para o canto da sala, tirou os restos de baton da cara e deitou fora a tela, com aquela mulher estampada, que estava pendurada à direita da sua cama. E o corpo foi atrás do sofá azul marinho. Naquele dia conseguia prometer à senhora da sala n.º22 que no dia seguinte não acordaria às 5 da manhã a declamar poesia aos berros e nem ouviria Rachmaninov ao pequeno-almoço. No dia seguinte também tinha marcado na sua agenda um único encontro. Talvez o terceiro da sua vida. Desta vez era necessário calçar os sapatos pretos e a gravata escura. o fato ainda tinha que o ir comprar.
quero-te bem
.
Parecer louco sem o ser é bem mais difícil que ser louco sem o parecer. As mãos não tremem com facilidade e nunca é certo que os olhos de loucura sejam convincentes. Nos primeiros meses foi preciso representar muito, mas aos poucos a personagem entrou-lhe no corpo. Afinal, ao fim de seis anos o que parece dificilmente não é.
São oito e dez e os medicamentos do almoço já lá vão. (Talvez a enfermeira não fique à espera de o ver tomar os do jantar...) O cérebro está desperto e consciente de que o fim está próximo. Não será aquele cartaz a impedir uma vingança a que seis anos foram dedicados. As palavras no cartaz enchem-lhe a cabeça. Todos os dias precisa de ver A janela. Todos os dias precisa de fugir do cartaz. Correr o mais que pode até ao virar da esquina. Desde ontem que não há nada por trás da janela, mas o plano continua.
Amanhã, na tua campa, jurarei, com mais força que nunca, o que jurei cada dia, nos últimos seis anos, dois meses e catorze dias, à tua janela.
Batem à porta:
- Joaquim, são oito e vinte. Estão todos à mesa menos tu!
- Estou a ir, Paula, desculpe.
Limpou o baton da cara e saiu para o corredor.
.

Haverá por aí um acaso que queira falar?

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Tudo muda

Fui ao Porto e perguntei onde ficava a estação de metro mais próxima. Não me insultaram.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Tecnicamente, não poderia ser uma criança

"Aquilo não tinha pés nem cabeça"
Paulo Pedroso, hoje em entrevista à SIC

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Natal

O espírito de Natal anda muito atrasado este ano. A duas semanas do grande dia a Gabardina contribui com música. Começamos com o sempre natalício Frank Sinatra.

Antes o pirete do Cristiano Ronaldo

Em Itália, em 2005, há um jogador que sai assim de campo, enquanto nas bancadas os adeptos da Lazio exibem cruzes celtas e cantam hinos a Mussolini. Às vezes é difícil perceber que mundo é este.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

João Deão 45


Mulher:
-vais perder o curso.
Rapaz:
-Para o ano...
Homem:
-Segura aqui. Acho ela queria que ficasses com isto.
O rapaz segura o capacete e olha-o.
O homem tira do bolso do uma caixa pequena e entrega-a a João Deão.

Benfica

Que clube!!!

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Fazem parte da minha vida

Como eu gosto de grandes noites europeias!!!

João Deão 44


Silêncio. O reflexo da cruz vermelha numa poça de água agita-se quando João a pisa. Ao fundo a porta das urgências. A luz florescente do interior passa pelas quadriculas de arame do vidro. A porta abre. Um casal de meia-idade sai. A mulher cabisbaixa tem os braços à volta do corpo e um capacete preso ao cotovelo. O homem com o braço por cima da mulher vê ao longe o rapaz.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

João Deão 43


Rapariga:
-Amor, estás em casa? tenho que ir ter contigo, agora.
Rapaz:
-Estou, mas o avião é ás 8. Tens de ser rápida. Até já. Cuidado... com esta chuva, a estrada está perigosa.

É desta!

Depois de muitos falsos alarmes, a Gabardina está em condições de anunciar que será ele o novo treinador do Real Madrid:


Um só

Basta estar acordado um segundo para para ter vários dias de alegria. É muito fácil.

domingo, dezembro 04, 2005

João Deão 42


Começa a chover. De cima, -pop- os guarda-chuvas: pop, pop, pop - como os cogumelos eclodem depois chuva tapando a calçada portuguesa. O toldo da Nacional. Com o capacete preso no braço, a rapariga procura o telefone no bolso lateral das calças. Liga. O rapaz está em casa a arrumar a mochila. Pára para pensar do que precisa. E quando mais pensa, mais percebe que não precisa de nada. Podia ir com a roupa que tem vestida. Um ano no Japão a fazer um curso sobre o neo-realismo nipónico reduzem-lhe as necessidades a nada. Uns sapatos, alguma roupa servem para cumprir a formalidade da bagagem. Apenas um casaco: o casaco. Desse nunca se esqueceria. Toca o telefone.

quarta-feira, novembro 30, 2005

Função pública em Portugal

Na Inspecção Geral do Trabalho de Coimbra o atendimento ao público é feito por uns rapazes com fardas da Prosegur.
Hoje um dos ditos moços queria recusar-me um quadro de pessoal, alegando que o raio do papel estava mal preenchido...
QUERO FUGIR!!!!!!!!!!!!!!!!

João Deão 41


Mota estacionada, cadeado colocado na roda de trás, capacete na mão. A rapariga em passo rápido avança pela rua do Ouro. Fumo dos vendedores de castanhas, "trabalha em Lisboa?", nórdicos sentados frente a cerveja morta e japoneses com sacos V.L. A rapariga entra numa ourivesaria. "E deste gosta?, temos este... e este..." "Não, não e não" "quero aquele". A rapariga de capacete debaixo do braço, sai da loja.

terça-feira, novembro 29, 2005

Mais Ota

Já sabemos que quem mais vai ganhar com os terrenos da Ota será aquele senhor cujo avião de luxo está retido na Venezuela (apanhado, ao serviço da Air Luxor, com uma carga de droga no bucho).
O que falta saber é quem serão os privados que vão investir na Ota, quem são os boys que têm grandes tachos garantidos, quem será autorizado a construir nos actuais terrenos da Portela...
Enfim, de que me queixo eu, que vivo numa cidade (Coimbra) que terá um aeroporto internacional a uma hora de distância, um TGV com paragem cá na terra, tem um estádio para 30.000 espectadores no centro da cidade que nunca encheu e anda há mais de dez anos a fingir que quer ter um metropolitano de superfície, tudo à custa dos vossos impostos?
Montem aqui uma Disneylândia, um pavilhão de hóquei no gelo, organizem uns Jogos Olímpicos, tragam para cá a sede das Nações Unidas, caraças!

segunda-feira, novembro 28, 2005

João Deão 40


Exterior, noite, Avenida da Liberdade. O trânsito, cobrão vermelho para quem vai, e branco para quem vem, está parado. Os reflexos das luzes dos carros duplicam-se no chão molhado, triplicam-se nos vidros das montras e fazem caleidoscópios nos pára-brisas, nos retrovisores e nas chapas dos carros. Os semáforos passam de vermelho a verde.Ironicamente. Os escapes fumam. Pacientemente. No eixo geométrico, entre o vermelho e o branco, a rapariga vai passando pelo meio desta massa orgânica a latejar. Desvio de um espelho aqui, equilíbrio ali. Numa gincana infantil chega aos restauradores. Até ao Rossio, serão mais dois minutos.

Quem é quem?

Ser preconceituoso não está fácil.
É cada vez mais difícil distinguir um gay de um "tuning de subúrbio".

Closer

Para todos que não se conseguem libertar do filme nem da banda sonora. Especialmente para o quilas e para a redbackspider.



domingo, novembro 27, 2005

João Deão 39


A rapariga, abrupta, pega no capacete, fecha a porta de casa com estrondo e hesita quando vê que chove. "Que se lixe"-. Tira a mota da garagem, liga-a e, religiosamente, aguarda que a 916 vermelha aqueça. Quando o motor deixa de fazer o barulho de metal a tilintar, baixa o pé esquerdo, dá uma pancada nas mudanças e larga a embraiagem. Suavemente.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Correcção

Os insultos são permitidos nas caixas de comentários deste blog, mas apenas quando dirigidos aos autores dos textos e nunca a outras pessoas mencionadas nos mesmos.

quinta-feira, novembro 24, 2005

io, sinceramente, seguo la poesia



Generale, dietro la collina
ci sta la notte buia e assassina,
e in mezzo al prato c'è una contadina,
curva sul tramonto sembra una bambina,
di cinquant'anni e di cinque figli,
venuti al mondo come conigli,
partiti al mondo come soldati
e non ancora tornati.

Generale, dietro la stazione
lo vedi il treno che portava al sole,
non fa più fermate neanche per pisciare,
si va dritti a casa senza più pensare,
che la guerra è bella anche se fa male,
che torneremo ancora a cantare
e a farci fare l'amore, l'amore dalle infermiere.

Generale, la guerra è finita,
il nemico è scappato, è vinto, è battuto,
dietro la collina non c'è più nessuno,
solo aghi di pino e silenzio e funghi
buoni da mangiare, buoni da seccare,
da farci il sugo quando viene Natale,
quando i bambini piangono
e a dormire non ci vogliono andare.

Generale, queste cinque stelle,
queste cinque lacrime sulla mia pelle
che senso hanno dentro al rumore di questo treno,
che è mezzo vuoto e mezzo pieno
e va veloce verso il ritorno,
tra due minuti è quasi giorno,
è quasi casa, è quasi amore.



Generale, Francesco de Gregori, cantada ao vivo por Vasco Rossi

Fado, futebol e Fátima ou Calcio, Italiano e Vaticano

Os ódios e as perturbações mentais da extrema-direita fascista italiana saíram à rua esta semana. O "La Padania", jornal da Liga Norte, insurge-se hoje contra o facto de o Inter de Milão ter jogado com 11 jogadores estrangeiros no seu jogo de ontem da Champions League (que, por acaso, ganhou 4-0). O fim do futebol, porque em campo entra uma Babel de línguas, raças, tradições e escolas de futebol, escreve o Padania, para logo a seguir passar a outro dos argumentos sempre queridos aos fascistas: o amor à língua. Imagine-se que há um treinador de uma equipa de basket em Itália que, nos descontos de tempo, fala em inglês. Uma vergonha!

Para que a semana fosse perfeita, faltava que o Papa viesse dizer um qualquer disparate fascista contra os homossexuais. Mas isso é muito improvável...

quarta-feira, novembro 23, 2005

Ou então ajudar os mais pobres dos pobres


Amigo

Nas primeiras vezes em que um de nós disse ao outro (ou deu a entender) "Não te metas nisso. É um erro! Ela vai dar-te cabo da vida!", foi só problemas. Andávamos meses sem grande vontade de cafés ou conversas.
Agora já sei - acho que tu também - que temos sempre razão. Não nos chateamos. Também não damos razão ao outro (a cegueira é mesmo assim).
De qualquer maneira, venha de lá essa garrafa de Grant's! Tenho mais um "Tinhas toda a razão! Teria sido um erro!" para te dizer.

Primeira vez

Pela primeira vez censurei um comentário na Gabardina. Insultos não são permitidos.

terça-feira, novembro 22, 2005

Larápios a bordo?

O Porta-aviões não só lê a Gabardina como faz bons resumos dos nossos textos. Chegam a substituir expressões por outras de significado semelhante! É bom saber que há gente com esta qualidade de síntese no PSD de Coimbra!

segunda-feira, novembro 21, 2005

On prend photos des mourants au lieu de leur donner de l'eau

Especialmente para ti.



Madame X et ses enfants
Tout l'hiver sans chauffage
Caravane pour des gens
Même pas du voyage
Et pourtant comme elle dit
C'est pas elle la plus mal lotie
Elle en connaît qui couche dehors
Dans les parages
Quand y a toutes ces voitures de sport
Dans les garages

Madame à savoir comment
Fait deux fois plus que son âge
Elle s'endort avec des gants
Au fond d'un sac de couchage
Et pourtant comme elle dit
C'est pas elle la plus mal lotie
Elle en connaît qui restent
Accrochés aux grillages
En espérant qu'un camion
Manque le virage

C'était un pays charmant
C'était un pays comme il faut
Elle dit, elle dit maintenant
Maintenant on prend
Quelques photos des mourants
Au lieu de leur donner de l'eau
Elle dit pas ça méchamment
Pour l'instant...

Madame X et ses enfants
Toujours pas de chauffage



Madame X, Francis Cabrel

Tomar

Que bom deve ser ter um estabelecimento comercial numa cidade em que tem piada que um café se chame "Tomar café" e uma casa de chá "Tomar chá".
Para quando uma sauna/quarto-escuro chamada "Tomar por culo"?

sexta-feira, novembro 18, 2005

quinta-feira, novembro 17, 2005

Otários

Escreve o Prof. Vital Moreira que

Durante várias semanas, uma nutrida frente de media e de blogues entregou-se a uma aguerrida campanha onde se misturou a condenação sumária dos projectos de construção do novo aeroporto de Lisboa e do TGV e a exigência de publicação dos estudos correspondentes. Agora que tais estudos começaram a ser disponibilizados, quase todos os protagonistas da referida campanha fazem de conta que eles não existem...



A Gabardina, que nunca pediu os estudos, decidiu ir ler os que o Prof. Vital linkou. Ora o link levou-me a uma empresa, que promoveu os referidos estudos. A NAER - Novo Aeroporto, SA (levará o nome da empresa a algum pré-conceito nos estudos realizados?), tem por objecto "Proceder ao Desenvolvimento dos trabalhos necessários à preparação e execução das decisões referentes aos processos de planeamento e lançamento da construção de um novo aeroporto no território de Portugal Continental".

Começo a consultar os estudos e percebo que o único que equaciona o aumento de capacidade da Portela (e apenas para adiar a construção de um novo aeroporto) data de 1999. É, portanto, anterior ao 11 de Setembro de 2001 e à explosão das companhias low cost em Portugal, só para citar dois fenómenos relevantes. O documento, numa versão "scannada" ainda com algumas anotações à mão (já não existe o texto original no computador nem uma versão limpa em papel?), está escrito num português de fraca qualidade.

Todos os restantes relatórios, anteriores e posteriores a este, são sobre o novo aeroporto (SA?). O primeiro deles (ainda não da responsabilidade da Novo Aeroporto, que iniciou actividade em 1998), tem como capa a seguinte pérola:



Para realizar estas nobres tarefas a Novo Aeroporto, SA tem ao seu serviço sete funcionários e teve em 2004 custos com o pessoal que ultrapassaram os 369 mil euros (como pode ser comprovado no Relatório e Contas de 2004, disponibilizado no site).

Não são estes os estudos que temos que discutir. Não é esta a discussão. Queremos discutir se é preciso ou não um novo aeroporto. Em 2005, com o tráfego de hoje, depois do 11 de Setembro, com companhias low cost e de custos "normais". E talvez valha a pena discutir também quem é responsável pelas muitas centenas de milhares de contos que a Novo Aeroporto, SA gastou nos últimos sete anos.

terça-feira, novembro 15, 2005

Falam, falam, falam, falam (o original)



Marco, do Big Brother 1, a fazer magia com as palavras.

Klapisch, o realizador da minha geração

Vale muito a pena ver as "Bonecas russas".

segunda-feira, novembro 14, 2005

nun nce scassate 'o cazzo!


(se a música tiver cortes, é fazer stop, deixar a linha branca percorrer mais de metade do seu caminho e fazer play. Obrigados.)


Je so' pazzo je so' pazzo
e vogl'essere chi vogl'io
ascite fora d'a casa mia
je so' pazzo je so' pazzo
ci ho il popolo che mi aspetta
e scusate vado di fretta
non mi date sempre ragione
io lo so che sono un errore
nella vita voglio vivere
almeno un giorno da leone
e lo Stato questa volta
non mi deve condannare
pecche` so' pazzo je so' pazzo
ed oggi voglio parlare.

Je so' pazzo je so' pazzo
si se 'ntosta 'a nervatura
metto a tutti 'nfaccia o muro
je so' pazzo je so' pazzo
e chi dice che Masaniello
poi negro non sia piu` bello?
e non sono menomato
sono pure diplomato
e la faccia nera l'ho dipinta
per essere notato
Masaniello e` crisiuto
Masaniello e` turnato
je so' pazzo je so' pazzo
nun nce scassate 'o cazzo!



Pino Daniele

(cantada ao vivo por Pino Daniele, Fiorella Mannoia, Francesco de Gregori e Ron)

Insónias

Entro num sítio chamado "Insónias bar" e logo a piadita fácil: onde está a Sónia? Mais apóstrofe menos apóstrofe e o bar chamar-se-ia "In Sónia's bar". Ou, passando a uma versão porno, não estranha a este blog, "In Sónia's pussy". E, de repente, o conceito faz todo o sentido: o bar em forma de vagina! É fácil imaginar a porta, a entrada, as paredes, as cores... Bebida oficial e única: orgasmo. Com excepção de cinco dias por mês, em que só se beberia sangria. Sempre a começar a "vintóito".
Por cima do bar principal o toque de classe: uma tarja com as palavras "It's Sónia's pussy: lamb it or leave it!"

sexta-feira, novembro 11, 2005

quinta-feira, novembro 10, 2005

Sem comentários

A MULHER DO PRÓXIMO*
a mulher de marques mendes era adjunta do secretário a. amaro... a mulher do ministro da agricultura a. de carvalho era secretária de couto dos santos... a mulher de álvaro era empregada do conselho de ministros... a mulher de dias loureiro colaborava com a secretária da cultura... paula t. da cruz, mulher do subsecretário estado da presidência com o mesmo apelido era assessora de m. mendes... a mulher de nogueira era adjunta do secretário da saúde... recorda-se? foi em 92, em pleno cavaquistão, era marques mendes secretário de estado da p.c.m. e deu uma novela no mexicana no independente. os ministros e secretários de estado(nessa altura ainda existiam governantes naturais... ou com ligações a coimbra) empregavam as suas mulheres no governo...
por cá, o caro e-leitor, guardando as devidas distâncias, sabe se as/os familiares mais próximos dos nossos politicos fazem destas cenas?
(*manchete do independente de 9-2-92)

In her shoes

i carry your heart with me (i carry it in
my heart) i am never without it (anywhere
i go you do, my dear; and whatever is done
by only me is your doing, my darling)

i fear no fate ( for you are my fate, my sweet) i want
no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life; which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart (i carry it in my heart)

e.e. cummings


Se for dito pela Cameron Diaz... melhor.

terça-feira, novembro 08, 2005

A quem possa interessar


Há muitos hinos

Não era a melhor escola do mundo, mas tinha um hino engraçado.

Tem
Um portão
E um lago ao fundo
Uma ilha e um bosque p'ra sonhar

Tem
Mil histórias
De uma vida inteira
Um futuro que vais poder conquistar

Vem
Vem connosco
Construir, inventar, dar de ti
Vem
Vem connosco
A sorrir, a brincar
É bom estar aqui

Pequeno Mundo p'ra nós
Canção, mistério que vais desvendar
Poema escrito p'ra ti
Sorriso aberto em cada manhã

segunda-feira, novembro 07, 2005

Paris, Texas... Lis boa... merda?

O grande erro francês foi ter dado educação aos jovens dos subúrbios. Os meninos cresceram sabendo ler e escrever, e viram como vivem os "outros". E perceberam que para que os "outros" tenham grandes casas, grandes carros, grandes festas e grandes férias, alguém tem que viver nos bairros pobres e passar dificuldades. E revoltaram-se.
O grande erro francês foi não ter seguido o exemplo brasileiro. No Brasil os jovens miseráveis não sabem ler nem escrever e acreditam que o mundo acaba no fim da sua favela. Vivem a 500 metros da mais obscena riqueza mas não se revoltam. Não sabem como vivem os "outros". E os "outros" vivem em paz, nos seus condomínios fechados. E os turistas estão felizes, nos seus resorts de luxo e voltam a cantar maravilhas das suas férias.

Os portugueses nada têm com que se preocupar. Os jovens nos nossos subúrbios sabem ler e escrever. Sabem ver a diferença entre a Amadora e os condomínios fechados da linha (ao estilo brasileiro). Mas as revoltas e as revoluções não estão no sangue lusitano. Se dependesse dos portugueses nunca teria havido um 25 de Abril. Viveríamos em paz, a dizer mal de uns vermelhos que por aí andavam, a escrever na net. Íamos à missa ao domingo pedir perdão dos pecados e saúdinha. Uns viviam na opulência e os outros na pobreza. E estaria no poder um qualquer sucedâneo de Salazar, tipo Sócrates ou Durão, mas quem mandava verdadeiramente era um tipo com o perfil do Jorge Coelho.

Existiu mesmo um 25 de Abril?

sexta-feira, novembro 04, 2005

Arrependo-me hoje

de todas as loucuras que pensei fazer e não fiz.

Marca a assinalar

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quinta-feira, novembro 03, 2005

Encher pneus


É a nova moda dos ambientalistas na Europa (por cá tudo chega mais tarde...): esvaziar pneus de SUVs. Com o objectivo de despertar a consciência ambiental dos seus proprietários.
O movimento começou em França mas rapidamente se alargou a Bélgica e Itália. Recentemente em Bruxelas 40 SUVs ficaram com os pneus esvaziados numa só noite.

Em Coimbra não faltará trabalho aos esvaziadores!

João Deão 38


A rapariga mais bonita do mundo dorme num segundo andar de uma pensão de duas estrelas. Ao ouvir a porta do quarto fechar-se, estremece, sussurra umas palavras tépidas mas não acorda. João desce as escadas da pensão, paga o quarto e envergonha-se com o sorriso do porteiro. Com passo acelerado, vai expulsando a raiva que o pedido de Isabelle lhe causou. Preservativos. Ele que estava disposto a correr todos os riscos por ela. Todos! Implicasse o que implicasse amá-la hoje, não ia aturar esse tipo de conveniências sociais. João fora traído. É carne em nervo a percorrer as avenidas com o peso do mundo nos pés. Uma voz chama-o.
-Então? por aqui? sozinho?
-Sim
-Vou ter com os amigos, não queres vir? Beber umas cervejas?
"Umas cervejas" eis a expressão que sincronizou o passo de João com o de Pedro, um amigo a quem não se tem de explicar nada, e que os guia na direcção do bairro alto.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Quem dá mais?


My blog is worth $8,468.10.
How much is your blog worth?


Dica do Glória Fácil.

terça-feira, novembro 01, 2005

João Deão 37


E, no momento, em que João abriu a porta do quarto onde Isabelle dormia, quando a luz do corredor iluminou o ultimo milímetro de tecido da ponta do lençol que tocava no chão, a prostituta acendeu um cigarro na mão de um ex-presidiário que por tique nervoso pisca muito os olhos e, recordou o que segue:
A venda por atacado de cona, cu e mamas na via publica não é pêra doce. Há as esporradelas-lancetas vazadoras de vistas, os perigosos barrotes abrasadores de cus, e os democráticos indicadores esgarabulhões. Se com os últimos posso bem, da cegueira por beita e da esfolação marsapial dos folhos do cu, confesso ter um certo receio. A puta de esquina, para se defender não precisa de cascos pintados, do pudor da puta casada, ou da promiscuidade da puta de igreja. A puta de esquina precisa apenas de duas brutais gambias, de umas tetas práticas, e de dominar medianamente a arte da cabeçada de cona: potente projecção da zona púbica para a frente, com ou sem kiay. Eu aprendi quando um primo me lambia, e a despropósito me deu incisivos no treçolho abaixo do montinho pentilhoso. Um golpe curvo partiu-lhe o pescoço. A c3. Com um mineteiro paraplégico entre pernas a arregalar-me muito os olhitos para lá da carqueja, e com o talo dorido, puxei-lhe o cabelo da nuca para lhe tirar o focinho da rata. Recordo que pestanejava muito.

Passa um carro a toda a brida. Lá dentro, o rádio grita: Pa-Pa-Pa-Geno, Pa-Pa-Pa-Gena

segunda-feira, outubro 31, 2005

Dia U2

Tenho a frase guardada há meses. Para citar naquele dia em que ela faça sentido. Por motivos óbvios ela ficava melhor num dia quente de Verão, com ar irrespirável e o céu cinzento de fumo. Pensei vezes sem conta no dia em que iria publicá-la. De repente, com a chuva que cai, sei que a frase amanhã não fará sentido. Não vou correr o risco de que a poesia seja confundida com a meteorologia, ou de que tenha que esperar por um outro verão quente para que a frase faça sentido no meu sistema solar.
Fica escrita, sem sentido nenhum, para que saia da minha cabeça:
After the flood all the colors came out
Já está. Venha mais chuva.

It's just a moment, this time will pass

E se o mundo acabar daqui a dois meses, que sentido terão tido essas coisas todas que vocês andam a fazer?

I will not forsake, the colors that you bring
But the nights you filled with fireworks
They left you with nothing
I am still enchanted by the light you brought to me
I listen through your ears, and through your eyes I can see

And you are such a fool
To worry like you do
I know it's tough, and you can never get enough
Of what you don't really need now ... my oh my

You've got to get yourself together
You've got stuck in a moment and you can't get out of it
Oh love look at you now
You've got yourself stuck in a moment and you can't get out of it


U2

sexta-feira, outubro 28, 2005

Conclusão do almoço

Há poucas dores que uma boa canja não ajude a passar.

quinta-feira, outubro 27, 2005

São dois peixes



Morena dos olhos d'água
Tira os seus olhos do mar
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar

Descansa em meu pobre peito
Que jamais enfrenta o mar
Mas que tem abraço estreito, morena
Com jeito de te agradar
Vem ouvir lindas histórias
Que por seu amor sonhei
Vem saber quantas vitórias, morena
Por mares que só eu sei

O seu homem foi-se embora
Prometendo voltar já
Mas as ondas não tem hora, morena
De partir ou de voltar
Passa a vela e vai-se embora
Passa o tempo e vai também
Mas meu canto ainda lhe implora, morena
Agora, morena, vem



Chico Buarque

quarta-feira, outubro 26, 2005

João Deão 36



"Nous avons un menu rédigé en Francais.
Restaurant Indien Internacional
Visitez notre restaurant indien et venez manger les meilleures specialites indiennés
Nous avons des plats pour tout les gouts:

Boeuf

Poulet

Crevettes

Rotti tandori (indian specialites)

Vegetarien avec aux sans piquant a votre choix.

Bon appetite"

Resistir sempre

Resistir nas pequenas coisas. Resistir vale a pena. O mal não se combate por dentro do sistema. O mal combate-se combatendo o sistema.

Rosa Parks, a mulher negra que a 1 de Dezembro de 1955 se recusou a ceder o seu lugar a um homem branco num autocarro, e com isso mudou o mundo para melhor, morreu aos 92 anos.

Resistir é preciso.


Alice

Quando um filme começa com o símbolo do Ministério da Cultura e estão vinte tipos numa sala de cinema onde cabem duzentos para o ver, não deveriam os bilhetes ser gratuitos? Pela coragem, pelo atrevimento, pelo masoquismo?

segunda-feira, outubro 24, 2005

Amar como Jesus amou, viver como Jesus viveu

Eu gosto da missa, não gosto é do povo com quem tenho que estar quando vou à missa...

O melhor aluno de um liceu de província

Há textos que estão escritos na minha cabeça e depois são puxados para fora por uma frase de outra pessoa.
Foi o que aconteceu com este. Há anos que a definição "o melhor aluno de um liceu de província" cataloga para mim uma série de pessoas com quem me cruzei ao longo do curso.
Uma série de pessoas chegadas a Coimbra no seu ano de caloiras, cheias de confiança no olhar, a citar Sartre nas conversas de café (agora Eugénio de Andrade deve estar mais na moda). São metódicos e trabalhadores, mas os exames chegam e, regra geral, a mediania é inevitável. Foi o que eu li hoje no texto do Joel Neto:
Mas eu lembro-me de quando cheguei dos Açores com uma média colossal e me armei ao pingarelho com o professor de Direito - e o homem olhou para mim, respirou fundo e, então, eu pude ver-lhe nos olhos: «Se o menino era o melhor lá na sua província, fique sabendo que os seus 130 colegas eram todos os melhores das respectivas províncias...»

O melhor aluno do liceu de província, habituado a ser monopolista de notas, passa a uma vida diferente em Coimbra: veste roupas radicais, vai a concertos dos Morphine e dos Belle Chase, não perde um ciclo de cinema polaco, embebeda-se e continuar a citar.
Quando acaba o curso, o melhor aluno de um liceu de província não volta para a terra. O Dr. volta a casa para visitar a família, mas mal dele se o seu brilhantismo não lhe permitisse viver em Coimbra, ou mesmo em Lisboa. Ninguém está disposto a deixar de ser um mito e a aceitar que é mediano.

Todos, cada um de nós em várias coisas, somos o melhor aluno de um liceu de província. Se somos craques em literatura da Lituânia, há seguramente em Nova Iorque 15 estudiosos que sabem de trás para a frente toda a escrita dos autores lituanos e mesmo esses parecem meninos de escola primária ao pé daquele especialista russo que há trinta anos não se afasta mais de três metros dos seus livros de autores cujos nomes acabam sempre em auskas.

Sempre que temos a pretensão de sermos verdadeiramente bons em alguma coisa não estamos a ser menos ingénuos que o melhor aluno do liceu de província que, chegado a Coimbra aos 18 anos, olhou para a Torre da Universidade e se imaginou, um dia, Presidente da República ou Nobel de uma coisa qualquer, na convicção de que eram essas as coisas importantes na vida.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Desejo

as maiores felicidades ao indivíduo que hoje entrou no meu escritório e me roubou a carteira. Vai ser um prazer voltar a tirar todos os documentos.

Vai roubar quem te rouba a ti, ó burro!

quarta-feira, outubro 19, 2005

Ch Ch Ch Ch Ch Ch...



Nos últimos dois anos aprendi claramente onde acabam as minhas forças. Nos últimos dois dias percebi duas coisas muito importantes, uma para enterrar o passado e outra para viver no futuro. O engraçado desta casa do Big Brother Anónimos é que nunca paramos de aprender.

terça-feira, outubro 18, 2005

João Deão 35



"Seja mais rato que os ratos!
Como descobri-los? Siga as suas pistas!

Ratos ou ratazanas mortos ou vivos

Gotas ou manchas de gordura

Excrementos

Pegadas, carreiros muitas vezes manchadas de gordura

Ninhos ou tocas

Ruídos da sua presença

Alimentos, madeiras ou outros materiais roídos"

Finalmente uma medida corajosa

Orçamento para a Saúde contempla o fim das limitações geográficas e de população para a abertura de novas farmácias. (ver página 8 - necessário Acrobat Reader).

A Brigada

Todas as terças e sextas é o mesmo. A Brigada chega a meio da manhã. A campaínha toca várias vezes e as batas brancas invadem a casa. Bom dia. Começam os gritos. O cano do aspirador roça no chão durante uma hora. Oiço discussões sobre limpeza e telemóveis, distribuição de tarefas, filhos não se sabe se desejados e maridos violentos. As vassouras e o aspirador batem na minha cadeira, esteja eu sentado nela ou não. Uns pedem licença, desculpa e agradecem vezes sem conta. Outros não abrem a boca e parecem nem saber que aqui estão. A esfregona, cheia de cera preta, nem sempre percebe a divisória entre o chão negro e a parede branca. Há sempre um lavatório, sempre o mesmo, que fica com o ralo tapado, e uma janela, sempre a mesma, que não fica trancada (agora felizmente está partida). As plantas nunca são regadas e as a caixa do correio nunca viu um pano. Já passaste a esfregona na escada, Marisa? Já! Não passaste nada, vai já passar! Ao fim de uma hora chega a carrinha grande. A Brigada sai da casa, sem ordem. O último fecha a porta, mas não como eu. Desce o degrau, vira-se e, então sim, puxa pela maçaneta. Às vezes ninguém a fecha e às vezes alguém volta atrás para a fechar. Até sexta!

As empresas não servem só para ganhar dinheiro. A vida não é só eficiência. Em que é que vocês pensam quando aqui estão?

segunda-feira, outubro 17, 2005

João Deão 34


Atenção desratização:
"Os ratos são uma praga! Directamente ou através dos seus parasitas, os ratos são uma fonte de doenças graves!

Salmonelose
Peste
Tifo
Cólera

Um só casal de ratos pode originar 2 000 novos ratos por ano!
Têm enorme capacidade de reprodução!
Têm enorme capacidade de sobrevivência!
Dificulte o acesso dos ratos à agua! Elimine os pequenos charcos de água estagnada.
Tape os ralos.
Feche bem as torneiras
Vede bem os poços."

Em poucas palavras

Futebolisticamente, para um adepto de Académica e Benfica, o fim-de-semana foi perfeito.

sábado, outubro 15, 2005

João Deão 33


No exacto momento em que Isabelle, sonhando que caía, estremece, João vira as costas à prostituta-eloquente. Acelera o passo e passa ao largo da pensão onde Isabelle adormecida espera por ele.

sexta-feira, outubro 14, 2005

O próximo Bond


Parece que Daniel Craig venceu Clive Owen, Jude Law e mais uns quantos na corrida às Bond Girls dos próximos anos.

terça-feira, outubro 11, 2005

Com o devido bacio

à João.

Sa cosa stavo pensando? Io stavo pensando una cosa molto triste, cioé che io, anche in una società più decente di questa, mi troverò sempre con una minoranza di persone. Ma non nel senso di quei film dove c'é un uomo e una donna che si odiano, si sbranano su un'isola deserta perché il regista non crede nelle persone. Io credo nelle persone, però non credo nella maggioranza delle persone. Mi sa che mi troverò sempre a mio agio e d'accordo con una minoranza...e quindi...





Nanni Moretti em Caro Diario

Nobel

Afinal, ao contrário do que disse a Gabardina, nem todos os membros do Comité Nobel dormiam descansados.

Cavalos votados

Por que é que os políticos portugueses têm, quase todos, os dentes podres?

segunda-feira, outubro 10, 2005

Poeta

Isto é futebol. É um bocado como a vida, de vez em quando as coisas correm bem, de vez em quando as coisa correm mal.

Artur Jorge, seleccionador nacional dos Camarões, à RR, depois de a sua equipa ter falhado, no último minuto da fase de apuramento, um penalty que garantiria a presença na fase final do próximo Campeonato do Mundo de Futebol.

Ou como diria Valentim Loureiro...

Desilusão

Valentim Loureiro está louco, eufórico, irritado, impaciente. Farto de não ter um microfone para falar, arranca-o das mãos do técnico de som gritando "Foda-se!".
Eu espero pelo grande insulto a Marques Mendes (daqueles tão puxadinhos que em vez de começarem por filho começam por filha). Mas tudo o que Valentim chama ao homem é "Zé Ninguém qualquer".
Foi uma noite de desilusão.

quinta-feira, outubro 06, 2005

João Deão 32


Estabeleci a minha lojinha da foda no meio do passeio: um ândito solarengo, género open-space, em calçada Portuguesa a tornejar rua Almirante Reis para a rua Maria, e, que por ter chão calcário, permite de imediato, fazer o teste ácido-base à esporra do cliente. Aí, bati punhetas por atacado, fiz broches a retalho e, pari pelo gasganete, pregões de corar Calígulas. "Enche-me a tripa de carne"; "Amor, vai de apanha cavacas?"; "Atesta-me de meita, e arruma-me os lençóis da cona". Longos anos assar o olho e a boca do corpo com fricção de barrote zarolho, ensinaram-me o talmude das putas: é o jingle usas que escolhe a esporra que bebes. Era assim nos clássicos e é assim agora. O jingle para atrair anciões para arejamento das peles e tirar o mofo à pintelheira rala: "é a última amor". Para capões que só lambem: "Tu tens é tesão no cu, Oh! meu corno paneleiro". Para os juvenis basta olhar e exibir língua tesa. A esporra que se bebe dos velhos: uma aguadilha macilenta, dos panascas: pequenos grumos, e dos juvenis litradas de nha-nha peganhenta com sabor a diospiro verde. Todas as beberagens são ricas em proteínas e fazem bem à pele.

terça-feira, outubro 04, 2005

Hoje em Coimbra

Adelaide Ferreira canta na discoteca Broadway.

Portugal tem futuro

Enquanto políticos, economistas e cidadãos em geral se desdobram em comentários sobre os perigos que representam a China e a Índia para o nosso país, chorando pelas fábricas que se deslocam para aqueles países, uma luz intensa parece surgir ao fundo do túnel da economia portuguesa.

É verdade que muitas indústrias e mesmo alguns serviços têm sido passados para a Ásia. Não é menos verdade que outras empresas têm sido transferidas para a Suécia, para a Finlândia ou para a Alemanha. Portugal parece, assim, ter sido apanhado a meio caminho nesta revolução tecnológica. Não somos suficientemente pobres nem suficientemente desenvolvidos para atrair investimento estrangeiro.

Mas o tempo joga a nosso favor e a estratégia de desenvolvimento que tem vindo a ser seguida nos últimos anos deverá dar resultados. Daqui a dez ou quinze anos a China e a Índia, fruto do seu actual crescimento, terão já empresas competitivas a nível internacional, que quererão instalar filiais na Europa. As empresas dos países do primeiro mundo, preferem ter as suas filiais europeias instaladas nos países nórdicos, na Alemanha ou na Irlanda, pois não conseguem viver sem eficiência e transparência.

Mas às empresas asiáticas interessará sobretudo o baixo custo e um pouco de promiscuidade com a classe política não será de todo mal vinda. Neste cenário Portugal reune todas as condições para garantir que uma parte significaticva do investimento asiático na Europa se instale por cá:
-Salários baixos;
-Grande quantidade de recibos verdes e contratos a prazo mesmo quando essas situações não se justificam;
-O direito à greve no sector privado só é exercido em empresas em situação de falência;
-99 em cada 100 portugueses pensam que a greve só deve ser feita quando não prejudicar ninguém;
-Altos índices de corrupção.

O investimento chinês será nosso! Portugal tem futuro!

Muito bom


João Deão 31


Dona de papudos beiços, treçolho enorme e fartas cerdas, vim-me pelo nariz e estreei piça na glote na mesma tarde de vindimas. Uns tratavam da bucha: eu dava caralhinho juvenil à cona esfaimada. Escarranchada de cócoras, em cima do rapazote que com o polegar quase me inaugurou o cu, cheirei marsapo vetusto por perto. "E o que fazes ao meu netinho, sua porca?" Como se seguram os cachos de uvas antes do corte, assim aparei os colhões do avozinho da criatura que me areava o cono. Desapertei as calças de sarapinheira seguras por uma corda e, abocanhei inteira e de só trago, toda essa massa de pele que lhe caia abaixo do umbigo. Cheia a boca do corpo de piço viçoso de neto, e a boca da cara, de piço macilento de avô, decidi que estava na altura de me vir. Porém, as pregas mortiças que tinha na boca, começaram a fermentar. Um cepo de velho intumescia contra meu palato e, não tendo para onde medrar, esgueirou-se-me garganta abaixo, cortando-me a respiração. Fiquei da cor do vinho e sem vontade de me vir. De igrejo caralho encravado na garganta, e de pila noviça a esbodegar-me a cona, meti frenética, indicador no cu do velho para que se viesse nesse instante. Com os movimentos bruscos, o neto desferiu esguiços lancinantes e o avô pingões de torneira mal fechada. Ainda hoje, quando gargarejo, sento o mofo que sua esporra deixou no meu nariz.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Vida dura na Fórmula 1

João Deão 30



Para senaita afogueada, esfregaço de beita. Para picha chorona, ranhola de cona. Saber de experiência feito, este tipo de mézinhas são a encíclica das putas: o conhecimento passado de Madalenas em Madalenas, até às Madalenas de hoje. Mas quando, não há norma que preveja, situação sub judicatura, então: inventa-se. Recordo um celerado. Entremeava o rego do cu com pedra de esquina, cigarros com imperiais e vontade de foder com vontade de mijar, quando o cabrão chegou. Com chumaço de pau feito, ajeitou a picha para cima, antes de me falar. "E o preço? E a pensão? E gostas de ver" "oh filho, dás-me 5 contos e sou tua por meia hora." Pelo cu rijo, e pela língua pontuda, topei-o: ou artista ou atleta. Já deitada, com a berbigona a latejar aguardei por injecção de carne, porém, o dançarino, dono de piça afilada e mui longa, cabriolou como um fauno em êxtase. Em pontas executou um battement frappé e um échappé. De seguida, pirouette piquée. Termina em Arabesque*. Aí, estático, sacou o margalho de dentro coquilha apaneleirada, olhou a berbigona assanhada e vai de esgalhar pessegueiro. Em equilíbrio. Perdida no que fazer e não recordando solução para o caso: inventei. Então, apertei bem o indicador e médio contra a rata, fiz pontaria como só as mulheres sabem fazer. De seguida, solto um peidinho e um de esguicho da cerveja bebida com potencia diurética dos cigarros fumados. O tipinho, cego, continuou frenético, como se as luzes do palco o impedissem de ver o público. Veio-se em todas as direcções. No chão, deste palco de pensão, as pétalas de rosas eram pétalas de esporra.


Nota:
Arabesque-Uma posição onde o dançarino eleva uma perna, recta ou dobrada, com a outra estendida para trás, geralmente em ângulos similares ao do corpo,

Causa também minha

Eu que tantas vezes tenho criticado os textos de Ana Gomes, aconselho a leitura deste. Muito bom. Concordo plenamente. Assino por baixo.

sexta-feira, setembro 30, 2005

Auto-post


Este mês batemos todos os recordes de visitas e page views. Sem links novos de blogs famosos e sem pesquisas repetidas nos motores de busca por algo que escrevemos. Dá ânimo! Obrigados aos leitores!

João Deão 29


Ao contrário de meu cono, sempre resguardado por selvática pintelheira, meu olho negro, sempre alojou pelagem civilizada: senaita revolucionária e cu aristocrata, eis, a parelha que me paga o T2 com mezzanine. O pêlo do pito é o pintelho: "Olá, pintelhinho, pá". O do cu, mutatis mutandis é o cuelho: "Estimado D. cuelhinho". As diferenças, mais que no esbudeganço de caralho, é no lamber que se revelam. Um dia, um celerado novito, enquanto de me enrabava com o indicador e me fodia com o anelar, como se metesse os dedos numa tomada eléctrica, perguntou-me se podia lamber. "Oh filho, mas tu lambe à vontade." O cabrão do trombeteiro, chupou-me a pachacha com uma força que o lençol acabou por me enrabar. Depois de assim se lambuzar com o chispe, deu idêntico tratamento ao meu olho mais fechado. Ora: o olho que nasceu burguês e passou a nobre com uma enrabadela de diplomata, acusou a igualdade do tratamento. Snobeira, presunção, arrogância ou tudo junto, a verdade é que logo ali avisei o putanheiro: "tu chupar o cu, não chupas, tu nesse cu, fazes é cornucópias com a língua". O puto corou, como coram os bebedores da água com limão num jantar de marisco, desentesou-se e foi ter com a mulherzinha.

quinta-feira, setembro 29, 2005

Europa em 2005

O presidente da Câmara Municipal de Cascais, António Capucho, lamentou hoje a morte de uma mãe e dos seus cinco filhos num incêndio numa barraca do bairro do Fim do Mundo e revelou que esta família estava prestes a ser realojada.

Quatro horas depois de a barraca ter ardido os escapes dos Porsches ecoavam na Avenida da Liberdade e, pelas ruas de Lisboa, os ministros liam os jornais do dia, tranquilamente, no banco de trás dos seus carros de luxo, conduzidos por motoristas.

João 28



Se o nariz detectava mexilhona húmida por piça, logo o porro hirsuto, se lhe trepava umbigo acima, lacrimejando pingos do tesão. Se os olhitos encovados afilavam em regueifas atulhada de pano, cuecas sem tufo pintelhoso frontal, ou tetões mui livres, logo um esguicho de esporra o esmifrava. Se as badanas ouviam suspiro, ou roçar femeeiro de gambias,logo uma baba esbranquiçada, embebia o zarolho. Ora, se, no prostíbulo da sacristia, onde afogava os acólitos em hectolitros de beita, ou nos bordéis onde engasgava o putame, esta precocidade do libertino era bem tolerada, ao Domingo, por debaixo da nave central, frente ao altar ou no meio das recepções nos claustros, estes espirros de visco eram uma limitação à progresso na carreira do clérigo. Então: procurou-me. Que, sua manápula, me coçasse sem medo a cona. Que, as falanges roliças me entesasse os tetos. Que desse, língua mui direita, meu cu acima. Tudo executou sem molhar pintelho. À mata-cavalos, meti-lhe cu acima os dedos, que em gadanha, agito frente ao nariz do leitor . O indicador, que vedes, pressionou as costas dos tomates e a boca que vos fala, garroteou o porro pela base: à bruta. Com o susto repentino e a ver vidinha a andar para trás, assim aprendeu a nunca mais ter pressas.

quarta-feira, setembro 28, 2005

Trespassa-se

parte (importante) de uma juventude.

E o acontecerá agora à Luísa, que me perguntava sempre, sorrindo, "E para o cavalheiro, o que vai ser?"?

João Deão 27


Graças a Deus: nunca constipação maçou minha rata. Agasalho de porros e folhada de indicadores: exibiu sempre viçosa pintelheira - o foder, sem tufos desgrenhados, não é o foder: é pastelaria fina-. Nunca a rapei, nem a mostrei ao astro rei: cono ensolarado, é cono assado, e cono assado, tem valor venal de unha de pé roída. Só uns calos me deram um outro andar. Três em cada beiço, logo acima do vau para o caralho. A córnea lisura de corrimão, nasceu com um conanas: suporte dos mais plúmbeos e pesados colhões que senti numa vida de berleitadas. Apesar de preferir cu de macho, a rego de fêmea, este delinquente de cona passando-lhe uma pelas vistas, esfodaçava-a a bem esfodaçar. Os pintelhos ficavam electrizados e picavam como espinhos, o marasapo hirto perfurava cego, e os colhões...Os colhões bradavam nas bordas da cona em onomatopeias começadas por "P" e plenas de vogais todas abertas. É claro, o chispe, que não é de ferro, engrossou em sola de pé descalço. Bati-lhe segóvias, antes da injecção de carne. Usei esferovite, e outros isolantes. Nada evitava as contusões labiais. Mandei o matarruano à vidinha, e pus a seneita de molho. Calicidas importados, pachos de mel, banhos tépios de leite e lambidelas amigas de amigas: foi assim que voltei a ter coninha de anjo.

terça-feira, setembro 27, 2005

SLB

Independentemente do resultado de logo à noite, viva a antecipação da grande noite europeia!

Boa publicidade

João Deão 26



O meu olho do cu nunca recusou tranca valente, e, talvez por isso, seja hoje, com uma ruga funda na bochecha de velho: um leve sorriso de peles secas e esgaçadas. Agasalhou grandes caralhões e obrou ainda maiores cagalhões. A diferença não foi só vectorial. Foi moral. Recordo um cliente. Nunca atestara cona de carne, ia casar-se, e queria, a bem de berlaitadas felizes, saber das linhas gerais das coisas da foda. Mormente da localização precisa da bicha. Deitei-me de barriga para cima, acalmei-o, abri as perninhas, exibi a berbigona, e preparei-me para o foder missionário. Assim, tal qual os padres mandam. O nubente, segurou o caralho com as mãos transpiradas e procurou-me a rata. Porém, encontrou-me o cu. Veio-se, corou de vergonha, agradeceu a ajuda e partiu convencido da sua sapiência sobre a localização da senaita. Que bela essa noite, em que, com propriedade, escuta a enrabada mulherzinha a urrar: "oh da guarda, que me esfacelam o cu!"

segunda-feira, setembro 26, 2005

Utopia ou merda

Um Portugal afundado e triste, mas ainda com uma réstia de esperança, elegeria Manuel Alegre Presidente da República.
Os portugueses votariam em Alegre, não pela sua competência em matérias de economia e finanças nem pela sua simpatia ou experiência do lugar. Votariam em Alegre por nele verem a sua própria revolta, o seu próprio inconformismo com a situação miserável e medíocre a que chegámos. Votariam em Alegre porque a tristeza que traz espelhada na cara, a vontade de desistir e dizer "está bem, eu estou velho e isto já não me interessa nada. Façam lá o que quiserem com a merda do país!", e a vontade ir contra o poder instalado, contra os seus e contra os outros, que dentro dele venceu, seriam iguais às suas vontades. Votariam em Alegre porque saberiam que foi ele o último a tentar parar o mentiroso que é hoje primeiro-ministro de Portugal, eleito com a promessa de não aumentar os impostos. E mostrariam ao PS e a Sócrates que não gostam de mentiras. Votariam no poeta e no utópico que é Manuel Alegre, porque é de poesia e de utopia que nós precisamos. E Alegre ganharia como Soares ganhou em 86, vindo de trás. A meio do que foram os melhores seis ou sete anos de que temos memória. Mas por cá serão os poetas, os artistas e os vendedores de utopias os primeiros a votar em Soares ou em Cavaco. Porque os artistas e os utópicos do burgo vivem dos subsídios do Estado, e não lhes interessa que a utopia passe para as ruas.
Manuel Alegre não mandou o país à merda e, mesmo que já não fosse a tempo de o tirar de lá, ficava bem como Presidente da República. Mas talvez lhe fique melhor, talvez seja mais justo para a sua figura, perder pelas cruzes feitas com as mesmas mãos e canetas que elegerão Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras e Ferreira Torres e que antes deles elegeram Durão e Sócrates.
Se eu ainda votasse, se eu ainda acreditasse, votaria em Manuel Alegre. Assim, se passar no sítio onde voto no dia das eleições, votarei num dos outros, à sorte. Tudo para não misturar Alegre com esta merda em que o país se transformou.

Este não é um post sobre mim

apesar de muitas vezes a mim se aplicar.

Às vezes a verdade pode vir até dos Xutos:

Se gosto de ti,
Se gostas de mim,
Se isto não chega
Tens o mundo ao contrário.


(a viagem de ressaca e a cabecear não foi completamente improdutiva...)

:)

No outro dia cheguei a casa e a minha mulher insistiu para que eu a levasse a um sítio bem caro...
Levei-a a uma bomba de gasolina!



(recebido por e-mail)

João Deão 25



Sempre desconfiei dos que só lambem as pachachinhas. A minha, conheceu língua cedo, por um paneleiro seminarista que, por conto de reis, se esbodegou todo na boca do corpo. Macérrimo, e com um touco em vez de piça, disse a tresandar a morcela, que os caralhitos que chupava na catequese, sabiam ao meu grelo. Desconfiei. Um dia trouxe um amiguinho. Durante uma hora, entremeou potente minetada, com delicado abocanhamento da tomatada do petiz. "lambere humanum est, ergo lambamus". Dizia.
A verdade é que as declinações latinas ensinaram-lhe a revirar bem a língua naquela prega de cona, em que o cabeçudo espreita, e à conta dessas latinadas vinha-me imperialmente. Tenho saudades o meu primeiro seminarista.

sábado, setembro 24, 2005

João Deão 24



João, guiado pelas luzes verdes intermitentes da farmácia no final da rua, avança pelo passeio: invadido por carros, por andaimes; e ele: pela sensação de que se esqueceu de algo. À porta, duas pessoas. Um viciado em heroína. E uma enorme prostituta. João procura dinheiro nos bolsos. Apenas umas moedinhas. O drogado está aviado e prostituta recebe as moedas de que precisa. João pede-lhe uns trocos, mas ela diz que lhe compra o que ele precisar. João agradece e acompanha-a à pensão, onde ele pernoita e onde ela trabalha há 20 anos. Conversam.

quinta-feira, setembro 22, 2005

João Deão 23


Isabelle, deitada de lado, leva o braço ao fundo das costas dele e puxa-o para si, enquanto se empurra para ele. Nunca tanta pele respirou tanta pele. As costas dela: inteirinhas no peito dele; a cintura dela: colhida pelo colo dele. As pernas em cordame entrelaçadas. As mamas ocupadas pelas mãos. Torce o pescoço para trás à procura da boca de João que lhe beija o ombro. João percorre o contorno do corpo de Isabelle com a mão. Sente um corpo amolecido e sonolento ficar tenso de desejo. Isabelle beija-lhe a boca. Soluça ao inspirar. Morde-lhe a orelha, mete-lhe a língua no ouvido, e esmaga a sua boca contra a cara de João. Sussurra-lhe umas palavras enquanto o segura entre as pernas.

João desce as escadas da pensão a correr, pára antes da recepção, mete a camisa para dentro e pergunta ao empregado:
-Onde é a farmácia mais próxima?

quarta-feira, setembro 21, 2005

João Deão 22

Se fosse há 20 anos e estivesse em Coimbra João iria ao Moçambique:

Eu sou um Coca Billy de poupinha no ar
que me excito todo com o Elvis a cantar
só faço javardeira e só dou mau aspecto
passo a noite inteira a beber um bom caneco
e não há melhor lugar para se divertir
que o Moçambique Bar para beber beber até cair
De segunda a sexta feira o Moçambique é o meu tecto
só faço javardeira e só dou mau aspecto
Coca Billy é a minha graça e passo as noites no engate
a comer uma louraça até que me farte.
Coca Coca Coca Coca Cola Billy
No Moçambique há os negros de África
Ái ái ái ái ái que saudades de ir no Angola.
No Moçambique também há os Freaks desvairados
No Moçambique também há uma quantidade de parolos
Quando a rosinha morreu, acenderam-se as velinha
lá no alto da igreja, que até metia imbeija
No Moçambique também há os Punks mauzões
Coca Coca Coca Cola Billy
COCA COLA BILLY



ÉMASFOI-SE

MÚSICA Sérgio Cardoso
LETRA Sérgio Cardoso


CD à venda aqui:
http://www1.interacesso.pt/~jhaergio/2_bandas/x_emasfoise/3_c_intro_emas.html"

A criança que há em mim

Your Inner Child Is Happy

You see life as simple, and simple is a very good thing.
You're cheerful and upbeat, taking everything as it comes.
And you decide not to worry, even when things look bad.
You figure there's just so many great things to look forward to.

Dica da Bomba.

terça-feira, setembro 20, 2005

Professores angariam clientes

A realidade é esta: verificou-se uma grande quebra de natalidade há alguns anos atrás em Portugal, o que fez com que a geração que hoje frequenta as escolas portuguesas (em especial os liceus e as Universidades) tenha muito menos alunos do que a anterior. Por isso, e porque o Estado continua a financiar escandalosamente escolas privadas (seja a Universidade Católica sejam os colégios) enquanto as escolas públicas funcionam muito abaixo do seu potencial, há muitos milhares de professores do secundário desempregados e os professores do ensino superior, em especial os que não estão nas grandes universidades, fazem de tudo para continuar a ter clientes.

Já ouvíamos, de vez em quando, spots de rádio publicitando cursos em Universidades públicas (se isso é legal e moralmente aceitável, talvez fosse bom discuti-lo). Agora o Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC) dá um novo passo, que me parece totalmente desesperado, despropositado e inaceitável: abre um "ano zero" para os alunos que não conseguiram entrar nos seus cursos, que funcionará como explicações preparatórias para as específicas do próximo ano.
Os argumentos que defendem esta medida são os de sempre: "necessidade de aumentar a qualidade de ensino nas áreas tecnológicas"; "contribuir para o desenvolvimento do país "; "pretende-se aumentar as vocações nas áreas tecnológicas"; bláblá, bláblá, bláblá...
O truque de fidelização do cliente é engenhoso: os alunos que entrarem no ISEC terão equivalência a cadeiras feitas no "ano zero".
Os proveitos são evidentes: 500 euros de propinas por ano.

Os perigos, no entanto, são evidentes. Abre-se uma guerra com os professores do ensino secundário, descredibilizando-os completamente e chamando-lhes, com todas as letras, incompetentes para levarem a cabo a sua missão de preparar os alunos do secundário para as provas de acesso ao ensino superior. Por outro lado, quebra-se a separação, que me parecia saudável, entre ensino secundário e ensino superior. E o que farão as restantes instituições de ensino superior? O mesmo, pois claro... A não ser que os seus professores não percebam que são os seus empregos que estão a ser atacados pelo ISEC...

A isto, o que se segue? Explicações gratuitas dadas pelos professores de liceu? Professores da primária que levam os seus alunos a casa, porta a porta, e os ajudam a fazer os TPCs? Educadoras de infância que organizam chás para senhoras grávidas?

E daqui a 30 anos, quando esta geração for a principal cliente de cuidados de saúde, ouviremos num spot de rádio um médico do Serviço Nacional de Saúde (se tal coisa ainda existir) a convidar: "Apareça nas Urgências do nosso Hospital! É um prazer tê-lo por cá!"?

Vamos brincar!

Algumas coisas são demasiado importantes para serem escritas num blog. Se assim não fosse, bem sabes o que aqui escreveria hoje...

segunda-feira, setembro 19, 2005

Carmona vs. Carrilho

O que mais me inquietou no debate entre os dois candidatos foi: o que é que a Bárbara viu naquele palerma?

João deão 21



Isabelle dorme de costas para João. O lençol delicadamente abaixo da cintura permite que as sombras rectas das portadas se projectem nas curvas no seu corpo, como se à força de tanta harmonia, as ripas de madeiras duras, feitas sombra pela lua, se contorcessem. João abre os olhos sem acordar e observa Isabelle com se sonhasse. Passa a mão por cima das costas sem lhes tocar. Sente o calor que exala. Feronoma térmica: um calor lento e lânguido como só as mulheres a dormir ao lado de um homem podem emitir. João submerge a mão no lençol, e sente com a ponta do dedo indicador o ângulo do osso da cintura de Isabelle. Depois o contorno do final das costas. Isabelle a dormir sorri. Isabelle a dormir sorri. João aproxima-se, levantando o lençol, que num buraco de vácuo os separa. A sua pele fria contra a pele quente de Isabelle. Desce a mão para o outro lado das costas e avança barriga acima. Percorre com os dedos a pele e tenta definir o milímetro exacto em que o peito se eleva. Tenta. E tenta. Isabelle acorda, olha para a mão de João, agarra-a, e afunda-a perto do coração que bate lento e pesado. Depois inspira e ajeita o rabo contra João. O frio da pele dela, contra o quente do amor dele. Isabelle ajeita-se de um lado para o outro, e afasta ligeiramente as pernas, deixando que João ocupe o preciso triângulo entre o seu sexo e as suas pernas. Como se de mais uma prova de compatibilidade se tratasse, sorriem com a precisão das medidas. Assim, apreciando sem saberem as transformações geométricas das linhas rectas das ripas em linhas curvas do copo, e da ocupação de um espaço triangular por um cilindro, subvertem a física clássica, a lógica matemática e a concordância gramatical. O tempo parou. Mesmo. E durante seis anos toda a terra esteve imóvel. Claro que poucos se aperceberam disso, pois o tempo recomeçou no preciso momento do sorrido de Isabelle dando a 90% da população uma normalíssima sensação de dejá vu.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Unir para dividir

Foi aprovado pela autoridade competente o domínio de internet .cat, destinado a sites da comunidade línguistica e cultural da Catalunha. Não é ainda o .ct que a associação PuntCat pretende ver aprovado como domínio do país Catalunha, mas é um primeiro passo no mau caminho.

O mundo nunca se verá livre desta gente pequena e mesquinha que exibe com orgulho os seus hinos e as suas bandeiras, que vê em cada passado histórico comum e em cada língua regional uma oportunidade para desunir, criar fronteiras e desencadear guerras.

A day without a smile


is a wasted day

Amarante 2005

Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Erro Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Erro Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete Repete

quinta-feira, setembro 15, 2005

Portugueses de sucesso

No site lyrics-songs.com há uma banda portuguesa em 12.º lugar nas letras mais procuradas. à frente dos U2, dos Beatles, do Robbie Williams, da Jennifer Lopez, da Christina Aguilera, da Beyonce ou da Madonna.

De entre as 50 letras mais procuradas, sete são destes rapazes que animam os fins de tarde das adolescentes portuguesas (e não só das adolescentes...). Não sabes quem são os D'ZRT? Tens que ver as tardes da TVI.

Pedi-lo é humano


so i turned the radio on, i turned the radio up,
and this woman was singing my song:
the lover's in love, and the other's run away,
the lover is crying 'cause the other won't stay.

some of us hover when we weep for the other who was
dying since the day they were born.
well, this is not that:
i think that i'm throwing, but i'm thrown.

and i thought I'd live forever, but now i'm not so sure.

you try to tell me that i'm clever,
but that won't take me anyhow, or anywhere with you.

you said that i was naive,
and i thought that i was strong.
i thought, "hey, i can leave, i can leave."
but now i know that i was wrong, 'cause i missed you.

João Deão 20


João está sentado na última fila da plateia. O espectáculo já começou. João não consegue olhar para o palco. Observa a rapariga à sua frente. Tem um casaco de malha cor-de-rosa claro apertadíssimo e umas saias compridas, enrugadas e com brilhos. João matou o cavalo e arrancou-lhe os olhos com os dedos. Vê o perfil do peito através da malha do casaco. João abriu a veia jugular do cavalo com a fivela do cinto. Observa os pés da rapariga nas costas da cadeira da frente. Encaixou a massa do animal num dos compartimentos privados da enorme casa de banho do teatro, e, viu uma maré de sangue sair por debaixo da porta. A rapariga apanha os cabelos e prende-os com um elástico; em contra luz, a linha do seu pescoço que se inclina para se expor ao fresco. O sangue avançou em leque pelo chão imaculado, impelido pelas golfadas que saíram do pescoço do cavalo contorcido dentro da boxe feito matadouro. A rapariga agita as saias e descruza as pernas, João escuta o som das coxas húmidas a separarem-se.

Algo está errado

Quando aquele que é suposto ser o homem mais poderoso do mundo tem que perguntar por escrito a uma sua colaboradora se pode ir à casa-de-banho.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Em quem votam alguns dos portugueses

A euro-deputada Ana Gomes ataca fortemente o seu partido, actualmente no Governo, afirmando (concordando com um representante do povo) que "A responsabilidade (...) em nomear para a chefia (...) um indivíduo sem qualquer qualificação (...) apenas para (o) recompensar (...) é 'criminosa'."
O eng.º Sócrates ficou com as orelhas a arder pelas nomeações de Fernando Gomes para a Galp e de Armando Vara para a Caixa Geral de Depósitos. Esta Ana Gomes não tem papas na língua!
Não? Ana Gomes falava afinal de uma nomeação do Presidente Bush? Peço desculpa pelo engano... mas qualquer um se confundiria com as semelhanças...

João Deão 19



João, o cavaleiro que bebe café, aguarda o início do espectáculo frente ao bar. A agitação da sala acalmou, e cavalo e cavaleiro foram civilizadamente integrados nos convivas. Mas, um bicho é um bicho, e um cavalo é um bicho grande. A montada de João começa a revirar as orelhas sem sentido, tem espasmos dérmicos no jarrete e na perna, abana a cabeça soltando placas de saliva seca, e defeca uma bola de basket em cima de um gin tónico preparado num copo de martini. João faz um sinal sonoro com a boca, aperta as all-stars contra os flancos, ondula com cuidado as rédeas e desfila em direcção à porta de entrada da sala de espectáculo. Atrás de si, a cauda que quase chega ao chão, em lentos e poderosos movimentos, vai apagando os cigarros, acordando os críticos mortiços, despenteando os gays lavadinhos e acariciando as mamas das madamas. Pelo corredor, João leva o cavalo ao quarto de banho. No foyer, som de gente a cuspir pêlos. Ao fundo, um homem gordíssimo vomita. Como não se consegue curvar, o vómito sai-lhe paralelo ao chão, sujando quem dele se aproxima. Tem um pêlo da cauda do cavalo a fazer-lhe uma endoscopia digestiva. O pêlo que ninguém ousa tirar, desce com uma pequena curva frente à boca e toca no chão. O homem com os olhos congestionados de lágrimas e com os movimentos descoordenados pela violência do vómito não consegue apanhar o grosso pêlo, por isso anda de um lado para o outro, na esperança de, pisando-o com os sapatos, ele saia e pare o reflexo incontrolável. Entretanto vomita, vomita e vomita. E vomitará até ao exacto momento em que João conseguir entrar no quarto de banho a cavalo. Quando a porta deste se fechar, num estrondo veneziano que ecoará pelo teatro inteiro, o homem pisará o pêlo com o pé e avançará sobre ele, extraindo-o assim, do tubo digestivo. O momento exacto é este. "Pum". "aaahhh que alivio."
João entra no quarto de banho e fecha o cavalo num dos compartimentos privados. Na boxe o cavalo relincha.

terça-feira, setembro 13, 2005

Dar-vos música


Há umas semanas que não dou. Não porque não queira mas porque encontrá-las no lycos está a ficar cada vez mais difícil.
Hoje encontrei esta, que me parece adequada. Não falta quem diga
What the hell am I doing here?
I don't belong here.


nem quem pense
I don't care if it hurts
I want to have control
I want a perfect body
I want a perfect soul

You're so fuckin' special

segunda-feira, setembro 12, 2005

Dignidade


João Deão 18



João entra pelo foyer do D. Maria adentro. Vai montado num cavalo de pêlo preto, que reluz os projectores da entrada, os castiçais, os candeeiros. A antecâmara da sala Garrett está à pinha com gays sofisticados, críticos cigarrentos, madamas eruditas e cheirosos estudantes de teatro. O cavalo avança em pizzicato; as patas derrapam no chão de pedra polida. Aproxima-se do bar, onde há uma carpete para o cavalo e café para João. Todos arregalam os olhos: os gays sofisticados, atrás dos seus óculos rectangulares de massa preta, e borrados de medo do cavalo, observam com atenção. Os críticos, com a atenção amolecida pela nicotina, acham que faz parte do espectáculo. As madamas fantasiam com o membro do cavalo. As estudantes de teatro limitam-se a gostar da performance. Apenas um velho de barbas, esparramando num dos sofás e estranhando um equídeo incontinente numa sala de fumo de um teatro, diz "Eh, pá, já deixavas, é o bicho à porta". João, pede o café, recebe-o numa mão. Faz um meio volteio para virar a cara do cavalo para a sala. Segura o pires na mão esquerda, mexe o café com a colher e pegando a chávena com a mão direita bebe sossegadamente.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Aviso à PETA


Em Portugal também há touros de morte. Vinde manifestar-vos!

Imagem do dia

O riso estúpido de Sócrates, Belmiro de Azevedo e Manuel Pinho, segundos depois de o primeiro ter feito implodir as duas torres em Tróia.

É o contentamento indisfaçável de quem gosta de destruir e ganhar dinheiro. O riso de quem precisa de sentir que tem esse poder.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Absurdo

Hoje, juntando as 500 pessoas mais ricas do mundo obtém-se um rendimento superior ao obtido por 416 milhões de pessoas pobres.

Mas depois fazem umas doações para a caridade e são considerados as melhores pessoas do planeta...

Eis o futuro

Professores indianos dão explicações on line a estudantes americanos. De matemática, ciências e... gramática inglesa. Por 20 dólares/hora, contra os 50 cobrados nos EUA.

quarta-feira, setembro 07, 2005

João Deão 17



Os barbeiros que conversam são como as putas que beijam. O corte de cabelo, como o foder, para além de ser todo mais ou menos idêntico, é, como a foda, uma espécie de morte controlada. Um corte de cabelo é procedimento. Exige tempo, desconforto e surpresa. Tal qual a morte, e as melhores fodas. Um barbeiro que me entope os ouvidos com a repetição das notícias do 24 Horas, que tem o rádio a pilhas na Antena 1 e que liga para o fórum da T.S.F, é uma puta que quer sair para a rua de mão dada. Quero silêncio, distância, seriedade. Quero que me aparem a franja e quero "esbazá-los" em paz. Quero as patilhas no sítio, e umas tetas grandes. Sem conversa, nem línguas encarniçadas. Quero máquina quando tiver de ser máquina, pente quanto tiver de ser pente e lâmina quando, lâmina tiver de ser. Quero broche porque sim, cona porque tem de ser, e cu se tiver de ser. Sucessivamente. Afinal, pago, só para isso. A puta abre as perninhas, o barbeiro abre e fecha os dedos. È só isso. Não é necessário mas nada. Ou é? Ou será que na essência, todos os barbeiros acham que cada corte altera o cliente e que cada puta quer, na essência, beijos no pescoço e falinhas mansas na rua. Será? Será a procura da construção de um mundo melhor e do amor, o essencial destas duas profissões. Será? pois se sim, então afastem o mediador: o bago, o pilim, o cacau. Aparem os cavanhaques à borla! Punhetaços para todos e já! Para as barbearias em força! Que se esgalhem 1000 pessegueiros e mais 1000. (não sei se continua)

Impotência

É estar dentro de uma carrugaem de metro com uma rapariga da minha idade, loira, que se percebe que era bonita, e que cheira mal a três metros de distância, tem a cara coberta de lesões e nas costas feridas, exibidas para justificar a mão estendida, que escorrem pus como até ontem eu só tinha visto pinheiros feridos a escorrer resina.

Ralações

Partilhar é muito diferente de dividir.

terça-feira, setembro 06, 2005

Pergunta para os meus amigos

Desde quando é que a grande questão deixou de ser Até que idade pensas divertir-te? e passou a ser Até que idade pensas sofrer por amor? ?

segunda-feira, setembro 05, 2005

Festa do Avante 2010

Conferência sobre o programa espacial idealizado por Álvaro Cunhal e que entretanto tem sido posto em prática pela NASA.

Festa do Avante 2009

No evento será apresentado o revolucionário software de gestão de stocks produzido por Álvaro Cunhal.

Festa do Avante 2008

Serão projectadas as três longas metragens realizadas por Álvaro Cunhal.

Festa do Avante 2007

Maquete do projecto arquitectónico de Álvaro Cunhal para o edifício mais alto do mundo.

Festa do Avante 2006

Na festa, os visitantes poderão ouvir pela primeira vez as duas sinfonias compostas por Álvaro Cunhal.

Festa do Avante 2005

Exposição dedicada à obra de Cunhal enquanto pintor e desenhador e ainda "como pensador de questões relativas à estética e ao papel da arte e do artista na sociedade". Estarão em exposição, pela primeira vez publicamente, duas pinturas de Álvaro Cunhal.

Joâo Deão 16


Cremilde tem um metro e quarenta e cinto centímetros. De perfil, desenha uma barrica de vinho cortada em altura: curva para a frente e muito direita para trás. Braços pequenos e grossos, afastados da cintura. A cara, corada, é redonda e inchada. Cabelo de rata velha. Baço, eriçado e ralo que se prolonga em farripas sobre as orelhas cor da uva pisada. Aproxima-se da porta da loja da ginga, onde João está colado. Botas de plástico vermelhas, saia branca um palmo acima do joelho, e um decote. Decote que nada mostra, mas que Cremilde tapa e protege. Usa-o como se todos os homens o olhassem. Ostenta, pelo seu peito, um pudor incompreensível. Uma, das réstias de humanidade que sobreviveu na filha de criada da casa de proprietários rurais do Douro, imigrada para Lisboa, atrás de um amor de infância, e perdida na baixa prostituição e no vinho. A outra. A outra é a memória que o vinho lhe traz. Se durante os últimos 25 anos se tornou alcoólica foi porque em cada copo que bebia, havia, de algum modo uma recordação da infância em que servia com a mãe os doutores da quinta.
10 euros pela limpeza da loja e 15 ou 20, pelos broches aos velhos que por ali vagueiam, são o necessário para pagar o quarto onde vive e de que diz com um orgulho que dá pena: "está sempre muito limpinho".
Uma onda de àgua fria contra as All-stars de João. Detergente. Uma esfergona descontrolada. O cimo de uma cabeça muito perto de si. O salto. João desgruda do chão. Pede outra ginga. Quase cai ao passar pela frente da porta limpa e a meio do caminho para o teatro percebe a razão do chão, ali estar sempre a segurar as pessoas.

sexta-feira, setembro 02, 2005

Descanso

Depois dos incêndios virão as autárquicas e as presidenciais. No entretanto, a bem dos resultados eleitorais, ninguém nos tentará convencer de que a segurança social está falida, de que aumentos dos impostos são inevitáveis, de que as portagens nas SCUTs são justas.
Até Janeiro estamos safos.

A ponta do iceberg do sistema

tem 171 nomes.

Pinto da Costa, Valentim Loureiro, Sousa Cintra e os árbitros Lucílio Baptista, Carlos Xistra, Jacinto Paixão, Paulo Paraty são alguns dos arguidos.

quinta-feira, setembro 01, 2005

João Deão 15


Rapariga que tem o mesmo nome que outra que João encontrará mais tarde. Rapariga, que logo que o viu encostado à parede, no início da rua, fantasiou se seria simpático e meigo. Se dava um bom namorado: um bom marido: um bom pai. Em andamento, a tudo, concluiu que sim, por isso, porque nunca se perde nada em tentar, porque estaria sempre protegida pelas regras que definem as relações entre homens e mulheres e porque viu todos os episódios do Sexo e a Cidade; esta Teresa, noiva de um ascendente engenheiro na Mota Engil, pára frente a João e simula procurar o telemóvel na carteira, para se demorar no campo de visão dele. João se a olha, é, para a ver à transparência. Interessa-lhe observar a mulher que vem atrás: Cremilde. Teresa, como para o mundo, só ia à procura do seu telefone, acredita que só ia à procura do telefone, e, acelera o passo, para ir lanchar com Miguel, seu namorado super-star do betão armado, à esplanada, virada para o Rossio, da pastelaria Suiça. Pedirá um chá verde, um bolo de chocolate e dirá: "Está frio, devia ter trazido um casaco pelas costas."

Fotoesfera

A minha fotojornalista preferida tem um blog. Aqui.

quarta-feira, agosto 31, 2005

Férias

® SR

Mudança na Gabardina

Andámos demasiado tempo a abichanar com o amarelinho.

Ibéria

Volto a Portugal. Ligo a televisão e vejo o grande Alberto João Jardim a explicar que a Maçonaria ibérica, concentrada nos partidos socialistas, tem um plano, desde o século XIX, para que Portugal seja integrado em Espanha.

Pela primeira vez vejo um bom motivo para votar PS.

Pequenas diferenças

Chego a Espanha. Ligo a televisão. Morreram doze soldados espanhóis na queda de um helicóptero no Afeganistão. Notícia seguinte: Zapatero interrompeu as suas férias e só voltará para elas quando for claro o que se passou.

E e repente, ao ler um jornal, percebo por que é que algumas pessoas estão vivas

Porcas clonadas dão leite terapêutico

João Deão 14


João sai do restaurante. Cheira a fritos e uma azia começa a queima-lhe a garganta. É fim de tarde em Lisboa, e a peça de teatro que à sorte decidiu ir ver, só começa dentro de duas horas. Coloca a mão na barriga e entra numa pequena loja que vende ginginha. Doce, com ou sem elas, num copo de plástico ao final de tarde, eis João, encostado à parede, levando o copo à boca e fixando o olhar em quem está e, em quem passa. Se fechasse os olhos saberia apenas pelo som onde estava. È que ao final de uma tarde de Verão, depois de servidas, entornadas, vomitadas, celebradas e roubadas, milhares de ginginhas, com o sol a pôr cobro a tudo isto, o chão fica cola. Pegajoso, como se a cada passada uma mão se elevasse do chão, agarrasse o calçado que cruza a frente da loja, e gritasse o som dos sapatos a descolarem-se. Por isso, por razões estéticas, João não passarinha de um lado para o outro. Está quieto. Imóvel. Observa um velho. Sapatilhas brancas, calções vermelhos e t-shirt a dizer "Dar sangue é dar vida". Com ele um rapazote. Sapatos de vela castanhos, camisa de riscas grossas, calças de ganga apertadas, boné e brinco de ouro na orelha esquerda. Aproximam-se do balcão descolando os pés do chão. O velho transpirado e vermelhão paga. O puto bebe. Uma, duas, três. O velho aperta-o contra si num gesto lúbrico, apopléctico e fremente com a visão da juventude que embriaga. Passa-lhe a mão pela linha do cabelo, afagando-o com a indiferença com que se sacode um pacote de açúcar. Porque o que ser quer não é o açúcar, é satisfazer a dependência cega do café. A azia, por força da ginga melhora, mas o vomito por força do velho, piora. E o pior, e o pior, é João descobre por que é que as pessoas andam à frente da loja de um lado para o outro, e não ficam parados como ele. A borracha, o calor, o chão pegajoso. E, é assim, que a querer ir buscar outra ginga, com uma azia prestes a desaparecer com a próxima "com", muito colado ao chão, aparece uma Teresa.

segunda-feira, agosto 29, 2005

João Deão 13



E nus adormecem. Equilibram os ritmos cardíacos, dão a mesma profundidade à respiração, sincronizam os movimentos oculares. São um. Vistos de fora. João sonha e Isabelle não. João revive no sono, todos os detalhes do início daquela noite: a saída de casa, as ruas, o restaurante, a entrada de Isabelle. Relembra o momento em que viu Isabelle. Procura o milionésimo de segundo em que tudo mudou. Identifica-o: o exacto momento em que ele, vendo pela visão periférica a entrada de raparigas no restaurante, se virou. Como se de um filme se tratasse, João percorre a película à procura do fotograma preciso em que decide tirar os olhos do empregado lagarto e olhar para a porta. Fixa a imagem. E, vê, naquele vinte e quatro avos de segundo, todas as potencialidades da noite com Isabelle, e da vida com Isabelle. Porém, o desejo de ter mão no tempo; o demónio da perversidade; e a sedução do abismo tentam-no a fazer exactamente o contrário, como se esse acto fosse um murro no estômago do tempo e mas trombas de Deus. E isso atraiu. Muito. E sempre. A decisão. Nesse fotograma João decide não se voltar para trás. E, não a vê entrar. "A sua cerveja. Acabou-se-nos a carne de bifana, pode ser um prego?" "Não, quero um pastel de bacalhau, quanto devo?". E sai do restaurante, para um futuro alternativo que seguiremos.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Joáo Deão 12

Passam pela gente cor de chão adormecida nas portas das lojas. Cruzam um bêbado, que a cambalear, do cimo dos seus quatro pacotes de vinho bebidos, com as mãos nos bolsos rotos, e de nariz empinado lhes diz, numa mole de sons mastigados por uma boca fétida de álcoois e pungentes feridas: "eu também já...". Produzido este som, fica ali, no meio da praça, com os pombos a saltitarem à sua volta, a morder a língua e ganhar tempo à inevitável queda que lhe abrirá um profundo lenho na testa, e que o sangrará até à morte, num canto perto de um centro comercial.
Pensão, hotel, residencial ou quarto. Uma varanda: terceiro andar de uma casa antiga. Vista sobre o rio, exposta toda a noite à luz da lua. Gradeada, e com quatro portadas de ripas, a lembrar as antigas casas coloniais da América Latina. O quarto, lá dentro, podia ser, e é, dos anos 50 em Cuba, com uma ventoinha no tecto, uma cama de madeira cor de tabaco, um espelho pequeno que se inclina para a frente, e um candeeiro na mesa de cabeceira que desenha na parede um cone invertido de luz amarelada. Abrem metade das portadas. A luz branca que entra da lua, contrasta com o tom de âmbar do interior, e marca com traços definidíssimos as ripas das portadas no corpo de Isabelle.

quarta-feira, agosto 24, 2005

João Deão 11


A respiração fremente impede que os lábios se unam. Pequenos sons guturais: de alegria. Ela geme quando ele entra no vestido e lhe toca o peito. Ele sorri pela exacta medida das suas mãos. Ela recua. Sobe o vestido até à cintura. Aproxima-se e senta-se ao colo dele. De frente. Segura-lhe nas mãos e encosta-as ao seu peito. Perfeito. Percorre o peito de João como se lhe cravasse as unhas. Desce até as calças. Sente-o com a palma da mão. Uma e outra vez. Ele puxa-a e beija-lhe o pescoço. Ela desperta-lhe o cinto, os botões das calças. Um, dois, três, quatro e o último. Desce-lhe as calças e aproxima o seu tronco do tronco dele. Abre-lhe a camisa. Faz um pequeno círculo com as ancas, leva os braços atrás do pescoço e desfaz o nó que segura a parte de cima do seu vestido. Abraçam-se, colando a pele. Ela arranha com as pontas dos dedos as costas dele, até ao pescoço que beija, envenoando-se com o cheiro da nuca dele. Ele segura o peito dela com as palmas de mão, pressionando-os de vez em quando os mamilos entre os dedos. Dançam sentados, num ritmo lento, circular e profundíssimo. Ela sente-o. Ele sente-a. Ele beija-lhe o peito, inspirando o cheiro que vem dela. Olham-se nos olhos e sorriem. Ondulam juntos. Estão absolutamente sós no mundo.

Descem a rua de mão dada. Pudicamente. Procuram um sitio onde passar a o resto da noite.

terça-feira, agosto 23, 2005

João Deão 10




O restaurante está vazio. Apenas a luz azulada do mata-moscas ilumina as cadeiras viradas ao contrário em cima das mesas. As amigas de Isabelle foram para casa. "e estamos é cansadas, os pés inchados, e blábláblá, e mais isto e mais aquilo, e temos de acordar cedo, e temos de dormir bem, e..."

Isabelle está escondida atrás do muro do Jardim botânico que João decidiu saltar. A luz dos faróis de um carro varre o murro e projecta as sombras do gradeamento, mesmo em frente de Isabelle. João já no meio da mata chama-a. O coração salta-lhe da boca, tem a face quente da excitação e sente uma agilidade há muito esquecida. Curvada corre para junto de João. Ele corre pela densa vegetação desaparecendo de imediato. Isabelle tenta adaptar a sua visão à pouca luz. Perdida, procura-o. Mata densa. Clareira mais à frente. Sentado num banco do jardim sobre a cidade: João. Aproxima-se. Coloca as mãos na cintura, sente a frescura do vento na sua pele transpirada e observa deste promontório a cidade.

Sente a mão de João a descer-lhe as costas e tornear-lhe o corpo. Demorando-se. João repete o gesto, como se lhe despisse a roupa interior por cima do fino vestido. Desce pela perna até à parte de trás do joelho. Pára. Com a ponta dos dedos toca, ao de leve, nessa pele sensível. Inclina-se e beija-a. A saliva arrefecida pelo vento, arrepia-a. Desce a mão ao tornozelo. Agora, com firmeza, percorre o caminho até ao limite do vestido. Pára. A mão entre as pernas de Isabelle. Aperta com suavidade o interior das coxas. Isabelle, de pé, estremece. E, abre-as ligeiramente. João toca-lhe com segurança. Com o indicador. Sente-a, movendo o dedo. Constrangida, vira-se para João, afastando-lhe o braço. Ele sentado, ela de pé frente a ele. Ele abraça-lhe a cintura e beija-lhe a barriga. Sente o paladar do suor na pele abaixo do umbigo. Brinca com os pelinhos. Visualiza desfalecer por cima dele. Abraçam-se. Beijam-se na boca. Sentem o coração a latejar em todo o corpo.