segunda-feira, outubro 31, 2005

Dia U2

Tenho a frase guardada há meses. Para citar naquele dia em que ela faça sentido. Por motivos óbvios ela ficava melhor num dia quente de Verão, com ar irrespirável e o céu cinzento de fumo. Pensei vezes sem conta no dia em que iria publicá-la. De repente, com a chuva que cai, sei que a frase amanhã não fará sentido. Não vou correr o risco de que a poesia seja confundida com a meteorologia, ou de que tenha que esperar por um outro verão quente para que a frase faça sentido no meu sistema solar.
Fica escrita, sem sentido nenhum, para que saia da minha cabeça:
After the flood all the colors came out
Já está. Venha mais chuva.

It's just a moment, this time will pass

E se o mundo acabar daqui a dois meses, que sentido terão tido essas coisas todas que vocês andam a fazer?

I will not forsake, the colors that you bring
But the nights you filled with fireworks
They left you with nothing
I am still enchanted by the light you brought to me
I listen through your ears, and through your eyes I can see

And you are such a fool
To worry like you do
I know it's tough, and you can never get enough
Of what you don't really need now ... my oh my

You've got to get yourself together
You've got stuck in a moment and you can't get out of it
Oh love look at you now
You've got yourself stuck in a moment and you can't get out of it


U2

sexta-feira, outubro 28, 2005

Conclusão do almoço

Há poucas dores que uma boa canja não ajude a passar.

quinta-feira, outubro 27, 2005

São dois peixes



Morena dos olhos d'água
Tira os seus olhos do mar
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar

Descansa em meu pobre peito
Que jamais enfrenta o mar
Mas que tem abraço estreito, morena
Com jeito de te agradar
Vem ouvir lindas histórias
Que por seu amor sonhei
Vem saber quantas vitórias, morena
Por mares que só eu sei

O seu homem foi-se embora
Prometendo voltar já
Mas as ondas não tem hora, morena
De partir ou de voltar
Passa a vela e vai-se embora
Passa o tempo e vai também
Mas meu canto ainda lhe implora, morena
Agora, morena, vem



Chico Buarque

quarta-feira, outubro 26, 2005

João Deão 36



"Nous avons un menu rédigé en Francais.
Restaurant Indien Internacional
Visitez notre restaurant indien et venez manger les meilleures specialites indiennés
Nous avons des plats pour tout les gouts:

Boeuf

Poulet

Crevettes

Rotti tandori (indian specialites)

Vegetarien avec aux sans piquant a votre choix.

Bon appetite"

Resistir sempre

Resistir nas pequenas coisas. Resistir vale a pena. O mal não se combate por dentro do sistema. O mal combate-se combatendo o sistema.

Rosa Parks, a mulher negra que a 1 de Dezembro de 1955 se recusou a ceder o seu lugar a um homem branco num autocarro, e com isso mudou o mundo para melhor, morreu aos 92 anos.

Resistir é preciso.


Alice

Quando um filme começa com o símbolo do Ministério da Cultura e estão vinte tipos numa sala de cinema onde cabem duzentos para o ver, não deveriam os bilhetes ser gratuitos? Pela coragem, pelo atrevimento, pelo masoquismo?

segunda-feira, outubro 24, 2005

Amar como Jesus amou, viver como Jesus viveu

Eu gosto da missa, não gosto é do povo com quem tenho que estar quando vou à missa...

O melhor aluno de um liceu de província

Há textos que estão escritos na minha cabeça e depois são puxados para fora por uma frase de outra pessoa.
Foi o que aconteceu com este. Há anos que a definição "o melhor aluno de um liceu de província" cataloga para mim uma série de pessoas com quem me cruzei ao longo do curso.
Uma série de pessoas chegadas a Coimbra no seu ano de caloiras, cheias de confiança no olhar, a citar Sartre nas conversas de café (agora Eugénio de Andrade deve estar mais na moda). São metódicos e trabalhadores, mas os exames chegam e, regra geral, a mediania é inevitável. Foi o que eu li hoje no texto do Joel Neto:
Mas eu lembro-me de quando cheguei dos Açores com uma média colossal e me armei ao pingarelho com o professor de Direito - e o homem olhou para mim, respirou fundo e, então, eu pude ver-lhe nos olhos: «Se o menino era o melhor lá na sua província, fique sabendo que os seus 130 colegas eram todos os melhores das respectivas províncias...»

O melhor aluno do liceu de província, habituado a ser monopolista de notas, passa a uma vida diferente em Coimbra: veste roupas radicais, vai a concertos dos Morphine e dos Belle Chase, não perde um ciclo de cinema polaco, embebeda-se e continuar a citar.
Quando acaba o curso, o melhor aluno de um liceu de província não volta para a terra. O Dr. volta a casa para visitar a família, mas mal dele se o seu brilhantismo não lhe permitisse viver em Coimbra, ou mesmo em Lisboa. Ninguém está disposto a deixar de ser um mito e a aceitar que é mediano.

Todos, cada um de nós em várias coisas, somos o melhor aluno de um liceu de província. Se somos craques em literatura da Lituânia, há seguramente em Nova Iorque 15 estudiosos que sabem de trás para a frente toda a escrita dos autores lituanos e mesmo esses parecem meninos de escola primária ao pé daquele especialista russo que há trinta anos não se afasta mais de três metros dos seus livros de autores cujos nomes acabam sempre em auskas.

Sempre que temos a pretensão de sermos verdadeiramente bons em alguma coisa não estamos a ser menos ingénuos que o melhor aluno do liceu de província que, chegado a Coimbra aos 18 anos, olhou para a Torre da Universidade e se imaginou, um dia, Presidente da República ou Nobel de uma coisa qualquer, na convicção de que eram essas as coisas importantes na vida.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Desejo

as maiores felicidades ao indivíduo que hoje entrou no meu escritório e me roubou a carteira. Vai ser um prazer voltar a tirar todos os documentos.

Vai roubar quem te rouba a ti, ó burro!

quarta-feira, outubro 19, 2005

Ch Ch Ch Ch Ch Ch...



Nos últimos dois anos aprendi claramente onde acabam as minhas forças. Nos últimos dois dias percebi duas coisas muito importantes, uma para enterrar o passado e outra para viver no futuro. O engraçado desta casa do Big Brother Anónimos é que nunca paramos de aprender.

terça-feira, outubro 18, 2005

João Deão 35



"Seja mais rato que os ratos!
Como descobri-los? Siga as suas pistas!

Ratos ou ratazanas mortos ou vivos

Gotas ou manchas de gordura

Excrementos

Pegadas, carreiros muitas vezes manchadas de gordura

Ninhos ou tocas

Ruídos da sua presença

Alimentos, madeiras ou outros materiais roídos"

Finalmente uma medida corajosa

Orçamento para a Saúde contempla o fim das limitações geográficas e de população para a abertura de novas farmácias. (ver página 8 - necessário Acrobat Reader).

A Brigada

Todas as terças e sextas é o mesmo. A Brigada chega a meio da manhã. A campaínha toca várias vezes e as batas brancas invadem a casa. Bom dia. Começam os gritos. O cano do aspirador roça no chão durante uma hora. Oiço discussões sobre limpeza e telemóveis, distribuição de tarefas, filhos não se sabe se desejados e maridos violentos. As vassouras e o aspirador batem na minha cadeira, esteja eu sentado nela ou não. Uns pedem licença, desculpa e agradecem vezes sem conta. Outros não abrem a boca e parecem nem saber que aqui estão. A esfregona, cheia de cera preta, nem sempre percebe a divisória entre o chão negro e a parede branca. Há sempre um lavatório, sempre o mesmo, que fica com o ralo tapado, e uma janela, sempre a mesma, que não fica trancada (agora felizmente está partida). As plantas nunca são regadas e as a caixa do correio nunca viu um pano. Já passaste a esfregona na escada, Marisa? Já! Não passaste nada, vai já passar! Ao fim de uma hora chega a carrinha grande. A Brigada sai da casa, sem ordem. O último fecha a porta, mas não como eu. Desce o degrau, vira-se e, então sim, puxa pela maçaneta. Às vezes ninguém a fecha e às vezes alguém volta atrás para a fechar. Até sexta!

As empresas não servem só para ganhar dinheiro. A vida não é só eficiência. Em que é que vocês pensam quando aqui estão?

segunda-feira, outubro 17, 2005

João Deão 34


Atenção desratização:
"Os ratos são uma praga! Directamente ou através dos seus parasitas, os ratos são uma fonte de doenças graves!

Salmonelose
Peste
Tifo
Cólera

Um só casal de ratos pode originar 2 000 novos ratos por ano!
Têm enorme capacidade de reprodução!
Têm enorme capacidade de sobrevivência!
Dificulte o acesso dos ratos à agua! Elimine os pequenos charcos de água estagnada.
Tape os ralos.
Feche bem as torneiras
Vede bem os poços."

Em poucas palavras

Futebolisticamente, para um adepto de Académica e Benfica, o fim-de-semana foi perfeito.

sábado, outubro 15, 2005

João Deão 33


No exacto momento em que Isabelle, sonhando que caía, estremece, João vira as costas à prostituta-eloquente. Acelera o passo e passa ao largo da pensão onde Isabelle adormecida espera por ele.

sexta-feira, outubro 14, 2005

O próximo Bond


Parece que Daniel Craig venceu Clive Owen, Jude Law e mais uns quantos na corrida às Bond Girls dos próximos anos.

terça-feira, outubro 11, 2005

Com o devido bacio

à João.

Sa cosa stavo pensando? Io stavo pensando una cosa molto triste, cioé che io, anche in una società più decente di questa, mi troverò sempre con una minoranza di persone. Ma non nel senso di quei film dove c'é un uomo e una donna che si odiano, si sbranano su un'isola deserta perché il regista non crede nelle persone. Io credo nelle persone, però non credo nella maggioranza delle persone. Mi sa che mi troverò sempre a mio agio e d'accordo con una minoranza...e quindi...





Nanni Moretti em Caro Diario

Nobel

Afinal, ao contrário do que disse a Gabardina, nem todos os membros do Comité Nobel dormiam descansados.

Cavalos votados

Por que é que os políticos portugueses têm, quase todos, os dentes podres?

segunda-feira, outubro 10, 2005

Poeta

Isto é futebol. É um bocado como a vida, de vez em quando as coisas correm bem, de vez em quando as coisa correm mal.

Artur Jorge, seleccionador nacional dos Camarões, à RR, depois de a sua equipa ter falhado, no último minuto da fase de apuramento, um penalty que garantiria a presença na fase final do próximo Campeonato do Mundo de Futebol.

Ou como diria Valentim Loureiro...

Desilusão

Valentim Loureiro está louco, eufórico, irritado, impaciente. Farto de não ter um microfone para falar, arranca-o das mãos do técnico de som gritando "Foda-se!".
Eu espero pelo grande insulto a Marques Mendes (daqueles tão puxadinhos que em vez de começarem por filho começam por filha). Mas tudo o que Valentim chama ao homem é "Zé Ninguém qualquer".
Foi uma noite de desilusão.

quinta-feira, outubro 06, 2005

João Deão 32


Estabeleci a minha lojinha da foda no meio do passeio: um ândito solarengo, género open-space, em calçada Portuguesa a tornejar rua Almirante Reis para a rua Maria, e, que por ter chão calcário, permite de imediato, fazer o teste ácido-base à esporra do cliente. Aí, bati punhetas por atacado, fiz broches a retalho e, pari pelo gasganete, pregões de corar Calígulas. "Enche-me a tripa de carne"; "Amor, vai de apanha cavacas?"; "Atesta-me de meita, e arruma-me os lençóis da cona". Longos anos assar o olho e a boca do corpo com fricção de barrote zarolho, ensinaram-me o talmude das putas: é o jingle usas que escolhe a esporra que bebes. Era assim nos clássicos e é assim agora. O jingle para atrair anciões para arejamento das peles e tirar o mofo à pintelheira rala: "é a última amor". Para capões que só lambem: "Tu tens é tesão no cu, Oh! meu corno paneleiro". Para os juvenis basta olhar e exibir língua tesa. A esporra que se bebe dos velhos: uma aguadilha macilenta, dos panascas: pequenos grumos, e dos juvenis litradas de nha-nha peganhenta com sabor a diospiro verde. Todas as beberagens são ricas em proteínas e fazem bem à pele.

terça-feira, outubro 04, 2005

Hoje em Coimbra

Adelaide Ferreira canta na discoteca Broadway.

Portugal tem futuro

Enquanto políticos, economistas e cidadãos em geral se desdobram em comentários sobre os perigos que representam a China e a Índia para o nosso país, chorando pelas fábricas que se deslocam para aqueles países, uma luz intensa parece surgir ao fundo do túnel da economia portuguesa.

É verdade que muitas indústrias e mesmo alguns serviços têm sido passados para a Ásia. Não é menos verdade que outras empresas têm sido transferidas para a Suécia, para a Finlândia ou para a Alemanha. Portugal parece, assim, ter sido apanhado a meio caminho nesta revolução tecnológica. Não somos suficientemente pobres nem suficientemente desenvolvidos para atrair investimento estrangeiro.

Mas o tempo joga a nosso favor e a estratégia de desenvolvimento que tem vindo a ser seguida nos últimos anos deverá dar resultados. Daqui a dez ou quinze anos a China e a Índia, fruto do seu actual crescimento, terão já empresas competitivas a nível internacional, que quererão instalar filiais na Europa. As empresas dos países do primeiro mundo, preferem ter as suas filiais europeias instaladas nos países nórdicos, na Alemanha ou na Irlanda, pois não conseguem viver sem eficiência e transparência.

Mas às empresas asiáticas interessará sobretudo o baixo custo e um pouco de promiscuidade com a classe política não será de todo mal vinda. Neste cenário Portugal reune todas as condições para garantir que uma parte significaticva do investimento asiático na Europa se instale por cá:
-Salários baixos;
-Grande quantidade de recibos verdes e contratos a prazo mesmo quando essas situações não se justificam;
-O direito à greve no sector privado só é exercido em empresas em situação de falência;
-99 em cada 100 portugueses pensam que a greve só deve ser feita quando não prejudicar ninguém;
-Altos índices de corrupção.

O investimento chinês será nosso! Portugal tem futuro!

Muito bom


João Deão 31


Dona de papudos beiços, treçolho enorme e fartas cerdas, vim-me pelo nariz e estreei piça na glote na mesma tarde de vindimas. Uns tratavam da bucha: eu dava caralhinho juvenil à cona esfaimada. Escarranchada de cócoras, em cima do rapazote que com o polegar quase me inaugurou o cu, cheirei marsapo vetusto por perto. "E o que fazes ao meu netinho, sua porca?" Como se seguram os cachos de uvas antes do corte, assim aparei os colhões do avozinho da criatura que me areava o cono. Desapertei as calças de sarapinheira seguras por uma corda e, abocanhei inteira e de só trago, toda essa massa de pele que lhe caia abaixo do umbigo. Cheia a boca do corpo de piço viçoso de neto, e a boca da cara, de piço macilento de avô, decidi que estava na altura de me vir. Porém, as pregas mortiças que tinha na boca, começaram a fermentar. Um cepo de velho intumescia contra meu palato e, não tendo para onde medrar, esgueirou-se-me garganta abaixo, cortando-me a respiração. Fiquei da cor do vinho e sem vontade de me vir. De igrejo caralho encravado na garganta, e de pila noviça a esbodegar-me a cona, meti frenética, indicador no cu do velho para que se viesse nesse instante. Com os movimentos bruscos, o neto desferiu esguiços lancinantes e o avô pingões de torneira mal fechada. Ainda hoje, quando gargarejo, sento o mofo que sua esporra deixou no meu nariz.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Vida dura na Fórmula 1

João Deão 30



Para senaita afogueada, esfregaço de beita. Para picha chorona, ranhola de cona. Saber de experiência feito, este tipo de mézinhas são a encíclica das putas: o conhecimento passado de Madalenas em Madalenas, até às Madalenas de hoje. Mas quando, não há norma que preveja, situação sub judicatura, então: inventa-se. Recordo um celerado. Entremeava o rego do cu com pedra de esquina, cigarros com imperiais e vontade de foder com vontade de mijar, quando o cabrão chegou. Com chumaço de pau feito, ajeitou a picha para cima, antes de me falar. "E o preço? E a pensão? E gostas de ver" "oh filho, dás-me 5 contos e sou tua por meia hora." Pelo cu rijo, e pela língua pontuda, topei-o: ou artista ou atleta. Já deitada, com a berbigona a latejar aguardei por injecção de carne, porém, o dançarino, dono de piça afilada e mui longa, cabriolou como um fauno em êxtase. Em pontas executou um battement frappé e um échappé. De seguida, pirouette piquée. Termina em Arabesque*. Aí, estático, sacou o margalho de dentro coquilha apaneleirada, olhou a berbigona assanhada e vai de esgalhar pessegueiro. Em equilíbrio. Perdida no que fazer e não recordando solução para o caso: inventei. Então, apertei bem o indicador e médio contra a rata, fiz pontaria como só as mulheres sabem fazer. De seguida, solto um peidinho e um de esguicho da cerveja bebida com potencia diurética dos cigarros fumados. O tipinho, cego, continuou frenético, como se as luzes do palco o impedissem de ver o público. Veio-se em todas as direcções. No chão, deste palco de pensão, as pétalas de rosas eram pétalas de esporra.


Nota:
Arabesque-Uma posição onde o dançarino eleva uma perna, recta ou dobrada, com a outra estendida para trás, geralmente em ângulos similares ao do corpo,

Causa também minha

Eu que tantas vezes tenho criticado os textos de Ana Gomes, aconselho a leitura deste. Muito bom. Concordo plenamente. Assino por baixo.