A Brigada
Todas as terças e sextas é o mesmo. A Brigada chega a meio da manhã. A campaínha toca várias vezes e as batas brancas invadem a casa. Bom dia. Começam os gritos. O cano do aspirador roça no chão durante uma hora. Oiço discussões sobre limpeza e telemóveis, distribuição de tarefas, filhos não se sabe se desejados e maridos violentos. As vassouras e o aspirador batem na minha cadeira, esteja eu sentado nela ou não. Uns pedem licença, desculpa e agradecem vezes sem conta. Outros não abrem a boca e parecem nem saber que aqui estão. A esfregona, cheia de cera preta, nem sempre percebe a divisória entre o chão negro e a parede branca. Há sempre um lavatório, sempre o mesmo, que fica com o ralo tapado, e uma janela, sempre a mesma, que não fica trancada (agora felizmente está partida). As plantas nunca são regadas e as a caixa do correio nunca viu um pano. Já passaste a esfregona na escada, Marisa? Já! Não passaste nada, vai já passar! Ao fim de uma hora chega a carrinha grande. A Brigada sai da casa, sem ordem. O último fecha a porta, mas não como eu. Desce o degrau, vira-se e, então sim, puxa pela maçaneta. Às vezes ninguém a fecha e às vezes alguém volta atrás para a fechar. Até sexta!
As empresas não servem só para ganhar dinheiro. A vida não é só eficiência. Em que é que vocês pensam quando aqui estão?
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