quarta-feira, setembro 07, 2005

João Deão 17



Os barbeiros que conversam são como as putas que beijam. O corte de cabelo, como o foder, para além de ser todo mais ou menos idêntico, é, como a foda, uma espécie de morte controlada. Um corte de cabelo é procedimento. Exige tempo, desconforto e surpresa. Tal qual a morte, e as melhores fodas. Um barbeiro que me entope os ouvidos com a repetição das notícias do 24 Horas, que tem o rádio a pilhas na Antena 1 e que liga para o fórum da T.S.F, é uma puta que quer sair para a rua de mão dada. Quero silêncio, distância, seriedade. Quero que me aparem a franja e quero "esbazá-los" em paz. Quero as patilhas no sítio, e umas tetas grandes. Sem conversa, nem línguas encarniçadas. Quero máquina quando tiver de ser máquina, pente quanto tiver de ser pente e lâmina quando, lâmina tiver de ser. Quero broche porque sim, cona porque tem de ser, e cu se tiver de ser. Sucessivamente. Afinal, pago, só para isso. A puta abre as perninhas, o barbeiro abre e fecha os dedos. È só isso. Não é necessário mas nada. Ou é? Ou será que na essência, todos os barbeiros acham que cada corte altera o cliente e que cada puta quer, na essência, beijos no pescoço e falinhas mansas na rua. Será? Será a procura da construção de um mundo melhor e do amor, o essencial destas duas profissões. Será? pois se sim, então afastem o mediador: o bago, o pilim, o cacau. Aparem os cavanhaques à borla! Punhetaços para todos e já! Para as barbearias em força! Que se esgalhem 1000 pessegueiros e mais 1000. (não sei se continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Chiça...passagem abrupta do 16 para o 17...
de qualquer modo... 2 belos textos...embora o 16 deixasse já antever o parêntisis com que terminou o 17... como quem diz "já estou a ficar farto desta merda".
é pena... estava a gostar... e a pensar... o que é raro.
Preto