quinta-feira, março 31, 2005

notita

"Na Primavera as árvores vestem-se e as mulheres despem-se." in autocarro 49 Marques-Calvário, um bocadinho antes da estrela. Cidadão comum para o seu filho.

De da Vinci a Sampedro - a verdade em power point

Depois do Código de da Vinci, o Vaticano prepara um ataque cerrado ao filme "Mar Adentro" e ao seu realizador Alejandro Amenábar. Não estando dispostos a discutir o tema da eutanásia, e apesar de se terem rido a bom rir com a ridicularização dos Jesuítas no filme, os elementos mais próximos do Papa decidiram avançar para a divulgação da "verdadeira história de Ramón Sampedro". Ela já foi escrita e uma apresentação power point dela está a ser enviada para os padres de todo o mundo, que depois a deverão contar aos seus rebanhos. Aqui fica a verdade, em traços largos.

Ramón Sampedro, ou Romão Sampedro, como era mais conhecido, era um português de uma família abastada, conhecido enquanto novo como o "Rei do atoalhado". Vivia como um playboy no Vale do Ave quando os negócios da família lhe caíram nos braços. Não sendo capaz de suportar a pressão e a tristeza de deixar a sua vida de diversão nas praias de Vila do Conde e passar dias seguidos fechado escritório, Romão endoideceu. É claro para quem tenha feito um mínimo de investigação que o título do poema que lhe deu fama e título ao filme é "Mara dentro" e não "Mar adentro" como, por engano, o seu editor passou para o computador e depois para a edição impressa. Só por má fé o realizador do filme não corrigiu este erro. "Mara dentro" porque Romão tinha consciência da desordem que ia na sua cabeça. É verdade que Romão teve um acidente que lhe causou problemas cervicais, mas não é verdade que fosse tetraplégico. E foi para a Galiza apenas para se afastar da sua família que o queria à força a trabalhar na empresa.
Sem dinheiro, abandonado e "marado dentro", Romão simulou a sua morte e fugiu para as Caraíbas a bordo de um cargueiro. Mesmo no filme, apesar da cegueira do realizador, podemos comprovar que o plano de Romão sempre passou por esta fuga. Se não é assim, o que queria dizer Romão com a frase "Se não tens dinheiro, marinheiro!"? Só não vê quem não quer...


Brevemente num auditório perto de si.

quarta-feira, março 30, 2005

notita

A única coisa que gosto nos cavalos é a forma indiferente como aguentam uma chuvada torrencial.

MAR ADENTRO

Mar adentro,
mar adentro.

Y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.

Un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo,
es como penetrar al centro del universo.

El abrazo más pueril
y el más puro de los besos
hasta vernos reducidos
en un único deseo.

Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras
'más adentro', 'más adentro'
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.

Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto,
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.



Ramón Sampedro

segunda-feira, março 28, 2005

O Borges

Para gravar, guardar e ver vezes sem conta a entrevista de António Borges a Judite de Sousa na passada semana. No próximo congresso do PSD, prometeu Borges, será apresentada uma moção que defenderá a refundação do Partido. Uma refundação baseada na seriedade e na honestidade. Quatro anos não são demais para a fazer. Talvez até sejam pouco. O Governo está a governar bem e enquanto assim for deve ser aplaudido e ajudado. Foram ideias fortes de uma entrevista que poderá ser o início de algo bom no PSD.
A moção está a ser preparada pelo próprio Borges, por Rui Rio, Alexandre Relvas, Aguiar Branco e outros militantes considerados "sérios". Questionado sobre a participação de Morais Sarmento no grupo a resposta foi clara: no grupo só têm lugar pessoas sérias e que não andem na política por puro interesse pessoal. Todos os que o fizeram nos últimos anos não são desejados no novo e refundado PSD. Assim sendo, não se antevê que essas pessoas possam vir a entrar neste grupo. As palavras podem não ter sido exactamente estas, mas o conteúdo foi claramente este.

António Borges nunca foi figura que me inspirasse particular confiança. A ligação ao INSEAD (todos os professores do INSEAD que eu conheço têm Opus Dei escrito na testa, mas pode ser só coincidência...) e o Sebastianismo que o próprio foi alimentando em entrevistas a jornais ao longo dos últimos anos contribuiram para isso. Mas talvez tenha que mudar de opinião. Parece que temos homem!
A recusa em descartar a hipótese de se candidatar a primeiro-ministro em 2009 e a forma simpática como disse que Marques Mendes é um homem sério mas sem carisma parecem indicar grande ambição.
Duas dúvidas subsistem: o grupo dos refundadores sérios será aclamado, ignorado ou insultado no próximo Congresso do PSD? E se for aclamado, como é que a seguir vai explicar aos que o aclamam que não são sérios e por isso não são desejáveis no PSD que acabaram de aclamar?

Meter o pé na Selecção

Depois dos avisos de Scolari, Nuno Gomes disse esta semana que alguns jogadores iam à Selecção Nacional de futebol para descansar. Agora que meio país futebolístico ficou espantado com as suas palavras, talvez valha a pena recordar o que a Gabardina escreveu há ano e meio.

quinta-feira, março 24, 2005

"MTV makes me Wanna Smoke Crack "

O que um dia um rapaz de Seatle disse. A expressão é lapidar e resume muito bem o que a M T V foi. Digo foi, pois há muito tempo que não via com atenção um programa da MTV. Ontem vi. Vi um programa em que dois indivíduos eram orientados por um auricular num primeiro encontro amoroso. O objectivo era fazer com que no final do "date" se escutassem a frase "wanna come in?". O que me surpreendeu foi ver que nesse programa o encontro se passava entre dois rapazes e duas raparigas. O engate orientado pelos amigos era um "engate gay". Não fiquei banzado, mas fiquei surpreendido. Surpreendido pela constatação que as coisas estão a mudar. E isso, apesar de tudo é bom.

quarta-feira, março 23, 2005

cristal

Talvez seja impressão minha, excesso de sensibilidade, mau feitio, vileza ou até, posso admitir, ignorância, brutidade, bocalidade ou esputidez. Talvez tenha acordado mal disposto, com urticária no estômago, um cravo na língua ou com mais duas dioptrias em cada olho. Talvez tudo isso seja verdade, e até, quem sabe, talvez muito mais, mas agora: pagar 150 paus por um café na estação de serviço de pombal. Num pardieiro, em que uma nuvem de fumo habita o local desde que abriu, num armazém de idosos em passeio a Fátima, numa mostra de comerciais a ir à net sem fios... pá, um tipo fica a pensar...

Como o Cheers

Making your way in the world today takes everything you've got.
Taking a break from all your worries, sure would help a lot.

Wouldn't you like to get away?

Sometimes you want to go

Where everybody knows your name,
and they're always glad you came.
You wanna be where you can see,
our troubles are all the same
You wanna be where everybody knows
Your name.

You wanna go where people know,
people are all the same,
You wanna go where everybody knows
your name.

Dias Loureiro

Esse mítico homem da vida!
Por que é que estas coisas acontecem tantas vezes com empresas a que ele está ligado?

segunda-feira, março 21, 2005

E. Leclerc

Entro no supermercado. A luz fortíssima obriga-me a cerrar os olhos. Com uma expressão de esforço sigo directo ao meu objectivo: uma escova de dentes. Viro à direita: frutas e legumes, à esquerda cd´s dvd´s e vhs´s. Um segurança. Uma. Com a cara com expressão de sofrimento pergunto solene: sabe onde posso comprar uma escova de dentes? Sei, sim. Responde a rapariga da securitas. E?...digo eu. E?...diz ela...pode dizer-me onde, digo eu, aqui mesmo, diz ela. Aqui, onde? Pergunto eu. No supermercado...responde ela. Ok. Já percebi, pensei eu, outra assalariada que comprou o DvD do Gato Fedorento. Bem, a escova de dentes. Atoalhados, não. Doces, não. Cereais, também não. Produtos de limpeza de casa de banho, muito bem estamos dentro do mesmo campo semântico. Desodorizantes, está quase. Ali. Tantas. Com pilhas. Sem borracha para limpar a língua, com pêlos especiais... Dúvidas...muitas...perdido...inacção. Foda-se esta merda de super deve ter Dvd´s a mil paus. E tinha.

Quanta ramera, Guajira quanta ramera!

Quase já me tinha esquecido desta fórmula infalível para uma noite divertida:
Um grupo porreiro onde se misturam amigos, conhecidos e desconhecidos;
Um bom jantar;
Gin tónico;
Uma "disco-night" alternativa.

Para ser perfeito, a meio da noite, inevitavelmente, a música passa e é só cantar por cima. De qualquer maneira, ninguém ouve, ninguém nota...



Quanta ramera
Guajira quanta ramera
Quanta rameeeeera
Guajira quanta ramera...

Y para el cruel que me arranca
El corazon con que vivo
Y para el cruel que me arranca
El corazon con que vivo
Cardo ni ortiga cultivo
Cultivo la rosa blanca

quinta-feira, março 17, 2005

Piada fácil

Jaime Gama cadeira a Mota Amaral.

Piada fácil

Jaime Gama cadeira a Mota Amaral./p>

quarta-feira, março 16, 2005

Dúvida do dia

Se tudo é mais difícil para quem se importa, por que é que é mau ter por objectivo não me importar?

terça-feira, março 15, 2005

a castanha


É necessário preferir os heroinómanos aos alcoólicos. Os primeiros têm um olhar afilado, felino, depredador, por isso os seus gestos são mais exactos, mecânicos e precisos. Os segundos ostentam um olhar perdido, disperso e quase a fechar, por isso os gestos são lânguidos, moles distendidos. É necessário escolher sempre os dependentes da heroína quando se quer eleger de todos os indigentes das cidades o braço direito, o assistente, o curador dessa tão delicada tarefa que é estacionar o carro de marcha a trás numa rua estreita. Os profissionais da arrumação que estão dependentes da heroína são os únicos em que podemos confiar. Não só desempenham, a sua função com exactidão, esmero, brio e competência como por isso mesmo são os únicos trabalhadores do sector do aparcamento, a quem as exigentes companhias de seguras garantem um seguro de responsabilidade civil. "Um arrumador drogado é um profissional segurado" eis o slogan que encontrei em folhetos espalhados no chão dos parques de estacionamento mais concorridos.

quinta-feira, março 10, 2005

será boa a história?

Sob uma ditadura militar, num enorme prédio abandonado, dois homens guardam um tesouro. Uma biblioteca clandestina: ultima memória do tempo em que não era necessário estar sempre a fugir. O mais velho entende que a melhor maneira de resistir é esconder e guardar os livros. O mais novo entende que a melhor maneira de combater a ditadura é disseminá-los pela população. A biblioteca é confiscada pelo regime. Tal como o homem velho violava a lei guardando os livros, o mais novo violava as ordens do mais velho distribuindo-os. E é precisamente por isso que o mais velho pode voltar a reconstruir a biblioteca. Agora para os distribuir.

quarta-feira, março 09, 2005

e agora...

Os lugares comuns que me enchem de tédio: a luz de Lisboa, o vinho tinto com massa, a expressão "sociedade da comunicação", os casamentos pela igreja, gostar da praia no Inverno, o ter queda para alguma coisa, a tolerância dos jesuítas, a doença do Papa, os três heterónimos de Pessoa, a expressão " que papelão", o não ter tempo, as mulheres modernas, os advogados novos e sérios, as barrigas de cerveja, as malas LV, os resorts no Brasil, o "ir a casa", foder putas e viver com a "minha" esposa.

tteste

terça-feira, março 08, 2005

Solução óbvia

Diminuir despesas? Ter menos motoristas, secretárias e assessores? Comprar melhor? Gastar menos em telefones e telemóveis? Ter carros normais em vez de carros de luxo? Diminuir os salários dos boys? Diminuir o número de boys? Estabilizar os nomes e orgânicas dos ministérios? Acabar com instituições inúteis? Acabar com palacetes com entidades públicas que caberiam em 80 metros quadrados? Baixar radicalmente as ajudas de custo e as despesas de representação?
Que ideias!!!!!!! Nada disso! Aumentar os impostos, claro! É disso que estamos a precisar!

segunda-feira, março 07, 2005

Só uma dúvida

Quanto vale, por mês e durante os próximos quatro anos, António Vitorino para qualquer um dos grandes grupos económicos instalados em Portugal?
Mais ou menos do que Mourinho vale para o Chelsea?

quarta-feira, março 02, 2005

Lapso Eufrosyano, ou como podemos não estar tão longe das tradições muçulmanas

Tobiana, Germana, Fernanda, Matylda e Eufrosyana. Fazem hoje a última página do Público. Diz a jornalista que há 50 anos só cuidam do Papa. Cuidam da comida, das roupas, das cartas, da saúde e da logística papais... São cinco freiras polacas da Congregação das Servas do Sagrado Coração de Jesus. Diz o texto, na sua penúltima frase, que as religiosas desta congregação devotam a vida às crianças, aos doentes e aos necessitados.
Crianças, doentes, necessitados... Cinquenta anos a cuidar do Papa com tartes de espinafres, carpa à moda da Polónia, bolo de queijo, peixe em geleia... Será que estas freiras estiveram 45 anos a preparar-se para os últimos cinco da vida do Papa? É a única forma de entender alguma dedicação a criança, doente ou necessitado no meio disto tudo...

Estamos dispostos a trocar pelo Zapatero...

e ainda damos o António Costa e a Ana Gomes de bónus!

Foto publicada no diário Canadiano "La Presse". Clickar para aumentar e ler a legenda.




 

(recebido por e-mail)

terça-feira, março 01, 2005

"Deus e o estado"


É claro que a morte é contagiosa. Pega-se como as constipações, ou suja a boca toda como o chocolate derretido. É claro que se transmite. Por isso é que é escondida nos armários mais junto do tecto, onde só se chega subindo as escadas da religião, o escadote da ciência e mocho da superstição...
Ao homem vulgar está vedado o convívio com a morte. Apenas as religiões e as instituições podem chegar à fala com ela. O Homem não pode. Está-lhe vedado decidir sobre a morte, é errado, é pecado. Imagine-se alguém que entendia que era da sua conta dispor da sua morte. Logo os moralistas se levantam dos seus genufletórios de penitência e dizem que só Deus e o Estado é que podem decidir sobre a vida dos Homens. Imagine-se a ousadia de alguém que por momentos retira esse poder a Deus e às instituições: o poder de decidir sobre a própria morte.
Aprender a viver com a morte é retirar a Deus e às instituições o pão da boca, a energia de que se alimentam. Jantar com a própria morte é açoitar Deus com uma chibatinha e minar as torres da burocracia. ~
È ser absolutamente revolucionário.

Na ponta dos dedos pouco jazz, poucas sombras na vida

Há dias em que olho para as pessoas e desejo ter as suas profissões. Caixa do Continente, portageiro da Brisa... qualquer coisa de responsabilidade zero e onde o trabalho venha ter comigo. Nesses dias invejo verdadeiramente essas pessoas. Talvez a profissão mais apelativa de todos essas seja ser pianista de piano bar. Assim, como canta de Gregori:



Uno scudo bianco in campo azzurro,
è la sua fotografia,
chiunque lo conosca bene
può chiamarlo senza offesa
uomo di poca malinconia.

È un pianista di piano bar,
vende a tutti quel che fa
non sperare di farlo piangere,
perché piangere non sa.
Nella punta delle dita poco jazz,
poche ombre nella vita.


Solo un pianista di piano bar
e suonerà finché lo vuoi sentire
non ti deluderà,
solo un pianista di piano bar
e canterà finché lo vuoi sentire
non ti disturberà.

Questo strano tipo di bambina,
vuole la compagnia,
la risata forte e l'amicizia a cena,
ama se stesso senza allegria.

È un pianista di piano bar,
vende a tutti quel che fa
non sperare di farlo piangere,
perché piangere non sa.
Nella punta delle dita poco jazz,
poche ombre nella vita.

Solo un pianista di piano bar
e suonerà finché lo vuoi sentire
non ti disturberà,
solo un pianista di piano bar
e canterà finché lo vuoi sentire
non ti deluderà.