segunda-feira, agosto 29, 2005

João Deão 13



E nus adormecem. Equilibram os ritmos cardíacos, dão a mesma profundidade à respiração, sincronizam os movimentos oculares. São um. Vistos de fora. João sonha e Isabelle não. João revive no sono, todos os detalhes do início daquela noite: a saída de casa, as ruas, o restaurante, a entrada de Isabelle. Relembra o momento em que viu Isabelle. Procura o milionésimo de segundo em que tudo mudou. Identifica-o: o exacto momento em que ele, vendo pela visão periférica a entrada de raparigas no restaurante, se virou. Como se de um filme se tratasse, João percorre a película à procura do fotograma preciso em que decide tirar os olhos do empregado lagarto e olhar para a porta. Fixa a imagem. E, vê, naquele vinte e quatro avos de segundo, todas as potencialidades da noite com Isabelle, e da vida com Isabelle. Porém, o desejo de ter mão no tempo; o demónio da perversidade; e a sedução do abismo tentam-no a fazer exactamente o contrário, como se esse acto fosse um murro no estômago do tempo e mas trombas de Deus. E isso atraiu. Muito. E sempre. A decisão. Nesse fotograma João decide não se voltar para trás. E, não a vê entrar. "A sua cerveja. Acabou-se-nos a carne de bifana, pode ser um prego?" "Não, quero um pastel de bacalhau, quanto devo?". E sai do restaurante, para um futuro alternativo que seguiremos.

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