terça-feira, agosto 31, 2004

Preso aos oito anos

Por bater num colega de escola, nos Estados Unidos.
Não aconteceria por cá. A não ser que um ministro que eu cá sei passasse para a Administração Interna...

O primeiro


Leitor e eu, moscas de pernas para o ar no tecto desta oficina aguardamos que Johannes Gutenberg, neste 31 de Agosto de 1440, volte ao seu trabalho. Gutenberg abre a porta, deixa que a aragem fresca de Estrasburgo medieval nos agite as asinhas e rasga o primeiro pergaminho impresso da história da humanidade. Depois, leva a mão à cabeça e inicia uma nova impressão. Gutenberg, lá em baixo e ao contrário, não sabe, mas acaba de iniciar a impressão de parte de um livro que o marcará para sempre. A "bíblia de 42 linhas".

segunda-feira, agosto 30, 2004

Jogos Olímpicos III

Jogos Olímpicos II

Jogos Olímpicos I

Das pontes aos barcos

Nos últimos anos as maiores reviravoltas da política portuguesa estiveram relacionadas com pontes - o buzinão na 25 de Abril e a queda da de Entre-os-Rios.

Mas, já se sabe, Santana Lopes é um político original. E chique. Para ele as pontes não servem. Sempre preferiu os barcos. E, depois do cruzeiro que o tornou famoso como "Santana Copos", há uns anos, fez agora questão que a primeira grande controvérsia do seu mandato como primeiro-ministro estivesse ligada ao famoso "barco do aborto". Enquanto não chegar ao iate do Abrahmovich o homem não descansa!

quinta-feira, agosto 26, 2004

Por que é que isto não me surpreende?

Subsídio, em dólares, recebido diariamente por cada vaca europeia no âmbito da Política Agrícola Comum em 2002: 2,5

Percentagem da população africana que vive com menos de 2,5 dólares por dia: 75

Esperança

Uma magnífica história de amor.

Renovação da frota de automóveis do Governo






Amanhã, o despacho do ministério das finanças que impôs estes modelos aos outros meninos.

Sob o sol da Toscana

Vi ontem em DVD o filme, baseado no livro homónimo, que nunca chegou ás salas de cinema de Coimbra. Não é um filme extraordinário, mas vale sempre a pena ver muitas imagens como esta:



quarta-feira, agosto 25, 2004

Estranhos tempos

Estranhos tempos, estranha democracia. Estranho país em que os cidadãos têm que fazer umas léguas marítimas para águas internacionais para fazerem o que querem ao seu corpo e ao que está dentro dele.

Os serviços da "Women on Waves" (WoW) não serão seguramente requisitados por um dos grupos que faz abortos em Portugal: o das meninas-bem cujos papás gostam de papar óstias e querem a "intervenção" feita sem que ninguém saiba. (se assim não fosse teriam que deixar de se manifestar publicamente contra o aborto)

O alvo da organização deverá ser então o resto do mercado português do aborto. As raparigas das clínicas de vão de escada e das que não sendo de vão de escada (aqui no centro há uma famosa em Oliveira do Bairro, se não estou em erro) sempre prestaram esse serviço sem grandes problemas. Mas aqui temos um problema: se a WoW prestar o serviço gratuitamente estará a prejudicar fortemente a economia portuguesa. Se se fizer cobrar, com o que estas raparigas podem pagar, não terá dinheiro nem para o combustível do barco. Não se prevêm dias fáceis para os marinheiros, neste cantinho à beira mar. A não ser que as turistas inglesas, amigas do ZéZé Camarinha, queiram, pelo sim pelo não, garantir que daqui a nove meses não estará a Grã-Bretanha cheia de putos de farfalhudas bigodaças...


sei
vi
ver
se
for
por
vo

As secretarettes

O recém-empossado primeiro-ministro está de férias nas ilhas baleares.
Três dias para a descansar.
Tomou posse no 21 do mês passado e já está de férias. Besuntado de creme protecção 60, agita os braços a correr pela praia. Corre desajeitado, pára, olha fixamente o horizonte e espantado cai de rabo na areia molhada.
- Mas o que é isto? Minha senhora! Saia já do meu texto! Quem a senhora?
- Saio é o tanas! Estou farta de tipos como você, esquerdistas incoerentes que vão passar as férias para Nova Iorque. Estou farta de gente a criticar o Primeiro-ministro sem saberem como está cansado e precisa de umas férias. Sim, foi para as Baleares e então? É melhor que as praias da costa que vocês defendem mas onde não põe os pés.
- Minha senhora, não se exalte. Olhe que o chapéu lhe cai. Estou a pedir-lhe com educação. Saia do meu texto. Agora. Não admito que se intrometa aqui, se quiser, deixe um comentário ao post. Agora peço-lhe que saia.
- Não vou, não vou e não vou. Não vou sem dizer aqui à sua frente como foram esgotantes estes 22 dias de governo. Vá, democrata de uma figa, então? não me deixas falar?
-Eu? não há pachorra para estas "secretarettes" vestidas de bibe azul, com um nuvem bordada a dizer "Paula A". Diga lá, então...

(o autor, levantou-se neste momento e deixou de ouvir esta senhora que lhe usurpou o texto, a partir daqui o leitor está por sua conta e risco. Ao longe, foi possível ouvir o autor dizer: "dass, vou ver é se o Centeno já ganhou o campeonato de Bodyboard na Praia Grande")

- Ora o governo tomou o posse dia 21 de Julho uma Quarta-Feira certo? Nessa primeira semana houve muitos recém empossados que pela primeira vez passaram a sólidos: iogurtes, creme de cenoura e legumes cozidos. Na segunda semana, foram os dentinhos do ministro da defesa, as otites das secretárias de estado e as cólicas do ministro da saúde. Assim tudo de repente, está a ver. E o pobre primeiro a tentar dar os primeiros passos nas alcatifas moles de São Bento. Bem, passam quinze dias. Todos os meninos e meninas já estavam mais ou menos prontos para começarem a brincar uns com os outros, quando o ministro do turismo apanha papeira. "que vá para longe dos nossos filhos" foi a palavra de ordem de reunião dos encarregados de educação. E foi, ou vai, para Faro. Só na ultima semana é que o primeiro conseguiu fazer alguma coisa: andar de trotinete e de bicicleta com rodinhas, pintar papeis a guache, usar os teques, brincar com o barro e manter-se direito no escorrega. E há mais...

As lésbicas intelectuais


A Maria amaria a Maria e a Maria também amaria a Maria se a Maria não amasse o João.

Vida alternativa

Dou por mim a pensar que fácil seria ir para padre. Uma vida inteira sem stress, sem preocupações financeiras, sempre na boa posição do "não nos podemos revoltar!", do "há coisas muito piores!".

Se ao menos eu tivesse a certeza de que tudo o que se diz sobre a disponibilidade das paroquianas não passa de um mito...

Uma oportunidade única para uma bomba

Berlusconi encontra-se com Kadhafi

terça-feira, agosto 24, 2004

Constatação possível


Nenhuma mulher, homem ou criança de hoje, estará vivo daqui a quarenta e um mil novecentos e setenta e cinco dias.

segunda-feira, agosto 23, 2004

Chego de férias e

O primeiro-ministro nomeou 13 secretárias. Parece que metade da população portuguesa morreu afogada nos últimos dias. Uma secretária de estado nomeou três motoristas. Um rapaz chamado Obikwelu ganhou uma medalha para Portugal nos Jogos olímpicos e bateu o record da Europa dos 100 metros. Uns tipos que nunca deviam ter passado de motoristas estão fartos de nomear assessores. Nas férias esta música e estas imagens perseguiram-me:

Money, it's a crime.



Share it fairly but don't take a slice of my pie.
Money, so they say
Is the root of all evil today.
But if you ask for a raise it's no surprise that they're
Giving none away.

Assaduras e leis, sont les mots qui vont tres bien ensemble.


Saiba o leitor que tal como as bolachas Carr´s são recomendadas pela família real inglesa, também as fraldas Dodot Etapas são recomendadas pelo presidente da assembleia da republica. Expliquemos.
O Presidente da assembleia da Republica farto do burburinho de fundo do hemiciclo e sabedor pela experiência de pai de que este se deve a alguns rabos assadinhos, decidiu emitir a seguinte nota aos pais e às mães dos senhores deputados da Republica Portuguesa:

Nota da Presidência
Excelentíssimos encarregados de educação,
Em face da crescente inquietação e às cada vez mais frequentes ausências dos senhores deputados, V/ educandos, no parlamento, venho por este meio sugerir que V/ Exas ao vestirem de manhã os senhores V/ filhos, lhes coloquem as novas fraldas super-absorventes Dodot Etapas. Este produto, novo no mercado nacional, é capaz de não só evitar as irritações na pele responsável pelo bruá de fundo que na passada semana impediu que fosse aprovada a tão desejada reforma da administração pública, como permitir que até à hora que V/ Exa vêm buscar os petizes, estes se mantenham no hemiciclo sequinhos, sossegadinhos e a brincar felizes. A presidência reconhecendo a qualidade das fraldas referidas, não hesita em recomenda-las para que se evite o desconforto televisivo da aridez parlamentar, e a comichão cutânea das assaduras em tão desejada área parlamentar.
A presidência, consciente de que esta troca de fraldas pode não agradar a todos os pais, está a diligenciar no sentido de no mais curto tempo possível recuperar as antigas instalações do berçário da antiga assembleia nacional. A presidência, após reconstruir este equipamento de apoio comunicará a V/Exas as respectivas condições de uso.
Sem mais, e na esperança da melhor compreensão subscrevo-me,



E assim se explica a coroa britânica feita esfera armilar nos pacotes de fraldas Dodot.

sexta-feira, agosto 20, 2004

- jáááááá fiiiiz...

É a voz finíssima da recém empossada secretária de estado. Está sentada e o som sai-lhe das goelas, choca com os diversos utensílios sanitários, espalha-se pelos mármores da casa de banho, reflecte-se no enorme espelho e disparada avança para o corredor. Este som, qual bola de fogo, percorre agora os passos perdidos, desce veloz a escadaria nobre, enche as salas dos grupos parlamentares, abre de par em par as portas do refeitório dos frades e entra directamente nos ouvidos do único deputado que no andar de baixo, pela mão da senhora sua avó, depois de ter interrompido as férias em Ibiza para vir ao parlamento buscar uma agenda, espera que esta lhe ponha as fraldas para dentro das calças. As mãos finas da avó afundam-se num círculo à volta da cintura barrica do deputado.
Porque é urgente, necessário e sincero o "jáááááá fiz" vindo do segundo andar, não se distraí com esta cena de amor inter ? geracional e segue caminho até ao bar da Assembleia: estaca-se à porta por momentos e agudíssimo preenche todo bar.

O pai da recém empossada secretária de estado, reconhecendo o chamamento filial, apaga a cigarrilha, bebe o último gole de água e despede-se do empregado. Faz o caminho inverso da voz, guiado pelas pequenas ressonâncias que o som foi migalhando pelos capiteís, arabescos e vigas de estilo neo-clássico do Palácio de S. Bento da Saúde ou dos Negros, mosteiro Beneditino, com inicio de construção em 1598.

-Vá, já está limpo. Vista-se e despache-se que os senhores do protocolo de estado já ligaram duas vezes para saber se sempre vai ao jantar de embaixadores.

quinta-feira, agosto 19, 2004

o filhinho da mãe

Sentado à mesa do pequeno-almoço, o ministro termina as papas que a sua mãe cozinhou.
-Vá lá, tens de comer tudo, para seres grande e forte para brincar com os outros meninos.
O ministro atestado de papas lácteas, bolsa ligeiramente. Não fora o babete bordado com uma menina a andar de trotinete e tinha sujado a gravata e o fato escuro. Ao ver que o filho não conseguia comer mais, a mãe senta-o ao colo, prende-lhe os braços e começa dar-lhe o resto do pequeno-almoço na boca: mete a colher de sopa nas papas, leva-a à sua boca para as arrefecer com dois soprinhos maternais, pede ao ministro que abra a boca e enfia o resto das papas goela abaixo deste funcionário do governo. O ministro esperneia, diz que não quer mais e tenta sair do colo da mãe. A mãe diz que é só mais uma colherada. Convence-o dizendo que se ele comer aquela última colher, pede aos senhores da netcabo para ainda hoje, irem ao seu gabinete instalar o Disney Channel. O ministro acede à ultima colher e a mãe limpa os restos de papas da boca com pequenos movimentos em volta dos lábios e com uma passagem vigorosa com o babete.
-Vá! agora vais lavar os dentes que o motorista já está lá em baixo à espera.
Enquanto o ministro lava os dentinhos, a mãe abre a sua pasta preta e coloca lá dentro um lanche: pão com marmelada e manteiga embrulhado num guardanapo de papel e um pacote de leite com chocolate. Tudo dentro de um saco de plástico transparente que o ministro odeia.

São 9:00 da manhã e vai começar mais um dia de trabalho do XVI governo constitucional.

quarta-feira, agosto 18, 2004

Fragmento


O primeiro-ministro ao canto do quarto, está acocorado atrás dos cortinados. Tem um dedo na boca e a cara triste. O pijama castanho com nuvens brancas que veste só lhe fica bem, com uns chinelos de quarto azulinhos. Todo o pessoal da residência do primeiro-ministro procura por todo o lado os chinelos. Sem eles, o menino não quer dormir. E quando o menino não dorme? ninguém dorme. Choradeira a noite inteira. Impaciente bate com os dois pés no chão, e agita as mãos no ar. A berraria vai começar. Dos chinelos é que nem pó. Procura-se em todo o lado: cozinhas, salas, garagens e quartos. Nada. O choro já não é choro, são os berros de menino mimado.
De repente entra pelo quarto um homem. Trabalhou durante 30 anos, 12 horas por dia, só descansou ao Domingo. De seu tem um apartamento de 2 assoalhadas em Fernão Ferro. Dirige-se ao primeiro-ministro chorão, pega-o ao colo e segurando-o com os fortes braços, embala-o com as histórias de coragem dos trabalhadores rurais. O primeiro, já de lágrima seca escuta com atenção. Maravilhado com a historinha para dormir adormece nos braços do homem.

terça-feira, agosto 17, 2004

Máxima possível


Hoje, o elogio ofende mais que o insulto.

As promoções ou porque demoro anos a escolher uma lata de atum.


Quero comprar um tubo de dentífrico. Vou ao supermercado, à zona onde estão os produtos de higiene humana, e com a ideia de que quero comprar um tubo de pasta de dentes, posto-me abruptamente frente ao expositor. Enfrento-o olhos nos olhos, e acabo por escolher a pasta de dentes que sempre usei. Pego aliviado na embalagem, e reparo que se comprar aquela pasta - que quero comprar - sou obrigado a levar, sem acréscimo de preço, outra igual. É o 2 em 1: quero uma pasta de dentes, mas sou obrigado, sem pagar mais, a levar duas. Que fazer? Recusar? A verdade é que só quero uma, mas já que me oferecem outra devo esquecer a minha vontade inicial e ceder à vontade do gestor de supermercado que para escoar o excesso de stock decide o que levo para casa? Será que só fico a ganhar, ou será que a minha vontade, vale, apesar de tudo, mais que o valor que poupo num dentífrico?
Será que por principio devemos aceitar tudo que nos é oferecido? E quando é que devemos recusar um convite, uma prenda, um emprego, um elogio, uma vantagem ou um favor? Quando? Talvez só, quando a vontade for maior que qualquer um deles.

segunda-feira, agosto 16, 2004

quinta-feira, agosto 12, 2004

Máxima possível.


A lei que proíbe visa a penas dar poder a quem a própria lei autoriza.

terça-feira, agosto 10, 2004

Coloridos.


Ontem, na praia onde o mar muito bravo aspergia as pessoas com gotículas de água salgada empurradas pelo vento, conheci um canídeo vesgo. Vesguíssimo aliás. O raio do bicho era tão cego do olho direito que tinha de movimentar o pescoço em círculo para poder ver o que estava à sua frente. Foi assim, enquanto movimentava o gasganete no sentido dos ponteiros do relógio, que espetou o nariz molhadíssimo contra a minha perna. Ao sentir o frio da ponta do focinho do canídeo, olhei para baixo. Mirei-o com se conhecesse de algum lado e antes que o cumprimentasse, o animal perguntou se eu é tinha perguntado ao mar de onde vinha o calor intenso das últimas semanas e este vento sul. Disse que sim. Então ? continuou o cão - deixe-me que me apresente. Sou a forma mamífera dos cavalos-marinhos, fui enviado por Neptuno, o bem disposto e a resposta à tua pergunta é: deserto.
O deserto é um monstro. Um monstrão na verdade. Durante a maior parte do tempo, dorme mas quando acorda começa a ter delírios megalómanos de conquistar todo o planeta. O que se passou nas últimas semanas foi um ligeiro acordar do senhor deserto. O senhor deserto acordou e começou a soprar um vento que não só aumentou a temperatura, baixou a humidade relativa e provocou os incêndios. Os incêndios são a guarda avançada do deserto. São eles que preparam o terreno para o avanço final da areia.

segunda-feira, agosto 09, 2004

perguntita

Nos últimos tempos tenho frequentado igrejas. Missas.
Tenho a impressão que ninguém, que está sentado nos bancos corridos, escuta com atenção o que o padre vai dizendo.
Os padres dizem todos o mesmo. Com mais alegorias ou com menos imperativos, a coisa é igual nos jesuítas, na opus ou nos padres do interior. É coerente que assim seja.

Dos discursos que tenho escutado há uma ideia que se tem repetido. Os padres dizem que hoje em dia é muito mais fácil não acreditar do que acreditar em Deus. Eis uma ideia de que discordo fundamentalmente. Não vou dizer que o argumento da dificuldade é utilizado a tordo e a direito por organizações sociais que pretendem que os seus membros se sintam especiais em relação aos outros homens por estarem a fazer uma coisa, acreditar em Deus, que ele próprios dizem que é difícil. È como aquela conversa de que a minha profissão é mais difícil que a tua. Bem, não interessa ir por aqui. O que me interessa é perguntar a um padre o que é mais difícil: enfrentar o dia-a-dia, a morte, a doença irreversível dos amigos e o acaso assim sem mais, ou ter sempre um quê qualquer responsável por tudo. Como é que é mais difícil acordar? A saber que tudo pode acontecer sem nenhuma explicação nem compreensão, ou assumir que por detrás de tudo que acontece está sempre uma razão, um motivo que por mais imperceptível que seja, existe? O que é mais difícil? Vá lá honestamente, é mais difícil estar perdido, ou ter um rumo?

sexta-feira, agosto 06, 2004

O que é, meu caro?



Gostas dela?
Ou gelam-te os ossos quando ela te telefona te estás a divertir e dizes, para evitar a culpa, que estás a apanhar seca.
Tens medo de ser um velho só?
queres reproduzir aquilo que os teus pais fizeram? ou ter as coisas que só dois salários podem comprar?
já tens uma rotina que a incorporou? precisas que te vão buscar à estação e que levem o carro à inspecção?
O que é?
Queres sair de casa e precisas de uma boa desculpa? queres ter uma vida própria e precisas de um guião? Queres um estatuto? Uma coisa qualquer para fazer?
Gostas dela, apesar de tudo? De tudo.
O teu amor é uma soma de vantagens, de entendimentos e de planos convenientes. Ou é amor? Maior que todos as dificuldades e as faltas de tempo.

quinta-feira, agosto 05, 2004

fragmento


António acordou pela primeira vez mais cedo que a mulher. Todos os dias desde que se casara, Maria acordava primeiro que António e preparava-lhe com todo o amor o pequeno-almoço. Depois do pequeno-almoço António iniciava uma rotina que pouco tempo e pachorra lhe dava para estar sozinho. Os filhos, o emprego, a mulher, os avós, por esta ordem, António sempre esteve ocupado nestes anos de casado. Mas hoje, hoje acordou mais cedo que a mulher. Uma dor, um ardor uma comichão, não sei, o que foi, sei que hoje António acordou pela primeira vez mais cedo que a mulher. Sentou-se na cama, cruzou os braços, e com a simplicidade das verdades ditas pelos recém acordados, pergunta-se a si mesmo:" o que é que esta senhora está a fazer ao meu lado". Meu lado, a única coisa que podia chamar sua. Levantou-se e foi ao quarto dos seus filhos. As duas adoráveis crianças ainda dormiam e António pensou: " quem são aqueles tipos? ".

Atordoado com a verdade que sentia, saiu de casa e nunca mais voltou a entrar na vida da mulher e dos filhos. Estes não compreendem, não aceitam, não perdoam e não esquecem. Ele muito menos.

Isso é que é espírito democrático, ó doutor!

Não necessitamos de umas primárias para eleger o candidato. É inútil. Não temos esse problema porque todos têm a convicção de que o candidato da Cdl... infelizmente será ainda ele: o doutor Silvio Berlusconi.

Declarações de... Silvio Berlusconi

quarta-feira, agosto 04, 2004

Paradoxo?

Se sempre fizeste tudo mal e fazes uma coisa mais ou menos bem, todos te elogiam.
Se sempre fizeste tudo bem e fazes essa mesma coisa dessa mesma maneira, todos te criticam.

semelhanças

"A arte de julgar"
É um livro escrito por um juiz francês chamado Garapon. Este livro que me foi recomendado por um juiz de direito velho e sem ilusões com o Homem estabelece uma comparação curiosa. Apresenta as semelhanças entre o ritual religioso e o ritual judiciário. As semelhanças são tais que acho que foi a leitura desse livro e o olhar cínico desse velho juiz, que pôs termo à ilusão que tinha no Direito. Recomendo vivamente aos que se interessem pelas traves mestras da sociedade em que vivemos que assistam a uma audiência de julgamento e que depois se enfiem na primeira igreja que encontrarem. É uma revelação. Para mim foi. Só para exemplificar eis as semelhanças mais claras. A entrada para uma igreja faz-se através de portas: duas laterais e uma central. Nos tribunais também. Nos tribunais existe uma teia que separa os actores judiciários do publico. Nas igrejas também. Quer nos tribunais quer nas igrejas a pessoa mais perto do sagrado ( uma peça de arte e Cristo respectivamente) é o responsável pelo ritual. Na verdade, agora que penso nisso só vejo uma diferença entre os padres e os juízes: a cor da farda.

O texto que eu gostava de ter escrito e não escrevi

ao Daniel e à Clara

(texto de Luís Filipe Borges, no Causa Nossa)

O bebé que vai mudar a minha vida
O maior sonho que tenho na vida é ser pai. Se possível, um daqueles pais com uma mesa da sala-de-estar colossal, onde sentar um número de filhos que dê para fazer uma equipa de futebol e respectivo banco de suplentes. Os putos viriam, um a um, para a refeição, envergando uma t-shirt com nome e número de forma a facilitar a minha chamada e contagem das presenças. Gostava de ser pai por uma miríade de razões, a esmagadora maioria não vem agora ao caso. Mas a razão principal ouvi-a descrita na perfeição pela boca de um professor de Direito, corria o 2ºano da faculdade. O homem, que era normalmente sisudo e compenetrado na aula, chegou um dia preocupado e esbaforido. Nunca antes se atrasara. O motivo era uma doença do filho. Tinha-o levado para o hospital e ainda vinha com o peso das angústias. Desabafou num minuto. Disse que, desde que a criança nascera, perdera o medo de morrer.
É isso mesmo. Perder o medo de morrer. Abandonar os receios humanos de não ser amado. Conquistar a imortalidade. Quero ser pai por estes tão egoístas motivos. E, agora, no final do mês, vai nascer um Leão como eu que vai mudar quase tudo na minha vida. Um bebé. Caramba. Um be-bé. Como falarei com ele? Como será a sua cara? Será daqueles felizes anafados ou uma ratazana choramingas que não deixa dormir toda a freguesia?
Não sei. Aguardo serenamente. É que o bebé não é meu mas de um dos meus melhores amigos. E é isso que me lixa. O nascimento deste bebé, a paternidade do meu amigo, só me virão transmitir uma bem clara e definitiva mensagem: tenho andado a fazer qualquer coisa de muito errado com a puta da minha vida.

Inserido por LFB 3.8.04

terça-feira, agosto 03, 2004

O que foi feito de ti, Mário Tomé?

O Major Tomé é o símbolo da extrema-esquerda da minha infância. O seu bigode mal amanhado, a sua postura trauliteira, o 25 de Abril sempre ali ao jeito de qualquer argumento mais difícil de contrariar ou não compreendido. O Valentim Loureiro da esquerda, digamos. Mas o que é feito deste homem, que no 25 de Abril de 74, como perguntaria o velho Bastos, estava em Moçambique? Pois depois de muitos anos de liderança da UDP, e de uma passagem como independente pela bancada do PCP, o Major Tomé está agora nas fileiras do Bloco de Esquerda. Caladito e o mais escondido possível, como convém a um movimento de esquerda que pretende ser jovem e ter coisas para dizer que não estão na velha cassete do pós 25 de Abril.

Nota: Nas pesquisas para este segundo texto do "o que foi feito de ti?", que queria dedicar ao Eng.º Sousa Veloso, percebi que um outro blog, o Idiotbox, teve já uma iniciativa similar a que chamou "O que é feito de...". Como o Idiotbox parece estar inactivo há já alguns meses, e me apetece mesmo escrever estes textos, eles continuarão, correndo o risco de coisas parecidas já terem sido escritas, como aconteceria no caso do texto sobre o Eng.º Sousa Veloso.

o burro grutesto

Perto das pequenas mentiras de madeira que atravessam os arroios da ignorância existe um burro. Cinzento, velho e do tamanho da subtileza do mar que exala calor, o burro passa os dias rectangulares virado para duas formigas que discutem as compras para o formigueiro. Com os olhos esbugalhados por uma pedrada da floresta de pentelhos, o burro prepara-se para pôr fim àquela discussão sem sentido. Avança dois segundos, inclina-se 4 degraus e abrindo a boca grutesca, deixa que por detrás de uma estalactite saia o seu irmão: um monárquico papa-formigas paramentado e untado com azeite do monte das oliveiras. O papa esfomeado, fremente, e a babar-se pelas formiguitas voluptuosas desfraldra do seu enorme membro de alimentação e penetra-o na terra mesmo ao lado dos desavindos insectos. Estas humedecidas pelo suor da discussão, olham para cima e vêem dois enormes olhos negros? Dizem em coro: Vamos é para o deserto surfar

Equipa americana para Atenas



Da esquerda para a direita:
Logan Tom (Volei), Amanda Beard e Aley Cope (Natação), Jenny Adams (Barreirista) e Amy Acuff (salto em altura).

segunda-feira, agosto 02, 2004

O que foi feito de ti, Armando Gama?

Se há par que faz parte do imaginário português dos anos 80, ele é, sem dúvida, a dupla Armando Gama - Valentina Torres. Foi em 1983 que o achinesado cançonetista conquistou definitivamente um lugar na ribalta da música portuguesa, ao conquistar o festival RTP da canção com o hit "Esta balada que te dou". A sua mulher, Valentina Torres, com quem, se diz, ainda faz espectáculos nas vilas mais remotas do país, apresentava, talvez não por acaso, o grandioso evento ao lado do inevitável Eládio Clímaco. A canção, que ficaria para a história e que ainda hoje muitos corações apaixonados trauteiam por aí, rezava assim:



ELA DIZ QUE EU FUI UM CASO MUITO SÉRIO
MAS EU SÓ SEI QUE HÁ NISSO ALGO DE ANORMAL
HAVIA UM TEMPO UM OLHAR
UM SORRISO, UM COMEÇO
MAS AGORA TUDO PERDEU SEU BRILHO
(REFRÃO)
NA MINHA VIDA
SÓ HOUVE UM ABRAÇO COMO O TEU
UM SONHO, UM LIVRO
UMA AVENTURA SEM IGUAL
É LINDA, LINDA
ESTA BALADA QUE TE DOU
PODEM ATÉ PENSAR QUE EU SOU
UM POUCO TRISTE
MAS NÃO HÁ NISSO MAL
EM SER ASSIM
POIS TUDO FICA,
MESMO QUANDO SE ACABA,
UM ROMANCE, UMA PAIXÃO
OU UM CAMINHO
(REFRÃO)
QUIS ESCREVER A MAIS BELA CANÇÃO
QUE HÁ NO MUNDO,
OLHANDO PARA TRÁS
P?RA NOS VER
FOI QUANDO OUVI UMA VOZ
CANTANDO BAIXINHO
ESTA BALADA QUE VINHA
DE LONGE
(REFRÃO)

O que foi feito de ti?

Aproveitando este tempo de silly season - expressão que tem sido muito menos utilizada este ano que nos anteriores - a Gabardina trará de volta figuras desaparecidas da vida pública potuguesa. Homens e mulheres que encheram as capas das nossas revistas, os écrans das nossas televisões e os nossos imaginários e depois desapareceram, muitos sem que saibamos por quê, muitos sem que sequer saibamos por que chegaram a aparecer. Pelo menos durante Agosto, o passado do país estará de volta. Num monitor perto de ti.

Clareza


Algures na semana passada à conversa com amigos chegamos a esta diferença de base. Embora eu e eles concordemos que em geral os serviços burocráticos do estado não acolhem bem os cidadãos que os pagam com impostos, eu defendi que por essa mesma razão é que os cidadãos mais esclarecidos ( e com mais poder para os mudar) têm a obrigação de ser os primeiros a apresentarem-se aos balcões dos serviços e não utilizarem os seus conhecimentos pessoais na administração para resolveram os seus problemas burocráticos. Os meus interlocutores pelo contrário defendiam que se os serviços do estado funcionam mal, então quem tem conhecimentos como que está legitimado a usar do seu poder para ser desenrascar. A conversa cedo se tornou uma pescadinha de rabo na boca: Quem tem poder para mudar não sente as dificuldades, e quem as sente não tem poder para as mudar.
A resolução do problema faz-se pela adopção de uma posição ético-politica de fundo. Ou por principio se considera que todos os cidadãos são iguais, ou pelo contrário se assume com clareza que há diferenças.
Desde que me lembro que discuto este tipo de coisas com amigos e conhecidos. Conversas nos intervalos das aulas no liceu, no bar da faculdade, nas secretárias de escritórios. Mas agora é que estas conversas vão ficar realmente interessantes, pois finalmente alguns dos que discutiam, hoje já podem decidir. E é bom que falemos com clareza.

LCA

Muitos meses depois, Luís Camilo Alves, o blogger que eu mais gostava de ler nos seus tempos do Desejo Casar está de volta à blogosfera. Para além do mais, com um blog cujo nome muito diz a esta Gabardina.

Leiam aqui a Irmã Lúcia, já que não podem falar com ela...