quinta-feira, agosto 25, 2005

Joáo Deão 12

Passam pela gente cor de chão adormecida nas portas das lojas. Cruzam um bêbado, que a cambalear, do cimo dos seus quatro pacotes de vinho bebidos, com as mãos nos bolsos rotos, e de nariz empinado lhes diz, numa mole de sons mastigados por uma boca fétida de álcoois e pungentes feridas: "eu também já...". Produzido este som, fica ali, no meio da praça, com os pombos a saltitarem à sua volta, a morder a língua e ganhar tempo à inevitável queda que lhe abrirá um profundo lenho na testa, e que o sangrará até à morte, num canto perto de um centro comercial.
Pensão, hotel, residencial ou quarto. Uma varanda: terceiro andar de uma casa antiga. Vista sobre o rio, exposta toda a noite à luz da lua. Gradeada, e com quatro portadas de ripas, a lembrar as antigas casas coloniais da América Latina. O quarto, lá dentro, podia ser, e é, dos anos 50 em Cuba, com uma ventoinha no tecto, uma cama de madeira cor de tabaco, um espelho pequeno que se inclina para a frente, e um candeeiro na mesa de cabeceira que desenha na parede um cone invertido de luz amarelada. Abrem metade das portadas. A luz branca que entra da lua, contrasta com o tom de âmbar do interior, e marca com traços definidíssimos as ripas das portadas no corpo de Isabelle.

Sem comentários: