terça-feira, julho 29, 2008


O Verão tece cumplicidades entre os que permanecem nas cidades. Para além do jogo cumpli (os que partilham) cidades (cidades), há entre os que ficam uma sobranceria sobre os que partem que nasce por um lado, da calma que é a decisão de não ir a lado algum: não ter de arrumar nada, de não ter de cumprir horas de chegada, rituais de praia ou de campo e, por outro, da certeza que o êxodo trará lugares para estacionar, noites sem trânsito e cinemas vazios. Só durante o Verão é possível conhecer as filhas de 12 anos do dono do café e o gato que mia mal sente barulho nas escadas. O Verão é nas cidades momento comovente e urbano. Trabalhar no Verão é estar um pouco acima das regras de produção.

domingo, julho 27, 2008

O problema da televisão é que tem luz a mais.

sábado, julho 26, 2008

À beira-mar plantado

Há um qualquer significado escondido em tudo isto ou não me tenham outro dia diagnosticado paranóia e mania da perseguição. Disso não me restam dúvidas, até porque raramente as tenho (ou me lembro delas, graças ao Alzheimer) e nunca me engano (ver ponto anterior). Demasiadas consequências (chuva em novembro, natal em dezembro), demasiadas coincidências (cai neve em nova iorque, faz sol no meu país)... chamem-lhe o que quiserem e concordem em discordar mas apenas na terminologia (ou na liturgia, homília, demagogia, aerofagia), que de resto é apenas acessória (quem diz "acessória" quer normalmente dizer "essencial" mas escreve "axeçória", graças ao novo acordo ortográlhico). Qual é a grande diferença entre sacrificar uma virgem a um vulcão ou no voto de castidade? O desperdício é o mesmo e mais valia irem representantes dos mais dignos sectores de actividade do nosso país, como políticos, deputados, presidentes de câmara ou de clubes de futebol a estagiar em Londres (o presidente, não o clube) ou daqueles condenados a continuar a vender fruta de dormir, juntamente com alguns turistas-mais-mediáticos-que-deixam-dois-filhos-a-dormir-e-ups-esta-está-morta-leste-bem-o-folheto-informativo?-eu-sou-só-mãe-tu-é-que-ias-ser-ministro-da-saúde-deixa-lá-pode-ser-que-ainda-a-raptem. Afinal escolhemos uma democracia representativa e cada um tem aquilo que merece. E, mais a mais, para uma virgem há remédio, para a corrupção até agora não, pelo que seria de tentar o vulcão (rima e é verdade). The thing is, bottom line, the truth is out there, mesmo depois dos Ficheiros Secretos terem acabado e de já não ver televisão há 4 meses! Para quem a quiser ver, a verdade e não a televisão (sim, estou a sofrer de privação), para quem não se resignar a aceitar os dogmas da tradição (como por exemplo que o sol nasce todos os dias e, quando o faz, é para todos - vide hoje) e estiver disposto a ver um pouco mais além (mesmo sem a ajuda de psicotrópicos, legais ou ilegais). Sem cair na tentação da seita (ver portistas) ou assumir a postura do pragmatismo terra-a-terra (ver sportinguistas), lentamente as peças do puzzle caem no seu lugar (ver plantel do Benfica, campeão em 2008/9). Da sociologia à geologia, da física à psicologia, da biologia à economia, do horóscopo da Dica da Semana (grande fã!) ao estudo da influência nefasta do carbúnculo na precessão dos equinócios, os limites do conhecimento humano expandem-se (ao contrário do poder de compra e estabilidade social e acompanhando a inflacção, as taxas de juro e o desemprego) e as barreiras onde engavetámos as disciplinas dissolvem-se, tornando tudo num grande puré de batata cósmico (a Grande Teoria do Tudo, com a resposta à pergunta fundamental sobre a Vida e o Universo, que qualquer boa alma que tenha lido Douglas Adams sabe que é 42 e que o que verdadeiramente falta é, como sempre, a pergunta). Com grumos, para chatear aquela malta arrumadinha com pretensões à perfeição. Aproveitando as lições da História, porque nem tudo o que é passado é mau (vide Eusébio) e nem tudo o que é mau é Salazarista (vide LCDs da Quinta da Fonte), mas sem ficar preso ao presente (até pela irritante tendência que este tem para passar de moda), existe uma atracção inexorável para a mudança que acelera vertiginosamente (certamente pelas magníficas autoestradas pré-eleitorais, mas a pé porque não há dinheiro para a gasolina, quase vazias pela concorrência do TGV e OTA que admiramos embasbacados e orgulhosos de fora porque não há dinheiro para bilhetes) em direcção ao futuro, certamente simpático no modo como nos oferece uma reforma adequada aos cargos de gestão e política que todos tivémos e onde fizémos pela vida seguindo o lema de um por todos e cada um por si, com os PPRs que encarecem o petróleo, seguros de saúde para pagar o risco de termos privatizado a saúde e seguros de alimentos porque alimentos seguros já não há.
Valha-nos a certeza das estações, com este Verão incrível que temos tido!

quarta-feira, julho 23, 2008

A indústria farmacêutica fasciza-me.

domingo, julho 20, 2008

Nota

Não emigrei (Portugal, Lisboa), morri (vivinho da costa) ou embirutei (mais do que o normal). Não perdi "ambas as duas" mãos (nem dedinhos partidos, sequer). Não estou sem net (wireless mas uma bela caca) ou computador (tadinho, tão maltratado). Não padeço de qualquer mal de alma (é descartável, como a consciência), coração (bate forte e feliz), mente (vide nota acima sobre embirutanço) ou corpo (impecável!, cada vez melhor. Nas imemoriais palavras de Caco Antibes, "uma Cláudia Schiffer de calças"). Não estou preso (ou em Londres) ou internado (yet). Não estou (ou tenho sequer para ter até Janeiro, mercê da troca de emprego) de férias. Não perdi a verve (mas não ouço Verve há muito tempo) ou a vontade de escrever (mesmo nas portas das casas de banho). Não troquei de blog (cruzes canhoto) ou veículo de comunicação (e continuo de Smart). Não estou "de mal" com amigos (saudades, beijocas e abraçadas), família (não tenho consultado o testamento mas...), leitores (fat props pró ppl da crew de Fernão Ferro, tá-se, yo) ou seja com quem for (aceitam-se correcções a este item). Não me faltam temas (uiii) ou motivos sobre os quais discorrer (xiiii) ou divagar (pffff). Não virei ermita (ainda a semana passada vi um coelho que conheço e estive uns bons 15 minutinhos a falar com um arbusto simpático) nem fiz nenhum voto de silêncio (ava naguila, ava naguila). Não me queixo da sorte (o horóscopo da Dica elegeu-me como o signo da semana), da saúde (de ferro quando não me estropio todo no desporto), do trabalho (speechless), do amor (linda & maravilhosa) ou das finanças (ainda não dá para o monte no Alentejo mas...). Não são critérios editoriais (se bem que esta cor de letra do TC ou aquele estilo de escrita do AC...) ou protesto contra seja o que for (bom, aqui se calhar já incorro em inverdade, mas adiante). O que me faltará então? Tempus fugit, tempus fugit...

sexta-feira, julho 11, 2008

O cinema aproxima. A televisão afasta.

segunda-feira, julho 07, 2008

Viajo no comboio para Lisboa e escrevo porque sempre foi assim. Depois de pela primeira vez ter inaugurado o modelo E-112 na segurança social de Coimbra, fico com a sensação de que nenhuma das funcionárias fazia puto ideia do que acabou de fazer. Enfim… talvez seja essa a história que resuma tudo isto…ninguém faz puto ideia. Nem a mãe que à minha frente agride, sim, isso mesmo, agride o que presumo ser a filha. Porque só agredimos quem gostamos, esta mãe agride com palmadas, olhares tensos de raiva uma menina vestida de azul que tenta coçar o nariz com os pés para lhe tentar chamar a atenção. A mãe frenética mexe no telemóvel. Há pouco ligou para o que presumo ser o pai da Mónica. Disse como a Mónica se estava a portar mal e de birra e etc… “Caro pai da Mónica, eu que vi tudo até aqui, posso garantir que a Mónica se está a portar muito bem, a sua mulher é que se porta mal”. Claro que não tenho um telemóvel para filmar, nem uma televisão para mostrar, mas prefiro ver um professor a ser empurrado, ou um juiz a levar um sopapo do que uma Mónica a levar palmadas da mãe estúpida. É que os professores e os juízes podem defender-se, a Mónica não.

quarta-feira, julho 02, 2008

O SLB enquanto vítima de violência doméstica

A grande vitória do agressor não é bater no agredido - esse é, aliás, apenas um sinal de fraqueza. O agressor vence quando consegue incutir no agredido um sentimento de culpa que o impede de se revoltar, de lutar contra a agressão ou de a denunciar.

Da mesma forma, as vitórias de FCP e Pinto da Costa sobre o Benfica e o futebol não são os subornos, as manobras de manipulação de instituições, nem sequer as vitórias "desportivas" que a corrupção lhes garante - comprar árbitros é apenas sinal de fraqueza.

Vitória do FCP/Pinto da Costa é quando os benfiquistas se começam a convencer de que a corrupção e as derrotas são culpa do Benfica. Dos seus dirigentes, treinadores e jogadores.

Não digo que o Benfica não cometeu erros - as vítimas de violência doméstica também não são perfeitas - mas a confusão entre erros e merecimento da violência é errada e é, exactamente, o objectivo do agressor.

O agressor vence quando vejo auto-intitulados Novos Benfiquistas a assumirem a culpa, omitindo ou desvalorizando a agressão.

O FCP vence quando, ao mesmo tempo que cresce a culpa no agredido, a pequena réstia de consciência do agressor é completamente ignorada. Vence quando se consegue convencer de que não bate e de que é, na verdade, a vítima.

O que se passou no futebol português nos últimos 30 anos é mais do que evidente. Não precisamos de quinhentinhos, cafés, fruta nem Calheiros como prova. Todos os que vêem futebol sabem.

É inaceitável e isso é independente dos erros do Benfica.

O Benfica precisa de um psiquiatra e de um serviço de apoio à vítima. O Benfica precisa de benfiquistas com nova força e coragem e não de Novos Benfiquistas. O Benfica e o futebol precisam de honestidade e justiça. Dos treinadores e jogadores falamos depois.

Lendo Resnais

O que é que faz de um filme, um filme e de um médico um médico?

Um quadro, um homem, uma viagem e de um bolo de arroz…

um quadro e não uma coisa pintada,

uma viagem e não um êxodo,

um bolo de arroz e não farinha-açúcar-ovos. O que é que faz de uma coisa uma coisa e não a mera soma dos seus componentes?

O que fica se tirarmos ao filmes a câmara, a luz e a acção e aos médicos os conhecimentos técnicos.

O que fica de uma viagem sem deslocação ou de um bolo sem fermentação?

terça-feira, julho 01, 2008

A dor


2 de Julho de 1998. 10 anos amanhã. A Praça mais bonita do mundo cheia de milhares de pessoas. Dos rapazes que vêem na imagem só quatro contam. O das riscas, da Istrice, na retaguarda, ficou com uma pista de partida má. O de roxo, da Torre, está a ser tapado pelos inimigos da Onda, de azul e branco, enquanto o de amarelo e verde, da Oca, amiga da Onda e inimiga da Torre, corre tranquilo para a vitória. Os outros tipos, tramados pelo sorteio dos cavalos, correm em pilecas, sem qualquer hipótese de triunfo.
Um ano antes aquele pouco mais de minuto de corrida teria tido tanto significado para mim como este texto deve estar a ter para quem o lê. Naquele dia, a emoção foi enorme. Pela beleza do que se passava à minha volta, mas sobretudo porque estava a três dias do fim da minha aventura.
A dor desses três dias foi seguramente diferente da dor que sinto neste momento. Mas são duas das maiores que já tive. E o que custa é a certeza de que há dores muito maiores por aí à solta. O que dá vontade é abraçar esta dor grande que sei pequena, habituar-me a ela e trazê-la comigo, como gostaria de ter trazido aquele ano. Talvez seja ilusão, mas parece-me que o que está sempre connosco, o que acarinhamos, não nos pode magoar assim tanto.
Agora que a dor começa a passar, dá vontade de lhe piscar o olho e dizer "vem daí comigo!" O meu medo é que com as dores grandes-grandes já não seja assim.