segunda-feira, janeiro 31, 2005

cem palavras 15

Livraria
A estrutura de estantes e prateleiras está marcada por um livro. Aconteceu na inauguração da loja. Tudo a postos, e eis que centímetros a menos num pé de uma estante podiam fazer ruir o sonho de uma vida. Improvisou-se. Um livro foi transformado em calço. Os anos correram e nunca ninguém duvidou da competência com que o livro desempenhava as suas funções. Hoje, um miúdo de 5 anos entrou na livraria e decidiu comprar o seu primeiro livro. O calço. Os donos divididos entre o brio do serviço e a continuidade da loja ainda não sabem o que fazer.

Sabedoria metafórica

Da boca de um grande amigo, este fim-de-semana, para a vida dele e para a minha:

Neste momento a minha vida é um sistema de três equações a quatro incógnitas.

A Gabardina propõe o seu choque

não tecnológico, nem de gestão, nem de valores. Um choque eléctrico para Sócrates, Santana e Portas.
Os texanos têm o know-how. É só fazer o benchmarking!

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Demasiado real

Demasiadas pessoas à minha volta estão a precisar de ler o Calvin. Aqui fica o meu contributo, para quem não teve tempo de ler o Público de hoje.

 

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In spite of that warning voice

that repeats and shouts in my ear

Nestes dias em que todos os versos de todas as músicas que ouço fazem sentido, nestes dias em que o teu nome está em todos eles, odeio o Damien Rice e a Katie Melua e o Sinatra e todos os outros!

Eu devia ter ouvido era o Freddy Mercury, logo de manhã a sair da VH1 com o seu fato de cabedal branco...
I don't want to die, but I sometimes wish I'd never been born at all...

O melhor a fazer era ficar na cama. Para a próxima já sei.

cem palavras 14

Alergia
João nasceu marcado pelos livros. Não que os escreva, edite, venda ou recite. Nada disso. Ao João quaisquer duas folhas agrafadas, causam uma brutal reacção alérgica. Bolhas nas mãos, dor nas articulações e músculos eis o que um simples olhar para uma vitrina de uma livraria provoca. Médicos, mais de cem. Bruxas a perder de conta. "Tome estes comprimidos com estas vitaminas", "experimente este chá e este emplastro". Nada. João, personagem de um livro, está lá fora sentado à espera de cura no escritor que o inventou assim. "Quem é? Ah! és tu João, entra?.

Many's the time I've been mistaken / And many times confused

Um coveiro demasiado dedicado enterrará o amor da sua vida, um dia depois de este ter morrido.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

And so it is

É possível que o meu mundo esteja em loop?
Ou será só o Windows Media Player?

terça-feira, janeiro 25, 2005

A história da minha vida

Às vezes os que me são próximos dizem tudo o que tenho para dizer. Ainda não tinha digerido este Acaso que Falou e já o lgm, um desconhecido-a-uma-pessoa-de-distância, arrasava comigo: Os meus amigos querem mulheres; as minhas mulheres querem amigos.
Hoje não escrevo mais.

Investimento estrangeiro

O investimento estrangeiro em Portugal não pára de surpreender. Uma nova e poderosa multinacional virá instalar-se em Portugal daqui a cerca de um mês. Depois da chegada do IKEA, esta será a inauguração mais importante de 2005.
O director da GAYS'R'US internacional explicou à Gabardina que Portugal é neste momento, devido à sua situação política, o local ideal para lançar esta marca.
Aproveitando a simultaneidade de Carnaval e eleições legislativas, a primeira loja da cadeia, em São Bento, será inaugurada com um baile de máscaras, para o qual foram convidados os líderes dos principais partidos portugueses.





Segundo o director da GAYS'R'US, só Santana Lopes não foi convidado, por tal convite ter sido considerado absurdo. Louçã e Jerónimo de Sousa recusaram. Espera-se a todo o momento as respostas de Portas e Sócrates.


Nota: Este é, para já, um texto de ficção. A Gabardina pede desculpa à GAYS'R'US pela utilização do seu símbolo, mas depois de o ter encontrado on line, não conseguiu resistir a utilizá-lo.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

cem palavras 13

Livro 11 e 175

George, empregado numa seguradora, vai ser marcado por um livro que nem sequer conhece. Depois de uma directa a trabalhar, boceja e tenta manter-se acordado. Olha pela janela do seu escritório do 100º andar da torre norte do World Trade Center e surpreende-se com um ponto negro que se aproxima a grande velocidade. Os responsáveis por esse pontinho que aumenta na direcção da janela de George, avançam em nome de um livro. Em nome de um livrinho onde - dizem eles ? está a Verdade. A verdade não está nos livros e George morre.

Sexo - Oferta e Procura

Devia existir um mercado de sexo à imagem do mercado de trabalho. Não o que existe, o da prostituição. Não é sobre isso que escrevo. Este seria o resultado de um direito constitucional:



"1.Todos têm direito a sexo;

2.Para assegurar o direito ao sexo, incumbe ao Estado promover:

a) A execução de políticas de pleno sexo;
b) A igualdade de oportunidades na escolha de parceiro ou género de parceiro e condições para que não seja vedado ou limitado, em função do trabalho, o acesso a quaisquer corpos, carinhos ou actos sexuais."


As relações entre os parceiros estaria definida num contrato, não obrigatoriamente o de matrimónio, que estabeleceria os períodos mínimos obrigatórios para a actividade sexual. A isenção de horário de sexo seria condição obrigatória. Uma vez desfeito o contrato - bastando para tal a manifestação de vontade de uma das partes - o Estado asseguraria, num sistema semelhante ao da Segurança Social, mas que funcionasse, os serviços sexuais mínimos, por parceiro equivalente ao perdido, por um período que variaria de um a três anos após a data do fim do contrato. Durante este período o Estado financiaria, directamente ou com recurso a fundos comunitários, programas de reconversão sexual para os desemparelhados. O mesmo se aplicaria nos casos de baixa médica, para o consorte saudável.

As situações de sexo esporádico, ocasional ou temporário estariam abrangidas pelo regime da camisinha verde, sem direito às regalias sociais acima descritas.

Quanto às horas extraordinárias... bem, não se antevê que elas venham a ser fonte de polémica.


Nota: Este texto não está totalmente desligado do visionamento do filme referido no post anterior.

No love, no glory

O melhor do filme Closer é mesmo esta música. Sim, mesmo contando com a Natalie Portman...

And so it is
Just like you said it would be
Life goes easy on me
Most of the time
And so it is
The shorter story
No love, no glory
No hero in her sky

I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes...

And so it is
Just like you said it should be
We'll both forget the breeze
Most of the time
And so it is
The colder water
The blower's daughter
The pupil in denial

I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes...

Did I say that I loathe you?
Did I say that I want to
Leave it all behind?

I can't take my mind off of you
I can't take my mind off you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off you
I can't take my mind off you
I can't take my mind...
My mind...my mind...
'Til I find somebody new

Cem palavras 12

Marcados pelo passaporte

Os passaportes são livros. Pequenos, elegantes e com páginas coloridas de carimbos imperceptíveis a lembrar que nem toda a gente pode ir para onde quer. Os vistos marcam os passaportes, e estes os seus titulares. Por vezes para sempre. Aristides Sousa Mendes nunca teve dúvidas. Os passaportes, livrinhos com fotografias de pessoas, se possuírem o visto correcto, marcam para sempre as pessoas por detrás das letras e dos nomes, e as vidas por detrás das nacionalidades e das religiões. Foi o tempo em que a vida estava marcada por um livro. Pelo passaporte. Como hoje aliás.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

"Jose Socrates homosexual"; "José Sócrates homossexual"

São as pesquisas nos motores de busca que fazem movimentar a blogosfera neste dia. A Gabardina já publicou textos com todas aquelas palavras (nunca juntas), e por isso já teve vários acessos através destas buscas.

Depois dos textos do Giba Um no Brasil (texto de 5/1/2005, agora só disponível na versão politicamente correcta) e da notícia do jornal Crime de ontem, outra coisa não seria de esperar...

Questões relevantes surgem:

Onde estás tu Carlos Candal, agora que o lobby gay do PS precisa da tua doutrina?

Valerá a pena fazer uma sauna na presidência do Conselho de Ministros?

Por que está calado José Sócrates? (e não digam que ninguém tem nada a ver com isso, que todos os dias estes tipos falam por muito menos)


Venha de lá essa declaração ao país!!!

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Encaixes

Sou uma peça de um puzzle que tem mais 2999 iguais a mim. Faz agora semana um rapaz abriu a caixa que dizia "Guernica, 3000 peças" e nos espalhou a todas em cima de uma mesa grande. E ainda cá estamos. Sou uma peça preta, toda preta, de ali de ao pé da pata do touro. Na fábrica, depois de nos terem cortado e separado, perdi de vista as quatro peças em que eu encaixo - tenho duas linguetas e dois buraquinhos. Tenho medo de nunca mais as reencontrar...
Estamos aqui há dias, e nada. Duvido que este tipo nos consiga juntar. Acho que já nem mesmo o Senhor que nos desenhou, mandou cortar e separar, saberia a que sítio pertenço eu.



Há mais 600 todas pretinhas, iguaizinhas a mim! A maior parte delas também com dois buraquinhos e duas linguetas... Brancas são outras tantas, e cinzentas nem se fala... Umas dezenas têm linhas e círculos e por isso estão já a ser postas junto ao seu sítio provável. Mas nós estamos separadas por caixas, com outras iguais a nós...
Preciso de quatro peças: duas que encaixam em mim, duas em que eu encaixo. E não as encontro. A noite passada enchi-me de coragem e gritei: "Alguém de ao pé da pata do touro?" Mas ninguém me respondeu... Se ao menos eu encaixasse com uma daquelas que tem um lado todo direito, seria mais fácil pôr-me no meu lugar. Mas nem nisso tive sorte... Tenho medo que um dia o rapaz perca a paciência e nos ponha assim - amontoadas em caixas - para dentro de uma gaveta.
Por isso já fiz amizade com outras quatro peças pretas. Duas estão encaixadas nas minhas linguetas e as outras encaixaram-se em mim. Nenhum encaixe é perfeito. Entre mim e cada uma delas fica um espaço. Não sei se se nota muito... Acham que haverá problema por estarmos assim? Acham que podemos ficar juntas? Acham que se nota muito? Acham?

cem palavras 11

Os livros gato

Os livros que me marcam foram, são e serão aqueles que não consigo amestrar. A estes chamo: os meus livros gato. Quando os leio, sei que como os gatos, qualquer página pode morder. Apesar da macieza de alguns parágrafos, da luminosidade doce das frases ou da agilidade de certos verbos, sei que ao mais leve despertar do livro gato sofrerei a aspereza das garras num ofuscante clarão truculento. E é por este risco permanente, que continuo a ler estes felinos feitos letras. A quem queira evitar as arranhadelas um conselho: desconfiai sempre dos livros que ronronam.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Arte contemporânea é isto!



O bicho na foto não é um elefante mas sim uma elefanta, ou uma elefante, como dizem agora os politicamente-correctos.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Lixo contemporâneo

No Centro de Artes e Espectáculos (CAE) da Figueira da Foz descobriu-se agora que foi uma empregada da limpeza quem deitou para o lixo uma instalação que era na verdade um lavatório partido.

Os directores do CAE apressaram-se a garantir que será dada formação em arte contemporânea ao pessoal de limpeza.

A mim parece-me que seria mais útil dar formação em limpeza aos artistas contemporâneos...

um amigo para a vida

Tinha 40 anos, era professor de latim e fumava SG Filtro. Tresandava a tabaco. O odor emergia do bigode cerrado, volumoso e amarelecido. Colocava os dedos que entalam o cigarro muito junto dos lábios pressionando-os contra os dentes. Arregalava os olhos, chupava força, e as bochechas metiam-se-lhe cara dentro. Em seguida, retirava o cigarro da boca (ficando este muitas vezes preso na secura do lábio superior) esticava a língua tesa, pontiaguda e muito lisa, para fora, e mantinha uma massa de fumo cinzento na garganta, que logo, de um trago, inspirava com um pequeno silvo. Porém desse fumo imenso, apenas expirava uma ligeira nevoazita que lhe descia pelo nariz, amarelecia o bigode por debaixo das fossas nasais, e se espraiava levemente contra o vidro da mesa onde estavam os cadernos e o dicionário. As aulas eram dadas numa pequena mesa, com uma camilha de renda coberta por um vidro redondo. No meio, um cinzeiro atulhado e anguloso, por cima, um candeeiro redondo que continha a luz nos limites da mesa. E era assim, que este homem garantia duas vezes por semana a experiência do asco e da repulsa. Falava pouco, exigia muito e era absolutamente justo, mas tinha esta forma de fumar, que se sobreponha a tudo. Ou a quase tudo. Pois mais intenso só os toques ocasionais que ao descruzar as pernas, ou a mudar de posição na cadeira, dava sem querer nas pernas do professor. Que arrepio! Era como meter bem fundo as mãos naquela língua hirta e seca. O medo, esse, nascia quando os botões da manga do casaco tocavam no vidro da mesa para ementar a vermelho no meu próprio caderno, algum erro no caso, ou na declinação.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

O meu fim-de-semana

If you took all the girls I knew
When I was single
And brought them all together for one night
I know they'd never match my sweet imagination
Everything looks worse in black and white

Laughing on the bus
Playing games with the faces
She said the man in the gabardine suit was a spy
I said "Be careful his bowtie is really a camera"

Now I sit by my window and I watch the cars roll by
I fear I'll do some damage one fine day
But I would not be convicted by a jury of my peers
Still crazy after all these years

I'm dappled and drowsy and ready to sleep

Time it was, and what a time it was, it was
A time of innocence
A time of confidences

I dreamed that my soul rose unexpectedly
And looking back down at me
Smiled reassuringly

You know the nearer your destination, the more you slip sliding away

And then she kissed me
And I realized she probably was right
There must be fifty ways
To leave your lover





"Kathy, I'm lost", I said, though I knew she was sleeping...

Se não aconteceu, pode ainda vir a acontecer

O Ministério das Finanças está a lançar um programa de troca de preservativos por fraldas. Inspirado no proveitoso programa de troca de seringas, esta medida visa superar a injustiça resultante das taxas de IVA serem actualmente mais altas para as fraldas do que para os contraceptivos.

A Gabardina está em condições de adiantar que a ideia inicial do ministro Bagão Félix seria proceder à troca de preservativos usados por fraldas novas. No entanto, e após um encontro com o Padre Pintor Finto nas instalações do Colégio S. João de Brito, foi decido avançar só para a troca de preservativos novos e selados. Na opinião do Sr. Padre, não deve o governo promover o pecado, premiando-o, tendo mesmo afirmado que a igreja é da opinião de que "não vale a pena oferecer fraldas depois de o mal estar feito, e muito menos chorar sobre o leite derramado".

MANTORRA


A alegria está de volta!

A bomba que põe lá o cheiro a Chanel

The Pentagon was considering developing a 'homosexual sex bomb' designed to make enemy troops gay, it has been revealed.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Só sei que nada sei

Sócrates afirma que não voltará a dar os benefícios fiscais aos PPRs e PPHs. Eu acho bem. Fico mesmo muito contente. Mas não foi o Sócrates que votou contra o orçamento de estado por causa deste "ataque à classe média"?

cem palavras 10

Cor-de-azul

A rosa azul é a pedra filosofal da botânica. Nem os milénios do oriente, nem as genéticas do ocidente. Nem a sabedoria popular e muito menos a esterilidade hospital. Nada, nem ninguém, conseguiu azular o rosa da rosa. Apenas um livro o fez. A flor foi colhida há 150 anos no Porto e colocada no meio de um livro impresso a tinta azul. Como a flor marcava o livro na página essencial para o seu leitor, também o tempo, o acaso e o livro marcaram para sempre esta flor.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Cultura a quanto obrigas, em Coimbra

Em Coimbra, nos grandes espectáculos, é comum as primeiras filas das salas estarem reservadas para os convites aos Srs. Professores Doutores e restante gente culta da cidade. Nos menos mediáticos, mesmo que a lotação esteja esgotada, é habitual que as três filas da frente fiquem vazias. Nos restantes lá aparecem as personagens, nunca vistas nas salas de teatro e cinema, com os seus melhores fatos, acompanhados pelas suas esposas de golas de peles e cabelo armado.

A Câmara, claro, subsidia. Ora descobrimos hoje que a Câmara subsidiou com mais de 200 mil euros (!!!!) uma ópera realizada em pleno Pátio da Universidade, em Julho de 2003. A política de convites foi difícil, como é de imaginar. Nos dias do espectáculo havia mesmo corredores diferenciados para convidados mais e menos importantes. Trocaram-se olhares de inveja e vergonha entre catedráticos do corredor A e doutores e engenheiros dos corredores B e C. O povo, esse, paga e bem para assistir aos espectáculos no Pátio da Universidade.

Neste caso alguém saiu a ganhar. O produtor do espectáculo fugiu com a receita de bilheteira. Mas a Câmara de Coimbra foi rápida a descobrir a tramóia! Isto foi em Julho de 2003 e logo em Agosto de 2004 o assunto já tinha sido entregue no Gabinete Jurídico da autarquia. Eficazes estes autarcas. São rápidos. Espertalhões. Vivaços! Competentes... Bonzinhos... Estúpidos, são muito estúpidos... Ou não...

cem palavras 9

E se...
...o leitor ao ler um livro corresse o risco de ser sugado como a luz num buraco negro. Impossível! Pois já aconteceu. A mim. Várias vezes aliás. A primeira vez foi na praia, a ler as aventuras do Cavaleiro da Triste Figura, viro a página e zás: de repente, estava a ser manteado com Sancho Pança. Caí no chão, apresentei-me ao senhor do meu companheiro de infortúnio e não fosse um valente sopapo que me aplicou nos queixos, e me fez recuar com violência para fora do livro, ainda hoje viveria pendurado em alguma linha.

terça-feira, janeiro 11, 2005

Versos de 2005, até agora

If I hadn't seen such riches
I could live with being poor

Serviço Público de Televisão seria

A TVI passar as imagens do então Ministro do Ambiente José Sócrates a oferecer pancada a um jornalista nas Salinas do Samouco.

A descrição, versão soft, do que aconteceu está aqui. Eu vi as imagens na altura e garanto-vos que foi bem mais interessante!

Três mentiras que os portugueses dirão em 2005

"Estes tipos do Gato Fedorento agora já não têm piada nenhuma!"

"O Durão até estava a fazer algumas coisas boas. Depois o Santana é que estragou tudo!"

"O porto não ganhava só por causa dos árbitros!"

segunda-feira, janeiro 10, 2005

cem palavras 8

O primeiro
Leitor e eu, moscas de pernas para o ar no tecto desta oficina aguardamos que Johannes Gutenberg, neste dia 31 de Julho de 1440, volte ao seu trabalho. Gutenberg abre a porta, deixa que a aragem fresca de Estrasburgo medieval nos agite as asinhas e rasga o primeiro pergaminho impresso da história da humanidade. Depois, leva a mão à cabeça e inicia uma nova impressão. Gutenberg, lá em baixo e ao contrário, não sabe, mas acaba de iniciar a impressão de parte de um livro que o marcará para sempre. "A bíblia de 42 linhas".

Guerra em Portugal

Enquanto, nas televisões e nas rádios lusas, uma laranja podre e um cunami co-incinerado fingem guerrear para arranjar tachos para os seus amigos, uma verdadeira guerra, que pode ser importante para nós, acontece nas lojas da Sonae Distribuição.

Depois de quase duas décadas em escandaloso acordo (tácito ou não) com os seus fornecedores a surpresa pode agora ser vista nas prateleiras (ou nos lineares, como eles gostam de lhes chamar) dos Modelos e Continentes do país.

Até há pouco tempo o acordo era simples e lucrativo. Os fornecedores faziam volume na Sonae e faziam margem nas restantes lojas. Ganhava a Sonae, ganhavam os fornecedores, as restantes lojas iam sobrevivendo e lixava-se o consumidor, que tinha por cá preços de supermercado altíssimos, apesar dos salários ridículos dos funcionários dos supers e hipers.

Mas a crise chegou e, com ela, as lojas de desconto que se poderiam ter transformado em sítios parolos a que ninguém iria, transformaram-se em locais de culto.

A Sonae parece ter percebido isso e depois dos joguinhos do talão de desconto para os combustíveis, avançou decidida para a venda de produtos sem intermediário.

Nas lojas Modelo e Continente podemos encontrar, de há uns meses para cá e cada vez mais, produtos de marcas como "Sol", "Tal" ou "é". Produtos sem campanhas de publicidade, mas colocados em posições privilegiadas nas lojas. Produtos de boa qualidade por cerca de 60% do preço dos produtos das outras marcas.

Custos de marketing perto de zero e compras directamente ao produtor permitem certamente à Sonae manter as suas margens, vendendo ainda mais barato que as lojas de desconto.

Assim sendo, quem perde o comboio são os fornecedores. Vamos ver como reagem estes... Esperarão serenos por dias melhores ou vão partir para a guerra vendendo mais caro à Sonae e mais barato aos restantes?

A nós, resta-nos seguir na onda e aproveitar os preços mais baixos. Desta guerra poderá sair algo de bom para nós. Algo que a Autoridade da Concorrência parece incapaz de fazer...

cem palavras 7


"A"
O "A" é um rapaz marcado. Marcado por um livro e por uma traça. No saboroso livro onde foi registado o seu nascimento, passeou-se um dia uma traça esgalgada de fome que lhe comeu o resto do nome. Quando aos nove anos, ao pedir um bilhete de identidade, foi confrontado com o insólito, pediu à mãe e ao pai para que ementassem o erro. Estes, gente pobre e com medo das burocracias, perderam-se em requerimentos, exposições, esclarecimentos e pedidos e nunca conseguiram nada. Hoje, graças ao nome é um homem rico. É agente demonstrativo e exemplificativo.

sábado, janeiro 08, 2005

cem palavras 6


Respirar
Todos os livros são como a respiração. Por isso, dividem-se em duas categorias. Os que inspiram e os que expiram. O primeiros, marcam?nos com a inspiração serena de nobilíssimos ideais, com a inspiração sôfrega de golfadas caóticas de vida ou com a inspiração sábia do conhecimento. Os segundos, os que expiram, marcam-nos com vazio profundo sem fim e sugando-nos a vida, sangram-nos para dentro do abismo que contêm. Os livros que expiram cansam, os que inspiram revigoram. Sempre preferi os livros que expiram aos livros que inspiram, porque para expirar é necessário ter ar nos pulmões.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

cem palavras 5

Alergia
João nasceu marcado pelos livros. Não que os escreva, edite, venda ou recite. Nada disso. Ao João quaisquer duas folhas agrafadas, causam uma brutal reacção alérgica. Bolhas nas mãos, dor nas articulações e músculos, eis o que um simples olhar para uma vitrina de uma livraria provoca. Médicos, mais de cem. Bruxas a perder de conta. "Tome estes comprimidos com estas vitaminas", "experimente este chá e este emplastro". Nada. João, personagem de um livro, está lá fora sentado à espera de cura no escritor que o inventou assim. "Quem é" "Ah! és tu João! entra".

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Brasil

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(recebido por e-mail)

quarta-feira, janeiro 05, 2005

cem palavras 4

Consulta

A consulta de dermatologia foi marcada por um livro. Então, de que é que se queixa? - pergunta o médico com a voz romba de 30 anos de tabaco. São estas manchas no prólogo, está a ver? e agora no índice de fim também me estão a aparecer. Mas o aspecto nem é o pior, a comichão é que me custa - diz o livro roçando a vigorosamente a lombada contra a cadeira. Não se preocupe que não é nada de especial, ponha esta pomada de seis e seis meses e pense em fazer umas termas no Inverno.

É preciso ter

A esperança é a última a morrer. Não há ditado mais verdadeiro para mim. Morrerei seguramente antes de todas as minhas esperanças. E sei que mesmo nesse dia continuarei a acreditar nelas, pelo que por cá ficarão depois da minha partida. Acredito sempre na reviravolta de última hora; acredito sempre que ainda vou conseguir. Entristece-me quando já não tenho expectativas em relação a determinada coisa. Por isso não tenho escrito sobre as próximas eleições, sobre Portugal.

Mas não faltam provas de que vale a pena ter esperança. Almocei hoje com a esperança suprema, ainda escondida numa barriga de oito meses e meio. Dela tudo se pode esperar, não pode haver esperança maior (por isso se diz "estar de esperanças"?). Enquanto existirem nascimentos a esperança continuará cá para ser a última a desaparecer.
Ainda não nasceste e já me faz bem almoçar contigo.

cem palvaras 3

Plano

Um homicídio não é coisa sem importância. Mais que o resultado, importa o processo. Equilíbrio, estética e ironia pautaram sempre a carreira de Matilde como assassina profissional. Ao cabo de 30 anos no ramo da morte a soldo, estava decidida a fazer deste o seu último trabalho: dar um sumiço a um juiz corrupto. Ia marcá-lo com Código Penal anotadíssimo. Um calhamaço denso, incompreensível e injusto. Foi enquanto despachava sozinho no gabinete, que 4 quilos de papel lhe partiram a espinha que nunca teve. Matilde tomou o resto do chá morno e partiu para a Florida.

terça-feira, janeiro 04, 2005

Escrever sem dizer

Constrói-se o sentido
no limite das coisas que ficam por dizer
(...)Escrevo sem poder dizer nada...
Como se os limites por mim impostos
começassem a ceder(...)
começassem a escassear, fugir, transgredir(...)


I.M., 3 de Janeiro de 1994

Dúvida

À minha volta, nos primeiros dias de 2005, as pessoas parecem dividir-se em dois grupos: os que aceitam e os que questionam. Os primeiros estão mais opulentos, os segundos mais felizes.
A longo prazo o dinheiro comprará felicidade?

Cem palavras 2


O espalho
Quando volto à infância e relembro as tardes de profundo tédio infantil em que escalava as prateleiras da biblioteca parental, recordo um livro pequenino e um trambolhão enorme.
Deitado na última prateleira junto ao tecto, com a cabeça e os braços pendentes sobre o vazio, reparei que à distância do meu braço esquerdo estava um livro: "A queda" do Camus. Para o alcançar desloquei-me para a frente. Demasiado. Pois logo que agarrei o livro, fiz o caminho até ao chão de cabeça. "A queda" marcou-me para a vida: uma aguda dor lombar sempre que arrefece o tempo.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

Cem palavras 1

No Verão passado quem lesse com atenção as páginas do Diário de Noticias ficava a saber de um concurso literário denominado de Cem palavras. A ideia era em 100 palavras escrever um texto subordinado ao tema: marcado por um livro. Havia dois prémios: um para o melhor texto da semana e outro para o melhor texto de todos. Um livro, e uma viagem aos Açores, respectivamente. Ganhei um livro e a publicação de um dos textos. Qual? não sei, pois não comprava o D.N todos os dias e só quando recebi um livro trilhado na caixa de correio é que liguei a bota com a perdigota, neste caso, o texto enviado com o prémio recebido. Os textos que seguem sob o titulo "Cem palavras" são alguns dos que enviei. A escolha do menos mau ficará ao leitor Gabardinesco.

Livros que marcam

Os livros não marcam, infectam. Os que interessam claro. Os que guardamos à distancia de uma prateleira e que verificamos todos os dias com o olhar.
Os maus livros marcam e os bons livros levam-nos aos imprescindíveis. E são estes que infectam. Que nos infectam. Primeiro, põem os seus ovos. Depois, se o colo que os receber estiver com a temperatura exacta, eclodem e invadem todas as células do corpo. São capazes de engenharia celular. Extraem toda a informação do núcleo das células e preenchem esse espaço vazio com uma frase, ou com uma ideia.