quinta-feira, dezembro 29, 2005

Fim de 2005

O meu 2005 devia ter acabado hoje à noite, quando a voz perfeita cantou os versos que o resumem:



Eu fui contigo ao inferno
Fomos ao fundo do mar
Oh meu amor que eu mais amo
Deixa-me eu te embalar



Pedro Ayres de Magalhães, Canto de embalar

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Genial

Se estás a pensar votar Soares nestas presidenciais, não o faças sem antes ver este pequeno filme.

Link roubado ao Pulo do Lobo.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Segurança no trabalho e licenciamento de obras

As paredes da fotografia estão a ser construídas em Santo António dos Olivais, mesmo em frente à Junta de Freguesia. No centro de Coimbra.





Mas não se pense que a segurança de quem passa é descurada. Enquanto as pessoas passam por baixo dos tijolos periclitantes, fazendo SS para fugir aos grossos pingos de cimento que caiem para a rua, os trabalhadores, zelosos, repetem até à exaustão, ao mesmo tempo que trabalham: "Cuidado com a cabeça! Cuidado com a cabeça! Cuidado com a cabeça! Cuidado..."

Conto de Natal 2


-Estás com uma cara
-Uma mosca...não dormi nada esta noite.
-Abriste a janela...
-A gaja não quer sair.
-Tens comida no quarto?
-Migalhas na lã de uns carapins velhos.
-Sujos?
-Aquilo não se suja, estão usados.
-Lava-os com Sofelã e seca-os na lareira. A mosca desaparece.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Conto de Natal 1



-O Natal faz-me azia...
-Carregas nas velhoses?
-Agora, só vou às fillhoses...
-E a pastelaria fina, interessa-te?
-São caras...e detesto o princípio.
-Podes parar a minha casa é já aqui.

terça-feira, dezembro 20, 2005

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Quem conta um conto...

Rodou o puxador metalizado da porta a 180 graus e fechou-a devagarinho atrás de si, invertendo o sentido do puxador e do futuro. Caminhou estrada fora durante uns minutos, sempre a olhar para A janela, mas quando chegou ao final da rua foi como se lhe tivessem partido um serviço de loiça na boca do estômago. Começou a correr e só parou quando já não conseguia aguentar a dor de burro. "Já está, consegui", disse o cérebro ao corpo, enquanto os olhos se fixavam na sua triste figura reflectida nos painéis publicitários das paragens de autocarro.
foto-esfera
.
Podia ter acontecido ontem ou cinco anos atrás. Sentia agora que, se calhar, tinha sido preciso passar aquele tempo todo: exactamente seis anos, dois meses e catorze dias.
Enquanto recuperava o fôlego da corrida (afinal, porque lhe faltava o ar, logo a ele, que estava habituado a abusar do corpo, a levá-lo tantas vezes ao limite onde a taquicardia definitivamente acaba?), cruzou-se com a memória desse dia.
moulin-rose
.
Trazias uma t-shirt branca não muito justa, o cabelo solto e um sorriso que me desarmou ao primeiro olhar. Pediste-me que tirasse a camisa e me deitasse num tom de voz tão baixo que me foi difícil perceber o que dizias. Obedeci-te prontamente, expectante. Observei todos os teus gestos: o acender do incenso, o correr da persiana, o gesto profissional com que aquecias sempre as mãos uma na outra.
mercuriocromo
.
Esse fora, na verdade, o primeiro dia da memória. Recordava-o sempre com a mesma comovida estranheza, sempre a mesma sensação de ter assistido ao próprio parto.
Quando, recomposto do esforço, se viu de novo reflectido sobre um qualquer anúncio de comida para cão, achou que o corpo não lhe assentava bem. Sentiu-o demasiado velho e vários números acima da memória franzina que trazia consigo. E só então se deu conta das palavras que o acompanhavam desde o primeiro minuto. Eram a legenda do poster desbotado ao lado d'A janela. Lera-as apenas uma vez, naquele dia. Mas foi como se o seu cérebro as tivesse sugado para dentro de si devido a uma inexplicável ausência de pressão: "O ponto VG11 (Shendao) situa-se no dorso, entre os processos espinhosos da 5a e 6a vértebras torácicas. A agulha atravessa a pele, o tecido celular subcutâneo e os ligamentos supra-espinhal e interespinhal e atinge o ligamento amarelo; relaciona-se superficialmente com os ramos cutâneos do ramo dorsal do 5º nervo torácico e, profundamente, com o ramo dorsal do 5º nervo torácico. A estimulação deste ponto está indicada em situações de ansiedade, tristeza, perturbação mental, amnésia..."
outras tantas madrugadas
.
Chegou novamente com a respiração ofegante e abriu outra vez o puxador metalizado, agora já com medo de ser repreendido. Tinha saltado sem parar só para chegar aquela sala às oito horas em ponto. Tinha que ser às oito horas. Fez o que devia ser feito. Deitou no lixo os pedaços de papel que trazia nos bolsos, atirou as sapatilhas para o canto da sala, tirou os restos de baton da cara e deitou fora a tela, com aquela mulher estampada, que estava pendurada à direita da sua cama. E o corpo foi atrás do sofá azul marinho. Naquele dia conseguia prometer à senhora da sala n.º22 que no dia seguinte não acordaria às 5 da manhã a declamar poesia aos berros e nem ouviria Rachmaninov ao pequeno-almoço. No dia seguinte também tinha marcado na sua agenda um único encontro. Talvez o terceiro da sua vida. Desta vez era necessário calçar os sapatos pretos e a gravata escura. o fato ainda tinha que o ir comprar.
quero-te bem
.
Parecer louco sem o ser é bem mais difícil que ser louco sem o parecer. As mãos não tremem com facilidade e nunca é certo que os olhos de loucura sejam convincentes. Nos primeiros meses foi preciso representar muito, mas aos poucos a personagem entrou-lhe no corpo. Afinal, ao fim de seis anos o que parece dificilmente não é.
São oito e dez e os medicamentos do almoço já lá vão. (Talvez a enfermeira não fique à espera de o ver tomar os do jantar...) O cérebro está desperto e consciente de que o fim está próximo. Não será aquele cartaz a impedir uma vingança a que seis anos foram dedicados. As palavras no cartaz enchem-lhe a cabeça. Todos os dias precisa de ver A janela. Todos os dias precisa de fugir do cartaz. Correr o mais que pode até ao virar da esquina. Desde ontem que não há nada por trás da janela, mas o plano continua.
Amanhã, na tua campa, jurarei, com mais força que nunca, o que jurei cada dia, nos últimos seis anos, dois meses e catorze dias, à tua janela.
Batem à porta:
- Joaquim, são oito e vinte. Estão todos à mesa menos tu!
- Estou a ir, Paula, desculpe.
Limpou o baton da cara e saiu para o corredor.
.

Haverá por aí um acaso que queira falar?

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Tudo muda

Fui ao Porto e perguntei onde ficava a estação de metro mais próxima. Não me insultaram.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Tecnicamente, não poderia ser uma criança

"Aquilo não tinha pés nem cabeça"
Paulo Pedroso, hoje em entrevista à SIC

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Natal

O espírito de Natal anda muito atrasado este ano. A duas semanas do grande dia a Gabardina contribui com música. Começamos com o sempre natalício Frank Sinatra.

Antes o pirete do Cristiano Ronaldo

Em Itália, em 2005, há um jogador que sai assim de campo, enquanto nas bancadas os adeptos da Lazio exibem cruzes celtas e cantam hinos a Mussolini. Às vezes é difícil perceber que mundo é este.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

João Deão 45


Mulher:
-vais perder o curso.
Rapaz:
-Para o ano...
Homem:
-Segura aqui. Acho ela queria que ficasses com isto.
O rapaz segura o capacete e olha-o.
O homem tira do bolso do uma caixa pequena e entrega-a a João Deão.

Benfica

Que clube!!!

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Fazem parte da minha vida

Como eu gosto de grandes noites europeias!!!

João Deão 44


Silêncio. O reflexo da cruz vermelha numa poça de água agita-se quando João a pisa. Ao fundo a porta das urgências. A luz florescente do interior passa pelas quadriculas de arame do vidro. A porta abre. Um casal de meia-idade sai. A mulher cabisbaixa tem os braços à volta do corpo e um capacete preso ao cotovelo. O homem com o braço por cima da mulher vê ao longe o rapaz.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

João Deão 43


Rapariga:
-Amor, estás em casa? tenho que ir ter contigo, agora.
Rapaz:
-Estou, mas o avião é ás 8. Tens de ser rápida. Até já. Cuidado... com esta chuva, a estrada está perigosa.

É desta!

Depois de muitos falsos alarmes, a Gabardina está em condições de anunciar que será ele o novo treinador do Real Madrid:


Um só

Basta estar acordado um segundo para para ter vários dias de alegria. É muito fácil.

domingo, dezembro 04, 2005

João Deão 42


Começa a chover. De cima, -pop- os guarda-chuvas: pop, pop, pop - como os cogumelos eclodem depois chuva tapando a calçada portuguesa. O toldo da Nacional. Com o capacete preso no braço, a rapariga procura o telefone no bolso lateral das calças. Liga. O rapaz está em casa a arrumar a mochila. Pára para pensar do que precisa. E quando mais pensa, mais percebe que não precisa de nada. Podia ir com a roupa que tem vestida. Um ano no Japão a fazer um curso sobre o neo-realismo nipónico reduzem-lhe as necessidades a nada. Uns sapatos, alguma roupa servem para cumprir a formalidade da bagagem. Apenas um casaco: o casaco. Desse nunca se esqueceria. Toca o telefone.