sábado, março 31, 2007

Opções de vida

Pela calada, sorrateiro, invisível nas sombras, aguardava vigilante. A emoção da caçada, embora não fosse a primeira, continuava a estimulá-lo. Mais do que isso; permitia-lhe suportar todo o resto do dia seguinte. Só de pensar nisso bocejou, antecipando o tédio e a monotonia que iria seguramente experimentar em mais um longo e aborrecido dia de trabalho. As vantagens daquele emprego banal neste momento escapavam-se-lhe da mente. Teve de se esforçar para recuperar a ideia que somente mantendo um exterior de normalidade, ou pelo menos de saudável excentricidade, lhe seria permitido continuar aquilo que verdadeiramente fazia o seu coração continuar a bater. Era esse o segredo. Isso e infelizmente nunca poder assumir perante ninguém as atrocidades que cometia quando estava na pele do seu alter ego. Uma pena, pensou, mas de todo necessário. Apesar de todos os livros e filmes de psicopatas que glorificavam a psicopatia dos mega-vilões geniais do crime e da violência ser hoje, mais do que nunca, graficamente atraente, sabia que a justiça era inclemente e ele não era nenhum actor de cinema. Não representava para ninguém, não tinha público nem fans, não ansiava por aplausos ou compreensão. Gostava, no entanto, um dia, de poder despejar o que lhe ia no âmago, não pela catarse nem por querer ser detido. Era mais pela conversa. O tema agradava-lhe bastante e era tão difícil encontrar alguém para discutir a parte técnica, as vítimas certas, a parte artística, os melhores métodos, o que fazer quando as coisas não correm bem, etc... Durante algum tempo alimentou esperanças de encontrar um chat ou um fórum sms sobre o assunto onde participar mas depois desiludiu-se com o que encontrou e mudou de vida; tornou-se taxista em Lisboa. Sempre dava uns trocos, podia sempre falar sobre o que lhe apetecesse que isso não era um problema, por mais estranho que parecesse o tema e matar todos os outros que o aborrecessem com temas de merda como o tempo ou o trânsito e despejá-los em Fernão Ferro.

quarta-feira, março 28, 2007

A DGV aconselha

Às vezes parece-me que, mais do que um sentido da vida, com tanta regras, códigos de conduta e espectativas criadas, existe antes um sentido obrigatório na vida. E um sentido proibido. Um limite de velocidade. Um proibido estacionar. Vendo bem, toda a metáfora do trânsito faz sentido, sendo o carro e como o guias a postura/máscara/atitude com que conduzes a vida. Podes sempre trocar de carro em certas alturas e andar mais depressa ou mais devagar conforme o estado de espírito e a conveniência.
Há por aí veículos ligeiros, pesados, de mercadorias, atrelados, especiais, chaços, clássicos, de competição, de construção, tunnings, usados, de luxo, roubados, emprestados, descapotáveis, utilitários, jipes, motociclos a motor e a pedal, o carro de gelados da Family Frost, ambulâncias, bombeiros e polícias, o carro com o megafone da CGTP, táxis, tanques, transportes públicos e carros funerários. Os personagens estão todos lá. Depois temos também os acessórios, derivados e associados, como a sinalização e o código da estrada, os trajectos (com ou sem mapa/GPS) e os atalhos, o trânsito, as garagens e estacionamentos, os acidentes, a BT e as multas, o seguro, as inspecções e o mecânico, as corridas, os furos, aquela estrada manhosa com a curva perigosa, aquele cruzamento onde toda a gente se perde, a bagagem, o combustível, o óleo, a água e os aditivos, etc.
Em casos particulares, já todos encontrámos ou fomos quem muda de faixa sem fazer pisca e provoca acidentes, aquela besta que nos indicou um atalho que afinal só nos fez perder tempo, a estrada esburacada onde passámos um mau bocado. Já tivémos que escolher para que lado virar na bifurcação com as devidas consequências futuras, algumas irreversíveis. Já demos boleia à pessoa errada ou fomos largados na beira da estrada. Já de certeza fomos ao mecânico, mandados parar pela polícia por termos infringido a lei e já tivémos acidentes mais ou menos graves, por culpa nossa ou de outros, sendo mais ou menos prudentes.
Mas também há alturas em que conduzimos tranquilos numa estrada lisa, junto à costa num dia de sol, o motor a roncar baixo e certinho, capota aberta com o vento a soprar suave, a música certa a tocar no rádio, a companhia certa no lugar do pendura ou um animado grupo de bons amigos a encher todo o carro. Se for mesmo o caso da companhia ser a tal, até dá para pensar em trocar o 2 lugares por um familiar. Ou então, solitário, livre e desapegado, ir de mota a fundo na faixa da esquerda.

Por falar em carro, já lavava o meu...

terça-feira, março 27, 2007

O seu parceiro

Quando se previa que os juros iam subir os bancos vendiam empréstimos à habitação com taxa variável.
Agora que se prevê que os juros vão estabilizar e depois descer os bancos fazem campanhas a anunciar empréstimos com taxas fixas.

segunda-feira, março 26, 2007

domingo, março 25, 2007

BLOG PARTY

Festa

Máscara

Blog

Quando, onde, quem, como?

Considerações de ressaca de um domingo qualquer

Homens e mulheres, nestas coisas de relações amorosas, gostam que lhes dêem para trás, gostam de quem os trata com indiferença com ocasionais torrões de açucar no caminho, o tal macho à antiga, figura autoritária paternalista que mande, ou mulher fatal que arrasta tudo à passagem, indiferente. Gostava mesmo de acreditar que não será sempre assim mas vejo que, de facto, na maioria dos casos, é mesmo verdade. Quanto mais me bates, mais eu gosto de ti - na versão metafórica claro, atesta a sabedoria popular vertida em provérbio. A razão na base de tudo isto deve estar relacionado com os tradicionais "capachos" deitados aos pés dessas meninas e meninos que lhes elevam o ego até ao céu. Uma vez lá em cima instala-se o tédio de terem tudo o que querem por esse meio e a única estimulação decente (da "caça") que obtém tem, então, de vir daqueles que as renegam e que as desprezam, por não aceitarem a derrota. Observei já vários exemplares destes em acção, uns mais óbvios outros menos, mas todos incapazes de admiti-lo, elas refugiando-se nos chavões habituais sobre romantismo e como deviam ser tratadas pelos homens, eles com a soberba masculina de quem nunca sofre desgostos de amor. De seguida, nestes casos, quando encontram quem as/os trata bem, quem faz qualquer coisa por elas/eles, quem se mata e se esfola, quem se baba, quem é verdadeiramente romântico e apaixonado, esmifram o que podem para voltar à mó de cima e depois borrifam. Vão atrás da/do sacana que os/as trata mal, perdem-se em esforços para agradar a quem lhes deu para trás, ficam em sofrimento por quem os/as ignora. Desse sofrimento nasce a necessidade do tal séquito de adoradores que competem entre si pelo privilégio de um raio de sol, apenas para verem aparecer o zézinha/o campeã/ão levar a taça em 5 minutos, com falinhas mansas, num ciclo vicioso sem fim. Ora, depois de constatados os factos, acontece por vezes a alguns, reunidos o Tico e o Teco em deliberação profunda e irracional, sofrer um ataque de amargor e desilusão profundas, deliberar não mais voltar a ser tanso/a com quem não merece o esforço e passar a ser uma besta como os/as outras/os. Temporariamente este ataque de cinismo ainda pode acontecer (e acontece) e será, em certa medida, tão compreensível (não para as/os visadas/os pelo bruto/a, óbvio) como inadmissível. Para sempre não me parece nada saudável como modo de vida, até porque envolve alterações demasiado profundas e dá asneira vezes demais com quem não merece.
Acho muito mais engraçado e interessante quando a dança a dois flui sem entraves ou hesitações, simples, assumida, num cortejar mútuo de quem não pensa muito no que está a acontecer e saboreia cada momento sem julgamentos de intenções ou jogos de interesses.

sexta-feira, março 23, 2007

Faz Domingo 50 anos



Dizem as crónicas que o dia amanheceu chuvoso em Roma e que, celebrando-se a Anunciação, os sinos das Igrejas tocavam por toda a cidade.

A 25 de Março de 1957 Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França, Alemanha e Itália assinavam na capital italiana os tratados que fundaram a CEE e a Euratom. Desde então os povos dos países das Comunidades vivem em PAZ e com estabilidade. E já somos 27



quinta-feira, março 22, 2007

Cosa nostra e a Universidade

Há uns meses almocei com um senhor italiano que, desiludido com Itália, me falou de uma família de oito pessoas que trabalhavam, lado a lado, na mesma faculdade da Universidade de Bari.

Hoje voltei a esbarrar com a família Massari e decidi trazer aqui um pouco da história. Afinal são nove, em Economia em Bari. Irmãos, sobrinhos e primos. Todos professores e investigadores.

Mas há outras famílias importantes na Universidade de Bari. O Professor Tatarano ensina Direito Privado. Os filhos, um rapaz e uma rapariga, têm gabinetes no mesmo corredor. Mais, mas mais discretos, porque se dividem por andares, são os Dell'Atti. Familiares e professores mas em quatro andares diferentes na Universidade.

Os jornalistas do Repubblica perguntaram pelo Gabinete do Professor Girone, o Magnífico (lá como cá...) Reitor da Universidade. Girone quem? Perguntou o funcionário. Giovanni Girone, o Reitor? Ou Raffaella Girone, a filha? Ou Gianluca Girone, o filho? Ou Giulia Girone, a mulher? Gabinetes 3, 26, 58 e 13, respectivamente. E temos ainda o doutor Campobasso, marido da filha Raffaella, professor associado de Estatística. Gabinete 19.

E o concurso em Bari para duas posições na Faculdade de Letras?
Três candidatos:
Davide Canfora, filho de Professor e intelectual destacado da Universidade de Bari.
Federico Sanguinetti, herdeiro de um grande poeta italiano.
Maurizio Campanelli, filho de um electricista.
Canfora, o filho do Professor, é o mais novo e tem o currículo mais fraco. Fica, portanto, com a Cátedra.
E quem fica sem nada? Vale mesmo a pena responder?
Canfora assume apenas mais uma posição para a família na Universidade. Para além dele e do pai com cátedras de literatura, temos a Mãe que é professora de filologia clássica, a irmã Irene, professora de Direito Agrário e a mulher, investigadora do departamento de italianistica. Apenas mais um clã.

O Magnífico Girone responde aos jornalistas do Repubblica: "Os nomes não contam, os concursos são correctos ou não são correctos. E nos casos da minha mulher e dos meus filhos foi tudo correctíssimo: o que conta é apenas a produção científica." Disse o grande chefe tribal.

E em Coimbra, na "minha" Universidade? Sabemos que é tudo correctíssimo. Mas vale uma peça jornalística? Talvez haja matéria para várias teses de doutoramento...

Son I

wanted to tell you that you will be the next CEO!




Era tão bonito aquele mito da gestão em Portugal que dizia que na Sonae os filhos do Belmiro começavam por baixo, como qualquer outro funcionário. É uma coincidência incrível que de entre os milhares de licenciados que começam por baixo no Grupo Sonae tenha sido o filho do Belmiro a revelar-se o melhor.

Solução

E para combater um qualquer ataque de misantropia, sacudir o cansaço do dia-a-dia, revigorar corpo e mente qual redbull sem contra indicações, aliviar o stress e deixar em casa a má disposição há sempre uma óptima e divertida solução no encanto do teatro da Comuna!

quarta-feira, março 21, 2007

Felicidade de longa duração

Li recentemente um artigo sobre a felicidade duradoura.
Genética, comportamento, circunstâncias, motivação e objectivos de vida somam-se para compor a nossa dose de felicidade. Também são sugeridas algumas explicações para a constante insatisfação que sentimos e soluções para a "hedonic adaptation" que sofremos depois de esgotado um pico de euforia. Para os que têm um nível base baixo parecem ser más notícias mas há sempre algo a fazer para contrariar essa tendência.
Vale o que vale mas parece fazer sentido. E basta vermos os estudos de mercado e as estratégias de marketing que nos tentam e conseguem fazer crer que a vida só faz sentido com aquele detergente para descobrirmos que somos mais transparentes e previsíveis do que pensamos.
Escolhendo acreditar nisto ou não, recorrendo às mais variadas estratégias, teorias e discursos, o que importa no fim de tudo é estar bem, alegre, feliz e contente; afinal todos sonhamos com o "...e viveram felizes para sempre!"

domingo, março 18, 2007

a besta negra

A criatura grotesca emergiu das trevas, veloz e voraz, atacando sem hesitar. O seu poder imenso, em conjunto com a selvajaria que caracterizava os da sua espécie, permitiam-lhe essa imprudência, confrontar e destruir qualquer um que se atravessasse, incauto, no seu caminho. O ímpeto desastrado desse primeiro avanço permitiu que se esquivasse, graças aos reflexos treinados por anos de patrulha, rolando pelo chão. O lugar onde anteriormente estava de pé foi atravessado por garras que brilharam, frias, à luz do luar. Que animal era aquele? A besta imobilizou-se do outro lado da clareira, e sob a luz da lua e das estrelas, observou-a. Toda ela era músculo sólido, dentes afiados, garras longas e olhos cruéis em quase 3 metros do que parecia um felino cruzado com um crocodilo. A pele escamosa reflectia a pouca luz existente de um modo maligno. E não tinha tempo para mais pois de novo ela carregava, em fúria. Decidido, enfrentou-a cara a cara, acreditando que seria essa a melhor estratégia para confundir algo que não estaria muito habituado a ser abordado de frente. O choque ressoou pela floresta escura, animal contra homem, pele contra armadura, garras contra lâminas. Mutuamente repelidos, aparentemente sem danos, a ideia funcionara pois o estranho ser olhava-o agora, surpreso por não ter sido bem sucedido. Aproveitando essa pausa, atacou-o, mantendo a vantagem conquistada do seu lado. Um golpe violento com a sua espada apanhou o flanco desguarnecido da criatura, infligindo-lhe um corte de onde sangrou abundantemente algo espesso e escuro. Urrando de dor, o animal furioso ripostou, saltando-lhe para cima, garras enclavinhadas nos seus ombros e tentado arrancar-lhe a cabeça. Sustendo o peso imenso da criatura, cambaleou para trás. Felizmente o elmo que usava aparou as primeiras dentadas mas não lhe parecia que pudesse aguentar muitas mais, pois sentia já a pressão daquelas mandíbulas poderosas a esmagar-lhe o crânio. Desesperado, tentou um último golpe, alcançando a espada curta que tinha presa às costas, deixou-se cair para o chão e afundou o aço no peito da coisa. Ao perceber o colapso daquele corpo imenso, alegrou-se com o seu sucesso pois tinha escapado com vida a mais uma batalha. Saindo debaixo do cadáver, sacudiu o pó e a terra de cima de si e virou costas à clareira, decidido a prosseguir a sua patrulha. Um erro. Tivesse ele reparado que a ferida do flanco da besta tinha desaparecido, curada, sem deixar marcas e talvez não ficasse tão certo da sua vitória. A surpresa estampou-se no seu rosto durante um instante enquanto foi cortado em dois e tombou morto no chão encarando um recuperado e esfomeado animal que, quase podia jurar, sorria ao arrancar-lhe parte de uma perna. A besta negra atacara de novo...

sábado, março 17, 2007


O céu é azul, o sol brilha, os pássaros chilreiam nas árvores, os rios correm nos leitos, estou bem disposto! E porquê? Não sei. Tem mesmo de haver uma razão? Até pode ser que exista, de facto, uma. Ou até mais que uma. Mas será preciso que assim seja? Nem sequer precisa de ser pelo oposto, pela infelicidade dos outros ou pela própria. Só sei que de facto me sinto melhor assim do que ao contrário e isso basta. Há coisas melhores, há coisas piores, nem está tudo sempre bem e nem está tudo sempre mal. De facto não há grande sentido nem significado para a vida à vista desarmada, não há, aparentemente, justiça ou razão para as coisas acontecerem. E então? Mais um motivo para seguir em frente contente, feliz e descontraído e aproveitar a viagem. Não é o mesmo que desinteressado ou desinteressante como alguns patetas alegres que para aí andam, imunes a tudo ou protegidos por uma casca grossa de cinismo carrascão. Nem como os eternos deprimidos, revoltados com a vida, sempre à procura da próxima rasteira de um mundo sempre contra eles. Nem egoísta ou autista em relação aos outros ou completamente obcecado com uma coisa qualquer ou alguém. Mas para quem é assim, bom para eles; para mim dá-me igual, desde que não chateiem. Não tenho tudo o que quero nem me falta tudo o que preciso e ainda bem. Não sei tudo, não vivi tudo, não fiz metade do que quero fazer, nem vou fazer um décimo do que podia ter feito. E depois? Morrem pessoas aqui e ali, outras roubam, outras matam, algumas mentem, enganam, fogem e escondem-se de tudo, com medo. Posso enlouquecer profundamente amanhã e separar-me da maioria. Posso cair morto daqui a segundos, atropelado na passadeira ou engasgado com uma ervilha. Expétaclaaaaaar! Impecáááábel! Uma ervilha ia fazer todo o sentido para mim. Pelo menos mais do que uma abóbora, acho. A minha sobrinha disse-me olá ao telefone e chamou-me tio. Fui ao teatro ver uma boa peça com uma companhia agradável. O Benfica ganhou ao PSG. Mais uma vez não ganhei o euromilhões mas passei uns bons quinze minutos a sonhar (depois lembrei-me que não tinha jogado o que explica muita coisa). Acabei de reler o meu livro favorito. O último album dos Arcade Fire é muito bom. Está sol e calor. Dormi bem, entre sonhos variados, e acordei antes do despertador, para ficar na preguiça um bocado. Tenho emprego, casa e carro (que está de parabéns por ter feito 9 anos com saúde). O Pinto da Costa foi constituído arguido. Tive uma conversa interessante com alguém que não conhecia bem. Já marquei as minhas férias para este ano. Tenho amigos porreiros que não falham (uma em particular que anda feliz da vida e ainda bem). Os semáforos estavam todos verdes e encontrei lugar para estacionar à primeira, perto de casa. Há coisas fantásticas (como na tvcabo mas com anúncios melhores). A EDP devolveu-me dinheiro que tinha pago a mais. O almoço que fiz estava óptimo. O meu tornozelo esquerdo dói-me quando vai chover e assim nunca me esqueço de levar casaco ou guarda-chuva (tudo tem um lado positivo e como não tem chovido, neste caso tem dois: também não dói). O pc não pifou a meio deste texto (e se pifasse o autosave recuperava-o de certeza). Estou cheio de energia e apetece-me tudo! Tudo e mais ainda! O que não conseguir comer aqui e agora é para levar para depois, fáchavor, ó chefe!

quarta-feira, março 14, 2007

Podia perfeitamente acontecer...

Há coisas que mais vale deixar quietas. Como antigas maldições faraónicas, monstros pré-históricos ou pragas interestelares. Mas ao que parece, como qualquer filme de série B nos poderia dizer, ninguém sabe disso. E, volta e meia, a malta insiste em provocar a sorte e ver no que dá, mesmo sabendo que vai dar asneira. Pois foi mesmo este o caso que venho aqui relatar, em que uma série de circunstâncias levou ao aparecimento de um ser cataclísmico, capaz de gerar devastação em barda e, enfim, muito transtorno em geral. Tudo começou com um acaso que levou a que, certo dia, um meteoro infectado com um super-vírus do espaço caísse num lago pré-histórico da Terra. Esse vírus sobreviveu e contaminou o lago onde, de seguida, um monstro incrível, praticamente desconhecido nos dias de hoje, foi beber e ficou infectado. Durante uns dias este ser incubou a doença alienígena e acabou por cair numa poça de âmbar líquido, onde ficou dormente, graças à protecção que o vírus lhe conferiu. O âmbar solidificou e foi, uns poucos milhões de anos mais tarde, descoberto pelos egípcios que o consideraram um tesouro inestimável. Durante uns anos foi figura de destaque na corte de Tutankamon, até que foi levado para o seu túmulo e enterrado ao seu lado, coberto pelas maldições mais poderosas conhecidas na altura. Este cocktail improvável foi deixado a marinar durante mais uns milhares de anos até que um parvo (que nunca tinha ido ao cinema) o roubou do túmulo e levou para casa, para mais tarde o tentar vender. Ora, como não podia deixar de ser, calhava nessa noite um alinhamento estelar e planetário único, acompanhado pela explosão de uma super-nova, o solestício de verão, uma tempestade solar, um eclipse lunar e estava prestes a rebentar uma trovoada. Assim, o nosso braço do destino, o parvo, estava no sofá relaxado, a ler a Bola, quando um relâmpago lhe fulminou a casa, acertando em cheio no bloco de âmbar, derrentendo-o e libertando a coisa inominável que de lá saiu. Meio trôpego, o atordoado e atarantado ladrão de sepulturas acorreu para ver o que se passava com o seu mais recente achado. Foi com horror que encontrou um destroço fumegante, ainda carregado de electricidade, todo esparramado pela sua cozinha. Que grande porcaria, amanhã a dona Gertrudes vai ter cá uma trabalheira!, pensava ele, quando reparou que nem tudo estava destruído. Ali no meio, algo se movia. Pior, algo respirava. Recuou um passo, ficando encostado a uma parede, enquanto um vulto se deslocava lenta mas declaradamente na sua direcção. Com o dissipar do fumo, os contornos tornaram-se mais nítidos e apercebeu-se, aterrorizado, que estava na presença de um ser inominável que lhe saltou para cima. Era pequeno, com pelo curto encaracolado e verde, lambendo-lhe a cara, enquanto latia animado. Chamou-lhe Frufru e viveram felizes para sempre.

segunda-feira, março 12, 2007

graffiti a laser

Sem sujar.



sábado, março 10, 2007

Sampi - episódio 5 - A realidade

A dada altura Sampi atingiu um ponto de verdadeira saturação com o estilo de vida que levava. Era só loucura, inconsequência, inconstância. Precisava de algo mais sério. Algo mais estável. Decidiu que tinha chegado o tempo para tentar uma abordagem diferente. Afinal, depois de tantos anos de diversão com os locais, se calhar, podia agora dar-lhes qualquer coisinha em troca. Para além das bebidas, drogas e explosivos, claro. E todas aquelas formas de arte incompreensíveis que pareciam apelar de uma forma estranha ao imaginário dos humanos, como a louça das Caldas, a ripa de madeira inclinada em cima de um tijolo e os filmes do Manoel de Oliveira. Bom, mas isso praticamente não contava para a grande ordem das coisas. Precisava de sentir a realidade deles para os compreender. De estar integrado naquela realidade e não de estar acima, abaixo ou ao lado dela. Tentou ver o mundo como a maioria deles o via, adaptar a sua escala de valores à deles. Passou a usar o poder, o status, o dinheiro e os bens materiais como cartão de identificação, a medir as pessoas aos créditos e pontos, a fazer aquilo que todos esperavam que ele fizesse, procurou o que todos procuravam e, rapidamente, viu-se mergulhado num banho ácido de mentiras, decepção, expectativas frustradas, falsas amizades, segundas intenções, joguinhos de interesses, manipulações e facadas nas costas. Pensou, se isto é um jogo, eu, como sempre, vou jogar para ganhar. E, sentindo-se em casa, jogou entre os melhores e cantou as melhores canções do bandido jamais ouvidas. Se era preciso ser ordinário, ele era um bardino, se era preciso mentir ele era o Pinóquio Depardieu, se era preciso elogiar, ele era graxa pura, se era preciso ser lamechas ele desfazia-se em mel, se era preciso ser macho ele era o Stalone com esteróides (mais?!?), se era preciso dinheiro, poder e influência ele era o Onassis, o presidente dos EUA e o Papa. Dia após dia lá foi ele conseguindo tudo o que todos queriam, sem na realidade querer, fazendo tudo o que todos queriam, sem na realidade querer, tendo tudo o que todos queriam, sem na realidade querer. Apoderou-se dele uma certa sensação de mau estar e frustração inexplicável. Uma depressão intolerável que nada conseguia aplacar, não importava o que fizesse. Não sabia o que queria, o que sentia, o que faltava, para onde ia. Estava mal, deprimido. Foi então que se apercebeu de que estava agora mais integrado do que alguma vez estivera, mais próximo da normalidade humana do que alguma vez tinha estado. Era igual aos demais, comungava com a multidão na manjedoura comum. Claro que tinha os seus momentos de euforia, mas, efémeros, rapidamente se esvaíam, assim que a adrenalina do imediato se esgotava, deixando-o um degrau mais abaixo do que aquele onde estava anteriormente. Não fora um inato sentido de sobrevivência extraterrestre que o puxou daquela espiral de insanidade e teria sido uma viagem sem volta, rumo ao destino da maioria dos habitantes daquele planeta, a fossa séptica da banalidade.

quarta-feira, março 07, 2007

Soluções hipotéticas para um problema real...

O Povo é sereno!
É certamente com base nesta premissa que continuamos a ser vítimas de escândalos públicos atrás de escândalos públicos e já nem reagimos, de tal maneira está esgotada a capacidade de indignação. No máximo, ouvem-se algumas conversas de café sobre o assunto ou então muda-se de canal para não termos de ser confrontados com algo que passou a ser a norma em vez de anormalidade. "Todos fazem". "Ao menos este vai fazendo alguma coisa". "São todos iguais". "Nunca lhes acontece nada". "Estão todos feitos uns com os outros". Estas frases reflectem bem o actual estado das coisas e o total desinteresse que suscitam as eleições à grande maioria do eleitorado. Vendo bem, estudando bem as hipóteses que estão nos boletins é capaz de ser verdade e fazia falta aquele quadrado que dizia "nenhuma das anteriores". Como mudar isto?

Se, hipoteticamente, o povo deixasse de ser sereno talvez as coisas tomassem um novo rumo. Num cenário totalmente hipotético, pensem no que aconteceria se uns quantos destes maus dirigentes e gestores públicos da nossa praça aparecessem mortos. Simultaneamente, uma carta de origem anónima seria, hipoteticamente, enviada aos jornais explicando os motivos que levaram a esse desfecho, enumerando os danos, os abusos de poder perpetrados sem que o castigo correspondesse ao crime e que terminaria com "Os inocentes nada deverão temer. Os outros...". Nunca existiria apenas um executor, nem existiria mentor ou organizador, apenas revolta popular pura e simples neste cenário hipotetico.

Na prática, todos sabemos que somos inocentes até prova em contrário e para isso é que existem os tribunais, blá blá blá. Mas isso é válido para proteger aqueles que são envolvidos em situações limite, onde ainda há réstia de inocência. Sem esquecer que muitos destes abusos exploram fraquezas da lei e por isso passam incólumes, apenas alvo do julgamento moral da sociedade, que rapidamente esquece e os reelege. Quando existem gravações de conversas que provam o crime e que, apenas por motivos processuais, são dadas como inválidas e os réus reclamam de imediato inocência indignada, poderemos esquecer que o crime foi mesmo cometido? Podemos esquecer que todos saímos lesados com estes roubos constantes? Os nossos impostos levam-nos uma fatia importante dos rendimentos e, em lugar de servirem para termos mais e melhores hospitais e escolas, mais e melhores empregos e infraestruturas, melhor cultura e condições de vida, servem apenas para encher os bolsos de uns chicos-espertos sem vergonha na cara.

Uma dificuldade de toda esta solução hipotética residiria na decisão de quem seria alvo deste exemplo disciplinador e na ordem em que seriam dispostos. Outra no risco de cairmos no exagero, nas vinganças pessoais, políticas, económicas ou clubísticas. Com um pouco de distanciamento e encarado isto com seriedade e coerência, penso que meia dúzia de exemplos mais ou menos unânimes e de todos os quadrantes políticos seriam facilmente encontrados, hipoteticamente é claro. Concordo que isto não seria uma solução civilizada (mesmo sendo hipotética) mas aparentemente também não vivemos num país muito civilizado e algo tem de ser feito. Outro cenário hipotético seria passarmos a cuspir-lhes em cima (ovos podres também seriam algo a considerar) à laia de agradecimento pelos bons serviços prestados à nação.

Mas note-se que tudo isto não passa de um cenário hipotético e fantasioso. Convém lembrar que existem leis e tribunais para resolver estas questões e que o homicídio, mesmo de autarcas corruptos e gestores vigaristas, é crime e não é solução para nada. Afinal de contas, vivemos num país livre, democrático, justo e de direito instituído, onde as más acções são punidas atempadamente pelo poder judicial, daí que praticamente não tenhamos escândalos, corrupção, cunhas, falcatruas, injustiças... Eu nem conheço ninguém que alguma vez se tenha aproveitado de uma dessas situações em benefício próprio senão era certinho que, como qualquer outra pessoa de bem, a denunciaria em sede apropriada. Ou, hipoteticamente, talvez não...

Lembrem-se loucos e potenciais suicidas (e restantes habitantes): O voto e a participação de pessoas de bem e capazes nas estruturas democráticas são a verdadeira solução! Não desperdicem a vossa morte, perdão, vida sem deixarem uma marca na democracia!

segunda-feira, março 05, 2007

A-CA-DÉ-MI-CA

Depois do episódio dos envelopes cheios de dinheiro no carro do presidente, dizem os jornais que um vice-presidente da Briosa tentou enganar o jogador Dame N'Doye, levando-o a assinar um contrato metido entre os documentos para a compra de um carro.

Até onde vamos deixar cair a Académica?
Quando é que expulsamos estes dirigentes do nosso clube?

domingo, março 04, 2007

If a tree falls alone in the woods does it make a sound?

Egocentric mood: Without me you're all just a bunch of trees falling alone, silently in the woods!

Lonely mood: Without you I'm just a tree falling alone, silently in the woods!

Drunk mood: Stop moving, you damned floor. I'm getting sick of falling!

Drug mood: Hey, look at the stars! It feels great to be lying down here in the woods! Good shit, man!

Paranoid mood: If I'm alone in the woods, WHO PUSHED ME?

Squirrel mood: Fuck, watch out! That last one almost hit me!

Philosophical mood: Is it better to be alone and true or to lie to one self and live amongst other liars that pretend that they didn´t hear that?

Horny mood: Well, since we're already on the floor and alone in the woods and no one is listening how about...

Ecological mood: Stop cutting trees down and take your philosophical questions elsewhere! Leave the woods alone!

Schizophrenic mood: I'm a tree? I thought I was a hedgehog! That explains a lot, thanks.

Lumberjack mood: That's it, little trees! Keep falling by yourselves and save me the trouble.

Bird mood: If it keeps on like this, I'll have to move to some other forest! I'm running out of nests!

Deaf mood: Free calls on the hood and still make a pound? Where? I'm in!

Statistic mood: Space is infinite. As sounds are just waves of energy moving around through space, the average sum of all sounds on the total infinite space of the universe is zero. Corollary: Every sound you hear is just a product of your imagination.

sexta-feira, março 02, 2007

McSalad - Go green


Se eu quisesse começar hoje uma tese em marketing tentaria fazer uma análise comparativa das histórias e estratégias de marketing da McDonald's e da Igreja Católica.
Interessa-me que aparentemente a história da McDonald's seja a história da Igreja Católica em fast forward.
Interessa-me a localização dos estabelecimentos.
Interessa-me a figura do Ronald McDonald.
Interessa-me a progressiva diferenciação da oferta.
Interessam-me produtos como os Chicken McNuggets e o Filet'o'Fish enquanto portas abertas para clientes que dizem "eu sei que a McDonalds fez e faz coisas que são más, não posso concordar com elas, mas venho aqui e como estas coisas que são mais saudáveis que hamburgueres."
Interessa-me tentar adivinhar qual será a McSalada da Igreja Católica.


quinta-feira, março 01, 2007

Miss Torrada


O Verão está à porta e é necessário eleger a Miss Torrada 2007, para isso a organização do concurso percorrerá disfarçada todos os lugares de venda ao público de torradas. A votação far-se-á de acordo três critérios objectivos e um crtério subjectivo. Preço, tempo de confecção, relação manteiga/pão e o gosto pessoal. Os leitores são convidados a votar e frequentar as casas recomendadas. Que começem os jogos !