Sempre que a rádio diga que a América roubou a Lua
O pára-quedas não abriu e a queda não parou. A cápsula desfez-se no solo e dela caíram, atónitas, as três invisíveis partículas de sol, raptadas nos confins do Universo. Enquanto Bush, Kerry e suas respectivas senhoras estão, lupa gigante na mão, de rabo para o ar a analisar cada pedrinha do deserto americano, as três amigas tremem o queixo escondidas atrás da maior pedra das redondezas. "Estes tipos são doidos! Mas eles não percebem que aqui está um frio do caraças?", diz a mais frágil, encostando-se à amiga mais próxima com um ar triste. "Não bastava a estes gajos terem acabado com os índios, ainda tinham agora que se ir meter connosco!", acrescentou furioso, o partícula-macho, subitamente reconfortado pelo calor que provocou a lupa de W. Bush quando nele fez incidir os seus raios irmãos. "Ao menos que sirvas para algo mais do que para matar iraquianos, ó palhaço!", disse, sem grito nem raiva, que o tempo era de gozar o calor, e a lupa de W. já passava à pedra seguinte.
Nisto aproxima-se um jovem Mormon que, olhando para as três partículas, lhes pisca o olho direito, com ar cúmplice, lançando de seguida um ar de desprezo ao rabo dos candidatos presidenciais iluminados pelas luzes das câmaras de televisão, e lhes diz: "Podem vir chorar no meu peito, longe de tudo o que é mau." As partículas sorriram, felizes por serem vistas, e imediatamente saltaram para o colo do rapaz, onde se aninharam dentro das escrituras sagradas que ele apertava contra o casaco negro.
Neste momento, sem que o mundo ainda o saiba, ao fim de milénios de guerras sem sentido, ciência e fé, homem e natureza, estão unidos e em paz.
Sem comentários:
Enviar um comentário