terça-feira, setembro 14, 2004

Os que despertam...


Um povo que aceita, sem fazer um golpe de estado, que um tipo venha à televisão dizer que é necessário trabalhar mais, é um povo mole.
Um politico que tem a lata de vir à televisão, pedir aos Portugueses que trabalhem mais, deve estar a pensar nos amigos dele. Da direita, claro! Daquela direita que pensa que é a única que trabalha, que pensa que o País são os as empresas e os escritórios do amigos, que se move bem entre os ex- e proto- ministros e que usa as incompreensíveis calças brancas e camisa de ganga azul quando sai à noite.

Essa direita, que reproduz ordeiramente os valores da geração que a precede, que aos 18 anos tem certezas absolutas sobre a interrupção voluntária da gravidez, sobre as drogas leves e sobre as casas de xuto. Essa direita que é cristã, que não vai à missa aos Domingos, mas que se casa sempre pela igreja. Essa direita que quer ter uma família tradicional, mas que enche as casas de putas do país. Essa direita: tem nos políticos modernos a sua vanguarda. Tipos que nunca tiveram o coiro em risco, indivíduos sem formação politica de fundo, políticos sem uma ética que se veja.

Essa direita gosta dos moderados, dos sensatos, dos médios porque ela própria se assume como moderada, de centro e moderna. Alguém que não admite que outra pessoa fume um charro, mas permite que a Sagres financie a selecção nacional de futebol, é na visão deles um moderado, não é extremista. Porque os extremistas são os outros. São sempre os outros, os que eles não conhecem. Os que não querem conhecer, porque o seu mundinho é simples.

2 comentários:

Anónimo disse...

é por estas e por outras que este é o meu blog favorito!

muito boa, esta "explicação da direita moderna"

dr. adérito

Anónimo disse...

Gostei das calças brancas e da camisa de ganga...ihihi!
Eh pa...acho que te baralhaste com os "Rolhas" - essa fauna que se mantém sempre à tona de água, quer o governo seja PS, quer seja PSD.

O Rolha é por definição um camaleão com dotes de relações públicas - é aquele gajo que se dá bem com todos e consegue mudar da esquerda para a direita e vice-versa num par de meses.
Está agarrado à Administração Pública em sentido lato ou está ligado a PMEs que prestam serviços ao Estado, assumindo duas vertentes de uma mesma dependência.

Os Rolhas estão sempre em cima, nunca se queimam com um rótulo, apesar do desgaste que as sucessivas mudanças provocam na sua imagem.
Com o passar do tempo, acumulam capital de favores que lhes permite aguentar as transições de poder e fazem parte de uma rede de personagens que durante toda a sua vida jogam um jogo de cadeiras, ora sentando-se ora ficando ao colo dos seus companheiros.

A Administração pública é um autêntico corticeiro, está cheia deles.
É por isso que cada vez mais é indiferente que seja a Direita ou a Esquerda a ocupar a cadeira do poder, são sempre os mesmos.
A verdadeira alteração no panorama apenas se daria com um governo exclusivamente PP ou BE/PCP.

O problema da tua interpretação é que estás a cair na velha falácia do "todo pela parte".
Na verdade, existe um pessoal de direita que assume na perfeição a descrição feita e um pessoal de esquerda que assume uma outra postura, tão reprovável como a oposta, precisamente por ser oposta:
- em vez de calças brancas e camisa de ganga, usa invariavelmente o preto em estilo negligé;
- em vez das empresas tem os institutos públicos dominados pela classe intelectual onde se inclui, os inúmeros organismos associados a universidades e departamentos técnicos da Adm. Pública em que se eternizam como quadros com autonomia mais que suficiente para fazerem o que querem, tal como se tivessem uma empresa.
- também se dão bem com a classe política, mas de esquerda, com os deputados, com os ex e proto-ministros de um eventual governo de coligação à esquerda.
- têm igualmente um dogma em relação ao aborto e às drogas duras, mas ao contrário. A diferença é que enquanto os direitas não trabalham os seus argumentos por preguiça e estupidez, os esquerdas acreditam de tal maneira que nem os conseguem olhar de outra perspectiva, à boa maneira soviética.
- ambos promovem a preguiça como estilo de vida - uns agarrados às empresas que lá se vão aguentando a muito custo, sem perspectivas, existindo apenas para a subsistência - outros promovem a cultura como forma de encapotar a sua real ambição de não fazer a ponta de um corno na vida.
- a única diferença é mesmo nas putas: uns gostam de vivendas luxuosas com espelhos, outros gostam mais de um bordel à antiga ou de uma redlight holandesa - tem mais autenticidade.

Bem, mas cá para mim, a verdadeira raíz de raciocínio que presidiu a este post está no ministro das Finanças.
É que a todos nós esta "conversa" fez lembrar as "Conversas de Marcelo Caetano aos portugueses".
Aqui é que a porca torce o rabo...
Quando liguei a TV percorreu-se-me um calafrio pela espinha acima e o meu pensamento foi:
"Estamos lixados. O gajo pensa que é nosso pai e vai-nos fazer a vida negra..."
Até fisicamente aquela postura opus-dei se assemelha de forma assustadora a Marcelo Caetano.

Volta Manuela, que todos nós já te perdoámos...

(Já agora, alguém podia substituir a classe política por outra nova?)