segunda-feira, setembro 20, 2004

O outro lado

"Todos falam da violência com que o rio corre, mas ninguém fala das margens que o comprimem". As citações do Presidente Mao, coligidas no celebérrimo livro vermelho, são assim: iluminadoras do outro lado.
Porque em tudo há sempre um outro lado. O lado que aceita os convites, que recebe os presentes, que aufere os salários e arrecada as reformas. Mira Amaral aceitou a reforma. João aceitou o emprego que sabe que conseguiu apenas porque o seu pai mexeu os cordelinhos. Maria aceitou o salário de 1200 contos, quando sabe que o trabalho que executa vale 120. Tiago aceitou passar à frente no hospital. Ricardo aceitou o favor sem pestanejar.
Normalmente só se fala em quem faz os favores, de quem convida ou quem facilita. Critica-se quem dá, mas nunca quem recebe, porque quem os recebe, está só a fazer o que qualquer pessoa faria, pensa o que quer, ele próprio, evitar a consciencia pesada.
Recusar uma vantagem, que coisa incompreensível nos dias de hoje. Declinar um convite, que sacrilégio. Que insulto!
Se é cretino que seja possível dar a quem trabalha 9 meses, uma reforma no valor a que muitos não têm acesso em 20 anos, é igualmente cretino aceitá-la.

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