segunda-feira, setembro 06, 2004

Por respeito a quem lê não usei a palavra cu

Produtividade. Produtividade. Produtividade.
Provavelmente o palavrão mais usado pelos políticos portugueses nos últimos dez anos. Provavelmente a pior desculpa de políticos e associações patronais para não aumentar os salários dos portugueses na última década.
O Santana descobriu a palavra. Alguém lhe disse que era a produtividade a desculpa perfeita para os baixos aumentos salariais que o Governo terá de propor dentro de um mês, quando apresentar o orçamento de estado para 2005.
Mas o Santana não sabe o que é produtividade nem como tal coisa se calcula. Fica aqui o serviço público da Gabardina, caro Pedrocas: a produtividade de que falam as estatísticas oficiais é calculada dividindo a riqueza criada (no caso em questão, o PIB de Portugal) pelo número de indivíduos que contribuíram para a produzir. E esta é muito mais baixa em Portugal do que nos outros países da Comunidade Europeia? Aplicando a fórmula, sim. Na prática, não. E por quê? Por causa da fuga ao fisco, Santanita. É que quando uma casa é vendida por 30 mil contos e escriturada por 18 mil, como acontece com 90% das casas transaccionadas neste país, os 12 mil contos que ficam de fora são riqueza produzida mas não entram para as contas do PIB. O mesmo acontece com tudo o que é produzido e não facturado. O mesmo com os serviços prestados sem documento. Muita riqueza, nenhuma produtividade.
Por isso, Pedrito, diz-te a Gabardina que é tua amiga: a produtividade em Portugal é, na prática, muito próxima da média comunitária. Os preços em Portugal também são muito próximos da média comunitária. A única coisa que não está próxima da média comunitária em Portugal são os salários. E a vergonha na cara, claro!
Mas o grave, Santanolas, não é que tu não saibas o que é produtividade. Porque eu até sou dos que acham que um primeiro-ministro não tem que saber falar de tudo. O grave é que quem te preparou o discurso não saiba o que é produtividade. E que, por isso, tu tenhas feito aquela triste figura em frente às câmaras das televisões, a confundir "produtividade" e "aumento de produtividade" ou "ganhos de produtividade" com "taxa de produtividade", conceito que, infelizmente, não tem qualquer significado. (Não deixa de ser irónico que queiras indexar o aumento dos salários ao nada...)
Por isso, Pedrocas, dou-te mais dois conselhos: despede esse assessor e contrata outro. E, sobretudo, mete a produtividade e a taxa que tu lhe inventaste no teu rabiosque!

2 comentários:

Anónimo disse...

belo post.
Adorei, adorei, adorei...

Anónimo disse...

Excelente!
Andava com essa na cabeça e tiraste-me as letras do teclado.
Nem os palermas dos jornalistas toparam a monumental gaffe e o resultado foram as notícias surreais que ouvi na SIC e TVI à hora de almoço de um destes dias.
Esta bicharada está toda a precisar de insecticida.

Será possível convocar um 25 de Abril ao contrário e tirar o poder das mãos do "povo"?
É que assim não dá...hoje em dia qualquer palhaço é político, assessor de político ou jornalista.
Como o efeito de expansão da burrice através dos media é arrasador, temos que lhes tirar o poder rapidamente antes que a nossa actividade cerebral se resuma a observar corpos em movimento num ecran.

O problema é a quem é que vamos entregar poder.
Na Europa a palermice é dominante e nos EUA as últimas sondagens mostram que o BigMac tem efeitos cancerígenos ao nível neurológico, gerando demência colectiva.

Começo a ter a necessidade de acreditar em formas alternativas de inteligência...
Err...humm....o Inspector REX é um cão inteligente e responsável.
Alguém me assina aqui a petição para o referendo?