sexta-feira, setembro 10, 2004

Fingir como o Figo fingiu

Durante o último europeu Portugal entusiasmou-se. Acreditou na vitória, pôs bandeiras à janela, enervou-se, gritou, festejou e chorou. As pessoas queriam ver os melhores do mundo em competição. Queriam ver quem eram os melhores da Europa. Queriam ver se os portugueses podiam ganhar aos melhores.

Agora pedem-nos que tenhamos a mesma atitude para com os atletas paralímpicos (eu sempre gostei mais da expressão para-olímpicos, mas rendo-me à vontade da maioria). O próprio Figo veio expressamente a Portugal para o pedir. É verdade que somos - os portugueses - uma malta que não se importa de fingir. Que facilmente acredita numa realidade paralela para não pensar naquilo que verdadeiramente está a acontecer à sua volta e nas suas vidas. E por isso eu acredito que algumas bandeiras voltarão as janelas de nossas casas e que haverá até uma malta a vir para a rua festejar as medalhas conquistadas.

Eu fico contente por os deficientes do país em que vivo terem a oportunidade de fazer desporto. Fico contente por eles terem a oportunidade de participar numa coisa fantástica como uns jogos paralímpicos. Ficarei muito contente se eles ganharem medalhas, pela alegria que isso representa para eles. Ficarei sobretudo contente pela alegria que eles certamente têm em participar.

Mas não me peçam para estar em frente à televisão a ver provas de atletismo ou natação para deficientes. É como ver olímpiadas de matemática para miúdos burros, ou números de malabarismo para descoordenados motores! "Este tipo é o descoordenado motor que melhor faz malabarismos com duas bolas, EM TODO O MUNDO!!!" Tenham dó. Para incapacidade ao mais alto nível já temos a Assembleia da República portuguesa.

Nos Jogos Paralímpicos não está em jogo quem é o melhor. Mas isso não tem mal nenhum. Há milhões de pessoas em Portugal que não são "o melhor" em nada de relevante. Mas cada uma dessas é "o melhor do mundo" em alguma coisa. Cada um dos nossos deficientes, também. E isso é o mais importante. Quanto aos paralímpicos, divirtam-se nos jogos, passem os melhores dias de sempre. Eu cá estarei a torcer por isso. Sem bandeira, sem nervos, sem gritos nem festa, mas um sorriso de felicidade cada vez que vir uma cara vossa feliz na televisão!

Let the games begin!

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