quarta-feira, julho 28, 2004

às 5 da tarde


- Acho que tenho de ir mijar.
- Espera? não vais sair agora que o Primeiro está a falar.
- Tem de ser. Estou sentado à montes de tempo e já tenho a bexiga cheia da cerveja que mamamos ao almoço. Eu sabia que não devíamos ter ido ao marisco. Bebe-se sempre demasiado para trabalhar à tarde. E o pior é o ácido úrico. Até parece que jacinto o dedo do pé a doer. Tenho de ir mesmo.
- Pá ? se tens de mijar, tens de mijar. Não tens é que sair desta bancada. O teu pai quando era deputado e se sentava aqui ao meu lado, ensinou-me a mijar durante o plenário, no hemiciclo. Inclinaste ligeiramente para a frente, abres a braguilha e sempre que ouvires palmas mijas para que ninguém ouça. Dentro de duas linhas vais ver que vão bater palmas. Aproveita.
- Se tu dizes que foi o meu pai que te ensinou? eu vou confiar no amigo do meu pai que me convidou para estar aqui.

(Palmas, palminhas e pametas e a bexiga do politico-novo contrai-se longamente expelindo com pressão mais de 40 decilitros de urina morna.)

- Ufa! Que alívio! O ácido úrico é que já estar a dar sinais.
- Para isso, também tenho uma solução. Quem me ensinou foi aquele amigo teu que também cá está e que é filho daquela senhora que era amiga do teu pai.
- Sim, sei, ela continua na administração da Caixa não?
- Esteve, mas saiu. Agora está num instituto qualquer. Ela é que institucionalizou os bolinhos das 5 horas.
-Os bolinhos das 5 horas, como assim?
-Os deputados que sofrem com o acido úrico reúnem-se todos os dias ás cinco horas para comerem uns pastelinhos de Belém, para partilharem experiências e para se apoiarem uns aos outros.
-E já falaram com um médico?
- Nunca, mas continuamos a comer os bolitos.

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