segunda-feira, julho 05, 2004

O meu RJ 45.


RJ 45 é um cabo. Com o posto militar, tem apenas em comum estar no fim da hierarquia. O meu cabo é cor-de-laranja, serve para ligar dois computadores em rede e está sempre no chão. O facto de estar no chão, e de cruzar a casa de um lado ao outro, ou melhor de um computador ao outro, implica ser pisado, entalado, e trilhado várias vezes ao dia. Com estes riscos tão presentes sempre dei a máxima atenção ao cabo. Cuidava ao abrir a porta, evitava calcá-lo e advertia todas as outras pessoas para que não o pisassem. Não sei se alguma vez evitei o seu corte, mas a verdade, é que passou quase 6 meses a ligar dois computadores sem que alguma vez deixasse de funcionar. E posso dizer: esticões, tropeções e entalanços foram ás centenas. O cabo, o RJ 45, resistiu sem perder byte.

Um dia, porém, uma panela decepou-o. Zás. Um corte, uma machadada fatal uma conjugação de leis de improbabilidade, e foi o que bastou para cortar o cabo cor-de-laranja.

No seu percurso de computador a computador, o cabo passa por um quarto, uma cozinha, um corredor e finalmente entra no outro quarto. Na cozinha passa ao lado do escorredor de louça em que estava uma panela. Um dia, enquanto os dois computadores comunicavam, uma rabanada de vento vindo do inferno, empurrou a panela que, para além acertar em cheio no cabo, o traçou com um golpe fundo e fatal. O recipiente metálico caiu na única posição possível, na única direcção possível, à única velocidade possível. Meses de diários tropeções: nada. Um golpe absolutamente improvável: a morte.

Sei - porque ele me telefonou- que o meu RJ 45 pretende pedir explicações a Deus sobre o sucedido. Aconselhei-o -brevemente, pois os telefones de Deus são TMN e eu sou 93- a não perguntar nada, pois só assim pode continuar na ilusão de que Deus sabe alguma coisa.

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