quarta-feira, abril 02, 2008

Vira o disco e toca o mesmo...

A banda sonora podia ser a música do Padrinho mas mais provavelmente só com os intocáveis do Eliott Ness lá chegarão infelizmente...
As acusações sucedem-se, as histórias mais ou menos credíveis sobre prendas, viagens, prostitutas, bolas no frigorífico, ameaças, espancamentos, chantagens são já do conhecimento público, as gravações das escutas estão lá, preto no branco ainda que cinzentas à luz das normas processuais que deveriam ter sido seguidas para que não fossem declaradas inválidas. O poder e a impunidade andam, neste país, lado a lado juntamente com a pouca vergonha de quem ainda comemora com desfaçatez os títulos justificando-os com os sucessos extra-portas. Ora, somente com o descanso artifical da liga interna que lhes garantiu sucessivas presenças na Champions, foi possível orçamentar e ganhar o calo tão necessário para formar equipas cada vez mais fortes e competitivas, é verdade, e mais tranquilas pela senda de vitórias internas, porque já se sabe qual o impacto de feedback positivo que têm os resultados positivos no desporto. Os paralelos com o Marselha de Tapie ganham força e eco lá fora a cada dia que passa manchando para sempre o nome do FCPorto, tanto tempo associado a um bom exemplo e que, sem dúvida, tem algumas lições, principalmente em termos de organização, planeamento e capacidade negocial para dar. Mas o âmago podre mantém-se e conspurca tudo o resto...
Que os grandes sempre gozaram de um certo poder extra sobre os pequenos é certo e sabido (e sim, tempos houve em que outros clubes empunharam o ceptro negro do propalado sistema, o que não pode servir de argumentação para o que sucede agora, em tempos mais modernos e esclarecidos), com a justificação a cair na maior representatividade destes, no âmbito da natureza humana e das paixões intensas que impedem uma leitura isenta no desporto-rei. Influências maiores ou menores deste ou daquele personagem, pelas suas características e habilidades, idem. A força do capital também não é excepção no futebol para o que se vê na restante sociedade em que este se insere. Agora há e tem de haver limites para o que se pode fazer antes que o desporto perca o seu encanto por despido de competição. E se os outros grandes têm títulos a lamentar, que dizer daqueles clubes de linha secundária que lá poderiam, pontualmente como o Boavista, lá ter ido? E, pela tabela classificativa abaixo, os sonhos europeus destruídos, as descidas de divisão e as extinções de clubes históricos? A nódoa do apito dourado (e de processos semelhantes que têm de continuar a existir porque, gorada uma via, certamente que este cancro continuará a crescer até ser extripado, bastando ver resultados recentes tão bem conseguidos em campo próprio e alheio mau grado a larga vantagem já conquistada - quando roubar é um hábito de tão boas lembranças, é difícil largar o vício) tem de ser vista sob um prisma mais alargado que o da habitual tríade de candidatos a campeões. Mancha a peça toda e não apenas a face mais visível.
A justiça civil deu início ao processo até porque a desportiva, que só agora, tarde e a más horas dá mostras de um tímido arranque, está inquinada desde há muito tempo por uma teia de compadrio que prende tudo e todos a um código de silêncio e lealdade de um por todos e todos fora da cadeia que, tombada a primeira peça do dominó, virá a ruir pela base frágil onde assenta: os corruptos ratos do navio.
A música tem de mudar para bem de um desporto que arrasta multidões. Football is coming home e tem de sair dos bordéis onde andou a ser jogado para voltar ao habitat natural: a relva!

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