A vermelho, recordo principalmente, as linhas das esferográficas das minhas professoras primárias. A notação de certo, que no final da minha frase a azul, legitimava as hesitações e as rasuras de que a frase nascia. A nota de errado: cruz ou “E” impiedoso; muro intransponível na entrega das notícias em casa. E, a classificação da prova. Se sempre tive a intuição que existe uma relação entre a beleza e o verdadeiro, experimentei-a pela primeira vez nas provas de avaliação do colégio onde fiz a primária. Para mim, a diferença entre um “Muito Bom” e um “Não satisfaz menos” era uma diferença estética. Sabia intuitivamente que se produzisse uma prova sem rasuras, com respeito pelas margens, paragrafando quando fosse para paragrafar e com uma letra legível, teria, só por isso, um “Satisfaz Bem”. Não que houvesse uma percentagem para a apresentação, mas porque é assim que o conteúdo académico de um “Satisfaz Bem” se apresenta. Um boa nota era antes de mais uma prova bem escrita. Evolui muito pouco desde esse tempo. Claro que encontrei na ciência ecos desta intuição, acrescentei-a na organização de pessoas e desenvolvi-a na escolha de trabalhos, mas no fundo, sinto exactamente o mesmo de quando tinha 8 anos e recebia as provas na primária. Um prova limpinha é uma boa prova, uma prova cheia de rasuras tem uma má nota. Como não já não tenho 8 anos, e lido com mais responsabilidades, aplico esse principio analogicamente: às relações, às ideias, aos textos, e ao discurso médico. E tal como quando tinha 8 anos, o "Satisfaz bem" é sempre limpinho, e o "Não satisfaz" confusão.
sexta-feira, abril 18, 2008
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