segunda-feira, abril 07, 2008

Ler

Lia-se-lhe nos olhos um misto de admiração e gula. Paixão e amor. Adoração e desejo. Porque nunca o quis esconder, porque, mesmo que o quisesse, ser-lhe-ia impossível dado o ímpeto do sentimento que o enchia, preenchia e jorrava pelos poros, radiante. Um brilho diferente fazia com que se notasse no meio da multidão como se de um farol de felicidade se tratasse e nada o detinha no seu caminho para o que mais desejava. Todos o viam, todos o conseguiam ler, no rosto, nos actos, nas palavras, nos textos... O amor não passa despercebido e não pode ser mascarado nem contido.
Nem sempre nos é fácil ler emoções. Seja nas expressões faciais, seja nos actos ou palavras. Mas há alturas em que é impossível esconder ou calar o que nos vai na alma. Até podemos tentar disfarçar ou conter o melhor que pudermos, mercê de circustâncias que nos ultrapassam, embora, para quem está atento, seja sempre visível um brilho, um olhar, um tom de voz que revela toda a força do que vai lá dentro, fervente e intenso, que não pode ser contido por convenções ou racionalizações.
Por mim falo porque não o consigo fazer e, mais a mais, a partir de certa altura e sendo certo e sabido que o que sinto sai cá para fora em torrentes, que a minha vontade passa mais pelo apregoar em grande de toda a imensa felicidade de ter encontrado alguém incrível com quem sou feliz, acrescido do facto de bastarem uns instantes de convívio em comum para ser claro e nítido de quem se trata, passa depois, na minha opinião, por demasiado hipócrita insistir numa tese de negação. Mais a mais parece-me que, quando tudo está bem na sua génese, não há motivos válidos para a clandestinidade.
Por força da distração também não serei o melhor dos perscrutadores de almas, mesmo daquelas que estão mais abertas a essa sondagem, ainda que, como já me têm dito, seja eu próprio de fácil leitura, o que não me agrada a 100% por gostar de reservar para mim algumas reacções pelo grau de inconveniência que podem conter e pela perda de margem negocial que implica. Somente aos mais próximos sou receptivo àquelas subtis indirectas, àqueles sinais subliminares que são lidos nas entrelinhas, mas mesmo nesses casos é possível uma má leitura e interpretação dessas emanações.

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