Ir votar.
Votar não é tão fácil como parece. Entramos na antiga sala de liceu, recordamos a inutilidade dos sumários ditados, das aulas de revisões e dos livros de ponto pretos, e chegamos à urna. Urna? Nome, estranho para o objecto que contém a unidade irredutível da democracia. Depois, entregamos o bilhete de identidade o cartão de eleitor, e num ápice o nosso nome é, qual chamada de presenças do liceu, dito em voz alta. O boletim de voto e vamos para a cabine. Cabine? Nome estranho de peep show, para um local onde não há qualquer referência erótica. Na cabine, somos pela primeira vez confrontados com o boletim de voto. E, em vez de vermos dois ou três partidos, somos avassalados por mais de 14. " mas de onde é que veio essa gente toda, ainda bem que já decidi em quem votar, é só pôr a cruzinha. Mas onde? Onde é que está o meu partido, no meio destes todos?" Este espanto, perante a imensidão de partidos corresponde àquilo que os sociólogos chamam de síndrome de Helsínquia ao contrário, um cliché do senso comum mas que eles definem com palavras com mais de três sílabas e que não me interessa nada. Colocada a cruz, dobra-se o papelito, espera-se que não se veja a cruzinha e destrói-se o voto. Colocá-lo na urna é enterra-lo, enterrá-lo é porque morreu e se morreu alguém o matou. O eleitor.
Tudo isto, porque causa das eleições europeias que merecem uma análise tão profunda como o acto de votar. O PSD perdeu o PP também, eu já não me estou a sentir nada bem.
Sem comentários:
Enviar um comentário