segunda-feira, maio 31, 2004

A cedilha da verdade

Na passada sexta-feira um amigo perguntou-me, com um ar de quem sabia mais do que dizia, se eu encontrava alguma justificação para o facto de o endereço electrónico da coligação CDS-PSD ser apenas parte do slogan de campanha desta força politica.
A coligação escolheu a frase "Força Portugal" para slogan da campanha e na Internet a morada é ForPortugal.com. O que à primeira vista é uma afirmação em inglês, de confiança no País, em coerência, aliás, com o espírito europeu, não passa na verdade, de uma maneira de evitar o trocadilho que o protocolo w. w. w. que não aceita cedilhas, provoca no slogan da coligação. Nada mais nada menos que ForcaPortugal.com. A partir daqui reservo para o leitor as conclusões que se podem tirar e agradeço ao O´neill o seu poema ?A cedilha?, em que numa página inteira nos ensina toda a diferença que ela faz

A retoma chegou!!!!


Gráfico do sitemeter da Gabardina


Efeito Kournikova

Maria Sharapova é uma miúda russa com 17 anos acabados de fazer.
Joga ténis no circuito profissional, onde ganhou em 2003 dois títulos de singulares e dois de pares, em torneios sem grande importância.
No entanto, Sharapova é já uma das grandes estrelas do circuito mundial (WTA Tour). Os seus jogos têm muitas vezes direito a transmissão televisiva e, nessas ocasiões, 90% dos grandes planos das jogadoras são dela e não das suas adversárias.
Se estás a peguntar "por quê?", a tua resposta está na fotografia anexa e na transmissão que o Eurosport fará, sem dúvida, esta semana, do seu jogo dos quartos-de-final de Roland Garros. A não perder.

Certas noites a rádio que passa Katie Melua parece ter percebido quem és

This is the closest thing to crazy I have ever been
Feeling twenty-two, acting seventeen,
This is the nearest thing to crazy I have ever known,
I was never crazy on my own.
And now I know that there's a link between the two,
Being close to craziness and being close to you.

sexta-feira, maio 28, 2004

Voltámos ao P r e c.


Portugal já entrou no o P.R.E.C. País Repleto de Espectáculos e Cerveja. Começou com o casamento real, segue com a vitória do Porto, continua com o Rock in Rio, com as europeias e com o Euro 2004. E, depois ainda há os festivais de verão: Zambujeira, Ermal, Vilar de mouros e todos os outros de que não me lembro. Este Verão, a geração que não viveu o 25 de Abril, vai ter a possibilidade de sentir uma experiência semelhante. Se isto não for um Verão quente não sei o que será. Será talvez escaldante. E tão escaldante que a própria história será modificada:

"E tu? ó meu abusador de ovelhas? onde é que tu estavas no Rock in rio?"
"Estive em todo lado mas fiquei na tenda hipnótica a maior parte do tempo"

O caneco

"Vão é trabalhar!" Esta afirmação é dita com a maior sobranceria em dias de greve por algumas pessoas que pensam conter em si toda a legitimidade dada pelo sofrimento do seu trabalho. Mas quando o Porto ganha uma malga prateada, demasiado alta para dar a lavagem aos animais, essas mesmas pessoas vão à Alemanha, passam dois dias sem dormir, e sem pensarem duas vezes, marimbam-se num segundo para o trabalho.

Emprego

Procura-se grupo privado disposto a pagar 100.000 euros mensais, durante um número limitado de meses, a jovem que, com a brevidade possível, será requisitado pelo governo português para cargo público da maior relevância.

Promete-se reembolso total da remuneração auferida em prestações mensais de 50.000 euros, pagas a partir do segundo mês do contrato, bem como todo o apoio governamental e compreensão das autoridades públicas durante o exercício das referidas funções.

Mantenho-me disponível para quaisquer esclarecimentos complementares que sejam considerados necessários, bem como para fornecer um Curriculum Vitae, ainda que tal me pareça de todo desnecessário.

Propostas a enviar para gabardinablog@hotmail.com.

quinta-feira, maio 27, 2004

Desde que vi porquitos a viver com um tigre adulto, acredito em tudo...

Está tudo doido! Está tudo doido! Brrrrrrrrrrrrrrrr!!! Está tudo doido!!!!

O novo director-geral dos Impostos poderá trabalhar, esporadicamente, para o Millenium BCP, que lhe pagará parte do salário?

MAS ESTÁ TUDO DOIDO, PORRA?

A primeira anedota do alargamento europeu (recebida por e-mail)

Um polaco vai ao oftalmologista.
- Ora, então veja lá se consegue ler esta linha - diz o médico enquanto
aponta para um quadro onde se vêm as letras C Z W S C K M T S.
- Muito bem, vejo que consegue ler...
- Se eu consigo ler? Eu até conheço o gajo!

pedido de esclarecimento...


Gostava de saber porque que é que nas ruas deste país, estão senhores e senhoras fora dos carros, com trapos azuis ao pescoço, a gritar desenfreadamente uma palavra, ou mesmo, a cantar a plenos pulmões uma canção.

Gostava de saber porque que é que uma televisão pública, está das cinco da tarde até ás cinco da manhã, a falar de uma cidade alemã desconhecida, sobre uns senhores que introduziram por três vezes o mesmo objecto esférico, feito de couro, num espaço definido ao fim de um campo verde com uns traços a branco.

Gostava de saber porque é que a polícia que multa e bloqueia carros de pessoas que vão 20 minutos à farmácia, agradece aos senhores que gritam em cima do tejadilho do carro, se eles tentarem andar mais devagar em contra-mão.

Gostava de saber onde vai dormir a mulher o Presidente da Republica se o marido ficou em Vilamoura.

Gostava de saber se o Primeiro-ministro também saltou assim quando Saramago ganhou o prémio Nobel.

Gostava de saber o que é uma selecção nacional de futebol e um campeonato europeu de Futebol.

Mas o que o gostava realmente de saber é porque é um chocolate Nestlé extra-fino de 70 gramas, custa 70 cêntimos na mercearia e 90 no café. Isso, é que eu gostava mesmo de saber.

quarta-feira, maio 26, 2004

Língua ou bola?

O primeiro-ministro português escolheu faltar à "inauguração" de uma cátedra de português na maior Universidade da América Latina, no México, e ir assistir à final da Champions League onde estará presente o FC Porto.

A escolha era óbvia e inevitável. A língua portuguesa está condenada a desaparecer mais século menos século. O futebol português, esse, será eterno.

Os meninos também têm dinheiro para os cartazes

Entrada Norte da Ponte Europa, Coimbra. Do lado direito, a um metro da estrada, um cartaz da JSD acusando os responsáveis socialistas pelo descalabro que foi a construção da ponte. Do lado esquerdo, a um metro da estrada, um cartaz da JSD com recortes de jornais que falam do descalabro que foi a construção da ponte.

As autoridades, sempre prontas a retirar publicidade que esteja demasiado perto das estradas para evitar acidentes, nada fazem.

Mas mais surpreendente é que os dirigentes dos adultos do PSD local não aconselhem os pequenitos a retirar os cartazes, com um pedagógico puxão de orelhas. A bem da educação e de um nível mínimo na política, que se deseja.

Não se percebe se os adultos do PSD já não têm mão nas crianças, ou se são eles próprios apenas crianças enrugadas e com óculos.

A miséria a que chegámos

o osso, ou não...

Qual a diferença entre o que assistimos no passado fim-de-semana em Espanha e as cerimónias que nos são transmitidas da Coreia do Norte? Na essência as realidades são idênticas: o culto das personalidades, a mitificação das infâncias, a perfeição dos carácteres; em ambos os casos toda uma organização social que se projecta nos seus filhos mais perfeitos e transforma o quotidiano de todo um povo para celebrar um casamento ou, no caso da Coreia do Norte, um aniversário. Se as televisões em vez da marcha nupcial, passassem marchas militares poucos não se lembrariam das cerimónias na Coreia.
Esta semelhança, para quem a vir claro, faz perguntar como é que em duas culturas tão diferentes, acontecem fenómenos tão idênticos? O que é, à primeira vista, separado pela cultura, é no fundo unido pelo Homem, pois na verdade, é o mesmo ser que está nos dois lados. Aqui, e na china os Homens são na essência iguais. E, é nessa igualdade, que encontramos a necessidade dos indivíduos reconhecerem em alguém, ou em algo um valor superior a eles, pois só assim podem por instantes iludir a consciência plena que têm da sua finitude. Por isso, é que Deus morrerá quando morrer o Homem.
Os Homens precisam de chefes, ainda que os neguem. Deus, o estado, uma cabaça ou uma sandália; é inerente à natureza humana.

terça-feira, maio 25, 2004

www

Depois de um dia inteiro a lutar para conseguir ler o próprio blog, uma dica do Abrupto deu-me a solução: retirar o www dos endereços "blogspot".
Está feito e os links novamente disponíveis.

A quem não conseguir ler a gabardina por links ou através do endereço habitual aconselha-se o mesmo: mudem os links ou os endereços para gabardina.blogspot.com e tudo voltará ao bom funcionamento.

A gerência presume que a Blogger pede desculpa pelo incómodo causado.

Crescer aos olhos de todos

Ter um blog de textos pessoais é também isso, ou sobretudo isso. Aceitar que os outros, em particular aqueles que nos conhecem, lêem e sabem quem escreveu, acompanhem as crises, os sobressaltos, as alegrias, as paixões que assaltam a nossa vida e passam, mais ou menos explicitamente, para dentro do servidor e, daí, para todos os computadores do mundo com ligação à internet.

Acho que era a isto que o Pedro Lomba (se não me engano era ele) chamava "growing up in public" há uns meses. É isto que eu vejo acontecer comigo e com os outros que conheço e têm, através do blog, um pouco da sua vida aberta ao mundo.

Só porque os pedidos foram muitos e sinceros...ou não


Para quem não tem colunas no computador ou se atreveu a ouvir no escritório ou em casa aqui ficam as palavras que depois de impressas podem ser lidas onde se quiser.
O link para o filme está na coluna da direita debaixo de Série 27. Este é o episódio 2

"A sodomia é um acto civilizador"
O libertino lascivo - ângulo recto no fim das costas da senhora genuflectida para a frente ? deve, depois de se ter demorado o tempo que a sua sensualidade lúbrica o obrigou, mas antes dela se separar, proceder com as seguintes cautelas:
Primeiro, liberta a mão direita do trabalho ritmado de puxar contra si, os meios globos trémulos que observa de cima.
Depois, ainda dentro da senhora, dá à mão direita a forma e a força de uma tenaz, encostando-a com suavidade, numa das faces marmóreas percorrida pelos choques do prazer civilizado.
Em seguida, e sem qualquer aviso prévio, num repente decidido, deve o cavalheiro beliscar com viril vigor um ponto nessa região.
Ora, a senhora surpreendida pela dor inusitada num momento tão prazenteiro, vai, acto reflexo estremunhar e contrair todo o seu interior. Fá-lo-á de uma forma tão profunda que o libertino vai sentir dentro dela um ligeiro aperto. Ao sentir tão esperada contracção íntima, o homem novo, sem medos, sem hesitações e em acto contínuo de movimento de anca para trás, retira-se decidido da senhora.
Só com esta técnica civilizadora se garante o asseio no prazer sodómico.

segunda-feira, maio 24, 2004

Bebe

Vale a pena ouvir o novo fenómeno da música espanhola.


A miúda, que está na foto ao lado, chama-se "Bebe" e impõe-se uma ida ao Kazaa para ouvir o seu single de estreia.


Chama-se "Malo".

CCDRC - O desastre continua

No Verão de 2003, depois de um ano inteiro sem liderança, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) ganhou um novo presidente: o social-democrata Paulo Pereira Coelho, que abandonou a vice-presidência da Câmara da Figueira da Foz para assumir o cargo.

O polémico e claramente sub-qualificado político entrou em grande na instituição. Dando a entender que iria proceder a uma revolução, "expulsou" para novas localizações todos os que trabalhavam no edifício central, mandou instalar SportTV no seu gabinete, assinou o Record e meteu mãos à obra.

Ao fim de alguns meses as medidas de fundo chegaram: foi criada uma Agência de Turismo que permitiu a contratação da esposa de um vereador social-democrata da Câmara de Coimbra e de outros ilustres sociais-democratas da cidade, pagos a peso de ouro, claro. Quanto a revolução, nada. Meia dúzia de contratos não renovados foi tudo o que se viu.

E a CCDRC, mal ou bem, parecia começar a andar novamente. Depois de mais de um ano e meio sem nada fazer, a nova equipa da presidência parecia estar por dentro dos assuntos da casa, e a pesada locomotiva dava sinais de querer arrancar.

Só que ainda não foi desta. O Presidente, por certo pelos magníficos trabalhos realizados na autarquia da Figueira e na CCDRC, foi nomeado Secretário de Estado da Administração Local. A CCDRC está novamente sem Presidente. Será preciso nomear um novo, será preciso que este estude os programas que deve gerir e será preciso rezar para que, quando tudo isso tiver acontecido, não haja uma nova remodelação governamental que o leve para Lisboa. Estaremos então em 2005. Já não haverá dinheiro para atribuir neste Quadro Comunitário. E claro, em 2006, o novo governo, que se prevê socialista, quererá certamente nomear um dos seus para a Presidência da CCDRC.

Mas nada disto importa. O que importa é que quem presta relevantes serviços ao partido, perdão, ao país, veja o seu esforço recompensado.

domingo, maio 23, 2004

Série 27 episódio II

Nada melhor para iniciar a semana que o segundo episódio da série 27. Só uma nota: " o filme" tem som, por isso se não conseguir ouvir, trate de configuar o WmP.
Agora é só ir à coluna da direita

sexta-feira, maio 21, 2004


Ó Isabelinha, que belo casório! Parece o nosso!

Homenagem ao sentido de humor dos Diabos Vermelhos

Apesar de tudo, vão defender as nossas cores.

Boa sorte na final do dia 26!

FORÇA MÓNACO!!!

Querida Maria:


" Sou uma jovem de 23 anos e sinto que sou diferente. Estou a borrifar-me para o casamento real em Espanha, aborreço-me de morte com os preparativos da cidade de Madrid, mudo de canal quando vejo qualquer noticia sobre os noivos, não quero saber quem vai ser convidado, nem a cor do vestido da noiva, nem as regras protocolares que ditam as cores e os materiais dos atacadores dos convidados, não queria estar no casamento nem que me pagassem, prefiro um Tv Rural diferido, à Tv Real, que vai transmitir a foda -perdão- a boda dos príncipes em directo.
Estarei grávida?"

quinta-feira, maio 20, 2004

Toma lá que é democrático ...

A ministra das finanças de Portugal esqueceu-se de declarar umas mais-valias que recebeu no ano de 2001. Para corrigir o esquecimento, entregou uma declaração nova, em que computava aqueles rendimentos. Nada de especial. Um erro. Uma correcção. O facto relevante é que o erro foi dado por uma pessoa que sabe mais de finanças, espera-se, que 99,9 % da população Portuguesa. O que significa que se a ministra errou, é normal que todos os outros também errem. De onde se conclui que o sistema fiscal está construído de uma forma tão complicada, burocrática e confusa que é normal que as pessoas errem no preenchimento das declarações dos impostos.
O sistema assim organizado, dizem uns, é o resultado de anos de legislação avulsa, contraditória e diária, e que por isso não há ninguém responsável. Não creio que assim seja. O sistema fiscal, como em geral todos os sistemas, têm de ser de tal forma complicados e inacessíveis às pessoas a que se destinam servir, para que os que neles trabalham detenham algum poder sobre os utentes desses mesmos serviços. Quem é que indo entregar uma declaração de IRS, e sendo aconselhado pelo funcionário do balcão a fazer isto ou aquilo, se atreve a não seguir o conselho dizendo até " o senhor até foi simpático".
Mas esta é apenas uma manifestação da tecnocracia. A outra manifestação dos tecnocratas, e em geral dos poderes totalitários ( estado, cristianismo etc?) é o poder de perdoar. O poder do perdão, mas esse é outro assunto que espero poder voltar.
A ministra das finanças e todos os cidadãos em geral são vítimas do poder da tecnocracia dos serviços que servem em principio para os ajudar.

Contraditório, não é?, mas muito semelhante ao Deus cristão, é Ele que salva, mas é Ele que condena.

quarta-feira, maio 19, 2004

Pulmão verde, amor negro

Hoje à tarde fui passear para a "Casa de Campo", um parque verde da capital espanhola que está para Madrid mais ou menos como Monsanto está para Lisboa.
Para além do muito verde que por lá há, dos passaritos engraçados que voam de árvore em árvore, das ovelhas que pacientemente mastigam a erva que abunda, do zoo e do parque de diversões, o mais marcante da Casa de Campo são as várias dezenas de prostitutas negras que, às quatro da tarde, povoavam o interior do parque, oferecendo-se, com marketing mais ou menos agressivo, a quem passava. Diz o guia da Lonely Planet de Madrid que à noite, por causa das prostitutas, o trânsito desta parte da cidade é tão intenso como o do centro em hora de ponta...
Do chão ou da janela do teleférico que nos leva ao centro de Madrid, o espectáculo é impressionante. Uma economia pura e brutal em directo e a funcionar para quem quer ver.

Para acabar a tarde de forma mais agradável, nada melhor que um passeio de barco a remos no Retiro.


Anedota espanhola

Por que vai o Príncipe Felipe casar na Catedral de Almudena, onde nunca se realizou um casamento real?

É que o príncipe faz questão de estrear alguma coisa...

o que vai, volta.

O bicho é como um monstrengo verdíssimo. De lado, à frente e atrás tem os vidros protegidos com uma rede blindada resistente ao fogo, ás pedras e às garrafas partidas. Em cima da sua enorme cabeça dispõe da mais nobre arma que existe para dispersar multidões: agua.
Esta máquina, concebida para manter a ordem pública e dispersar os provocadores prejudiciais ao estado democrático, foi ontem apresentada publicamente pelo ministro da administração interna, altas patentes militares e religioso de serviço.
Ora, o instrumento da manutenção da ordem publica, ser rude mas com sentimentos, depois de ter ouvido os discursos que lhe imponham o que fazer, decidiu, porque estas máquinas podem decidir, começar no seu primeiro dia a reger-se pelos princípios que a criaram. Então, ligou espontaneamente o seu jacto e molhou toda a comitiva de fatos pretos. Dispersou a multidão, descobriu carecas, engasgou militares, lavou jornalistas, desbotou as gravatas e electrocutou microfones. A eficácia foi brutal. O caos político, jornalístico e protocolar com uma mangueirada de água.

As forças da ordem ficaram bastante extasiadas com a eficácia da máquina, pois podem ir para as casernas ver os jogos do 2004 e deixar que uma chuvita molha tolos se encarregue de dispersar os adeptos ingleses e alemães.

The cooler

O filme "The cooler" gira à volta de um personagem cuja má sorte é aproveitada por um casino de Las Vegas para "arrefecer" a sorte dos jogadores que ali apostam.

Eu conheço alguns bons candidatos ao lugar, caso os casinos portugueses estejam interessados neste tipo de serviço.

terça-feira, maio 18, 2004

Amor à primeira vista

Salvador Dali faria 100 anos no passado dia 11 de Maio. Deixei passar esse dia sem me referir à data porque não tive nenhuma ideia suficientemente aceitável para assinalar o aniversário. Como, dizer por dizer, que Dali fazia anos estava fora de questão, esperei que alguma coisa surgisse. E ontem, perto das 11:61 da noite uma pequena mosca, já velha de 23:00 horas, vinda de Figueras, no Tagus que faz a ligação Madrid ?Lisboa, conto-me uma história, que faz parte da tradição oral das moscas sobre o conhecido pintor.
"Dali, tinha pela primeira vez conseguido estar com Gala sem se rir. Ainda não trocaram qualquer palavra mas já passeavam há mais de duas horas. Então, Gala, intrigada pelo quadro " O jogo Lúgubre " nas primeiras palavras que dirige ao seu futuro amante pergunta : " o senhor é coprofago ? a resposta foi negativa.
Compreende-se a prazer que as moscas têm em contar esta história.

segunda-feira, maio 17, 2004

Countdown para o casamento real

Madrid vive intensamente a última semana antes do casamento real. Nas ruas do centro há uma quantidade anormalmente alta de polícias. As zonas de estacionamento das vias por onde passará o casamento real estão a ser progressivamente fechadas. As televisões internacionais estão por todo o lado fazendo reportagens de ambiente. As televisões espanholas falam dos vestidos da noiva e dos acontecimentos do casamento do príncipe da Dinamarca 24 horas por dia. A loucura está instalada. E ainda falta uma semana...

El año zero vendrá

Tarde de domingo em Madrid. Num parque da cidade dezenas de milhares de pessoas passeiam de barco, vêm espetáculos ao vivo, dançam ao som de batuques ou rebolam pela relva aproveitando o sol. A seguir, todos os caminhos vão dar à Plaza Mayor, onde as festas de Santo Isidro oferecem gratuitamente à cidade um concerto de música ao vivo, com três músicos espanhóis e o italiano Nek. O concerto começa à oito e meia e na praça não cabe mais ninguém. Acotovelam-se pessoas de todas as cores e, supõe-se, de todas as religiões. Sem traumas do 11-M. Canta o italiano e ao à nossa volta a frase que se ouve é "Canta Laura, hijo puta!". A meio do concerto festeja-se a vitória do Benfica que chega de Portugal por sms. Antes tinha cantado "Bebe", um novo talento da música espanhola de que mais tarde falarei. Às 22h30 acaba a primeira parte do concerto e muitos, como nós, aproveitam para ir comer um bocadillo e continuar para casa.
É fácil ter uma tarde de domingo animada em Madrid

As passadeiras vermelhas.


A passadeira vermelha concretiza num momento publico, todo um desejo de vitória e glória. Em todos os acontecimentos em que o sucesso é comemorado, os homenageados têm a honra de passar por cima de uma passadeira vermelha. È assim no cinema, é assim nas recepções de estado, é assim nas cerimónias religiosas. Numa palavra, a passadeira vermelha foi adoptada como elemento simbólico, para a celebração da vitória nas artes, na política e na religião.

Eu, que em vez de ver um "burro a comer figos" vejo "figos a comerem um burro", pergunto sobre a razão de haver tal símbolo nas celebrações. A resposta embora não sendo simples, pode no entanto ser a que ser segue.

A passadeira vermelha simboliza o sangue de todos os que tentaram atingir a vitória e falham. Na verdade, a passadeira vermelha simboliza todo um campo de batalha sanguinolento, por cima do qual os vencedores desfilam vitoriosos. Em cada, passo sobre um fio de lã da passadeira vermelha está o pisar de um morto que pereceu em busca da glória atingida por quem o pisa.

Por isso, das imagens do Aznar, Bush, Blair e Durão, em cima de uma passadeira vermelha a cumprimentarem-se não foram mais que a antecipação simbólica
das imagens dos soldados Americanos a pisarem os Iraquianos.

Mas o pensamento pode ainda ir mais longe, já que se pode perguntar quem é que nunca desejou passar por uma passadeira vermelha. A partir daqui talvez seja melhor parar -por agora- e confiar ao leitor as sua próprias conclusões que devem ser atingidas pelo método da maiêutica socrática. Os fórceps só virão se tiverem de vir. -ou não-.

sexta-feira, maio 14, 2004

"é muito parado"

Nos Estados Unidos da América do Norte ninguém vai ao cinema. Do outro lado do atlântico, as pessoas em vez de irem ver um filme, vão ver um "movie". A palavra "movie" remete para o verbo "to move" que como se sabe traduz movimento. Assim, na América do Norte ir ao cinema significa ir ver movimento, isto é imagens em movimento. Apesar de parecer demasiado óbvio, a verdade é que na Europa as coisas não se passam assim. Na Europa, o cinema porque herdeiro da pintura, tende a menosprezar essa característica essencial: a acção. O verbo. Comentários tipo " nota-se que é cinema europeu " ou "é muito parado" são a tradução do espectador dessa distinção conceptual entre o Cinema Americano e o Cinema Europeu. Na Europa filmam-se os quadros, na América filmam-se as acções.

quinta-feira, maio 13, 2004

Brian Reimer - A orientação sexual nasce connosco

Brian Reimer nasceu no Canadá, em 1965. Devido a um acidente durante uma circuncisão, quando tinha um ano de idade, Brian perdeu o pénis. Os pais, provavelmente desesperados, aceitaram seguir o conselho de um médico e permitiram que se fizesse imediatamente uma operação de mudança de sexo a Brian, que passou a chamar-se Brenda. A Brenda foi crescendo e só queria jogar à bola com rapazes. Depois de variadíssimos problemas com amigos e colegas, aos treze anos achou-se por bem contar toda a verdade a Brenda, que, assim que a soube, exigiu voltar a ter o seu sexo original. Mais operações, mais hormonas, mais tratamentos, e pouco tempo depois, Brenda, ex-Brian, passou a ser David. Um David que casou, adoptou três filhos e um pénis artificial, e arranjou um emprego.
Há duas semanas, depois de o seu irmão gémeo se ter suicidado, de o terem despedido e de a sua mulher o ter deixado, levando os filhos, Brian suicidou-se. Depois de 38 anos em que ofereceu fama a um médico, muito orgulho às feministas de quem foi ícone na fase Brenda, mas em que, em troca, só recebeu sofrimento e confusão.

América

De dia para dia crescem os gritos de indignação contra violência que os soldados Americanos praticam sobre os Iraquianos; e contra a forma "selvagem" como um soldado Americano foi degolado. A mim essa violência total não me surpreende. Basta ir ao museu do Prado e ver como as paredes estão cheias dos "vídeos" do século XVI, XVII, XVIII, a transbordar de sangue e crime. Há mais violência numa sala do museu do Prado que nos 5 minutos de degolação do soldado Americano.
O que é novo nesta violência é o facto de a sabermos ás refeições. Todos os estados com polícia, exercem em segredo e por definição, violência arbitrária sobre as suas populações.

Alguém põe as mãos no lume pelo respeito dos direitos humanos, em Israel, Angola, Irão, Birmânia, Egipto, Congo, Ruanda, Colômbia, Nepal, Tibete, China, Coreia do Norte, Cuba, Moçambique, Usbequistão, Tchetchénia, Sudão, Líbia, Portugal, Comores, Etiópia, Guiné-bissau, Libéria, Togo, Espanha, França, Itália e Alemanha. Alguém? Não, pois não.

Pela primeira vez, no Iraque ocupado, os maus tratos e a violência são do conhecimento de todos, viajam em ficheiros "WMP" e "GIFF", transmitem-se pelas ondas de televisão e reproduzem-se em cada sala de estar confortável. Pela primeira vez, os responsáveis têm de dar explicações, pela primeira vez os objectivos imperiais de um pais podem ser postos em causa pelos biqueiros e choques eléctricos que os seus centuriões dão aos povos indígenas. E isto, é o novo, e só podia acontecer na América onde por não haver uma noção de "povo americano" ? salvo os índios sobreviventes ao homem branco ? não existe matéria para fundar uma ?razão de estado? totalitária. A diversidade Americana é penhor da impossibilidade de um fascismo totalitário do outro lado do Atlântico.

Fátima

Tenho cada vez mais dificuldade em falar sobre Fátima. Sobretudo por receio de estar a faltar ao respeito àquilo em que outros acreditam. Mas uma das coisas que eu penso está muito bem caricaturada neste cartaz do Barnabé:


quarta-feira, maio 12, 2004

Palavras, palavras palavras. Ou não...

Quando se vê um puto de 20 anos, vestido numa farda cor-de-laranja, ajoelhado no chão, com as mãos e os pés acorrentados, com sete encapuçados atrás que dizem que em nome de Deus o vão degolar, torna-se claro que ?a única desculpa de Deus é nunca ter existido?.
Mas depois de o degolarem, elevarem pelos cabelos a cabeça separada do corpo, gritarem por Deus, atirarem-na ao chão e a chutarem para um canto, aquela desculpa devolve ao homem toda a responsabilidade dos actos que pratica, legitimando assim, a prática do assassinato privado.

Your side was always a bit lonely, but I wouldn't want to sit anywhere else



Com um beijo para a Ana Margarida, que me recordou esta frase do Kill Bill 2


Jornalista publica artigo sobre os hábitos alcoólicos de Lula

A minha dúvida é: como é que alguém pode ser Presidente do Brasil e não andar permanentemente com os copos?

terça-feira, maio 11, 2004

Apesar de ser profundamente injusto, verdade é que por vezes uma imagem vale mais de mil palavras. Quatro películas de celulóide banhadas a sulfureto de prata, obrigaram Bush a dar entrevistas a televisões Árabes para pedir desculpa pela forma como os prisioneiros de guerra foram tratados. Recordo ter visto numa televisão inglesa três especialistas militares a examinarem em detalhe cada pormenor das 4 fotografias, só para concluírem que aqueles fotografias podiam muito bem ser montagens e portanto falsas. Mas depois percebeu-se que não havia só quatro, eram aos milhares enviadas para a América por mail e a questão da falsificação deixou de poder ser levantada. Agora, descobre-se que as próprias tropas inglesas assassinaram miúdos de 8 anos no Iraque. E amanhã? o que é que se vai descobrir? Amanhã, a opinião publica que fica hipocritamente chocada com os efeitos concretos da guerra, vai tomar consciência que afinal é para matar que os exércitos servem. Que por detrás dos galões dos generais, e das armas que rebrilham ao sol está um objectivo: matar. Matar. O que nos leva ao aparente paradoxo da existência de capelões no exército, mas isso são contas de um outro rosário....

Escândalo de resultados combinados no futebol italiano

Depois do mediático caso de Paolo Rossi, há quase 25 anos, rebenta um novo escândalo de resultados combinados no futebol italiano.
Os clubes envolvidos, e através dos quais alguém ganhava muito dinheiro em apostas, são, para já, os seguintes:
Siena, Chievo, Lecce, Reggina, Piacenza, Ascoli, Lumezzane, Sassari, Taranto, Catanzaro, Crotone e Fermana.
Tudo indica que o "meu" Siena seja apenas parte prejudicada, estando envolvidos três jogadores que fazem ou fizeram parte dos seus quadros: Generoso Rossi (guarda-redes), D'Aversa (médio) e Ventola (avançado e uma das grandes promessas do futebol transalpino).

Esquizofrenia é


Um comunista de smoking a abrir um baile de gala, ao som de uma valsa que interrompeu um jantar a 15 contos por pessoa organizado pela Associação Académica da Universidade de que é Reitor e que estava cheio de estudantes que, com todo o direito, lutam contra o aumento de propinas.

Boa justificação

Acusado pelo presidente do Real Madrid de sair demasiado à noite, e confrontado com o (bom) exemplo de Figo, Ronaldo respondeu, segundo "A Bola":
«Eu, com uma mulher em casa como a de Figo, também não sairia...»


Eram coisitas deste tamanho. Não pode ter doído assim tanto...

segunda-feira, maio 10, 2004

Sempre na última


Mais uma vez a sofrer até à última jornada!
BRIOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOSAAAAAAA!!!!!!!!!

Cidades mais seguras

Resposta de leitora (parece-me que leitora e não leitor)

À pergunta da Gabardina: Quando uma mulher vos rejeita
vocês não têm vontade de perguntar "E não tiveste pena de perder um tipo fixe como eu?"

uma leitora da Gabardina, que não assina mas cujo mail é xiquitita@aeiou.pt responde:

Tens o defeito da maior parte dos homens que acham que são o melhor que as mulheres podem arranjar... sem pensar que, mais do que pena por perderem um tipo como elas, elas sentem que há grande probabilidade de encontrar um tipo melhor do que eles...

Eu sempre desconfiei que seria isso, mas é sempre bom ouvir outras opiniões...

sapatos pretos

A queima das fitas de Coimbra é recordada por cada pessoa de forma diferente. Há quem a recorde pelo cortejo, há quem a recorde pelo baile, pelo chá, pelo parque etc? Eu recordo a queima das fitas pelos sapatos. Ou melhor pelo modo com os sapatos chegam a casa, depois de uma noite no Parque.
È assustador que esses objectos fabricados delicadamente à mão por uma criança pobre do Vale do Ave, sejam sujeitos à violência de uma das noites do Parque. O pobre calçado pisa garrafas partidas, apaga cigarros, passa por poças lamacentas com gente dentro, apanha o respingado do vomitado, o liquido do bolsado e os restos do urinado do dono ou dona, dos amigos e de todos os outros bêbados que vão ao Parque. Tudo à chuva, com frio, e com muita lama, erva, pó e vacas. (as vacas é liberdade poética).
Quando se descalçam os sapatos e se sente como contrastam com a limpeza e ordem de um quarto, aí nesse momento de confronto entre senhor e serviçais o estudante médio apenas pensa: ? F? estes sapatos estão um nojo?, por sua vez o homem esclarecido, reconhecendo a importância de tal adereço, pega-lhes pelos atacadores, e ainda que completamente com os copos dirige-se à varanda. Dá-lhes um banho tépido, espera que sequem ao sol da manhã e depois passa-lhes com uma flanela grossa. Só em seguida, se vai deitar, tranquilo.

Post peregrino

Eu também conheço uma miúda que nasceu a 13 de Maio. Mas a Mãe dela não se chama Iria.

sexta-feira, maio 07, 2004

Quando uma mulher vos rejeita

Vocês não têm vontade de perguntar "E não tiveste pena de perder um tipo fixe como eu?"

Adivinhem o que é.

Nove da manhã. Há menos trânsito do que é habitual. Vejo poucas pessoas nas ruas. Até à hora de almoço o telefone não toca e há uma estranha calma no ar. Duas e meia. Nos semáforos para entrar na cidade fazem fila os camiões de sagres e, ao meu lado, funcionários camarários fazem alpinismo, com total desrespeito pelas normas de segurança, pendurando fotografias e cartazes promocionais do Euro’2004. Quatro e meia. O trânsito é de loucos. As esplanadas estão cheias de gente. Bebem-se muitos finos e muitas coca-colas. Pedem-se alguns pratos de tremoços e uns folhados que fazem a vez do almoço dormido. Os agentes da PSP multiplicam-se pelas ruas multando todos os carros remotamente mal estacionados que vão encontrando. Seis e meia. Saio do trabalho e o trânsito diminuiu ligeiramente. Ao volante muitos rapazes e raparigas de negro. Pela cidade circula um número anormal de carrinhas e todos os condutores, atarefados, parecem ter escolhido o mesmo fato negro e pesado, apesar do calor que ainda se faz sentir. Dos prédios saem mais pessoas vestidas de negro. Elas preocupadas com as meias de vidro que não costumam usar; eles sem saberem o que fazer à capa que levam ao ombro. Nove horas. Nas ruas e nos pontos de encontro habituais, magotes de pessoas vestidas de negro parecem esperar por alguma coisa. Há movimento que promete festa. Meia-noite. As ruas habitualmente desertas da baixa estão cheias dos morcegos que, a pouco e pouco, vão deixando os restaurantes e bares e caminhando, em trajectórias mais ou menos sinuosas, para o sítio onde a festa acontece. Os mesmos agentes que a meio da tarde multavam, assistem pacientemente à passagem de carros conduzidos por estudantes notoriamente embriagados. Ouvem-se gritos e canções. É Coimbra na segunda semana de Maio. A Queima chegou.

quinta-feira, maio 06, 2004

Os humanos devem estar loucos

Este quadro de Picasso foi ontem comprado por mais de 100 milhões de dólares. A loucura dos preços da cultura passa agora a bonita barreira dos 100 milhões de dólares. Como se mede o preço deste quadro? Não é pelas matérias primas utilizadas, que não custarão mais de umas dezenas de dólares. Não é, certamente, pelo tempo de trabalho necessário para o pintar, que não terá sido assim tanto. Não é para recompensar o artista, que de tudo isto não veria um dólar que fosse. É tudo uma simples questão de mercado do novo-riquismo. O fascínio e a parolice da peça única. A necessidade de ter mais que outros.
Segue-se o mesmo princípio que segue o Ministério da Cultura português quando, num país em crise, atribui indiscriminadamente subsídios a tipos que depois fazem exposições de 20 fotografias a mostrar os órgãos reprodutores de dois amigalhaços ou a cineastas que fazem filmes sem imagem. É cultura, cada um faz o que quer e os outros que paguem. Os outros, que para receberem um salário ao fim do mês têm que trabalhar. E têm que o fazer bem...

É o normal.

Existem umas normas plasmadas na convenção de Genebra que definem as regras que a guerra deve seguir. È claro que esta convenção é um absurdo e só se compreende na tradição racionalista europeia, que tenta, através da lei evitar que a Europa volte a ser uma mar de cadáveres que foi até ao final da II guerra mundial. A convenção de genebra pretende ordenar a barbárie que é guerra. Só que a guerra não é ordenável, porque se o fosse não se chamava guerra, chama-se xadrez.
A guerra é tripas, pessoas esventradas e órgãos esfacelados. A guerra é ir de manhã para o trabalho em Madrid e levar com um barrote em brasa no peito e agonizar em dor até à morte. A guerra é perder filhos, pais e irmãos. Guerra é barbárie. O que os soldados americanos fizeram aos iraquianos é o que sempre todos os soldados fazem aos inimigos. Pontapear, humilhar, abusar é o “business as usual” de qualquer guerra passada ou futura. A espécie é assim. E não vão ser umas letritas escritas num papelito que ninguém sabe que existe que vão barrar a tendência para a barbárie. Pelo menos até que o homem deixe de ser “humano, demasiadamente humano”.

Lá do Outro Lado do Mundo

Nem sempre a minha vida
Mudará onde eu estiver.
Tu tens agora esse poder:
Fazer de um teu ponto de partida
Um outro onde eu posso perder.

Ou ganhar, que nem tudo é curto prazo;
E se me rouba, essa noite, a ilusão
De ter flores que desejo junto ao meu coração,
Sei que amanhã – igualmente por acaso –
Noutro bouquet posso encontrar a redenção. Ou não.

E tudo muda, tudo balança;
Eu nada posso fazer, sei lá no fundo.
Para mudares a minha vida num segundo
Bastará só um passo de dança
Lá do outro lado do Mundo.

quarta-feira, maio 05, 2004

Can I?

If there's an order in all of this disorder
Is it like a tape recorder?
Can we rewind it just once more?


(U2, Wake up dead man)

Cesariny na cinemateca



Sala Félix Ribeiro esgotada. Depois de os legítimos possuidores de bilhetes se sentarem, a porta foi institucionalmente aberta por Benárd da Costa aos mitras. Dezenas deles sem bilhete que se sentaram no chão para ver o filme “autografia” de Miguel Gonçalves Mendes. Um documentário sobre Cesáriny.
Depois de o realizador ter sido ali mesmo armado cavaleiro pelo surrealista o filme pode começar. Um momento, diz Benárd da Costa, o poeta não quer ver o documentário na primeira fila, há alguém aí atrás que se não importe de trocar de lugar como Mário. Feita a troca, apagadas as luzes eis que “ligaram a máquina”.
No fim uma ovação para o homem que durante o filme insulta quem o aplaude por tudo e por nada.
Está tudo no filme. Ou no poeta. A vida, a morte, o sexo, o amor e a irmã. Do surrealista lúcio como poucos em Portugal e do mais jovem dos Portugueses umas linhas,


Pastelaria
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
— ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo:
fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria e, lá fora — ah, lá fora! — rir de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra.

terça-feira, maio 04, 2004

Eclipse da lua

Neste fim de tarde do dia 4 de Maio de 2004 o país embebeda-se. A libertação de Carlos cruz põe o país em euforia pelo desejo de ver o ex-futuro-alegado abusador de crianças sair da cadeia depois de 15 meses de prisão.

A televisão é o altar do sacrificio para onde o povo olha para seguir, voyeur, os primeiros passos deste homem espiatório dos desejos pedófilos de uma nação. Há helicópteros no ar, motas prontas para arrancar, nos semáforos os condutores boquiabertos tapam a boca com a mão e dizem sozinhos “eu não acredito”. E isto é só o inicio, pois mais logo há bola e mais uma vez o País pára junto do ecrãn e torce pela vitória portuguesa.

Neste fim de tarde, Portugal vê-se hipérbole na televisão. Sexo, morte e violência, ainda que simbólicas sãos os elementos ardentemente desejados .

Será que é o eclipse da lua que hoje acontece que tem alguma coisa que ver com isto?

M.

O M. tem nove anos. O M. é o único menino da sua turma de que as meninas gostam. O M. passa os dias a dizer às meninas como elas se devem arranjar e o que devem vestir no dia seguinte. Sinceramente o M. não me preocupa. Mas preocupa-me as voltas que as cabeças dos pais do M. devem dar por causa disto.

Body art na Ucrânia

Sempre a raposa fechada na capoeira

Rebentou a polémica entre a CGTP e o Ministro da Saúde, a propósito do Sistema de Recuperação de Cirurgias. A central sindical alerta para a crescente promiscuidade entre público e privado. O Ministro diz que as críticas resultam da cegueira ideológica da CGTP.

O que vale é que os médicos portugueses têm um rendimento médio tão elevado que se ficarem mais ricos com este novo programa ninguém notorá a diferença.

Bang Bang

Kill Bill 2 levanta, pelo menos, uma questão pertinente. O que devemos fazer na vida: ceder ao que somos naturalmente ou ceder ao que achamos que é melhor e mais equilibrado para nós?

No fundo o velho problema: ganha a razão ou o coração? Eu ainda não decidi. O Tarantino, apesar do fim do filme, parece que também não.

Uso laca and i´m proud

Nunca gostei de Valentim Loureiro. Nunca. Não sei foi por uma vez o ter visto a atirar canetas brindes à cara dos eleitores ou nem sei se é pela forma petulante e arrogante como fala dos assuntos do futebol com se fosse o seu reinozinho e que é afinal, pago com impostos de todos . Seja como for nunca gostei do major. Para mim, ali mora um bruto intratável e que só é tolerado pelos dirigentes que sabem que se ele cair também eles caem pois estão todos a comer da mesma gamela inunda suportados por uma teia invisível de interesses, jantares caros, e charutos impotentes.

A verdade, é que depois destes últimos acontecimentos o major apesar de actuar exactamente como um bruto de fato actua, surpreendeu-me pela positiva. Um homem que num mundo onde a imagem é tudo, vem de roupão fazer uma conferencia de imprensa depois de ter estado a ser interrogado durante 12 horas; um homem que oferece a própria casa a quem conseguir provar não sei o quê; um homem que quando fala da juíza que o ouviu treme dos pés ás cabeça desfazendo-se em elogios de reverência infantil; um homem que tem a coragem de entalar PSL nas primeiras declarações que faz depois dos interrogatório; um homem assim, é no mínimo bem apessoado. E um homem apessoado, alguém a quem se nota uma personalidade individual merece o meu olhar complacente. O major é um bruto mas não faz muitos compromissos com o politicamente correcto.

E isso é raro e tem de ser preservado nem que seja para sabermos sempre onde nunca podemos chegar.

segunda-feira, maio 03, 2004

A dúvida é: Vale a viagem aos Pirinéus?


Laetitia Casta na capa da Elle francesa deste mês

Bem vindos

Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, República Checa, Eslováquia, Eslovénia, Hungria, Chipre e Malta.
Comunidade e União Europeias estão desde ontem mais ricas e mais interessantes.

Porque o caminho é unir e não dividir, autonomizar, regionalizar, metropolitanizar ou esquartejar de qualquer outra forma.

A 213.58.200.#

A 213.58.200.# é uma amiga. E para além disso uma leitora da Gabardina. Umas vezes assídua, outras nem por isso.
Na semana passada a 213.58.200.# percebeu que o sitemeter nos permite saber quando algumas pessoas entram no nosso blog. E ficou chocada. Sentiu-se invadida. Achou inadmissível. E ameaçou nunca mais ler a Gabardina.
Ameaça que não faz sentido. Porque a internet é interactiva. Como o telefone. Como a carta, o SMS ou o toque para o telemóvel.
Porque no blog, como em todas essas coisas, é bom saber quem está do outro lado, continua a ler-nos, cara 213.58.200.#. É bom saber-te aí, de vez em quando.

OVO

Não é da Páscoa, nem de Colombo. É um novo blog de uma amiga e garanto-vos que será tarefa impossível isolar a gema.
Com link na coluna da direita.

Veja as diferenças

Em Nampula foram encontrados órgãos humanos dentro de vasos de barro. Em Coimbra foram encontrados órgãos humanos dentro dos contentores de hospital. Qual é diferença? São órgãos, e estão fora do corpo por causa do conhecimento: feitiçaria no primeiro caso, medicina no segundo. Um aprendiz de feiticeiro jamais se submeteria ao bisturi, um estudante se medicina nunca tomaria caldinhos para se curar. Então, qual é a diferença? A diferença é apenas a presunção de que a nossa feitiçaria é melhor que a moçambicana. E não é? É?