Adivinhem o que é.
Nove da manhã. Há menos trânsito do que é habitual. Vejo poucas pessoas nas ruas. Até à hora de almoço o telefone não toca e há uma estranha calma no ar. Duas e meia. Nos semáforos para entrar na cidade fazem fila os camiões de sagres e, ao meu lado, funcionários camarários fazem alpinismo, com total desrespeito pelas normas de segurança, pendurando fotografias e cartazes promocionais do Euro’2004. Quatro e meia. O trânsito é de loucos. As esplanadas estão cheias de gente. Bebem-se muitos finos e muitas coca-colas. Pedem-se alguns pratos de tremoços e uns folhados que fazem a vez do almoço dormido. Os agentes da PSP multiplicam-se pelas ruas multando todos os carros remotamente mal estacionados que vão encontrando. Seis e meia. Saio do trabalho e o trânsito diminuiu ligeiramente. Ao volante muitos rapazes e raparigas de negro. Pela cidade circula um número anormal de carrinhas e todos os condutores, atarefados, parecem ter escolhido o mesmo fato negro e pesado, apesar do calor que ainda se faz sentir. Dos prédios saem mais pessoas vestidas de negro. Elas preocupadas com as meias de vidro que não costumam usar; eles sem saberem o que fazer à capa que levam ao ombro. Nove horas. Nas ruas e nos pontos de encontro habituais, magotes de pessoas vestidas de negro parecem esperar por alguma coisa. Há movimento que promete festa. Meia-noite. As ruas habitualmente desertas da baixa estão cheias dos morcegos que, a pouco e pouco, vão deixando os restaurantes e bares e caminhando, em trajectórias mais ou menos sinuosas, para o sítio onde a festa acontece. Os mesmos agentes que a meio da tarde multavam, assistem pacientemente à passagem de carros conduzidos por estudantes notoriamente embriagados. Ouvem-se gritos e canções. É Coimbra na segunda semana de Maio. A Queima chegou.
Sem comentários:
Enviar um comentário