sapatos pretos
A queima das fitas de Coimbra é recordada por cada pessoa de forma diferente. Há quem a recorde pelo cortejo, há quem a recorde pelo baile, pelo chá, pelo parque etc? Eu recordo a queima das fitas pelos sapatos. Ou melhor pelo modo com os sapatos chegam a casa, depois de uma noite no Parque.
È assustador que esses objectos fabricados delicadamente à mão por uma criança pobre do Vale do Ave, sejam sujeitos à violência de uma das noites do Parque. O pobre calçado pisa garrafas partidas, apaga cigarros, passa por poças lamacentas com gente dentro, apanha o respingado do vomitado, o liquido do bolsado e os restos do urinado do dono ou dona, dos amigos e de todos os outros bêbados que vão ao Parque. Tudo à chuva, com frio, e com muita lama, erva, pó e vacas. (as vacas é liberdade poética).
Quando se descalçam os sapatos e se sente como contrastam com a limpeza e ordem de um quarto, aí nesse momento de confronto entre senhor e serviçais o estudante médio apenas pensa: ? F? estes sapatos estão um nojo?, por sua vez o homem esclarecido, reconhecendo a importância de tal adereço, pega-lhes pelos atacadores, e ainda que completamente com os copos dirige-se à varanda. Dá-lhes um banho tépido, espera que sequem ao sol da manhã e depois passa-lhes com uma flanela grossa. Só em seguida, se vai deitar, tranquilo.
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