Há Deuses e há deuses...
Reconfortado por saber que o mundo apesar de injusto por vezes o é a seu favor, Catarse
(a continuar assim vou mesmo começar a falar de mim na terceira pessoa no dia-a-dia, do género: - Então Catarse, o que vais almoçar? - O Catarse hoje quer lasanha. Sim, o Catarse tem fome. Ou, melhor ainda, acumulado com o plural majestático: - Então Catarse, o que vais almoçar? - Nós, o Catarse, queremos lasanha. Sim, nós, o Catarse, temos fome. Vai, ou melhor, nós, o Catarse, vamos ser um sucesso no refeitório da empresa!)
abeirou-se (lindo exemplo de Português regional) do balcão e afastando as unhas da Cremilde ainda solidamente ligadas ao resto da sua mão, por sua vez solidamente ligada ao resto do seu braço, por sua vez solidamente ligado a coisa nenhuma, de cima do teclado, puxou-o para si, o teclado e não o braço da Cremilde, que seguiu no sentido contrário, esparramando-se em cima do manual de acolhimento da empresa curiosamente com o dedo médio ostensivamente estendido e ornado de uma unha impecavelmente tratada e pintada.
Virou o monitor para si e começou a tentar perceber onde tinha entrado. Enquanto carregava a homepage, observou o logo enigmático que pendia da parede ao fundo da recepção e repetido no wallpaper do computador e que parecia representar um homem a escorregar numa casca de banana, segurando uma rebarbadora ligada que parecia escapar-se-lhe das mãos em direcção a uma betoneira que passava mesmo ao lado de um depósito de munições estrategicamente situado sobre uma falha tectónica mas isso não fazia sentido nenhum.
“Ah! Já está. - pensou - ?!?! (se já tentaram pensar em sinais de pontuação, posso afiançar-vos que parece mais fácil que é) Afinal até faz algum sentido...”
Ao que parecia tinha entrado na sede social de um Deus. O Deus do acaso das pequenas coisas aparentemente insignificantes mas que afinal se revestem de extrema importância por uma muito improvável mas inexorável sucessão de acontecimentos encadeados. Coincidentemente ou não, ali dentro era impossível afirmar tal coisa com um grau de certeza satisfatório, Gaspar escolheu esse momento para assomar a sua mui divina cabeça de dentro do bolso onde (também) estivera, certamente absorto na sua omnipresenço-potênço-sapiência a governar o tudo ou a jogar PlayStation8, sim ele já a tem e não, não faz por ganhar sempre ainda que por vezes caia na tentação de usar cheats como vidas infinitas, uma escolha curiosa para um ser imortal - para simplificação narrativa, abster-nos-emos de voltar a mencionar estas características divinas da Minhoca, excepto nos casos em que tal for pertinente para o desenrolar da história e me apetecer ter a maçada.
“- Xiii... onde vieste parar... tá bonito isto!”
E voltou, fisica e metaforicamente para acentuar a frase, para dentro do bolso.
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