quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Ciclos

Cada um terá o seu, adequado à sua rotina ou falta dela, mas que os há, como as bruxas, há. Metabólicos, diabólicos, estrambólicos, alcoólicos, melancólicos... há quem viva com eles, há quem viva para eles, mas não há como escapar-lhes. Desde a hora em que acordamos, e até antes, nos ciclos do sono e do sonho, que estamos sujeitos aos seus mais variados tipos. O do trânsito, o circadiano, o menstrual, o lunar, o da água, o da precessão dos equinócios, o da vida, etc. Tudo tem o seu timming ou, como diria alguém, a sua folga, conceitos similares vendo bem as coisas. E o dia de folga, já se sabe, é o domingo! Se ao menos tivéssemos folga de tudo aquilo que nos aborrece... e por falar nisso, Artur, o que dizer da tua súbita e inusitada mudança de género de que foste acometido no teu último texto, perdão, disse texto?, queria dizer estertor da língua portuguesa:

"Os avós dão muito jeito. Se não fosse isso estava tramada!"

Tramada?! Tramada!? Tramados estamos todos nós com estes atentados musicais com que nos brindas e que temos de Arturar!! Bom, por esta passa pelo exercício de memória que certamente é de louvar mas voltando à vaca fria, que é como quem diz o tema em mãos, le dimanche, e para fechar o ciclo deste texto, acrescentava apenas que doravante viverei em ciclos semanais. O dia é demasiado curto; o mês demasiado longo. Resta-me o consolo dos sete dias da semana para tentar alicerçar o caos (plácido, consentido e agradável é verdade, já que, pessoalmente, não me agrada o planeamento excessivo que vejo em algumas vidas demasiado formatadas) em que alegremente chafurdo mas, ao que parece, até isso me será negado caso o extremoso e dedicado funcionário da Grande Torre dos Dias leve a sua avante. Mas se não os podemos vencer...

Exmo Sr. Director Geral da Grande Torre dos Dias,

Por força do uso, do hábito e dos costumes é tido como certo que existe uma sequência estável e imutável nos dias da semana. Tendo tomado conhecimento da possibilidade de os alterar, submeto humildemente à sua superior consideração o pedido de inclusão de um sábado extra no lugar da quarta-feira. Tal mudança traria a indiscutível vantagem de duplicar as sextas (terça seria a neo-sexta) ainda que acarretasse também o duplicar de segundas (quinta a neo-segunda), sendo que um espírito tranquilo rapidamente veria a possibilidade transformar antes a segunda original numa neo-quinta, mantendo inalterável o inestimável Domingo.

Em resumo, teríamos:

...,Domingo, Neo-Quinta, Neo-Sexta, Neo-Sábado, Quinta, Sexta, Sábado,...

Pede deferimento,

Lisboa, 21 de Fevereiro do ano do Senhor de 2008

Catarse

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