Santificarás o Domingo
Se Sábado é beato pelas quatro da tarde e, Segunda-feira martírio pelas 07:30, então, Domingo é aquele farrapo de fumo de vela que serpenteia rumo ao tecto. Uma passagem, um meio, o não-lugar do calendário Gregoriano. O que já não é, mas o que também ainda não existe. Potência do que será Segunda-feira, e ruína do que foi Sábado à noite. No dia 24 de Fevereiro de 1582, quando o Papa Gregório XIII declarou o fim do calendário Juliano e, quando todos os dias comemoravam com fruta e mel, houve um, que nem sequer tocou nos mirtilos: o Domingo, pois, por razões pessoais, recusava-se passar de um calendário com nome de Imperador, para um de Papa. E jurou vingar-se. E, assim, desde esse dia, todos os Domingos são essa vingança: os filmes em repetição na televisão, o tédio tenso da expectativa de Segunda-feira, os jogos do campeonato, os lanches hiper-calóricos e os pequenos acontecimentos absurdos que não podem sequer ser contados, no contexto racional da linguagem escrita. Haverá hoje maneira de modificar o modo de ser do Domingo? Sim, santificando-o…Mas como?