Screen tests 2
Por definição não recordo o quotidiano. Recordo acontecimentos. Não recordo o que comi há um mês atrás, mas recordo a maionese que há 4 anos me mostrou as coisas estranhas que o meu corpo é capaz de fazer.
O passado mais não é que um percurso presente feito de acontecimento em acontecimento. O que me interessa com os screen tests é registar os espaços entre os acontecimentos. O espaço que esteve até à ingestão da maionese, e que esteve depois do restabelecimento do trato digestivo. O passado que verdadeiramente esqueci por não ter sido marcado por acontecimento algum.
Recordamos os momentos que nos marcam: os acontecimentos. E digo: marcam, e não: marcaram, pois uma marca é um sinal de uma coisa, noutra. Um sinal do passado, que é contemporâneo à coisa marcada. Por isto, é que os acontecimentos que recordamos existem não no passado mas no presente. Porque os recordo no presente, só no presente existem .
1 comentário:
o passado é então um cemitério de acontecimentos esquecidos por já não acontecerem no presente?
se a árvore cair sozinha no passado sem que ninguém se lembre que ela caiu, terá ela caído?
gosto da ideia, ainda assim, de longos (?) períodos de nadas não marcantes que servem de estradas entre pontos indeléveis... corre-se, no entanto, o risco de se perder uma noção de causa-efeito sem o elemento de ligação entre os tais acontecimentos...
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