terça-feira, maio 08, 2007

A vida simples...

Nestes dias em que os ideais ecologistas ganham popularidade por força da crescente demonstração de poder por parte da natureza face à civilização humana (sempre normal reagir melhor ao medo do que à razão, principalmente em comportamento de manada), seria de reler o que diz Thoreau sobre a vida natural e simples (embora sem com isto estar a advogar o retorno à Idade das Trevas ou ao Paganismo).

Com o evoluir descontrolado da ciência e da tecnologia assistimos durante uns anos ao transformar lento mas paulatino de homens em máquinas, cada vez mais frios e impessoais, regidos por princípios egoístas desde o enunciar do postulado de Adam Smith sobre o crescimento económico. De seguida, a Ciência matou Deus (com a preciosa ajuda de Nietzche e para gáudio dos ateus e niilistas) mas abdicou da gestão das almas e destinos dos homens com a consequente perda de valores morais até hoje não substituídos à altura. Depois entrou a globalização que nos atirou para um caos cultural, social, racial e religioso do qual muito se pode esperar pela exposição a maneiras diferentes de pensar e pelo convívio com a diferença mas do qual ainda tanto se teme (sendo a homogeneização um dos perigos) e do qual pode resultar uma convulsão enorme com perdas imensas (não estamos fora do alcance das leis da evolução e, portanto, os menos adaptados caminham para a extinção) se o processo não for adequadamente conduzido para o bem comum. Com a pressão crescente do consumismo, media e publicidade com recurso à manipulação de ideiais de estilos de vida, status, desejos e ícones criámos o monstro da depressão por ser quase impossível cumprir com tudo aquilo com que somos bombardeados e devíamos ter ou ser para atingir a felicidade. A desproporcionalidade na distribuição da riqueza não explica tudo, embora conduza sem dúvida a pressões sociais, emigração clandestina, sobre endividamento, aumento do crime e queixas sobre as condições de vida. Mais ainda, com o evoluir da ciência médica a nossa esperança média de vida aumentou incrivelmente mas não em proporção à qualidade com que a gozamos. No meio de tanto egoísmo e desinteresse pelo próximo, cresce a corrupção que prejudica indiscriminadamente populações inteiras.

Felizmente está sol, há praia e mar, vem aí o subsídio de férias e nada disto interessa. Vamos no bom caminho! Em frente! O precipício é já ali...

13 comentários:

IM disse...

Felizmente está sol, há praia e mar, vem aí o subsídio de férias e nada disto interessa" pelo menos, até acabar o subsídio de férias e se acabar igualmente o sol e a praia (ou ao contrário...depende do que entendemos como antecedente e consequente...). Que sobre a limonada, certo? =)
É...agora muito a sério...traçaste uma rápida linha pela viagem da nossa civilização de uma forma muito acutilante. Estamos a pagar o preço da desmedida e o desconforto é o retorno. Era bom, de facto, que por momentos fosse possível regressar à vida simples e descomplexada...nem que fosse por conta da sobrevîvência das bombas-relógio, preciosos instrumentos à beira da ruptura estrutural!!!!
;-))
IM

g. disse...

O perigo da "extinção" pela globalização é qualquer coisa de terrível no que tem de anulador da diferença - essa diferença que nos enriquece. E o aumento da esperança de vida contrasta com a maneira como as nossas sociedades(vide ex. português) tratam os mais velhos - e não precisam de ser muito velhos.
Olha: há mar e mar, há ir e voltar. ;) Só espero que nesta "vida complicada" "voltemos" inteiros.
ps- depois deste discurso é melhor ir tomar um Tocafé para ver se isto passa...

Catarse disse...

tic tac tic tac... o relógio não pára rumo ao juízo final... ou até
à próxima bomba relógio...mas há sempre um kit kat para parar esse cronómetro implacável!

eu até acho que, com limonadas pelo caminho ou tocafé (se bem que nesta noite quente caía mesmo bem era uma cervejinha gelada!), até é possível voltar à vida simples, ao mesmo tempo dar uma contribuição para a melhoria do que nos rodeia e ainda conseguir uma certa paz de espírito e felicidade.

em resumo: a vida é simples! as pessoas são complicadas!

Catarse disse...

Faltaram-me ainda uns tantos items na lista:

A falência do conceito de família nuclear como a entendíamos no passado - o número crescente de divórcios e decrescente de casamentos atesta-o (e as opções por uniões de facto e quejandos).

A liberdade total e o aumento da mobilidade (de transportes e de empregos) que destroem conceitos como raízes e terra natal sem que ainda tenhamos plenamente aceite que dificilmente viveremos a vida dos nossos pais (sendo que mesmo essa foi atípica em Portugal graças aos períodos conturbados do pré e pós 25 de Abril).

A educação, cultura e acesso à informação com o advento mundial da internet - portadora de tudo, sem censuras, bom e/ou mau, verdadeiro e/ou falso, útil e/ou perigoso...

Todas as civilizações (como muitas outras coisas - nada é eterno) tiveram, têm e terão início, crescimento, auge, degenerescência e fim - como terei o gosto de ler num livro que recentemente me ofereceram.

g. disse...

Também perfilhas a tese do fim da História?

Catarse disse...

Tudo tem eventualmente um fim...

Quanto mais não seja pelo simples facto de que se ninguém estiver cá para a escrever e ler não haverá História... a não ser que estejas a falar numa escala maior que a nossa... e que mesmo que a àrvore sozinha na floresta produza som fiquem registos disso que alguém queira ver.

Até hoje imensas civilizações tiveram o seu final. Apenas se mantiveram nos anais da dita História pela mão dos conquistadores, vencedores, sucessores, o que, seja como for, foi, de algum modo, já uma morte pois não será de acreditar que tenham mantido outra versão que não a que mais lhes convinha contar e a arqueologia está longe de ser uma ciência exacta. Se nem no presente obtemos concordância sobre o que de facto se passa quanto mais sobre o passado.

g. disse...

A História também é feita de ciclos - descendentes e ascendentes, feita de começos mas também de recomeços. Se calhar recomeços sob outras formas, mas isso já é outra questão. A História já demonstrou a sua natureza cíclica e pode ser que, contrariando as teorias apocalípticas, o Homem se recicle ainda que seja porque factores externos a isso o obrigam.

Catarse disse...

se me apontares uma vez que o Homem tenha mudado sem ser por factores externos... eheheheheh

seja como for, sim, os ciclos estão realmente presentes em tudo na historia humana mas tb acho que esta sociedade caminha rapidamente para o fim de um... desde que o inicio do proximo (exista e) seja melhor, o problema é só a transição.

só por piada e sem levar isto para mais longe do que o exercício proposto, pega neste post e comments e transporta-os para a esfera das relações pessoais (só é preciso uma redução de escala e mudança de vocabulário)

g. disse...

Quanto aos factores externos é de facto óbvio. Se bem que há gente que despoletou pequenas revoluções na história só a partir de questões interiores(que podem ou não ter sido provocadas por factores externos) e que, pela sua acção "mais ou menos genuína", deram a tantos outros o tal "factor externo".
Mas não é esse o ponto. Quanto às relações pessoais posso dizer que me ocorreu a mesma ideia enquanto escrevia o post anterior (qualquer coisa no estilo: mas afinal de que é que nós estamos a falar mesmo?! :I) Nesse aspecto, nós que vivemos o problema do "momento de transição" já temos um doutoramento. Pelo menos os mais exigentes ou se calhar os mais complicados...As pessoas são complicadas, de facto. Mas aqui (e este comentário é só pelo "exercício proposto") creio bem que ambos sabemos do que estamos a falar.;)

Catarse disse...

Confesso que o post e os comments eram mesmo sobre as sociedades e civilizações mas, a certa altura, a ideia da "conversão" do assunto passou-me pela cabeça e, realmente, muito era aplicável ao outro tema! ;)

Mas o melhor é mesmo falar sobre o que se quer falar porque de mal entendidos na escrita está este (e outros) blog cheio! Eheheheheh!

g. disse...

Os avisos à navegação não são necessários. No entanto, às vezes falar do que se quer falar supõe um pretexto (real ou escrito) que muitas vezes não existe ao sabor das nossas vontades. E às vezes damos por nós - neste caso como aconteceu aos dois - a extrapolar para outros contextos... Assim, ficamo-nos pelos existentes que, como é bastante claro, também temos vontade de desenvolver.

IM disse...

Toc, toc, toc...toc, toc, toc...posso entrar? eheheheh...é que esta conversa está tão "arrumadinha", tão caseirinha que até me custa vir aqui meter o bedelho...sorry...é mais forte do que eu...há sempre uma maneira subtil de mandarmos embora as visitas: ficarmos de pé à porta, com aquele ar apressado de quem já ia mesmo a sair...de chinelos! eheheh
(engraçada a vossa conversa..;-)
Pessoalmente acho que algum desfecho tudo isto(o rumo da históra) há-de ter...parece-me que este crescendum de tudo, esta multiplicação aleatória de objectivos, projectos, movimentos, etc., é incomportável. Nunca se teve tanto (de um modo global) e nunca houve tantas afirmações taxadas de que vida não faz sentido - leia-se: suicídio.
A ética da quantidade invadiu toda a nossa (globalmente falando) esfera de acção e vivemos (sociedade) tolhidos de vazio, imersos numa avalanche de nada...
IM
(obrigada pelo cafezinho - à porta? de pé?- !!!! ehehehe...eu prefiro o café à limonada e ao Tocafé...se bem que com este "isto" passa!)

g. disse...

Ora bem: só o dono da casa lhe poderá oferecer um café. Eu sou apenas mais uma visita. Mas pode ser que a "casa" esteja pelos ajustes. Depois, gostava de acreditar - apesar de eu hoje não ter obviamente Tocafé pelas imediações - que esta "fase de transição" ou ciclo descendente passasse rapidamente. Era bom que não precisasse de décadas e séculos infindos...Chuif. A propósito, alguém me arranja um Tocafé? Se não houver não sou esquisita: gosto de limonada, café e também bebo álcool. Proibido, proibido ...só bebidas com melão.