segunda-feira, maio 07, 2007

Memórias...

Segundo um artigo que li recentemente a fiabilidade das nossas memórias pode ser muito mais fraca do que aquilo em que gostaríamos de acreditar. Tendo em consideração que muitas vezes agimos de acordo com as experiências passadas e sabendo ainda a nossa percepção em tempo real não é também 100% fiel, pois depende de demasiados factores como estado de espírito, capacidade de observação, estado de alerta, stress, fármacos, capacidades sensoriais, etc, fica um pouco abalada a noção de uma ligação firme à realidade. Ou melhor, a uma só versão de realidade. Mais ainda para quem prefere colorir as partes cinzentas com uma palete de cores imaginárias.

9 comentários:

IM disse...

Sem dúvida.Aliás, ter a noção daquilo que intervém e como na nossa percepção da realidade, deita por terra qualquer tentativa de lhe aceder. Ainda por cima nós, seres humanos, somos excesivamente limitados em termos de capacidades de percepção sensorial...somos terrivelmente deficitários o que faz com que a nossa "leitura" do real seja excessivamente imprecisa, limitada, insuficiente. Quantas dimensões não estaremos nós a perder? E em que medida isso turva uma dada visão do real?
Não há nenhuma vez em que eu saia com o meu cão que não fique profundamente admirada e frustrada por ele conseguir cheirar, antecipar, sentir o que não sinto. Muitas vezes penso na forma como ele "vê" o real...procuro pensar na minha...são perspectivas quase incomensuráveis...qual a mais "real"? Tudo o que vemos, sentimos, percepcionamos está contaminado por tudo aquilo que podemos/queremos ver, sentir, etc...enfim...nada mais podemos aspirar, eu acho, do que a uma leve ideia do que possa ser o real...bem...apetecia-me continuar por aqui fora...há uma série de questões filosóficas que me apetecia abordar relacionadas com a noção de "real", mas fico-me por aqui...seria muito maçador certamente.
Já agora, deixo aqui um texto a propósito desta temática: é uma texto clássico que muita gente conhece mas que não deixa de ser interessante.
IM
http://www.ateus.net/artigos/filosofia/aparencia_e_realidade.php

IM disse...

My bad.Reparei que o link ficou cortado (como tanta coisa, abruptamente, na nossa vida!...) e aqui vai completo se interessar
http://www.ateus.net/artigos/filosofia/aparencia_e_realidade.php

g. disse...

Apercebemo-nos facilmente que a falha da nossa percepção ou a nossa interpretação perceptiva é, de facto, relativa. No entanto constato também que a percepção de entre os humanos é completamente diferente e que o factor memória contribui bastante. Mas acredito que em muitos casos - quando não nos lembramos de algo - mais do que reacções cognitivas, são reacções psicológicas. A verdade é que a nossa subjectividade está presente em tudo, até nas nossas memórias mais marcantes. Há um ensaio sociológico muito interessante também sobre isto ( que se lê como um romance) - "A Realidade é Real?" de Paul Watzlawick(?).
Quanto a pintar coisas cizentas com matizes coloridas...às vezes é possível e desejável. Outras, é perigoso e impede-nos de digerir partes da nossa própria evolução.

Catarse disse...

Nada que o google não possa corrigir...

Bom texto este. Lembra-me uma parte desse grande livro "Hitchhiker's Guide to the Galaxy" quando encontramos o senhor do universo na sua cabana em plena dúvida existencial com a realidade circundante.

Os sentidos e as respectivas percepções sensoriais são realmente espantosos. E ainda mais as interpretações que depois fazemos delas, limitadas ou não.

Há apenas um senão neste tipo de raciocínios (de que gosto muito, uma vez por outra, como exercício de retórica e por questionar coisas que damos como adquiridas sem pensar):
De alguma maneira se nos prendermos demasiado com questões sobre tudo acabamos vencidos pela inércia e presos dentro das nossas próprias cabeças... de vez em quando é preciso ceder ao experimentalismo, ao imediato e aceitar as coisas como são.

Quanto às coisas da vida cortadas, abruptamente ou não, isso já são outros quinhentos da nossa realidade transitória que tantas vezes teimamos em esquecer que está permanentemente em curso rumo a um lugar qualquer, nem sempre ao que desejaríamos, e que tudo tem necessariamente um fim.

IM disse...

Sim, Arroz de Casca, esse livrinho do P.W é muito interessante embora levante muitos lugares-comuns (mas quem não levanta, não é?).
Penso que a persoectiva psicanalítica nos dá uma visão muito curiosa sobre tudo isso (eu sei, eu sei...a defesa da perspectiva psicanalítica é polémica, mas eu continuo a ser uma forte defensora, não obstante limitações várias...); basicamente, o nosso psiquismo procura evitar a dor e depois há estratégias variadíssimas de que dispõe para camuflar, escoar memórias, tensões,etc.

Catarse, é verdade que este tipo de raciocínios em relação ao suposto acordo das nossas percepções do real não pode paralisar-nos. Temos de agir e acima de tudo somos todos naturalmente realistas acreditanto que, mais coisa menos coisa, percebemos as coisas "como elas são". Acho é que essa consciência de que não são ou poderão não ser nos deixa mais despertos e, sobretudo, mais chatos!eheeheheheh
(eu própria já dei com uns olhares sérios e estranhos a mim dirigidos em certas alturas con reflexões incómodas...ehehehe...nada que um "sorry" e um sorriso amarelo não desfaçam...eheheh)
IM

Catarse disse...

A não convencionalidade de uma maneira de pensar ou agir é a melhor prenda que podemos dar a alguém, principalmente nestes dias de cópias e padrões...

Chatos? Antes chatos que banais, desinteressados ou desinteressantes! ;)

IM disse...

100% de acordo. Estamos todos muito fartos de mesmidade...de peças iguais feitas numa multinacional. Todavia, o sermos "chatos" tem, muitas vez como retorno um "Ó pá, deixa-te disso! Pensas em cada uma!" e pronto, lá vem o sorriso amarelo e pergunta interior:será?

g. disse...

Ora aí é que IM chegou ao ponto. É aquele constante : «opá, não penses nisso»; »pensas demais»; «esquece» e expressões quejandas que nos vêm aturdir o espírito...
ps- já agora, tb continuo a defender a teoria psicanalítica precisamente à conta desses "esquemas mentais" a que algumas mentes recorrem mais do que outras

IM disse...

Ok, Arroz de Casca; estamos em sintonia. Depois tudo é uma questão de fazermos o tal sorriso amarelo ou, então, passarmos ao lado dessa atitude e continuarmos como somos!...
IM