quarta-feira, maio 02, 2007

mudanças, interacções, variações, diversidade e evolução



Apesar de a certa altura já tudo nos parecer mais do mesmo, pelos livros que lês sobre um tema, pelas músicas que ouves sobre algo, pelos filmes que vês sobre o mesmo assunto, pelas experiências que te contam ou que te sucederam, existe sempre algo diferente e novo à espreita, seja uma variação sobre o mesmo tema ou um tema completamente novo (ou o mesmo visto de um ângulo diferente). Confesso que há alturas em que me parece que passamos todos pelas mesmas fases de vida, sofremos com os mesmos problemas, somos apenas mais um no meio de milhões que ouvem a mesma canção, ainda que pareça sempre que foi escrita só para nós. Desvantagens de meios pequenos, uniformidade da educação, exposição às mesmas influências ou apenas percursos que fazem parte do processo de crescimento e evolução pessoal? Ouço problemas pelos quais já passei, assim como os tinha ouvido antes e achava que por eles nunca iria passar. Sacudindo rapidamente noções como destino, inevitabilidade, acaso, sorte e azar deste texto, passava antes para as mudanças, que o tempo, a experiência e o conhecimento que absorvemos por vivência própria ou por interposta pessoa, pelas quais passamos e, como no anúncio manhoso do ice tea, nos transformam em perfeitos estranhos para nós mesmos (quanto mais para os outros). Parar é morrer, ou pelo menos na biologia diz-se que um sistema em equilíbrio é um sistema morto por não ter diferenças motrizes; agora será que a renovação pela qual devemos fatalmente passar para nos adaptarmos às condições que nos rodeiam faz de nós outras pessoas? Algumas coisas não mudam, por estarem mais entranhadas, mas muito do que constitui o eu é certo que fica irremediavelmente alterado por aquilo que fazemos ou vivemos e mais e mais cresceremos e mudaremos quanto maior for a nossa capacidade para lidar com a diversidade. Será isto doença própria de quem vive no Caos ou a Ordem também muda? Por definição seria de acreditar numa maior rigidez da Ordem, mas também não deve ser imune à mudança, assim como até o Caos pode ter uma teoria subjacente que o reja.

9 comentários:

IM disse...

"Agora será que a renovação pela qual devemos fatalmente passar para nos adaptarmos às condições que nos rodeiam faz de nós outras pessoas?". Confesso que estas palavras me fizeram lembrar um música super antiga de Simon e Garfunkel (acho que era Mrs. Robinson...já não sei bem...) em que se dizia a certa altura: "After changes, upon changes we are more or less the same". Acho que este "more or less" diz bastante...algo muda, sem dúvida, mas não ao ponto de nos tornar irreconhecíveis...mas podemos mudar "more" or "less"...depende muito do eco do que o que nos rodeia tem em nós...a forma como filtramos as coisas. Não penso que seja uma doença de quem vive no Caos...a Ordem muda para fazer face aos Caos e a Ordem só vive do Caos, por isso...continuo (subjectivamente) a pensar que o Caos é só isso: a Ordem que desconhecemos ...a Ordem que se revolta contra si própria...
IM

Catarse disse...

Yin e Yang, Bem e Mal (passem os preconceitos associados às noções), Caos e Ordem,..., (gostei aqui da associação subconsciente e livre que Bem e Caos tomaram na ordem das palavras...)

Gosto também de "depende muito do eco do que o que nos rodeia tem em nós...". Reagimos claramente ao que nos rodeia. Mudamos? Adaptamo-nos? Pervertemo-nos? Camuflamo-nos?

g. disse...

Definitivamente as 4: mudar, adaptar, perverter, camuflar. Acredito, no entanto, que há sempre algo de autêntico, único, autoral. Qualquer coisa - muitas vezes indefinível - que está sempre lá. Somos únicos e irrepetíveis, por muito que mudemos. Quanto mais não seja por um pequeno grão de areia que guardamos, uma espécie de essência que nos serve de farol. Às vezes podemos é gostar mais ou menos dessa realidade. Quem, por um momento ou situação, não quis já "livrar-se" de si mesmo e dos seus vicíos mentais, comportamentais, etc? Alguns são mutáveis, outros...baldados esforços.

Catarse disse...

De facto não existe tal coisa como um observador (observado ou observação) independente. Uma vez sabendo que estamos sob a luz inquisitiva de outros ou na posição de observador é alterada a nossa postura, mesmo involutariamente, inconscientemente... estamos sempre a apreender, a adicionar peças e partes, maneiras de falar, expressões, gestos, ideias ao grão de areia, como camadas de nácar numa pérola dentro da ostra.

Há sempre uma música que diz mesmo mesmo aquilo que queríamos... às vezes pode estar no ritmo errado (daí as cover versions) mas a mensagem está lá!

IM disse...

Ora bem, em relação à questão do Catarse ( uma catarse implica mudança profunda...estará no nick algum desejo menos consciente de mudar ou de não saber lidar com a mudança?...)sobre se mudamos, se nos adaptamos, nos camuflamos ou nos pervertemos, não obstante os quatro aspectos fazerem parte de todo o nosso processo, como disse o Arroz de Casca, penso que predominantemente se trata de quatro tipos de reacções distintas e paradigmáticas em relação ao que nos rodeia.
1) Mudamos: quando reconhecemos a diferença e de dentro um ímpeto nos faz reconhecer a necessidade de se ser outro; assimilamos o que nos acontece e deixamos que tudo isso invada, verdadeiramente, o que somos;
2)Adapatamo-nos: quando não temos coragem de mudar ou, simplesmente porque a nossa atitude se pauta por alguma passividade e a adaptação embora suscite alterações, é a forma mais fácil de lidar com o que nos acontece, ou seja, mudamos aparentemente, mas na verdade não mudamos; aprendemos a acolher no nosso seio uma realidade distinta;
3) Pervertemo-nos: quando os nossos filtros, "avariados" por motivos vários não dão conta da essência do que nos rodeia; a perversão é uma adaptação invertida que revela a incapacidade de sermos autênticos e permite um exercício ilusório e negativo do poder;
4) Camuflamo-nos: quando não conseguimos lidar com o que nos rodeia; quando não somos capazes de assumir o eco que as coisas têm em nós; quando queremos assistir, como espectadores, anónimos, ao que se passa em nosso redor; não queremos incomodar nem ser incomodados.
Bem, depois de ter dado esta seca toda (peço desculpa ao staff do Gabardina...estão no vosso pleno direito de dispensar os meus comentários!...) acho que, basicamente e, numa leitura algo grosseira, são estas quatro maneiras de lidar com o que as coisas em nós provocam...
C'est ça...
IM

Catarse disse...

au contraire, IM.
comentários são sempre bem vindos e é em parte por eles que se escreve.

catarse foi de facto um nick escolhido para uma fase de mudanças profundas mas ao qual me afeiçoei dado que existe sempre mudança ou cura para as desditas...

http://pt.wikipedia.org/wiki/Catarse

http://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_cl%C3%ADnica

Anónimo disse...

Concordo com a Cantarse embora discorde do Sr IM!!!
O IM fala aqui de "Mudamo-nos"; "Adaptamo-nos"; "Pervertemo-nos"; "Camuflamo-nos"; etc mas parece-me que o IM está um pouco confuso.
Provavelmente frequenta "colóquios"; "congressos"; "seminários"; "sessões plenárias"; "palestras", etc, sobre o assunto.

Eu imagino o Sr. IM a entrar num pavilhão chamado, imaginem, "A dança do SABER" (saber com
maiúsculas) ou, do género, "DISCUSSÕES BANAIS?, EU QUERO É APRENDER MAIS E MAIS!!..",em que lá dentro estão
expostos painéis e power-points alusivos a temas tipo "camuflagem sectorial! - organigrama convencional!" ou mesmo
um projector gigante a falar de temas tipo "a independência sociológica e o conceito de urbanismo nos outros países", ou mesmo uma carroça daquelas de madeira (um bocado podres) com vários livros
antigos e um letreiro a dizer: "a organização da comunidade dos cisnes pretos - sua reflecção na estrutura macro-empresarial da
Europa de amanhã" ou mesmo "puzzles de verbos galegos, venham!!!...e não tenham medos"... enfim. O Sr IM caminha numa
realidade muito engraçada. O seu mundo! Mas não se preocupe com isso, eu também pouso as chaves do carro em cima da mesa quando chego ao café.

Eu acho que a Cantarse refere-se à teoria da máscara, (mascus ou masca = "fantasma"; maskharah = "palhaço", "homem disfarçado"), em que o homem vive
permanentemente por trás duma máscara e quando a tira aparece outra, e assim sucessivamente. Realmente, sempre que o faz para ser parte integrante de um GRUPO, torna-se um de milhões que já o fizeram antes...

jbfmartins

Catarse disse...

Ora está bonzinho shô martins?

Espero que este interregno que nos privou da sua real presença não se repita tão cedo. É que se sentia já a falta dessa visão acutilante que nos perpassa vinda da esplendorosa Lusa-Atenas. As minhas máscaras são demasiado diáfanas para tão perscrutador olhar e assim exposto recuo para as trevas de onde vim e terei de arranjar outra maneira de me fazer integrar onde tanto desejo pertencer.

Mais um plano maquiavélico frustrado pelo paladino solitário da verdade e da justiça JBFMartins. Damn you!

g. disse...

Tss, tss... O Sr. Martins regressou e já está a fazer das suas. Não perca o seu sentido de humor com considerações abusivas. Use-o de maneira mais saudável e imaginativa.