Jornalismo, verdade, lobbies, ética, fontes, arrogância
Ontem, no programa Prós e Contras da RTP, José Manuel Fernandes, director do Público, disse a dado momento qualquer coisa com o seguinte sentido (posição que tinha, aliás, já sido assumida por José Victor Malheiros numa das suas crónicas semanais, em que defendia que o jornalista não pode ser um mensageiro):
Os jornalistas não podem continuar a escrever tudo o que lhes contam. Têm que confirmar se as histórias são verdadeiras antes de as publicarem. O que se verifica hoje é que os jornalistas, em vez se seguirem esta via difícil, escolhem o caminho mais fácil, publicando notícias que só interessam aos lobbies.
Isto na mesma semana em que a provedora do Diário de Notícias se despediu das suas funções com um texto muito crítico, de que destaco as seguintes frases:
Ao longo deste período, o DN não deixou, contudo, de seguir algumas das tendências que marcam, negativamente, o jornalismo dos nossos dias. Uma das mais constantes é a utilização de fontes não identificadas na cobertura da actividade política, que não é mais do que uma forma de camuflar a dependência de fontes oficiais. Essa prática, que não é exclusiva do DN, reduz a política à intriga e à luta entre actores sem rosto, descredibilizando a democracia. Viria a estender-se ao campo da justiça, atingindo a sua expressão mais promíscua na cobertura do processo Casa Pia, levando o jornalismo a um grau de instrumentalização sem precedentes. Contudo, esse jornalismo menor conviveu, lado a lado, no DN, com excelentes trabalhos realizados em áreas menos «visíveis» mas não menos importantes. Foi, sobretudo, nos temas da Sociedade, da Cultura e da Ciência que o DN afirmou melhor a capacidade de levar a cabo um jornalismo voltado para os cidadãos, não obstante esses temas nem sempre terem merecido o tempo (de investigação) e o espaço que o seu interesse justificava.
Os jornalistas do DN foram também, a par dos leitores, protagonistas desta coluna. Mantiveram, face às análises, críticas e sugestões da provedora, um distanciamento cordato, com raríssimas excepções. A provedora nem sempre dispôs da sua colaboração na explicação dos casos que eram objecto de análise e crítica. Ultimamente, as respostas foram escasseando até quase desaparecerem. Mas, quando a voz dos jornalistas se fez ouvir foi sempre esclarecedora, não obstante algumas vezes menos convincente, displicente ou arrogante. Raramente os jornalistas do DN e as suas chefias reconheceram que as suas decisões podiam não ser as mais adequadas e, ainda menos, assumiram que tivessem errado.
Assim vão os dois diários "de referência" em Portugal.
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