sexta-feira, setembro 28, 2007

Loucura? Pois... não sei... se calhar via mais nitidamente do que muitos ditos saudáveis...

Algures numa vila junto à costa, uma senhora aproxima-se de um casal e diz:
- Peço desculpa de incomodar, mas posso fazer-vos uma pergunta? Não me levem a mal mas passam-me estas coisas pela cabeça e queria mesmo saber.
- Claro! Diga.
- Eu não sei se sabem responder a isto mas estão a ver aqueles barquinhos todos ali no mar? Eu acho que também há uns ali para os lados de Belém... Estes barcos são do Estado ou particulares? Não que eu queira comprar um nem nada mas acho que são muito giros.
- Pois... Particulares, acho... Mas realmente não sei de todos...
- Ah... São tão giros. E em Belém também há uns assim, dizem-me. Está bem. Olhem, e posso dizer-vos mais uma coisa? Não levem a mal nem nada mas gostava de dizer mais uma coisa.
- Sim, não há problema. Diga.
- Acho que são os dois muito bonitos! Muito bonitos! Por dentro e por fora! Ficam muito bonitos os dois. Acho mesmo.
- Ehh... obrigado...
- E queria dizer só mais uma coisa, não me levem a mal estas coisas que digo. Dêem muitos beijinhos os dois e aproveitem bem a vida que é tão curta!
- Ehh... pois... tem toda a razão...
- Adeusinho e felicidades. Não pensem que eu sou maluca ou assim... Desculpem o incómodo.
- De maneira nenhuma! Não incomodou nada... obrigado... igualmente.
As pessoas desenvolvem filtros e defesas, refugiam-se atrás de racionalizações, convenções, normas e padrões de comportamento aceites mas de vez em quando algumas fogem a estas regras não escritas e surpreendem pela nitidez com que vêem as coisas e pela simplicidade com que se expressam e pela espontaneidade demonstrada. Depois vem a realidade cinzenta, fria, dura, cruel, inclemente e triste que se revela afinal muito menos idílica... às vezes fico mesmo sem saber quem são os loucos, principalmente quando olho através das grades auto-impostas com que contemos tudo aquilo que achamos inconveniente ou impróprio, quando vejo a maneira como tornamos a nossa vida estanque a tanto daquilo que nos rodeia...

1 comentário:

IM disse...

Sim, é muito complicado...quem define o quê e, em particcular, a fronteira, o limite que separa a sanidade da loucura? A norma, o padrão, são convenções estabelecidas por pessoas supostamente sãs e que visam estabelecer esse seu padrão como sendo O padrão. Acho que perdemso há muito essa espontaneidade, essa capacidad de dizer o que nos vai na alma e no exacto momento...aprendemos a reprimir, a recalcar, a apresentar os comportamentos socialmente valorizados e deixámos de ser quem somos para além de termos acumulado uma série infinita impulsos normais, naturais, humanos e ganhámos, em troca, uma catrefada de neuroses e de todos os problemas de carácter psicológico. Nós sim, nós os que respodemos a essas perguntas dessas pessoas é que somos os loucos. Porque quisémos. Porque nos deixámos engolir pelo betão.