domingo, abril 01, 2007

A chamada pandemia do século XX (XXI?), a depressão (com a ajuda do sempre presente stress, suplemento actual de todas as componentes da vida - tudo agora gera stress, até a diversão e o relax), tem conseguido uma expansão incrível, entre doentes convictos e adeptos simpatizantes, a julgar pelo tom de permanente tristeza que ouço nas pessoas hoje em dia. Tudo é mau, tudo é triste, tudo é tédio, desinteresse, apatia e falta de vontade ou energia. Isto é incrivelmente contagiante e assume inúmeras formas. A depressão da velhice, por falta de companhia e estímulos; a depressão do adolescente, eterno acno-incompreendido, hormono-dependente, habitante do armário; a depressão da meia idade por constatação do tempo que passou, do que ficou por viver e do abandono do lar pelos filhos; a depressão dos trinta anos por desfazamento geracional de objectivos com os pais, etc... para essas depressões, graves e preocupantes, há ajuda possível, como explicam os links

http://www.depression.com/,

http://www.nimh.nih.gov/publicat/depression.cfm,

http://en.wikipedia.org/wiki/Clinical_depression

http://society.guardian.co.uk/socialcare/story/0,,2044862,00.html (nem que seja falar com um computador sobre isso)

Há, no entanto, uma em particular que, por ser tão fútil e falsa, me chateia incrivelmente: depressões de meninas filhas do papá ou meninos filhos da mamã, pudins mimados amorfos, não me suscitam qualquer tipo de solidariedade ou compreensão. Normalmente as queixas são do género: A minha vida é uma tristeza, não tenho isto ou aquilo, faltam-me amigos, estou sozinho/a, não tenho interesses, o meu trabalho não me motiva, não gosto do meu carro novo, não tenho a casa que quero, não fiz o que queria fazer, cometi tantos erros no passado, etc, e só aparecem em determinadas alturas de sua própria conveniência, por falta de fibra e força de vontade. Enfim, quando aparecem problemas normais da vida real que todos temos de enfrentar num processo de crescimento mas que os "deprimem", tadinhos, pois não queriam nada ter de lidar com eles e preferem espernear para chamar a atenção que lhes supostamente é negada e serem apaparicados, esquecendo-se que só suscitando interesse neles próprios e fazendo algo por si mesmos (em vez de esperarem por soluções externas) podem ter o que querem. Normalmente, depois de se lamuriarem durante uns tempos arranjam um brinquedo novo qualquer e, qual fénix, renascem das próprias cinzas às quais se tinham reduzido eles mesmos, surgindo brilhantes e equilibrados, exemplos de protagonismo social e cultural, lágrimas secas que já não escorrem da torneira de queixas que momentos antes parecia não poder fechar. É só até à próxima desventura chegar, claro, mas isso não interessa nada, desde que a máscarazinha das mentirolas que contam a si próprios não caia, que as falsas amizades com que se cercam não se afastem quando forem chamadas à pedra pelas necessidades da vida, o brinquedo novo canse, se parta ou vá embora, o desinteresse se instale de novo na vida pastel que levam ou que a família mokambo em que normalmente se inserem acabe mais uma vez por sair do cenário pseudo idílico de catálogo de moda onde pretendem habitar. Esses sim, são os problemas que deviam encarar e resolver, mas que insistem em colocar de parte como inexistentes, inevitáveis ou irresolúveis. Este modo de vida de permanentes queixas e lamúrias afasta qualquer boa alma que por eles se interesse pois ninguém quer conviver com uma alminha triste e apagada, em perene necessidade de um amparo, sorvedouros da felicidade alheia que tudo têm de experimentar por interposta pessoa, o que tende apenas a reforçar o ciclo num feedback positivo. Há um limite para o que quem os rodeia consegue dar, animar, ajudar sem que esse esforço leve algo em troca, esgotando o que parecia inesgotável, lentamente, gota a gota até que o poço seca e a depressão (quase) conquista por contaminação mais uns para as suas fileiras.

Para eles, os eternos entristecidos, há um remédio: é levantar a cabeça e encarar as coisas de frente; é tempo de viver com energia e alegria; gozarem bem o que têm e lutarem pelo que querem e não têm, interessarem-se em serem interessantes; sacudirem para longe essa neura castrante que os debilita, nas palavras musicadas de Johnny Cash - Get rhythm (when you get the blues) e adoptarem um estilo stressless ligeiro/despreocupado que não sendo fácil e acarrentando riscos (cair na inconsequência, no levianismo ou na dispersão), traz, a meu ver, a grande recompensa da felicidade, derradeiro objectivo de uma vida equilibrada.

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