O tempo...
Tudo em nós está orientado em função do tempo, ainda mais nos dias que correm em que tudo passa a voar e até mesmo os dias correm, já não se arrastam como antigamente. A vida acelera para velocidades impressionantes em que tudo é medido pelo tempo que se pode perder conforme aquilo que se pode receber em troca. Isto perverte toda a nossa maneira de encarar a vida e acrescenta esse sub-produto terrível, o stress, que nos corrói por dentro se perdermos o controlo e formos por ele governados. O tempo, conforme o artificialmente definimos, passa, na nossa realidade, sempre ao mesmo ritmo, implacável e imparável na sua marcha. Ao mesmo tempo, retirando mais ou menos de cada segundo, minuto, hora, dia, mês, ano, podemos alterar este passo ao nosso gosto, fazendo de cada momento algo único, como verdadeiramente é, saboreado na sua plenitude ou então, gastadores insensatos, deixar passar tudo e ver a areia escorrer descontroladamente na ampulheta. Cada um saberá melhor ou pior ver o que lhe convém, sabendo, pois, que fomos construídos para operar numa sequência de causalidade linear, e, por isso, ele não volta para trás e não pára; quando muito abranda em determinados momentos chave, bons ou maus, por exclusiva obra da nossa percepção consciente. Por isso, da próxima vez que estiverem numa situação má que vos pareça interminável, mudem de modo operativo e gastem esse tempo lento noutra coisa para a qual não teriam paciência se estivessem com pressa, saturando os sentidos com tudo o que nos rodeia. De igual modo, naquelas circunstâncias em que parece que as coisas boas fazem o tempo passar a correr, suguem tudo ao máximo, espremendo a situação para mais tarde recordar. Nunca mas nunca achem é que há sempre mais e mais tempo, porque, de facto, até prova em contrário, temos todos a nossa dose já servida e não há segundo prato; aproveitem! Além disso, tudo tem o seu tempo próprio e há oportunidades que não voltam mais depois de desperdiçadas, assim como há desperdícios de tempo que devem ser evitados depois de aprendida a lição (lamentar o passado, chover no molhado, marrar contra a parede...), num claro incentivo ao conhecido "seize the day". Agora tenho mesmo de ir porque não tenho mais tempo a perder: calculei agora a minha esperança média de vida (85 anos) e descobri que, estatisticamente e se não for atropelado por uma betoneira ou esmagado por um piano, as duas coisas que mais me atemorizam neste momento, claramente, já só tenho 55 verões, 55 primaveras, 55 invernos, 55 outonos, 2860 fins de semana/semanas, 20020 dias, 480480 horas pela frente, nem todos vão ser bons de certeza e o rendimento que tirar deles vai depender do meu ritmo de evolução/declínio... afinal não deve dar para ir fazer BTT a fundo aos 83, entre as aulas de paraquedismo, o alpinismo, o brídge, o tiro com arco, ensinar inutilidades perturbadoras aos netos, a colecção de caricas e o dominó no parque ao fim da tarde, sendo certo que, com as actuais reformas da segurança social, terei mesmo de vir trabalhar depois de morto.
4 comentários:
Quando vieres trabalhar depois de morto, EU já estarei MORTA e a trabalhar há, pelo menos 7 anos.
Assim, não te queixes dos teus 55 Verões, 55 Primaveras, etc., porque EU só tenho 48 Verões, 48 Primaveras e 2496 semanas...ehehehee...portanto, quando pensares no tempo,pensa que há sempre quem tenha muito menos!!!! lolololo
deve ser por isso que aqui estou às 5 da manhã a aproveitar o resto da minha insónia causada por pensar no tempo que passa sempre para o lado que não queremos ;)
gracias
Pois, falta descontar o tempo de sono. Trabalhar depois de morto, deve ser o que de mais certo este país nos oferece. Altamente estimulante... e reconfortante!
Bom, tendo em conta que hoje passei a 150km/h a um fio de cabelo de uma betoneira no IC19 (se me apanhava nem as retinas se aproveitavam; e não era preciso caixão ou lápide já que o bloco de cimento e metal retorcido dentro do qual me encontrariam faria bem os dois papéis e poupava o trabalhão de tentarem separar aquilo tudo) e que a previsão metereológica apontava para a queda esporádica de pianos junto à costa penso que, se sobreviver ao dia de hoje, passarei a apreciar ainda mais cada segundinho... a dormir ou acordado... chiça penico. É que não me dava mesmo jeito nenhum morrer agora. Tenho montes de coisas para fazer ainda: O IRS, levar o lixo para baixo, ir logo à noite ao cinema, lavar o carro, conhecer a Jessica Biel, terminar a minha lista de 1001 pessoas para matar se me decidir suicidar um dia, o filho, o livro (a àrvore já está)... não, realmente hoje não era um bom dia para morrer. Ia complicar imenso a minha agenda social. Ó Daniela (é o primeiro nome da Srª Dona Morte), agora não dá!
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