quinta-feira, abril 19, 2007

Se eu pudesse voltar atrás...

Dizem que arrependimento pode matar e que não vale a pena pensar no passado porque o que passou já não volta e nada podemos fazer sobre isso. Enfim, só porque Einstein postulou que era impossível não temos todos de acreditar nisso. O senhor até era esperto e tal mas não era engenheiro e pode-se ter enganado numa casa decimal. Seja como for, até alguém tirar isso a limpo, para bem da nossa saúde mental não é grande ideia andar sempre a matutar no que poderíamos ter feito de um modo diferente. Não o fizémos, não quisémos, não pudémos ou não conseguímos. E como tantos e tantos filmes e livros disseram e mostraram qualquer alteração atirar-nos-ia provavelmente para uma realidade alternativa em que tudo poderia ser radicalmente diferente, graças a uma cascata imprevisível de acontecimentos inter-relacionados, para pior ou para melhor. Ou talvez não, e está tudo predefinido. Mesmo com tudo isto presente não consigo deixar de pensar que, sem querer cair num arrependimento estúpido ou de descontentamento com o que tenho e sou agora, sei que faria imensas coisas de um modo diferente. Não para me ter poupado a sofrimentos ou para procurar algo que não tenho agora (isso faz parte do processo) mas para não desperdiçar algumas oportunidades que passaram em detrimento de outras coisas que tiveram o seu peso e importância mas que, aprendida a lição, não valeriam a pena voltar a viver (algumas nem uma vez quanto mais duas) pois o conhecimento e a experiência já estariam incorporados e assim teria mais tempo para outras coisas que não vivi ou conheci. O clássico "se eu soubesse ontem o que sei hoje..." Claro que certas coisas teriam sempre de acontecer, vez após vez, pelo que representaram, pelo que fizeram pela (de)formação do que sou, pelo papel (higiénico ou não) que desempenharam e pelo que quero que continuem a ser no momento presente. Já outras claramente não valeram todos aqueles grãos de areia da ampulheta (e, no entanto, provavelmente umas não existiriam sem as outras). Enfim, faz tudo parte da vidinha parece-me, por isso deixa-me cá aproveitar bem a minha enquanto posso porque há muita coisa para viver e o meu rádio não toca sempre a mesma música de manhã!

2 comentários:

IM disse...

Confesso que este tema me é "algo caro", mas o carácter irreversível do tempo ( a não ser que acreditemos no Eterno Retorno), mais cedo ou mais tarde nos remete para a inutilidade de pensar o que não foi ou foi, porque não pode voltar a não ser ou a ser. Então eu gosto muito daquela afirmação conhecidíssima de Sartre que nos diz: "Não importa o que os outros fizeram de nós, mas o que nós próprios fazemos com o que os outros fizeram de nós". Fica assim a nosso cargo o que fazemos com tudo o que já está feito. É essa a terrível responsabilidade de nos sabermos livres...para o nada, talvez, mas livres de o saber (pelo menos). Bolas! Vou parar por aqui...palpita-me que estou a ficar chata como o raio e com uma conversa de 200 toneladas....Tssssss

Catarse disse...

Aviso da gerência: A gabardina não tem limite de peso para os comentários e foi desenhada para albergar do XS ao XXL.

O tema é incrivelmente absorvente em todas as versões em que se apresenta, do banal ao filosófico, do leve ao pesado.

Não sei se deveremos ser assim tão ligeiros quanto à desresponsabilização do que os outros fizeram de nós; basta pensar que nós somos os outros para os outros.

E, sim, livres mas é bom saber para quê...