quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Há dias assim...

Há dias assim... não sai uma para a caixa. Em nada. A conversa não flui. A condução está perra. O sono não descansa. A comida não sabe bem. Tudo irrita. Tudo é mau. Há uma nuvem negra que tapa o sol. Está frio. Está calor. Chove. Acaba a gasolina. Acaba o saldo e a bateria do telemóvel. Chegam 4 contas no correio. A renda subiu outra vez. Não tenho dinheiro na carteira quando vou pagar o almoço e não há MB. Sujo as calças ou a camisa sabe-se lá onde. Não há lugar à porta. O emprego não motiva, ainda por cima é mal pago e ainda me enganei a enviar aquele documento importante portanto o mais certo é vir a ser despedido em breve. Não há programa nem companhia. Os amigos não atendem. A namorada foi embora. O cão morreu e matou o periquito antes. O carro não pega e quando pega tem um pneu furado (nem vou falar do sobresselente e do macaco). A net não liga. O word não responde a meio do texto não guardado. Esqueci-me da chave na gaveta do emprego. Esqueci-me dos óculos em casa. Perdi a carteira quando estava a tentar pagar o almoço. Deixei a janela aberta (e, ver acima, choveu); a luz acesa, que fundiu e não há mais lâmpadas; a torneira a correr e inundou o resto do chão de madeira que a chuva tinha poupado. Não há roupa lavada porque não pus a roupa a secar e aquela camisola vermelha transformou metade do meu guarda roupa num pesadelo cor de rosa. Não tirei o jantar do congelador e só há uma lata de anchovas na dispensa, fora do prazo, claro. A lâmpada ao fundir deitou o quadro abaixo e desligou o frigorífico que descongelou e estragou tudo o que tinha dentro. A louça está por lavar e o único copo acaba de cair ao chão. A mulher que está à minha frente na fila tirou o dia para falar sobre a novela. A televisão não dá nada de jeito. O DVD pifou com o filme do clube de vídeo atrasado para entrega lá dentro. Há imensas coisas para fazer mas não apetece fazer nada do que podia e só quero fazer o que não posso. Não sei do livro que estava a ler e quando o encontro perdi a marcação da página. Não posso tirar férias nos próximos 4 meses. Estou a ficar doente com as anchovas que comi. Acabou o papel higiénico. O armário dos medicamentos só tem pastilhas para garganta e 5 caixas vazias que me podiam ajudar imenso se não estivessem vazias. A última das quais era a de valium para dormir ou para me matar. Moro num primeiro andar e só me magoava se saltasse. Reparo que cortaram o gás quando tento meter a cabeça no forno. Não tenho corda para me enforcar nem sítio para a pendurar em casa descubro eu quando encontro o cinto do roupão, que também era curto demais. A pistola do meu avô não tem balas que funcionem, mas também os vizinhos iam reclamar do barulho e ficava tudo sujo. A ponte fica longe e não me apetece ir até lá a pé. Saio para espairecer um pouco e sou assaltado. Como não tinha carteira e o telemóvel não funcionava, o gajo espeta-me com uma faca tão cheia de doenças que o vírus da Sida morreu lá. Enquanto me esvaio em sangue no chão, tento encontrar algo que me ajude, passa um carro com a minha ex-namorada e o seu novo namorado por cima de uma poça e molham-me com lama que arde na ferida. Tiro um papel do bolso da camisa e vejo na televisão da loja ao lado os números do jackpot do euromilhões a saírem iguais ao do meu boletim. Fraquejo e solto o papel que esvoaça para longe, enquanto morro com dores... Acreditem ou não, isto já me aconteceu três vezes este ano e só estamos em Fevereiro!

2 comentários:

Anónimo disse...

Acredites ou não, há coisas boas que te acontecem, apesar de só estarmos em Fevereiro.

IM disse...

lololol...está demais! Adorei!!! A verdade, é que HÁ MESMO dias assim...dias daqueles em que desejamos nunca termos tido a coragem de nos levantar...
IM