domingo, fevereiro 04, 2007

Estórias de Sampi, o ET esquizofrénico IV – O lado negro

A loucura da mudança foi boa; ocupou o seu espaço e tempo; deixou recordações, marcas, fotografias inenarráveis, filmes interditos a pessoas sãs de espírito, estragos avultados... enfim nada que uma horda imensa de bárbaros loucos gigantes com lsd e esteróides não conseguisse fazer se lhes fosse concedida meia eternidade.
Agora era tempo da loucura na continuidade. Porque sejamos francos, Sampi tinha a sua piada, o seu encanto negro, o seu charme de bandido mas nada disto alterava o facto de, por vezes, conseguir ser completamente disfuncional, anti-social, psicopata e sanguinário.
Andava ele muito bem, feliz e contente com a vida, alguns diziam apaixonado baixinho, a divertir-se com o seu novo hobby, que consistia em criar novas formas de misturar químicos explosivos com fins recreativos, e nisto começou um reinado de terror.
Tudo provocado por um ataque de fúria com um paspalho. Terá, um dia mais tarde, Sampi dito sobre esse assunto numa entrevista: "Repare-se que esta situação, a minha reacção algo descontrolada na altura, seria de todo em todo injustificável se estivéssemos a falar de um simples paspalho. De um parlapatão, um lorpa. Um cretino odioso. Anormal, erro da natureza, no caso dele não é assassinato, é interrupção voluntária da gravidez mesmo que tivesse já 70 anos. Uma bestiaga repugnante de um anormal enfezado cuja definição de atrasadice mental escapa ao conjunto de insultos até hoje condensados em todo e qualquer dicionário ou enciclopédia, proferidos em qualquer língua, intentados ou inventados, mesmo imaginados de raspão. Nem sequer naquela situação em que batemos com o dedo mindinho do pé descalço na esquina de um móvel rijo como um corno poderemos chegar junto do que me apetecia dizer agora sobre esse c""#%# de $145!%!!$, filho de &#!$# e /%%/"$& cheio de (""/%( até ao pescoço, raios partam esse /&/)/)*`= e */(%=, ª$#`&*`#&%$" de "$%&"$%/*"%$/`*"$%/...." E continuou assim durante mais 3 horas e meia, num discurso crescente de raiva insultuosa criativa, que, se não fosse tão perturbadora e selvática, constituiria uma obra de arte por si só, de um alcance e grandiosidade comparável a uma sinfonia de Beethoven, altura em que esmagou a cabeça da repórter com o gravador (só com recurso às mais avançadas tecnologias e 200 horas de trabalho é que foi possível recuperar o conteúdo da entrevista para averiguar as causas do que sucedeu de seguida), usou o corpo semi-decapitado da infeliz para destruir a mobília daquela divisão, abriu caminho ao pontapé e à dentada pelas paredes do palacete granítico em que vivia, arrasou meia floresta e respectivos habitantes, transformando-a num ecossistema mais morto e sem vida que a música dos Delfins, reformatou à chapada uma cordilheira vizinha num vale profundo, fartou-se das limitações deste estilo de violência unipessoal e ordenou a extinção de 39158 formas de vida... "Bom! – disse, virando-se para o gravador que, milagrosamente, ainda recolheu este último excerto – Felizmente agora estou muito mais calmo e já não perco a cabeça tão facilmente com esse assunto!" E chutou a pobre máquina para outro continente.
Quem era o paspalho e o que fez, nunca ninguém quis arriscar perguntar ou gabar-se de saber, com medo de dar início a um novo holocausto, mesmo com esta nova postura mais calma de Sampi sobre o assunto.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Cravidão. Este Sábado será inesquecivel......
MM

Anónimo disse...

Um clássico, Cravidão
Aquele abraço
MM