"isto precisava é de outro Salazar"
Quem anda de transportes públicos é por vezes confrontado com um comentário muito comum neste Portugal. -“Hoje em dia já não há respeito por nada. Com o Salazar pelo menos havia respeito!”
Devo dizer que nunca soube muito bem como rebater esta ideia que de vez em quando é verbalizada por um cidadão mais saudoso. Até hoje. Hoje, como numa iluminação, a resposta surgiu. De facto, a solução reside não em contrariar aquela expressão, mas em vê-la noutra perspectiva.
Assim, quando surge aquele comentário em vez de me opor veementemente, limito-me a concordar parcialmente: “é claro que não há respeito, mas havia de haver respeito a quê? ao estado que proíbe às drogas mas ruas mas que permite que se venda álcool e cigarro em cada esquina, à justiça que usa o segredo de justiça como melhor lhe convém e que prende preventivamente o Zé dos anzóis porque roubou um telemóvel, ao sistema de educação que adopta os regulamentos de programas de televisão como matéria lectiva, aos políticos que prometem a convergência das pensões com o salário mínimo e que depois não cumprem, às televisões que exploram o sofrimento do Zé dos anzóis para vender mais detergente. A que é que se deve respeito hoje? Sim, a quê?
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