As ruas de chuto.
A ministra da justiça tem toda razão em não querer salas de chuto nas prisões. Quem comete um crime deve, não só ser preso, como também ser contagiado com hepatite e sida.
Quem quer uma sala quando em Portugal há ruas. Qual o interesse em ter salas de chuto quando em Portugal existem ruas de chuto. Pois é, da próxima vez que a senhora ministra for ao banco de Portugal em Lisboa, depois de estacionar o seu carro no parque de estacionamento do banco, experimente, em vez de subir pelo elevador interior, dar a volta pelo Regueirão dos Anjos.
Demore-se no pequeno passeio. Observe os papéis de jornal no chão cheios de sangue e expectoração verde de tuberculose multi-resistente. Conte as seringas e as agulhas e as vezes que são utilizadas por pessoas diferentes. Suba, suba as escadas que ligam o Regueirão à rua dos Anjos. E sinta, sinta o cheiro. Percorra demoradamente as feridas que alguns tóxicos têm nos braços, pernas e pescoço. E descubra, descubra por si, onde é que um homem se injecta depois de deixar de ter veias nas pernas, nos braços e no pescoço. E vá lá no Verão com 43º. E vá lá no Inverno com chuva. E vá lá e reconheça uma cara.
A seguir, siga o seu caminho para a recepção no Banco de Portugal e tenha a coragem de dizer que não quer salas de chuto.
Num Pais em que a cocaína dá à costa, num País em que o haxixe vem nas malhas dos pescadores o primeiro passo para se lutar contra o flagelo de algumas drogas (sim, porque o álcool patrocina a selecção nacional) é assumir que elas existem.
1 comentário:
Na realidade o espaço público é mais fascinante do que uma simples assoalhada onde nada acontece. Estou de acordo com a ministra, se temos de ter animação então que a coloquemos num sítio bem visível; porque não matar dois coelhos de uma só golpada.
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