quinta-feira, novembro 15, 2007

Defeitos de fabrico

Todos nascemos com defeitos. Durante o curso da vida alguns são corrigidos, outros adicionados e outros ainda amplificados com o acumular de vivências. “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra”(Jo 8:7). Passe a citação religiosa, aqui colocada para referência genérica ao tema, somos lestos a reconhecer e criticar os defeitos dos outros mas ardilosos quando se trata de olhar para dentro ou ouvir uma crítica. Pior ainda, quando convidados a elencar defeitos tendemos a relatar virtudes mascaradas por uma falsa modéstia. Isso e confrontar amigos com as suas falhas, direito/dever que faz parte da função mas que raramente é posta em práctica. Em todas estas situações é devida uma lista séria e digna, de modo a evitar ilusões próprias e de outros. Há pessoa melhor qualificada que um amigo próximo para nos dizer que somos uma besta? Há pior erro do que cair na tentação de nos gabarmos em vão? Há casca de banana (voltamos à fruta) mais perigosa do que passar a mão pelo pêlo (gosto muito desta combinação de palavras: paronomásia para quem se interessa por estas coisas) de um amigo prestes a cometer um erro?
Admitamos! Somos defeituosos! Por mim falo e desde já vos aviso: dos sete pecados mortais cometi uns dez. Dante precisa de ampliar os nove círculos do inferno - de preferência algo com vista e estacionamento porque ando um pouco farto de ficar em segunda fila. Preguiçoso, guloso, desorganizado, mula (em honra à sobrinha mais linda do mundo), ciumento, competitivo a um grau irracional (um pouco abaixo disto seria virtude), disperso, imprevisível...
Os defeitos são o tempero que nos torna suportáveis uns para os outros. Desde que mantidos a um nível controlado, acrescentam carácter e personalidade ao que, de outro modo, seria apenas um conjunto aborrecido de virtudes.
Notas: Não é preciso insultar para criticar. Não é preciso humilhar para corrigir. Não é preciso arrasar para reconstruir.

3 comentários:

IM disse...

Hummmm..revejo-me em algumas coisas. É certo: temos até uma curiosa dificuldade em lidar com elogios ("oh...obrigada...não é tanto...ora essa...só faço o que devo....ai não sou assim tanto", blá, blá, blá e vermelhos como um tomate rama - e lá voltamos à fruta/legumes...)e quando se trata de criticar quem gostamos, tendemos sempre a dourar a pílula...já quem não gostamos, arrasamos. Somos terríveis. Pensamos que muitas das críticas que nos são dirigidas só revelam até que ponto os outros nos desconhecem ("vê-se logo que não me conheces, dizemos...."...típico...).
Somos defeituosos. Muito. Tenho uns poucos de deifeitos...deixa ver...obcessiva...teimosa...orgulhosa...exigente ...demasiado brincalhona (já me tem trazido alguns dissabores)..radical...instável...por aí.
Mas sem estes defeitos deixaríamos de ser nós...por certo.

g. disse...

Defeitos são sempre demais. Daria de bom grado uns a alguém e ainda ficava a ganhar de longe. Ficaria com os suficientes para ser euzinha (que ele há alguns que não vendo a ninguém). Há defeitos que odeio mesmo...Tento corrigir aqueles que me irritam mais, mas muitas vezes sem sucesso. Não querem organizar um leilão???

ps- No leilão será servida uma "fruta de honra". Ahahahah!

pss- Sr. Catarse, estou a gostar muito de algumas partes dos seus devaneios. Temo que se passe algo consigo...hum...Febre? Não. Se calhar foi o "monstro da baba/palavras" (vide post anterior) que já o atacou...

Catarse disse...

De todo, de todo, caríssima miss De Casca! Estou em pleno usufruto (fruta, fruta, fruta...) das minhas funções cognitivas. Sinto-me bem! Quanto muito uma certa verborreia... (defeito?) ;)

O verdadeiro teste à personalidade é mesmo esse: identificar, confrontar e tentar melhorar (ou assumir) os defeitos. Aqueles mesmo odiosos são de eliminar, claro, mas alguns são traços típicos da nossa identidade que não podemos mudar sem perdermos o "eu" (ainda que seja sempre possível evoluir ou mudar, consoante a fase da vida - falando por mim, mudei tanto nos 2/3 últimos anos que às vezes quase nem me reconheço em algumas coisas que faço ou digo).