quarta-feira, novembro 14, 2007

Nem sempre meia palavra basta...

É impressionante o número de mal entendidos que teima em acontecer. Entre pessoas que se conhecem mal entendo melhor; afinal há maneiras diferentes de dizer ou fazer as coisas e a mensagem pode sofrer interferências por falta de conhecimento mútuo. Há preconceitos que levam tempo a erradicar. Há medos e barreiras de afastamento que demoram a dissolver. Mais a mais, há normalmente pruridos em questionar ou tirar dúvidas por falta de confiança. E o erro segue, a confusão perpetua-se e, nos piores casos, as pessoas afastam-se e as relações esfriam. Daí a importância de falar abertamente, esquecidos os melindres castradores, para resolver as situações. Isto no caso de haver realmente interesse em conhecer a pessoa em causa para além da superficialidade do imediato.

No outro extremo ficam as boas intenções que resultam em tantas e tantas vezes em death by friendly fire - lá por vir do lado amigo não quer dizer que não doa na mesma. Lá diz o povo, naquela perspicácia reunida pela experiência e condensada em frases lapidares (tantas e tantas vezes cheiínha de asneiras mas adiante): de boas intenções está o inferno cheio. A maior parte das vezes acontecem por desconhecimento de causa, por inépcia ou excesso de inocência mas as consequências podem ser tão más como as decorrentes da pior malícia.

Então nos casos em que as duas coisas (mal-entendidos ardilosamente urdidos) acontecem ao mesmo tempo é o verdadeiro salve-se quem puder. Valem depois as horas de conversa para desatar esses nós górdios sociais. Por mim, prefiro sempre, na dúvida, perguntar, ainda que, por vezes, perguntar ofenda. A seguir vem a parte de entender as respostas e aquela história do bom entendedor tem muito que se lhe diga. Depende do entendedor, da meia palavra, de quem a diz, de como a diz e quando. É necessário uma cumplicidade acima da média para ler pensamentos, adivinhar intenções e antecipar necessidades e nem todos a têm, pensem disso o que pensarem. Da minha parte gosto bastante de frases não ditas, de innuendos e jogos de palavras mas dentro de certos limites, até porque há riscos associados a esta práctica, que, a ser continuada, pode levar a alguma falta de frontalidade ou esconder alguma fobia.

Por isso, seja ao vivo e a cores, por mail, sms, telefone, blog, carta (gosto tanto), sinais de fumo, telegrama cantado, post-it, messenger, VOIP, pombo-correio, fax, tambores, sinais de luzes, morse ou o que seja, conversem, falem, entendam-se! Blá, blá, blá, yada, yada, yada. Há dias em que mesmo uma conversa da treta sabe bem. E as operadoras de tele-e-não-só-comunicações agradecem.

Há pessoas-cebola à espera de serem descascadas, camada após camada, para além da casca castanha desinteressante! Há pessoas-melancia, verdes por fora, vermelhas por dentro, à espera de serem talhadas! Há pessoas-ananás, agradáveis debaixo da casca espinhosa! Claro está que há sempre uma ou outra peça podre na fruteira mas isso faz parte das surpresas do processo...

11 comentários:

IM disse...

Teria tanto para dizer, mas vou tentar não me "deixar ir" e ser mais breve...
Muito bem vista, esta questão dos mal-entendidos...as pessoas têm alguma dificuldade em falar e dizer o que perceberam, entenderam, etc...fica o suposto e o suposto às vezes não corresponde. Mas o que é mais complicado para mim, é a questão das boas intenções: primeiro, porque (filosoficamente falando) só tem acesso à intenção quem faz, o que dificulta a identificação de uma intenção como sendo boa, ou má, etc.;2º, mesmo partindo do pressuposto de que a intenção era boa, as coisas tornam-se piores, pois parece inconcebível como tão boa intenção possa ter tão catastrófica consequência...é que isto das intenções é muito bonito, mas o que de fora se constata é um comportamento!!!!

Em relação ao bom entendedor, é uma grande verdade o que dizes...quem é o entendedor? Pois...a meia palavra...às vezes pode ser 1/4 de palavra ou palavra e meia e a cumplicidade é uma coisa tão fantástica e aliciante como perigosa, sobretudo porque pressupõe duas condições difícieis de conciliar na medida necessária: inteligência e sensibilidade!!! Para que 2 pessoas estabeleçam uma cumplicidade que permita este dizer sem dizer, é necessário que reunam ambas as condições....não é fácil!!!

Eu também gosto muito, muito mesmo, do não-dito, do que é sugerido, do jogo de palavras cheio de sentidos subjectivados...a linguagem é uma poderosa forma de sedução, mas como dizes, pode ter riscos e tem...às vezes ultrapassam-se as regras do jogo (e é aí que o jogo cemeça...) e de sedutores a seduzidos, de conscientes a confundidos, vai um passo demasiado pequeno, mas...o que pode haver de interessante que não seja difícil, perigoso, arriscado???

...e há as pessoas-banana, aparentemente consistentes por fora, rígidas, mas doces e reconfortantes por dentro....

...e já agora, passo o "desafio": que fruta é cada um de nós?????
(podres, à parte!!!)
Hummmmm

IM disse...

(eu sei, eu sei..disse que ia ser breve, mas...pronto...eu...enfim...bahhhhh)

g. disse...

Poisque estão aqui duas reflexões muito interessantes. Muito bem prof. katarsinka, estou a gostar de ler. Só espero é que esta conversa da treta não sirva para esconder com meias palavras os honorários de ArrozIM, o blog sombra!
De facto as palavras ( a linguagem), IM, é uma poderosa forma de sedução. E aqui deixa-me lá postar o meu "achismo" (Eheh!): na "psique" feminina então parece que têm um poder ainda mais devastador! Mas como nós somos aquele país de poetas e prosadores, não é por aí que vem mal ao mundo dos corações nacionais...;))) Ah!

Catarse disse...

O problema da associação com a fruta prende-se inteiramente com o processo apito dourado. Noto que este blog é "escutado" com atenção nos meios de influência e decisão deste país e não posso demitir-me dessa responsabilidade. A continuar esta conversa de maçãs e melancias tenho a Judiciária à porta num instantinho! Seja, depois processo o Estado por perdas e danos.

Não sei bem que fruta seria... não posso dizer que tenha pensado muito nisso... acho que se/quando chegar a altura de reencarnar numa fruta irá depender do karma actual. Alinhava numa de ser um ananás. É uma fruta sólida. Digna. Séria. Uma fruta que sabe estar. Uma fruta capaz de dar resposta aos problemas da vida. Uma fruta com carácter. Não me lembro de ver um ananás em apuros ou com problemas existenciais. Sim, é isso. Seria um ananás.

Eheheheheheheh
A Quitanda do Catarse

P.S.: The check is in the mail! ;)

IM disse...

Pois é, Arrozinho, e "achas" muito bem! Mas sabes o que "acho"?? "Acho" que a ala feminina é muito mais dominadora da linguagem, do que a ala masculina...

Parece que Catarse anda inspirado...e muito dado à fruta!! eeehheehhe...

Pois eu seria um kivi...aparentemente discreto, temos mesmo de abrir para saber o que está lá dentro...o exterior nunca nos garante se é doce ou azedo...só abrindo...além disso é uma fruta regra geral importada da Nova Zelândia!!!!! ehehehehe...seria a minha forma de estar o mais perto possível da Austrália!!!! Pois sim, é isso, um kivi!!!

Catarse disse...

Isso é que era bom, agora o domínio da linguagem estar sujeito a gender bias! Nem pensar! Como digno representante do meu género não posso deixar passar essa em claro! Indignação & Ultrage! Falar e escrever são pregorrativas de todos aqueles que 1) gostam de ler 2) gostam de comunicar 3) têm algo para dizer 4) admito uma quota parte de "dom inato", talento ou seja lá o que for e 5) treino. Nenhum dos factores depende de seres rapaz ou rapariga. Ou fruta... ;)))

IM disse...

Bem, vamos lá organizar a coisa...independentemente de
falar e escrever serem "pregorrativas de todos aqueles que 1) gostam de ler 2) gostam de comunicar 3) têm algo para dizer 4) admito uma quota parte de "dom inato", talento ou seja lá o que for e 5) treino", há alguma predisposição relacionada com o género feminino para um desenvolvimento maior da área da linguagem...isto é verdade. Mas eu acho que tu és um bom contra-exemplo!! Escreves muito bem, tens uma imaginação fantástica e expressas também muito bem coisas menos "dizíveis" (pronto...ok..vai lá...eu espero....cuidado!!!!! CUIDADO!!!! Olha a baba!!! Está a cair no teclado!!!! Pronto...já não foi a tempo...xiii...vai buscar papel, um pano!!! Rápido!! Um pano! Chispa!!! Via lá...limpar o teclado!!!!)
lololololol

g. disse...

Fantástico! Sintonia! :) Estava eu a escrever precisamente o mesmo que tu, IM, (com alguns acrescentos e diferenças),quando a minha net foi abaixo e não gravei o comentário. E foi exactamente na mesma hora!
Ficam os acrescentos:
Um bom exemplo que contaria essa média é o nosso Lobo Antunes. Mas há muitos outros. Felizmente.
No meu mail, sr. Catarse, não está nenhum "cheque" com os nossos honorários. Nem sequer um reles forward de uma piada ou um simples "olá", quanto mais...(sim, isto é mesmo uma queixinha!)
Para além de repetir a questão dos estudos feitos sobre a zona cerebral ligada à linguagem, e a dos "dotes" de Catarse, falava da fruta...Pois, coincidentemente, também pensei em kiwi. Mas decidi-me pelo morango. Algo que tem uma essência particular. Vai do doce ao ácido, entre tantas outras qualidades.

g. disse...

A tigela da baba já não deve chegar. Agora será necessário um alguidar ou, quiçá, uma panela do exército ou da cantina! Depois de tanta baba, sairá de lá o monstro das palavras. Dirige-se a Catarse (o criador) e diz:...

Catarse disse...

A única maneira que estava agora a ver de pôr o meu nome na mesma frase com o do Lobo Antunes seria:

"Ouve lá. O Catarse diz que viu ali um Lobo, Antunes."

(piadola reles de sexta feira de manhã...)

Já tenho baba pelos tornozelos... isto está muito complicado e é absolutamente contra as Boas Prácticas de Fabrico. ;)

Está aqui uma bela salada, está! Kiwis, Morangos, Ananazes... Avancem, frutas! Cheguem-se à frente! Papaias, Mangas, Tangerinas, Lixías, Maracujás, Marmelos, Meloas, Cocos, ...

O monstro das palavras! Certamente o equivalente gramatical do monstro das bolachas, um dos meus favoritos pessoais! Gosto! Dá uma boa personagem... vou rapinar, com sua licença, para futura utilização.

g. disse...

Rapine o monstro à sua vontade, por quem é! Às vezes até me dava jeito... Esse é um monstro que me assola a vidinha quase todos os dias. Despeja-me palavras a mais e atropela o poder de síntese.E há dias em que resolve fazer estragos por aqui e olha...não me sai nada de jeito. O raio do monstro é capaz de moer a paciência a um hectare de morangos!