quarta-feira, março 07, 2007

Soluções hipotéticas para um problema real...

O Povo é sereno!
É certamente com base nesta premissa que continuamos a ser vítimas de escândalos públicos atrás de escândalos públicos e já nem reagimos, de tal maneira está esgotada a capacidade de indignação. No máximo, ouvem-se algumas conversas de café sobre o assunto ou então muda-se de canal para não termos de ser confrontados com algo que passou a ser a norma em vez de anormalidade. "Todos fazem". "Ao menos este vai fazendo alguma coisa". "São todos iguais". "Nunca lhes acontece nada". "Estão todos feitos uns com os outros". Estas frases reflectem bem o actual estado das coisas e o total desinteresse que suscitam as eleições à grande maioria do eleitorado. Vendo bem, estudando bem as hipóteses que estão nos boletins é capaz de ser verdade e fazia falta aquele quadrado que dizia "nenhuma das anteriores". Como mudar isto?

Se, hipoteticamente, o povo deixasse de ser sereno talvez as coisas tomassem um novo rumo. Num cenário totalmente hipotético, pensem no que aconteceria se uns quantos destes maus dirigentes e gestores públicos da nossa praça aparecessem mortos. Simultaneamente, uma carta de origem anónima seria, hipoteticamente, enviada aos jornais explicando os motivos que levaram a esse desfecho, enumerando os danos, os abusos de poder perpetrados sem que o castigo correspondesse ao crime e que terminaria com "Os inocentes nada deverão temer. Os outros...". Nunca existiria apenas um executor, nem existiria mentor ou organizador, apenas revolta popular pura e simples neste cenário hipotetico.

Na prática, todos sabemos que somos inocentes até prova em contrário e para isso é que existem os tribunais, blá blá blá. Mas isso é válido para proteger aqueles que são envolvidos em situações limite, onde ainda há réstia de inocência. Sem esquecer que muitos destes abusos exploram fraquezas da lei e por isso passam incólumes, apenas alvo do julgamento moral da sociedade, que rapidamente esquece e os reelege. Quando existem gravações de conversas que provam o crime e que, apenas por motivos processuais, são dadas como inválidas e os réus reclamam de imediato inocência indignada, poderemos esquecer que o crime foi mesmo cometido? Podemos esquecer que todos saímos lesados com estes roubos constantes? Os nossos impostos levam-nos uma fatia importante dos rendimentos e, em lugar de servirem para termos mais e melhores hospitais e escolas, mais e melhores empregos e infraestruturas, melhor cultura e condições de vida, servem apenas para encher os bolsos de uns chicos-espertos sem vergonha na cara.

Uma dificuldade de toda esta solução hipotética residiria na decisão de quem seria alvo deste exemplo disciplinador e na ordem em que seriam dispostos. Outra no risco de cairmos no exagero, nas vinganças pessoais, políticas, económicas ou clubísticas. Com um pouco de distanciamento e encarado isto com seriedade e coerência, penso que meia dúzia de exemplos mais ou menos unânimes e de todos os quadrantes políticos seriam facilmente encontrados, hipoteticamente é claro. Concordo que isto não seria uma solução civilizada (mesmo sendo hipotética) mas aparentemente também não vivemos num país muito civilizado e algo tem de ser feito. Outro cenário hipotético seria passarmos a cuspir-lhes em cima (ovos podres também seriam algo a considerar) à laia de agradecimento pelos bons serviços prestados à nação.

Mas note-se que tudo isto não passa de um cenário hipotético e fantasioso. Convém lembrar que existem leis e tribunais para resolver estas questões e que o homicídio, mesmo de autarcas corruptos e gestores vigaristas, é crime e não é solução para nada. Afinal de contas, vivemos num país livre, democrático, justo e de direito instituído, onde as más acções são punidas atempadamente pelo poder judicial, daí que praticamente não tenhamos escândalos, corrupção, cunhas, falcatruas, injustiças... Eu nem conheço ninguém que alguma vez se tenha aproveitado de uma dessas situações em benefício próprio senão era certinho que, como qualquer outra pessoa de bem, a denunciaria em sede apropriada. Ou, hipoteticamente, talvez não...

Lembrem-se loucos e potenciais suicidas (e restantes habitantes): O voto e a participação de pessoas de bem e capazes nas estruturas democráticas são a verdadeira solução! Não desperdicem a vossa morte, perdão, vida sem deixarem uma marca na democracia!

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