domingo, março 25, 2007

Considerações de ressaca de um domingo qualquer

Homens e mulheres, nestas coisas de relações amorosas, gostam que lhes dêem para trás, gostam de quem os trata com indiferença com ocasionais torrões de açucar no caminho, o tal macho à antiga, figura autoritária paternalista que mande, ou mulher fatal que arrasta tudo à passagem, indiferente. Gostava mesmo de acreditar que não será sempre assim mas vejo que, de facto, na maioria dos casos, é mesmo verdade. Quanto mais me bates, mais eu gosto de ti - na versão metafórica claro, atesta a sabedoria popular vertida em provérbio. A razão na base de tudo isto deve estar relacionado com os tradicionais "capachos" deitados aos pés dessas meninas e meninos que lhes elevam o ego até ao céu. Uma vez lá em cima instala-se o tédio de terem tudo o que querem por esse meio e a única estimulação decente (da "caça") que obtém tem, então, de vir daqueles que as renegam e que as desprezam, por não aceitarem a derrota. Observei já vários exemplares destes em acção, uns mais óbvios outros menos, mas todos incapazes de admiti-lo, elas refugiando-se nos chavões habituais sobre romantismo e como deviam ser tratadas pelos homens, eles com a soberba masculina de quem nunca sofre desgostos de amor. De seguida, nestes casos, quando encontram quem as/os trata bem, quem faz qualquer coisa por elas/eles, quem se mata e se esfola, quem se baba, quem é verdadeiramente romântico e apaixonado, esmifram o que podem para voltar à mó de cima e depois borrifam. Vão atrás da/do sacana que os/as trata mal, perdem-se em esforços para agradar a quem lhes deu para trás, ficam em sofrimento por quem os/as ignora. Desse sofrimento nasce a necessidade do tal séquito de adoradores que competem entre si pelo privilégio de um raio de sol, apenas para verem aparecer o zézinha/o campeã/ão levar a taça em 5 minutos, com falinhas mansas, num ciclo vicioso sem fim. Ora, depois de constatados os factos, acontece por vezes a alguns, reunidos o Tico e o Teco em deliberação profunda e irracional, sofrer um ataque de amargor e desilusão profundas, deliberar não mais voltar a ser tanso/a com quem não merece o esforço e passar a ser uma besta como os/as outras/os. Temporariamente este ataque de cinismo ainda pode acontecer (e acontece) e será, em certa medida, tão compreensível (não para as/os visadas/os pelo bruto/a, óbvio) como inadmissível. Para sempre não me parece nada saudável como modo de vida, até porque envolve alterações demasiado profundas e dá asneira vezes demais com quem não merece.
Acho muito mais engraçado e interessante quando a dança a dois flui sem entraves ou hesitações, simples, assumida, num cortejar mútuo de quem não pensa muito no que está a acontecer e saboreia cada momento sem julgamentos de intenções ou jogos de interesses.

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