a besta negra
A criatura grotesca emergiu das trevas, veloz e voraz, atacando sem hesitar. O seu poder imenso, em conjunto com a selvajaria que caracterizava os da sua espécie, permitiam-lhe essa imprudência, confrontar e destruir qualquer um que se atravessasse, incauto, no seu caminho. O ímpeto desastrado desse primeiro avanço permitiu que se esquivasse, graças aos reflexos treinados por anos de patrulha, rolando pelo chão. O lugar onde anteriormente estava de pé foi atravessado por garras que brilharam, frias, à luz do luar. Que animal era aquele? A besta imobilizou-se do outro lado da clareira, e sob a luz da lua e das estrelas, observou-a. Toda ela era músculo sólido, dentes afiados, garras longas e olhos cruéis em quase 3 metros do que parecia um felino cruzado com um crocodilo. A pele escamosa reflectia a pouca luz existente de um modo maligno. E não tinha tempo para mais pois de novo ela carregava, em fúria. Decidido, enfrentou-a cara a cara, acreditando que seria essa a melhor estratégia para confundir algo que não estaria muito habituado a ser abordado de frente. O choque ressoou pela floresta escura, animal contra homem, pele contra armadura, garras contra lâminas. Mutuamente repelidos, aparentemente sem danos, a ideia funcionara pois o estranho ser olhava-o agora, surpreso por não ter sido bem sucedido. Aproveitando essa pausa, atacou-o, mantendo a vantagem conquistada do seu lado. Um golpe violento com a sua espada apanhou o flanco desguarnecido da criatura, infligindo-lhe um corte de onde sangrou abundantemente algo espesso e escuro. Urrando de dor, o animal furioso ripostou, saltando-lhe para cima, garras enclavinhadas nos seus ombros e tentado arrancar-lhe a cabeça. Sustendo o peso imenso da criatura, cambaleou para trás. Felizmente o elmo que usava aparou as primeiras dentadas mas não lhe parecia que pudesse aguentar muitas mais, pois sentia já a pressão daquelas mandíbulas poderosas a esmagar-lhe o crânio. Desesperado, tentou um último golpe, alcançando a espada curta que tinha presa às costas, deixou-se cair para o chão e afundou o aço no peito da coisa. Ao perceber o colapso daquele corpo imenso, alegrou-se com o seu sucesso pois tinha escapado com vida a mais uma batalha. Saindo debaixo do cadáver, sacudiu o pó e a terra de cima de si e virou costas à clareira, decidido a prosseguir a sua patrulha. Um erro. Tivesse ele reparado que a ferida do flanco da besta tinha desaparecido, curada, sem deixar marcas e talvez não ficasse tão certo da sua vitória. A surpresa estampou-se no seu rosto durante um instante enquanto foi cortado em dois e tombou morto no chão encarando um recuperado e esfomeado animal que, quase podia jurar, sorria ao arrancar-lhe parte de uma perna. A besta negra atacara de novo...
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