Cosa nostra e a Universidade
Há uns meses almocei com um senhor italiano que, desiludido com Itália, me falou de uma família de oito pessoas que trabalhavam, lado a lado, na mesma faculdade da Universidade de Bari.
Hoje voltei a esbarrar com a família Massari e decidi trazer aqui um pouco da história. Afinal são nove, em Economia em Bari. Irmãos, sobrinhos e primos. Todos professores e investigadores.
Mas há outras famílias importantes na Universidade de Bari. O Professor Tatarano ensina Direito Privado. Os filhos, um rapaz e uma rapariga, têm gabinetes no mesmo corredor. Mais, mas mais discretos, porque se dividem por andares, são os Dell'Atti. Familiares e professores mas em quatro andares diferentes na Universidade.
Os jornalistas do Repubblica perguntaram pelo Gabinete do Professor Girone, o Magnífico (lá como cá...) Reitor da Universidade. Girone quem? Perguntou o funcionário. Giovanni Girone, o Reitor? Ou Raffaella Girone, a filha? Ou Gianluca Girone, o filho? Ou Giulia Girone, a mulher? Gabinetes 3, 26, 58 e 13, respectivamente. E temos ainda o doutor Campobasso, marido da filha Raffaella, professor associado de Estatística. Gabinete 19.
E o concurso em Bari para duas posições na Faculdade de Letras?
Três candidatos:
Davide Canfora, filho de Professor e intelectual destacado da Universidade de Bari.
Federico Sanguinetti, herdeiro de um grande poeta italiano.
Maurizio Campanelli, filho de um electricista.
Canfora, o filho do Professor, é o mais novo e tem o currículo mais fraco. Fica, portanto, com a Cátedra.
E quem fica sem nada? Vale mesmo a pena responder?
Canfora assume apenas mais uma posição para a família na Universidade. Para além dele e do pai com cátedras de literatura, temos a Mãe que é professora de filologia clássica, a irmã Irene, professora de Direito Agrário e a mulher, investigadora do departamento de italianistica. Apenas mais um clã.
O Magnífico Girone responde aos jornalistas do Repubblica: "Os nomes não contam, os concursos são correctos ou não são correctos. E nos casos da minha mulher e dos meus filhos foi tudo correctíssimo: o que conta é apenas a produção científica." Disse o grande chefe tribal.
E em Coimbra, na "minha" Universidade? Sabemos que é tudo correctíssimo. Mas vale uma peça jornalística? Talvez haja matéria para várias teses de doutoramento...
1 comentário:
Adoro Itália, mas é a podridão da velha europa a mostar a sua face - como em Portugal. É o latinismo a justificar tudo, tal como o desenrasca, o chico-espertismo, o chega-te-para-lá-que-eu-sou-mais-pesado e o inevitável chega-te-para-lá-que-o-meu-tio-é -mais-importante-que-o-teu. Se ainda fossem os melhores currículos a entrar...Sulistas, elitistas e dados a compadrios é o que, infelizmente somos.
G.
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