sexta-feira, agosto 12, 2005

Joaõ Deão 4

Entra num restaurante frente à estação de comboios. Senta-se ao balcão. Com uma voz profunda e absoluta pede num tom "imperial e sandes, rápido que tenho pessoas à espera!". Coloca os braços no inox do balcão. Sente-o demasiado quente e evita tocar-lhe. O ar humanizado pelo fumo do tabaco e pelo cheiro a fritos irrita João. Gosta da nuvem de fumo mas detesta o cheiro que deixa. Chega a imperial, primeiro que a sandes. Bebe-a em dois tragos. Sente a luminosidade áurea da bebida a irradiar-lhe pelas paredes do trato digestivo. Uma imensa luz refrescante desce-lhe pela garganta, e vai extinguindo-se à medida que assenta no estômago. "Traga-me outra" e segue com olhar o percurso do empregado de dedos longíssimos até à bica de cerveja. O emprega coloca o copo ligeiramente inclinado contra o metal retorcido e olha para a porta do restaurante.

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