segunda-feira, novembro 29, 2004

Os puto que governam

O que o Santana assumiu ontem: que era um puto numa incubadora já a Gabardina tinha escrito em Agosto. E não foi sorte ou premonição acertada.
Aqui, observa-se o que vai lá atrás...
Os leitores da Gabardina que leram estes textos em Agosto sabem agora que não perderam o seu tempo.


Fragmento
O primeiro-ministro ao canto do quarto, está acocorado atrás dos cortinados. Tem um dedo na boca e a cara triste. O pijama castanho com nuvens brancas que veste só lhe fica bem, com uns chinelos de quarto azulinhos. Todo o pessoal da residência do primeiro-ministro procura por todo o lado os chinelos. Sem eles, o menino não quer dormir. E quando o menino não dorme? ninguém dorme. Choradeira a noite inteira. Impaciente bate com os dois pés no chão, e agita as mãos no ar. A berraria vai começar. Dos chinelos é que nem pó. Procura-se em todo o lado: cozinhas, salas, garagens e quartos. Nada. O choro já não é choro, são os berros de menino mimado.
De repente entra pelo quarto um homem. Trabalhou durante 30 anos, 12 horas por dia, só descansou ao Domingo. De seu tem um apartamento de 2 assoalhadas em Fernão Ferro. Dirige-se ao primeiro-ministro chorão, pega-o ao colo e segurando-o com os fortes braços, embala-o com as histórias de coragem dos trabalhadores rurais. O primeiro, já de lágrima seca escuta com atenção. Maravilhado com a historinha para dormir adormece nos braços do homem.

o filhinho da mãe
Sentado à mesa do pequeno-almoço, o ministro termina as papas que a sua mãe cozinhou.
-Vá lá, tens de comer tudo, para seres grande e forte para brincar com os outros meninos.
O ministro atestado de papas lácteas, bolsa ligeiramente. Não fora o babete bordado com uma menina a andar de trotinete e tinha sujado a gravata e o fato escuro. Ao ver que o filho não conseguia comer mais, a mãe senta-o ao colo, prende-lhe os braços e começa dar-lhe o resto do pequeno-almoço na boca: mete a colher de sopa nas papas, leva-a à sua boca para as arrefecer com dois soprinhos maternais, pede ao ministro que abra a boca e enfia o resto das papas goela abaixo deste funcionário do governo. O ministro esperneia, diz que não quer mais e tenta sair do colo da mãe. A mãe diz que é só mais uma colherada. Convence-o dizendo que se ele comer aquela última colher, pede aos senhores da netcabo para ainda hoje, irem ao seu gabinete instalar o Disney Channel. O ministro acede à ultima colher e a mãe limpa os restos de papas da boca com pequenos movimentos em volta dos lábios e com uma passagem vigorosa com o babete.
-Vá! agora vais lavar os dentes que o motorista já está lá em baixo à espera.
Enquanto o ministro lava os dentinhos, a mãe abre a sua pasta preta e coloca lá dentro um lanche: pão com marmelada e manteiga embrulhado num guardanapo de papel e um pacote de leite com chocolate. Tudo dentro de um saco de plástico transparente que o ministro odeia.
São 9:00 da manhã e vai começar mais um dia de trabalho do XVI governo constitucional.

jáááááá fiiiiz...
É a voz finíssima da recém empossada secretária de estado. Está sentada e o som sai-lhe das goelas, choca com os diversos utensílios sanitários, espalha-se pelos mármores da casa de banho, reflecte-se no enorme espelho e disparada avança para o corredor. Este som, qual bola de fogo, percorre agora os passos perdidos, desce veloz a escadaria nobre, enche as salas dos grupos parlamentares, abre de par em par as portas do refeitório dos frades e entra directamente nos ouvidos do único deputado que no andar de baixo, pela mão da senhora sua avó, depois de ter interrompido as férias em Ibiza para vir ao parlamento buscar uma agenda, espera que esta lhe ponha as fraldas para dentro das calças. As mãos finas da avó afundam-se num círculo à volta da cintura barrica do deputado.
Porque é urgente, necessário e sincero o "jáááááá fiz" vindo do segundo andar, não se distraí com esta cena de amor inter ? geracional e segue caminho até ao bar da Assembleia: estaca-se à porta por momentos e agudíssimo preenche todo bar.
O pai da recém empossada secretária de estado, reconhecendo o chamamento filial, apaga a cigarrilha, bebe o último gole de água e despede-se do empregado. Faz o caminho inverso da voz, guiado pelas pequenas ressonâncias que o som foi migalhando pelos capiteís, arabescos e vigas de estilo neo-clássico do Palácio de S. Bento da Saúde ou dos Negros, mosteiro Beneditino, com inicio de construção em 1598.
-Vá, já está limpo. Vista-se e despache-se que os senhores do protocolo de estado já ligaram duas vezes para saber se sempre vai ao jantar de embaixadores.
Assaduras e leis, sont les mots qui vont tres bien ensemble.



Saiba o leitor que tal como as bolachas Carr´s são recomendadas pela família real inglesa, também as fraldas Dodot Etapas são recomendadas pelo presidente da assembleia da republica. Expliquemos.
O Presidente da assembleia da Republica farto do burburinho de fundo do hemiciclo e sabedor pela experiência de pai de que este se deve a alguns rabos assadinhos, decidiu emitir a seguinte nota aos pais e às mães dos senhores deputados da Republica Portuguesa:

Nota da Presidência
Excelentíssimos encarregados de educação,
Em face da crescente inquietação e às cada vez mais frequentes ausências dos senhores deputados, V/ educandos, no parlamento, venho por este meio sugerir que V/ Exas ao vestirem de manhã os senhores V/ filhos, lhes coloquem as novas fraldas super-absorventes Dodot Etapas. Este produto, novo no mercado nacional, é capaz de não só evitar as irritações na pele responsável pelo bruá de fundo que na passada semana impediu que fosse aprovada a tão desejada reforma da administração pública, como permitir que até à hora que V/ Exa vêm buscar os petizes, estes se mantenham no hemiciclo sequinhos, sossegadinhos e a brincar felizes. A presidência reconhecendo a qualidade das fraldas referidas, não hesita em recomenda-las para que se evite o desconforto televisivo da aridez parlamentar, e a comichão cutânea das assaduras em tão desejada área parlamentar.
A presidência, consciente de que esta troca de fraldas pode não agradar a todos os pais, está a diligenciar no sentido de no mais curto tempo possível recuperar as antigas instalações do berçário da antiga assembleia nacional. A presidência, após reconstruir este equipamento de apoio comunicará a V/Exas as respectivas condições de uso.
Sem mais, e na esperança da melhor compreensão subscrevo-me,
E assim se explica a coroa britânica feita esfera armilar nos pacotes de fraldas Dodot.

1 comentário:

Anónimo disse...

Um post um pouco infantil, não?
Bem, acho que é desta que abro um jardim de infância.
Com tanto boy de fraldas, é negócio chorudo.
E ainda temos os bebés das classes desfavorecidas - ali do Bairro do Rato - que um dia destes poderão ganhar o totoloto e passar a dormir em berço de ouro.